“Seja feita a Vossa vontade...”
Aprofundemos com o Tratado de São Cipriano, bispo e mártir, as palavras de que dizemos na Oração que o Senhor nos ensinou, o "Pai-Nosso", quando dizemos "...Venha a nós o vosso Reino e seja feita a vossa vontade".
"A Oração continua: Venha a nós o Vosso Reino. Pedimos que o Reino de Deus se torne presente a nós, da mesma forma que solicitamos seja em nós santificado o Seu nome.
Porque, quando é que Deus não reina? Ou quando para Ele começou o Reino que sempre existiu e nunca deixará de ser?
Pedimos a vinda de nosso Reino, prometido por Deus e adquirido pelo Sangue e Paixão de Cristo, a fim de que nós que fomos, outrora, escravos do mundo, reinemos depois, conforme Ele nos anunciou, pelo Cristo glorioso, ao dizer: Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a origem do mundo.
Pode-se igualmente, irmãos diletíssimos, entender que o próprio Cristo é o Reino de Deus, cuja vinda pedimos todos os dias. Estamos ansiosos por ver esta vinda o mais depressa possível.
Sendo Ele a Ressurreição, pois n’Ele ressurgimos, assim também se pode pensar que Ele é o Reino de Deus, pois n’Ele reinaremos.
Pedimos, é claro, o Reino de Deus, o Reino Celeste, já que há um reino terrestre. Mas quem já renunciou ao mundo está acima desse reino terrestre e de suas honrarias.
Acrescentamos ainda: Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu. Não para que Deus faça o que quer, mas para que possamos fazer o que Deus quer.
Pois quem impedirá a Deus de fazer tudo quanto quiser? Mas porque o diabo se opõe a que nossa vontade e ações em tudo obedeçam a Deus, oramos e pedimos que se faça em nós a vontade de Deus.
Que se faça em nós é obra da vontade de Deus, isto é, resultado de Seu auxílio e proteção, porque ninguém é forte por suas próprias forças.
Com efeito, é a Indulgência e a Misericórdia de Deus que o protegem.
Finalmente, manifestando a fraqueza de homem, diz o Senhor: Pai, se possível, afaste-se de mim este cálice e, dando aos discípulos o exemplo de renunciar à própria vontade e de aceitar a de Deus, acrescentou: Contudo não o que Eu quero, mas o que Tu queres.
A vida humilde, a fidelidade inabalável, a modéstia nas palavras, a justiça nas ações, a misericórdia nas obras, a disciplina nos costumes; o não fazer injúrias; o tolerar as recebidas; o manter a paz com os irmãos; o amar a Deus de todo o coração; o amá-Lo por ser Pai; o temê-Lo por ser Deus; o nada absolutamente antepor a Cristo, pois também Ele não antepôs coisa alguma a nós; o aderir inseparavelmente à Sua caridade; o estar ao pé de Sua Cruz com coragem e confiança, quando se tratar de luta por Seu nome e Sua honra, o mostrar firmeza ao confessá-Lo por palavras, e, no interrogatório, manter a confiança n’Aquele por quem combatemos, e, na morte, conservar a paciência que nos coroará, tudo isto é querer ser coeerdeiro de Cristo, é cumprir o preceito de Deus, é realizar a vontade do Pai”.
Quantas vezes rezamos assim no "Pai-Nosso": “Venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade...”?
Tenhamos a coragem de nos perguntar: quando dizemos “seja feita a Vossa vontade...” temos consciência do que dizemos?
Procuramos, verdadeiramente, em tudo e em todo lugar realizar a vontade de Deus?
A Oração do "Pai-Nosso", por tudo que significa para nós, jamais poderá ser rezada de forma evasiva, sem ressonâncias no cotidiano, pois ao rezá-la, deve nos levar à santificação de todos nós, tão querida por Deus.
Rezemos com a vida, não somente com a voz!
PS: “Do Tratado sobre a Oração do Senhor”, de São Cipriano, Bispo e Mártir (Séc. III), conforme Liturgia das Horas – Vol. III – pág. 328-330.
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