domingo, 15 de setembro de 2024

Nossa Senhora das Dores e o diálogo aos pés da Cruz

                                                      

Nossa Senhora das Dores e o diálogo aos pés da Cruz

Meditemos sobre a relação profunda e intensa de amor entre Maria e Jesus. a partir do Hino “Mãe Dolorosa”, escrita pelo Diácono São Romano, o Melodioso (séc. VI).

Oportuno para a Celebração da Memória de Nossa Senhora das Dores no dia 15 de setembro, precedida pela Festa da Exaltação da Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

“Venham todos, celebremos Àquele que foi crucificado por nós. Maria O viu atado na Cruz: “Bem que você pode ser colocado na Cruz e sofrer – ela lhe disse -, mas nem por isso és menos meu Filho e meu Deus”.

Como uma ovelha que vê ao seu pequeno arrastado ao matadouro, assim Maria O seguia, abatida pela dor. Como as outras mulheres, ela O acompanhava chorando:

Aonde você vai meu Filho? Por que este passo apressado? Acaso há em Caná outra boda, para que te apresses a converter a água em vinho? Eu Te seguirei, meu Menino? Ou é melhor que Te espere?

Diga-me alguma palavra, Tu que és a Palavra; não me deixes assim, em silêncio, ó Tu que me conservaste pura, meu Filho e meu Deus”.

“Eu não pensava, Filho de minha alma, ver-Te um dia assim como estás: não teria acreditado nunca, mesmo quando via aos ímpios estender suas mãos para Ti. Porém, suas crianças ainda têm nos lábios o clamor: Hosana! Bendito seja!

As palmas do caminho ainda mostram o entusiasmo com que Te aclamavam. Por que, como aconteceu esta mudança? Ó, é necessário que eu o saiba. Como pode acontecer que cravem em uma Cruz ao meu Filho e ao meu Deus?”.

'Ó Tu, Filho de minhas entranhas: Vais para uma morte injusta, e ninguém se compadece de Ti. Pedro não Te dizia: mesmo que seja necessário morrer, nunca Te negarei? Ele também Te abandonou.

E Tomé exclamava: morramos todos contigo. E os outros Apóstolos e discípulos, aqueles que devem julgar as doze tribos, onde estão agora? Nenhum está aqui; mas Tu , meu Filho, morres em solidão por todos. Abandonado. Contudo, és Tu quem os salvou; Tu satisfizeste por todos eles, meu Filho e meu Deus'.

Assim é como Maria, cheia de tristeza e aniquilada de dor, gemia e chorava. Então seu Filho, voltando-se para Ela, respondeu-lhe desta maneira:

'Mãe, por que choras? Por que, como as outras mulheres, estás oprimida? Como queres que salve a Adão, se Eu não sofro e não morro?

Como serão chamados de novo à vida os que estão retidos nos infernos, se não  permanecer no sepulcro? Por isso estou crucificado, tu o sabes; é por isto que Eu morro.

Por que choras, Mãe? Diga antes, em tuas lágrimas: é por Amor pelo que morre meu Filho e meu Deus'.

'Procura não encontrar amargo este dia no qual vou sofrer: é para isto que Eu, que sou o próprio deleite, desci do céu como o maná; não sofre o Sinai, mas ao teu seio, pois nele me recolhi.

Segundo o Oráculo de Davi: esta montanha recolhida sou Eu; o sabe Sião, a cidade santa. Eu, que sendo o Verbo, em ti me fiz carne.

Nesta carne sofro e nesta carne morro. Mãe, não chores mais; diz somente: se Ele sofre, é porque o quer, meu Filho e meu Deus'.

Ela respondeu: 'Tu queres, meu Filho, secar as lágrimas de meus olhos. Somente  meu coração está perturbado. Não podes impor silêncio aos meus pensamentos. Filho de minhas entranhas, Tu me dizes: se Eu não sofro, não há salvação para Adão... Mas, contudo, curaste a tantos sem padecer.

Para curar o leproso te foi suficiente querer sem sofrer. Tu curaste a enfermidade do paralítico, sem o menor esforço. Também fizeste o cego enxergar com uma única Palavra, sem sentir nada por isto. Óh própria bondade, meu Filho e meu Deus'.

Aquele que conhece todas as coisas, mesmo antes que existam, respondeu a Maria: 'Tranquiliza-te, Mãe: após minha saída do sepulcro, tu serás a primeira a me ver; Eu te ensinarei de que abismo de trevas fui libertado, e quanto custou.

Meus amigos o saberão: porque Eu levarei a prova inscrita em  minhas mãos. Então, Mãe, contemplarás a Eva rediviva, e exclamarás com jubilo: São meus pais!, e Tu lhes salvaste, meu Filho e meu Deus'".

Impossível a indiferença e insensibilidade diante deste diálogo, porque nos leva a refletir sobre o Mistério da Morte de Nosso Senhor; tão imenso Amor por nós, quanto tão imensa a dor que Sua Mãe sentiu naqueles dias ao ver o rebento de seu ventre sendo crucificado, morto, e ela impotente diante de tal desígnio, aos olhos humanos incompreensível.

Como Maria, também em diálogo sincero, amoroso e confiante, apresentamos a Deus nossas inquietações, dificuldades, que por vezes não as compreendemos, e até mesmo quase que não as suportamos.

Aprendamos com Maria, a Virgem Dolorosa, aos pés da Cruz, a viver mesma atitude diante do Mistério da dor e da morte, crendo na última Palavra que é sempre de Deus.

Contemplando as Chagas Vitoriosas de Nosso Senhor suportemos as chagas dolorosas do quotidiano, certos de que, se assumidas com amor, como a cruz que Ele nos propôs, serão propícias para o alcance da verdadeira felicidade e eternidade.

Com Jesus, Aquele que suportou as Chagas Dolorosas, por Suas Chagas Gloriosas, Ressuscitado, Ele renove nossas forças na Ceia Eucarística que celebramos, movimento ápice e fonte de todo nosso existir, porque nos iluminamos e nos alimentamos do Pão da Eternidade, Pão de Imortalidade, antídoto para não morrermos, remédio para todos os males, bálsamo para todas as dores.


PS: Lecionário Patrístico Dominical – Ed. Vozes – pp.332-334. 

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