Com a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 21,28-32), somos convidados a fazer a vontade de Deus, tendo de Jesus mesmos sentimentos como discípulos missionários seus.
Sejamos iluminados pelo texto do Bispo e Mártir São Cipriano (séc. III): uma exortação para que nada prefiramos a não ser Jesus Cristo, vivendo segundo o Espírito.
“A vontade de Deus é aquela que Cristo cumpriu e ensinou: a humildade no comportamento, a firmeza na fé, o respeito nas palavras, a retidão nas ações, a misericórdia nas obras, a moderação nos costumes, o não ofender os outros e tolerar aquilo que nos fazem, o conservar a paz com os nossos irmãos: amar ao Senhor de todo o coração, amá-Lo enquanto Pai, temê-Lo enquanto Deus; o não preferir nada a Cristo, já que Ele nada preferiu a nós; o manter-nos inseparavelmente unidos ao Seu Amor, o estar junto à Cruz com fortaleza e confiança; e, quando está em jogo o Seu nome e Sua honra, mostrar em nossas palavras a constância da fé que professamos; nos tormentos, a confiança com que lutamos, e na morte, a paciência que nos obtém a coroa.
Isto é querer ser coerdeiro de Cristo, isto é, cumprir o Preceito de Deus e a vontade do Pai.
Pedimos que se faça a vontade de Deus no céu e na terra: ambas as coisas pertencem à consumação de nossa incolumidade e salvação.
Pois ao ter um corpo terreno e um espírito celeste, somos ao mesmo tempo céu e terra, e, em ambos, isto é, no corpo e no espírito, pedimos que se faça a vontade de Deus.
Porque existe guerra declarada entre a carne e o espírito, e um antagonismo diário entre os dois oponentes, de maneira que não fazemos o que queremos, porque enquanto o espírito deseja o celestial e divino, a carne se sente arrastada pelo terreno e temporal.
Por isso, pedimos que, com o socorro e o auxílio divino, reine a concórdia entre os dois setores em conflito, de modo a cumprir-se a vontade de Deus tanto no espírito como na carne, possa salvar-se a alma renascida por Ele no Batismo.
É o que aberta e claramente declara o Apóstolo Paulo, dizendo: ‘Porque os desejos da carne se opõem ao do Espírito, e estes aos da carne. Pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis.
Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdia, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes.
Destas coisas vos previno como já preveni: os que praticarem não herdarão o Reino de Deus! Ao contrário, o fruto do Espírito é: caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança’.
Por isso, com Oração cotidiana e até contínua, temos de pedir que no céu e na terra se cumpra a vontade de Deus sobre nós. Porque esta é a vontade de Deus: que o terreno dê lugar ao celestial e que prevaleça o espiritual e o divino”. (1)
Na vinha do Senhor, muitos são chamados, mas poucos são os que dão resposta generosa e decidida, exatamente pelas provações, exigências próprias de um autêntico discipulado, que não acontece sem a cruz, inevitável para o alcance da glória eterna.
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora vozes - p.225.
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