Celebramos, no dia 06 de agosto, a Transfiguração do Senhor
no Monte Tabor diante de significativas testemunhas: Moisés (simbolizando a
Lei), Elias (a profecia) e os discípulos João, Pedro e Tiago, como testemunhas
da Nova Aliança que Ele veio conosco realizar.
Jesus, O Filho amado no qual o Pai encontra o Seu agrado,
tem que ser escutado na “Montanha”, lugar da manifestação de Deus, e, na
Planície do quotidiano, anunciado e testemunhado.
A Transfiguração é a predição da glória futura, que passa
inevitavelmente pela cruz carregada, acompanhada de renúncias quotidianas para
maior fidelidade. Passando pela morte, Ele Ressuscitou, e assim todos aqueles
que O testemunharem terão o mesmo destino.
Jesus quer assegurar aos Seus que o aparente fracasso da
Cruz não terá palavra última, de modo que não se desesperem e nem percam o
horizonte do compromisso que brota com a fé.
Deus bem sabe das nossas limitações, fraquezas, medos,
desânimos, cansaços... Por isso, nos antecipou, em sinal, a glória futura
transfigurando-Se diante dos discípulos.
Voltemo-nos para um pequeno trecho da Mensagem Quaresmal do
Papa Bento XVI (2011), oportuna também para esta Festa que celebramos:
“O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos
nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a Ressurreição e que anuncia a
divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida,
como os Apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17,
1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de
Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O»
(v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se
imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma
Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o
mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.”
O Papa propõe algo bem forte e concreto: distanciarmo-nos
dos boatos da vida quotidiana para imergir na presença de Deus.
Podemos falar de várias feridas que nos fazem cair nos
“boatos da vida”, entre elas a ignorância, a malícia, a concupiscência e a
debilidade do ânimo, a perda da fé, as tentações que o Senhor venceu no deserto
(abundância, prestígio e poder-domínio) etc.
“Distanciar-se dos boatos da vida...” não é evasão, fuga, ausência de compromisso; é não ser
seduzido pelos ruídos que nos distanciam de Deus e de Seu Projeto; é não perder
o sentido do existir procurando em Deus a fonte inesgotável de graça, paz e
amor para todos nós; é não mergulhar num ativismo com consequências
previsivelmente tristes, estarrecedoras, aniquiladoras...; é não dar ouvidos
aos cantares da sedução material do prazer pelo prazer, da dominação do outro
que o leva até mesmo a sua destruição...
Subamos com o Senhor ao Monte Tabor, distanciando-nos dos
fatos da vida para fazer algo que é extremamente necessário,
imprescindível: “imergir na presença de Deus”.
“Imergir”, mergulhar, lançar-se com toda confiança;
colocar-se diante de Sua presença. Adorar, escutar, amar, anunciar e
testemunhar ao mundo Sua força, amor, ternura, bondade, presença...
Silenciar diante do Mistério de Amor. Extasiar-se pelo Seu
mais belo esplendor. Encantar-se, enamorar-se e, apaixonada e decididamente,
colocar-se, por e a Ele, a serviço, como fez o Apóstolo Paulo (2Tm 1,8-10).
Distanciemo-nos dos “boatos”, sejamos imersos no mar de
misericórdia de Deus, carregando nossa cruz, transformando os fatos que nos
marcam e desafiam, revendo nossas mentalidades e atitudes no cuidado do
Planeta, nossa casa comum que em dores de parto geme; escutando seus clamores,
buscando alternativas e caminhos, assegurando não somente a sua sobrevivência,
como a nossa e das gerações futuras, na perfeita dupla solidariedade:
solidariedade da sincronia e da diacronia... Solidariedade entre nós e com
aqueles que virão...
Distanciar-se
é preciso! E, assim, imersos no Amor Divino, inseridos, mais do que nunca,
pela Palavra fortalecidos e pelo Pão da Eucaristia nutridos, ardorosas
testemunhas do Senhor sejamos!
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