Que incrível troca, oh, Maria!
Celebra-se dia 15 de setembro a Memória de Nossa Senhora das Dores, e somos enriquecidos pelo Sermão do Abade São Bernardo (séc. XII), acerca do mistério da paixão vivida por Maria junto de seu Filho em todos os momentos.
“O martírio da Virgem é mencionado tanto na profecia de Simeão quanto no relato da Paixão do Senhor.
Este foi posto, diz o santo ancião sobre o menino, como um sinal de contradição, e a Maria: e uma espada transpassará tua alma (cf. Lc 2,34-35).
Verdadeiramente, ó santa Mãe, uma espada transpassou tua alma. Aliás, somente transpassando-a, penetraria na carne do Filho.
De fato, visto que o teu Jesus – de todos certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-Lhe o lado sem poupar um morto, não atingiu a alma d’Ele, mas ela transpassou a tua alma.
A alma d’Ele já ali não estava, a tua, porém, não podia ser arrancada dali. Por isso a violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça, mais do que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal.
E pior que a espada, transpassando a alma, não foi aquela palavra que atingiu até a divisão entre alma e o espírito: Mulher, eis aí teu filho? (Jo 19,26). Oh! Que troca incrível!
João, Mãe, te é entregue em vez de Jesus, o servo em lugar do Senhor, o discípulo pelo Mestre, o filho de Zebedeu pelo Filho de Deus, o puro homem, em vez do Deus verdadeiro.
Como ouvir isso deixaria de transpassar tua alma tão afetuosa, se até a sua lembrança nos corta os corações, tão de pedra, tão de ferro?
Não vos admireis, irmãos, que se diga ter Maria sido mártir na alma. Poderia espantar-se quem não se recordasse do que Paulo afirmou que entre os maiores crimes dos gentios estava o de serem sem afeição. Muito longe do coração de Maria tudo isto; esteja também longe de seus servos.
Talvez haja quem pergunte: “Mas não sabia ela de antemão que iria Ele morrer?” Sem dúvida alguma. “E não esperava que logo ressuscitaria?” Com toda a confiança. “E mesmo assim sofreu com o Crucificado?” Com toda a veemência.
Aliás, tu quem és ou donde tua sabedoria, para te admirares mais de Maria que compadecia, do que do Filho de Maria a padecer?
Ele pôde morrer no corpo; não podia ela morrer juntamente no coração?
É obra da caridade: Ninguém a teve maior! Obra de caridade também isto: Depois dela nunca houve igual”.
Elevemos nossa alma até Deus, assumindo com Maria e Seu Filho, o mistério da Paixão dos que hoje padecem a dor, a fome, a miséria, a injustiça com ânsias eternas de libertação e redenção!
Maria, Mãe das Dores, depois dela nunca houve igual, e a nós cabe a mesma fidelidade e compromisso com os crucificados da história, em frutuosa devoção a Nossa Senhora das Dores e a Seu Filho, Redentor de todas as dores, que não nos permite sequer sombra de omissão frente aos incontáveis clamores de todos os tempos.
“Salve Rainha, Mãe de misericórdia...
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