sábado, 28 de setembro de 2024

Vigilância necessária no relacionamento comunitário

 


Vigilância necessária no relacionamento comunitário

Sejamos enriquecidos pelo Sermão escrito pelo bispo e doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. V), no aprofundamento da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,38-43.45.47-48).

“Portanto, quando escutas: Ai do mundo por causa dos escândalos, não te assustes. Ama a lei de Deus e não haverá escândalo para ti. Mas se aproxima a mulher te sugerindo não sei que mal. A amas como deve amar-se a esposa, como membro teu que ela é. Mas se teu olho te escandaliza, se tua mão te escandaliza, se teu pé te escandaliza, como ouviste no Evangelho: corta-os e lança-os longe de ti.

Quem te é muito querido, aquele a quem tens muito apreço, considera-o grande, considera-o como teu membro querido enquanto não comece a escandalizar-te, ou seja, a persuadir-te algum mal. Escutai que isto é o escândalo.

Colocamos como exemplo a Jó e a sua esposa; porém, ali não aparece a palavra escândalo. Escuta o Evangelho: Quando o Senhor se pôs a falar de sua paixão, Pedro começou a dissuadir-lhe de padecer. Aparta-te de mim, satanás, porque tu és para mim escândalo. Desta forma o Senhor, que te deu o exemplo de como viver, te ensinou em que consiste o escândalo e o modo de precaver-te dele.

Tendo-lhe dito antes: Feliz és, Simão Bar Jona, tinha manifestado que era seu membro. Mas quando começou a servir-lhe de escândalo, cortou o membro; em seguida o refez e o repôs. Portanto, será escândalo para ti quem comece a te persuadir para algum mal. E entenda-o bem vossa caridade: isto acontece a maior parte das vezes não por malignidade, mas por uma perversa benevolência.

Por exemplo: teu amigo te vê, que te ama e a quem amas, teu pai, teu irmão, teu filho, tua esposa; teu amigo te vê no mal e quer te fazer mal. O que é te ver no mal? É te ver em alguma tribulação. Talvez a sofres por causa da justiça; talvez a sofres porque não queres proferir um falso testemunho. Falei isto a modo de exemplo. Estes abundam, visto que ai do mundo por causa dos escândalos!

Por exemplo: um homem poderoso, para alcançar seu despojo e conseguir seu roubo, te pede o serviço do falso testemunho. Tu te negas; negas a falsidade, para não negar a verdade. Para não perder tempo, ele se enfurece e, sendo poderoso, te recompensa. Aproxima-se o teu amigo que não deseja ver-te em tal aperto com estas palavras: ‘Suplico-te, faz o que te diz: que importância tem?’ Talvez se repete o que satanás disse ao Senhor: Está escrito de ti que enviará os seus anjos para que teu pé não tropece. Talvez também este teu amigo, como vê que és cristão, quer persuadir-te com testemunhos da lei a que faças o que ele pensa que deves fazer. ‘Faz o que diz’. ‘O quê?‘O que ele deseja’. ‘Mas se trata de uma mentira, de uma falsidade’. ‘Não leste que todo homem é mentiroso?’ Eis aqui já o escândalo. Trata-se de teu amigo; o que vais fazer? É tua mão, teu olho: Arranca-o e lança-o longe de ti. O que significa arranca-o e lança-o longe de ti? Não consintas. Arranca-o e lança-o longe de ti significa não consentir.

Os membros de nosso corpo, pela coesão, formam uma unidade, pela coesão que vivem, e pela coesão se unem entre si. Onde há dissensão há enfermidade ou ferida. Portanto, visto que é teu membro, o amas; mas se te escandaliza, arranca-o e lança-o longe de ti. Não consintas; afasta-o de teus ouvidos, talvez volte corrigido.” (1)

Na vivência comunitária, devemos ser vigilantes na própria conduta, para que não sejamos motivo de escândalo, fragilizando a convivência e fortalecimento de nossas comunidades.

Bem afirmou o bispo – “Ama a lei de Deus e não haverá escândalo para ti”.

Na prática fecunda do Mandamento do amor a Deus e ao próximo, não seremos causa de escândalo, bem como, saberemos ajudar nosso próximo a retornar ao bom caminho, na fidelidade ao Senhor.

Seja em todo o tempo vivida a misericórdia em suas expressões, como nos lembra Santa Faustina de Kowalskas:

“Vós mesmo mandais que eu me exercite em três graus da misericórdia; primeiro: Ato de misericórdia, de qualquer gênero que seja; segundo: Palavra de misericórdia – se não puder com a ação, então com a palavra; terceiro: Oração. Se não puder demonstrar a misericórdia com a ação nem com a palavra, sempre a posso com a oração. A minha oração pode atingir até onde não posso estar fisicamente.
 
Ó meu Jesus, transformai-me em Vós, porque Vós tudo podeis”. Amém.”  (2)

 

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.477-478

(2)Santa Faustina Kowalska, escrito em 937, Diário (p.163 - Caderno I)

 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG