A autenticidade da fé
“... por detrás da momentânea casca amarga
de preferir a Palavra do Mestre à nossa, se esconde
o suco doce da esperança e do sentido pleno da vida”
No 24º Domingo do Tempo Comum (ano B), em que se proclama a passagem da Carta de Tiago (Tg 1,17-18; 21b-22.27), refletimos sobre a autenticidade da fé:
“A fé que se reduz a um puro conhecimento intelectual é inútil, como no caso dos demônios (Tg 2,19). A fé sem obras é com razão chamada ‘fé diabólica.'... Que havemos de fazer para não nos deixarmos esmagar pelo peso da Cruz e viver o tempo, que o Senhor na Sua bondade nos dá, com um pouco de esperança?”. (1)
Somos convidados a viver uma fé operosa, com renúncias necessárias, para que, com maior fidelidade, tomemos nossa cruz de cada dia para seguir o Senhor, com coragem e confiança, pois antes de carregarmos a nossa, Ele a carregou por todos nós.
“É preciso termos noção de que o tempo da prova, se vivido com fé, torna-se tempo de fé operosa: embora inicialmente os frutos tenham o sabor amargo da dor e das lágrimas, podem tornar-se frutos odorosos e preciosos para a caminha espiritual do cristão.
O amargo, se acolhido com amor, diz-no-lo o nosso Mestre, e podemos confiar n’Ele – transformar-se-á em doçura de alma e do corpo, como aconteceu com Ele, depois da Sexta-Feira Santa. Na Páscoa, Jesus viu resplandecer em plena luz o que a dor e o sofrimento escondiam.
Se o fruto amargo do ‘renunciar a si mesmo e tomar sua cruz’ atrás de Jesus, não permite saltar de alegria (como desejaríamos e esperaríamos), no entanto pode fazer-nos descobrir, indo um pouco mais adiante, que por detrás da momentânea casca amarga de preferir a Palavra do Mestre à nossa, se esconde o suco doce da esperança e do sentido pleno da vida.
Como sempre a árvore da alegria, a verdadeira, mergulha as Suas raízes na fadiga e mesmo na dor. Se assim foi para o Mestre, não poderá ser de outra forma para o discípulo.
Senão – e confirmam-no-lo os Santos e todos os que acolheram o convite de Jesus – não haverá verdadeira alegria, mas a ilusão de termos tocado na altura o céu com um dedo, para despertarmos logo não na alta montanha, mas nos costumeiros vales que sabem a fome e a sede ainda não saciadas.
Para chegar a ‘gloriar-se da Cruz do Senhor’ (Gl 6,14), precisamos de percorrer muito caminho.
Não podemos recusar a cruz que já se encontra aos nossos ombros, para ir procurá-la noutro lado. Devemos aceitá-la com amor, embora no sofrimento, abraçá-la como a abraçou Jesus, quando no caminho para o Calvário teve de suportar todo o seu peso.
Caiu várias vezes, mas no fim, depois de ajudado, chegou ao lugar da oferenda total. Vem em nossa ajuda, não o primeiro que passa, mas o próprio Jesus: Ele é o nosso Cirineu. Somos pessoas de sorte! Temos apenas de reparar que ao nosso lado, Jesus caminha também. Trata-se apenas de abrir os olhos e de O reconhecer ‘no partir o Pão’ da Palavra e da Eucaristia”. (2)
Vivamos uma fé autêntica e frutuosa, que passa inevitavelmente pelas renúncias quotidianas e o carregar da cruz, sem reclamar, mas na confiança plena d’Aquele que jamais nos abandona, Jesus:
“Pai Santo, conforto dos pobres e dos que sofrem,
não nos abandoneis na nossa miséria:
Que o Vosso Espírito nos ajude a acreditar de coração
e a confessar com as obras que Jesus é o Cristo,
para vivermos conforme a Sua Palavra e o Seu exemplo,
certos de que salvaremos as nossas vidas
quando tivermos a coragem de as perder” (3)
(1) Lecionário Comentado - Volume Tempo Comum - Editora Paulus - Lisboa - p.341 e 343
(2) Idem - p.343
(3) Idem - p.344
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