A dignidade e a participação das mulheres na família e na sociedade
À luz dos parágrafos 451-458 da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe – Aparecida – 2007, reflitamos sobre a dignidade e a participação das mulheres na vida da Igreja e na sociedade.
A antropologia cristã ressalta a igual identidade entre homem e mulher, em razão de terem sido criados à imagem e semelhança de Deus, e o Mistério da Trindade nos convida a viver uma comunidade de iguais na diferença.
A sabedoria do plano de Deus exige que favoreçamos o desenvolvimento de sua identidade feminina, em reciprocidade e complementaridade com a identidade do homem.
Neste sentido, é significativa a prática de Jesus, em que ressalta a dignidade da mulher e o seu indiscutível valor. Uma prática fundamental para nosso contexto, marcado pelo machismo que ainda prepondera.
Vejamos algumas passagens dos evangelhos em que retrata a ação de Jesus em relação às mulheres:
- Jesus falou com elas (cf. Jo 4,27);
- teve singular misericórdia com as pecadoras (cf. Lc 7,36- 50; Jo 8,11);
- as curou (cf. Mc 5,25-34);
- reivindicou a dignidade delas (cf. Jo 8,1-11);
- as escolheu como primeiras testemunhas de Sua Ressurreição (cf. Mt 28,9-10);
- foram incorporadas ao grupo de pessoas que lhe eram mais próximas (cf. Lc 8,1-3).
Ressalta-se a figura de Maria, discípula por excelência entre discípulos, fundamental na recuperação da identidade da mulher e de seu valor na Igreja.
O canto do Magnificat (Lc 1,39-56), em especial, mostra Maria como mulher capaz de se comprometer com sua realidade, e diante dela ter voz profética.
Sendo a mulher corresponsável, junto com o homem, pelo presente e futuro de nossa sociedade humana, a reciprocidade deve marcar a relação entre estes, numa mútua colaboração, harmonização, complementação e empenho para somar todos os esforços.
É lamentado o fato de que inumeráveis mulheres, de toda condição, não sejam valorizadas em sua dignidade, estejam frequentemente sozinhas e abandonadas, não se reconheçam nelas suficientemente o abnegado sacrifício, inclusive a heroica generosidade no cuidado e educação dos filhos e na transmissão da fé na família.
Também é notável que muito menos se valoriza e não se promove, adequadamente, sua indispensável e peculiar participação na construção de uma vida social mais humana e na edificação da Igreja.
Some-se a isto que, ao mesmo tempo, sua urgente dignificação e participação são distorcidas por correntes ideológicas marcadas com o selo cultural das sociedades de consumo e do espetáculo, capazes de submeter as mulheres a novas formas de escravidão.
Faz-se necessário a superação da mentalidade machista, que ignora a novidade do cristianismo, onde se reconhece e se proclama a “igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao homem”, na realidade da América Latina e do Caribe.
Num contexto em que as mulheres constituem, geralmente, a maioria de nossas comunidades, são as primeiras transmissoras da fé e colaboradoras dos pastores, os quais devem atendê-las, valorizá-las e respeitá-las.
Urge, portanto:
- escutar o clamor, muitas vezes silenciado, de mulheres que são submetidas a muitas formas de exclusão e de violência em todas as suas formas e em todas as etapas de suas vidas: as mulheres pobres, indígenas e afro-americanas têm sofrido dupla marginalização;
- que todas as mulheres possam participar plenamente na vida eclesial, familiar, cultural, social e econômica, criando espaços e estruturas que favoreçam maior inclusão;
- valorizar a maternidade como missão excelente das mulheres, sem que com isto se oponha ao seu desenvolvimento profissional e ao exercício de todas as suas dimensões, o que permite serem fiéis ao plano original de Deus, que dá ao casal humano, de forma conjunta, a missão de melhorar a terra.
Como Igreja é preciso:
- compartilhar, orientar e acompanhar projetos de promoção da mulher com organismos sociais já existentes;
- reconhecer o ministério essencial e espiritual que a mulher leva em suas entranhas: receber a vida, acolhê-la, alimentá-la, dá-la à luz, sustentá-la, acompanhá-la e desenvolver seu ser mulher, criando espaços habitáveis de comunidade e comunhão;
- reconhecer a vocação materna, que se cumpre através de muitas formas de amor, compreensão e serviço aos demais, pois a dimensão maternal também pode ser expressa na adoção de crianças e a elas oferecendo proteção e lar.
Algumas ações pastorais são propostas:
a) Impulsionar a organização da pastoral de maneira que ajude a descobrir e desenvolver em cada mulher e nos âmbitos eclesiais e sociais o “gênio feminino” e promova o mais amplo protagonismo das mulheres;
b) Garantir a efetiva presença da mulher nos ministérios, que na Igreja são confiados aos leigos, como também nas instâncias de planejamento e decisão pastorais, valorizando sua contribuição;
c) Acompanhar as associações femininas, que lutam para superar situações difíceis, de vulnerabilidade ou de exclusão;
d) Promover o diálogo com autoridades para a elaboração de programas, leis e políticas públicas, que permitam harmonizar a vida de trabalho da mulher com seus deveres de mãe de família.
Concluindo, embora a mulher seja insubstituível no lar, na educação dos filhos e na transmissão da fé, não se exclui a necessidade de sua participação ativa na construção da sociedade e, para isto, é necessário propiciar uma formação integral, para que elas possam cumprir sua missão tanto na família como na sociedade.
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