domingo, 1 de outubro de 2023

Síntese da mensagem de Sua Santidade o Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões - 2021

 


Síntese da mensagem de Sua Santidade o Papa Francisco para o
Dia Mundial das Missões - 2021 

A mensagem tem como motivação bíblica a passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos – “Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos” (At 4, 20), tendo como contexto uma situação de pandemia que “...evidenciou e aumentou o sofrimento, a solidão, a pobreza e as injustiças de que já tantos padeciam, e desmascarou as nossas falsas seguranças e as fragmentações e polarizações que nos dilaceram silenciosamente. Os mais frágeis e vulneráveis sentiram ainda mais a sua vulnerabilidade e fragilidade. Experimentamos o desânimo, a decepção, o cansaço; e até a amargura conformista, que tira a esperança, se apoderou do nosso olhar”. 

A situação da pandemia evidenciou e aumentou o sofrimento, a solidão, a pobreza e as injustiças de que já tantos padeciam, e desmascarou as nossas falsas seguranças e as fragmentações e polarizações que nos dilaceram silenciosamente.

A experiência dos apóstolos do encontro com o Messias tornou-se fundamental para o ardor na missão:  - “O amor está sempre em movimento e põe-nos em movimento, para partilhar o anúncio mais belo e promissor: «Encontramos o Messias» (Jo 1, 41).

O Papa dirige um convite a cada um de nós: cuidar e dar a conhecer aquilo que tem no coração, pois esta missão é, e sempre foi, a identidade da Igreja: «ela existe para evangelizar» (São Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 14).

É preciso viver a missão num contexto marcado pelas alegrias, sofrimentos, anseios e angústia, com a necessidade de redenção, em atenção à Palavra de Jesus Cristo - “«Ide às saídas dos caminhos e convidai todos quantos encontrardes» (cf. Mt 22, 9), vivendo um amor de compaixão em que ninguém se sinta estranho ou afastado.

Assim como os apóstolos e os primeiros cristãos, também nós «não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4, 20) – “Como os apóstolos que viram, ouviram e tocaram a Salvação de Jesus (cf. 1 Jo 1, 1-4), também nós, hoje, podemos tocar a carne sofredora e gloriosa de Cristo na história de cada dia e encontrar coragem para partilhar com todos um destino de esperança, esse traço indubitável que provém de saber que estamos acompanhados pelo Senhor.  Como cristãos, não podemos reservar o Senhor para nós mesmos...”

Vivemos tempos novos, que suscitam uma fé capaz de estimular iniciativas e plasmar comunidades a partir de homens e mulheres, que aprendem a se ocupar da fragilidade própria e dos outros.

O ardor missionário dos discípulos consiste num colocar-se “em estado de missão”, como reflexo da gratidão, fazendo florir o milagre da gratuidade, do dom de si mesmo.

Urge que aprendamos com os primeiros discípulos que transformaram cada incômodo, contrariedade e dificuldade em oportunidade para a missão – “Possuímos o testemunho vivo de tudo isto nos Atos dos Apóstolos, livro que os discípulos missionários sempre têm à mão. É o livro que mostra como o perfume do Evangelho se difundiu à passagem deles, suscitando aquela alegria que só o Espírito nos pode dar. O livro dos Atos dos Apóstolos ensina-nos a viver as provações unindo-nos a Cristo, para maturar a «convicção de que Deus pode atuar em qualquer circunstância, mesmo no meio de aparentes fracassos», e a certeza de que «a pessoa que se oferece e entrega a Deus por amor, seguramente será fecunda (cf. Jo 15, 5)» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 279).

Somos chamados, cientes que “não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos Vossos servos por amor de Jesus” (2 Cor 4, 5).

O contexto que vivemos tem a urgente necessidade de missionários de esperança que, ungidos pelo Senhor, sejam capazes de lembrar profeticamente que ninguém se salva sozinho.

O Papa nos convida a recordar com gratidão todas as pessoas, cujo testemunho de vida nos ajuda a renovar o nosso compromisso batismal de sermos apóstolos generosos e jubilosos do Evangelho.

Lembrar especialmente aqueles que foram capazes de partir, deixar terra e família para que o Evangelho pudesse atingir sem demora e sem medo aqueles ângulos de aldeias e cidades onde tantas vidas estão sedentas de bênção.

Supliquemos ao Senhor que mande trabalhadores para a Sua messe (Lc 10, 2), cientes de que a vocação para a missão não é algo do passado nem uma recordação romântica de outrora.

O Papa fala da necessidade de corações que sejam capazes de viver a vocação como uma verdadeira história de amor, que os faça sair para as periferias do mundo e tornar-se mensageiros e instrumentos de compaixão, cada qual a seu modo, nas periferias que estão perto de nós, no centro duma cidade ou na própria família, com a abertura universal do amor que não é geográfico, mas existencial.

Conclui nos convidando a viver a missão como o “...aventurar-se no cultivo dos mesmos sentimentos de Cristo Jesus e, com Ele, acreditar que a pessoa ao meu lado é também meu irmão, minha irmã. Que o seu amor de compaixão desperte também o nosso e, a todos, nos torne discípulos missionários”, contando com Maria, a primeira discípula missionária, a fim de que faça crescer em todos os batizados o desejo de ser sal e luz nas nossas terras (cf. Mt 5, 13-14).


Se desejar, leia a mensagem na integra:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/missions/documents/papa-francesco_20210106_giornata-missionaria2021.html


Ela veio trazendo vida

Ela veio trazendo vida

Com o Cântico de Daniel, louvemos o Senhor:

“Águas do alto céu, bendizei o Senhor!
Potências do Senhor, bendizei o Senhor!
Lua e sol, bendizei o Senhor!
Astros e estrelas bendizei o Senhor!
Chuvas e orvalhos, bendizei o Senhor!”  (Dan 3,60-64)

Foram, aproximadamente, cento e cinquenta pores do sol sem a sua presença.
Era por todos tão esperada, que parecia não vir mais.
No entanto, ela veio no meio do dia, timidamente, logo cessou.
E neste momento, como que para não afugentá-la,
Silêncio e Contemplação, atitudes que foram despertadas.

De repente, surpreendentemente, veio bem mais forte,
Ainda que por um tempo breve, bem mais densa,
Densa o bastante para arrancar um sorriso de contentamento,
Pois de tão esperada, parecia convidar a uma dança;
A todos convidava, e não houve quem ousasse reclamar.

Cessou novamente, bem mais rápido que o desejado.
Porém, ao virar das horas de um novo dia, ela volta suavemente.
Escutamos sobre nossos telhados, algo que há muito não ouvíamos,
No recolhimento do quarto, para as energias revigorar,
Um sono banhado com a tão esperada e necessária chuva.

Novo dia, o sol desponta, e numa manhã como há muito não se via
As ruas, guias e sarjetas escoavam a tão preciosa água da chuva:
Árvores, gramas, flores e toda a natureza, sendo agraciada,
Acompanhada pela alegre sinfonia dos pássaros,
Que, com canto e voos, celebram sua chegada.

Vinde, bendita chuva, regar campos, vales e cidades.
Represas e reservatórios, já ameaçam os últimos suspiros;
Torneiras secas, queimadas multiplicadas, insuportável umidade do ar.
Imunidades de todos nós no limite, agora tende a se recuperar.
Vinde, bendita chuva, como graça que vem do alto.

Vinde, bendita chuva, chorar no rosto dos muros.
Vinde correr mais ainda pelas guias e sarjetas,
Vinde, bendita chuva, para a fertilidade do campo;
Flores, frutos saborosos, em mesas fartas termos;
Fim de queimadas, o verde renascendo das cinzas.

Vinde, bendita chuva! Se escassa, não por culpa divina,
Mas devido à intervenção inconsequente,
Na Amazônia e em tantos outros lugares.
Pagamos o preço pelo absurdo abuso.
É tempo de novas posturas, necessária conversão.

Vinde, bendita chuva, que traz consigo um sinal para nós:
Repensar nossas atitudes de consumo da água,
Bem sagrado por Deus a nós confiado;
Reutilizá-la, reduzir o consumo, urge reaprender.
Páginas de ecologia integral, aprendamos a escrever.

Vinde, bendita chuva!

“No coração da Igreja minha vocação é o amor...”

“No coração da Igreja minha vocação é o amor...” 

No dia 1º de outubro, celebramos a memória de uma grande testemunha do Senhor, Santa Teresinha do Menino Jesus (séc. XIX), sejamos enriquecidos por sua autobiografia. 

“Meus imensos desejos me eram um autêntico martírio. Fui, então, às cartas de São Paulo a ver se encontrava uma resposta. Meus olhos caíram por acaso nos capítulos doze e treze da Primeira Carta aos Coríntios. 

No primeiro destes, li que todos não podem ser ao mesmo tempo apóstolos, profetas, doutores, e que a Igreja consta de vários membros; os olhos não podem ser mãos ao mesmo tempo. Resposta clara, sem dúvida, mas não capaz de satisfazer meu desejo e dar-me a paz.

Perseverei na leitura sem desanimar e encontrei esta frase sublime: Aspirai aos melhores carismas. E vos indico um caminho ainda mais excelente (1Cor 12,31).

O Apóstolo esclarece que os melhores carismas nada são sem a caridade, e esta caridade é o caminho mais excelente que leva com segurança a Deus. Achara enfim o repouso.

Ao considerar o Corpo místico da Igreja, não me encontrara em nenhum dos membros enumerados por São Paulo, mas, ao contrário, desejava ver-me em todos eles. A caridade me deu o eixo de minha vocação. 

Compreendi que a Igreja tem um corpo formado de vários membros e neste corpo não pode faltar o membro necessário e o mais nobre: entendi que a Igreja tem um coração e este coração está inflamado de amor. 

Compreendi que os membros da Igreja são impelidos a agir por um único amor, de forma que, extinto este, os apóstolos não mais anunciariam o Evangelho, os mártires não mais derramariam o sangue. 

Percebi e reconheci que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo, abraça todos os tempos e lugares, numa palavra, o amor é eterno. 

Então, delirante de alegria, exclamei: Ó Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação: minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, Tu me deste este lugar, meu Deus. No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor e desse modo serei tudo, e meu desejo se realizará”. 

Santa Terezinha pouco viveu, mas teve tamanha intensidade e amor, que ficará para sempre viva, presente em nossa memória. Ela foi declarada a “Padroeira das Missões”, por Pio XI, em 1927. 

Entre as quatros doutoras da Igreja, ela está ao lado de Santa Teresa de Ávila e Santa Catarina de Sena e Santa Hildegarda de Bingen. 

Em oração atenta, deleitando-se com a Palavra Divina, descobriu seu lugar na Igreja, e sua exclamação ressoa no nosso: "No coração da Igreja minha vocação é o amor!” 

Reflitamos:

- “Qual é a minha vocação na Igreja?”

Responderemos que somos padre, religiosa, primeiros educadores da fé, pelo exemplo e palavra aos filhos, por Deus, confiados (pai e mãe).

Com toda certeza, diremos o que somos, o que fazemos, os títulos que possuímos, o trabalho que já fizemos ou faremos etc. 

Somente uma jovem com intenso amor no coração, pelo Amado seduzido, com o fogo do Amor do Espírito, em fidelidade ao Pai de Amor, poderia ter dito de forma tão singular e tão marcante:

“No coração da Igreja minha vocação é o amor...”

Sejamos ou façamos o que for, mas façamos vocacionados para o Amor e pelo Amor, somente assim seremos fiéis e amados Discípulos Missionários do Senhor!

Santa Teresinha: A Padroeira das Missões

 


Santa Teresinha: A Padroeira das Missões

“No coração da Igreja minha vocação é o amor...” 

A Igreja dedica, de modo especial, o mês de outubro para aprofundar sobre as Missões, mas é evidente que todos os dias são favoráveis para que vivamos a graça da missão. 

Santa Teresinha do Menino Jesus (séc. XIX) pouco viveu, mas teve tamanha intensidade e amor, e ficará para sempre viva, presente em nossa memória. 

Grande testemunha do Senhor, cuja Memória celebramos no dia 1º de outubro, e foi declarada a “Padroeira das Missões”, por PIO XI, em 1927.

Retomo suas palavras, quando procurava encontrar o lugar da sua vocação na Igreja: “Então, delirante de alegria, exclamei: Ó Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação: minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, Tu me deste este lugar, meu Deus. No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor e desse modo serei tudo, e meu desejo se realizará”. 

Em oração atenta, deleitando-se com a Palavra Divina, descobriu seu lugar na Igreja, e sua exclamação ressoa por todo o tempo: "No coração da Igreja minha vocação é o amor!”  

Vivendo a graça do tempo que antecede o Sínodo 2021-2023, também podemos nos perguntar - “Qual é a minha vocação na Igreja, sobretudo uma Igreja Sinodal, Povo de Deus que caminha juntos, na comunhão, participação e missão?” 

Com toda certeza, diremos o que somos, o que fazemos, os títulos que possuímos, o trabalho que já fizemos ou faremos etc.  Mas, que a exemplo desta jovem, tenhamos intenso amor no coração a fim de que pelo Amado Jesus seduzidos, com o fogo do Amor do Espírito, vivamos maior fidelidade ao Plano de Amor que Deus tem para todos nós.

Sejamos ou façamos o que for, mas façamos vocacionados para o Amor e pelo Amor, somente assim seremos fiéis e amados Discípulos Missionários do Senhor, edificando comunidades eclesiais missionárias.

sábado, 30 de setembro de 2023

A Palavra de Deus: leitura e oração (24/07)

                                                         

A Palavra de Deus: leitura e oração
                                      
   “A oração nos purifica, a leitura nos instrui”

Reflexão à luz da Palavra do Semeado conforme as passagens do Evangelho (Mt 13,1-9; Mc 4,1-9; Lc 8,4-15).

O Semeador é o próprio Jesus, assim como a semente é a Sua Palavra a cair no chão de nosso coração.

Sejamos enriquecidos pelos escritos do Bispo Santo Isidoro (séc. VII) sobre a importância da Palavra de Deus, e em que consiste a diferença da sua leitura ou oração.

“A Oração nos purifica, a leitura nos instrui. Usemos uma e outra, se é possível, porque as duas são coisas boas. Porém, se não for possível, é melhor rezar do que ler.

Quem deseja estar sempre com Deus, deve rezar e ler constantemente. Quando rezamos, falamos com o próprio Deus; mas quando lemos, é Deus que nos fala.

Todo progresso procede da leitura e da meditação. Com a leitura aprendemos o que não sabemos, com a meditação conservamos na memória o que aprendemos.

Da leitura da Sagrada Escritura recebemos uma dupla vantagem, porque ilumina a nossa inteligência e conduz o homem ao amor de Deus, depois de tê-lo arrancado das vaidades mundanas.

Duplo é também o fim que temos de propor-nos a ler: o primeiro, tratar de compreender o sentido das Escrituras; e em seguida, esforçar-nos por proclamá-la com a maior dignidade possível.

Quem lê, de fato, busca em primeiro lugar compreender o que lê, e somente depois trata de expressar de modo mais conveniente o que aprendeu.

Mas o bom leitor não se preocupa tanto de conhecer o que lê quanto de colocá-lo em prática. É menos árduo ignorar completamente um ideal do que, uma vez conhecido, não colocá-lo em prática. Portanto, assim como mediante a leitura demonstramos nosso desejo de conhecer, assim logo após ter conhecido temos de sentir o dever de colocar em prática as coisas boas que aprendemos.

Ninguém é capaz de aprofundar-se no sentido da Sagrada Escritura se não a lê com assiduidade, conforme está escrito: ‘Ama-a e ela te exaltará, glorificar-te-á quando a abraças’.

Quanto mais assíduo se é na leitura da Escritura, mais rico é o entendimento que se alcança. É o mesmo que acontece com a terra: quanto mais a cultivamos, mais produz.

Existem pessoas que, sendo inteligentes, são negligentes na leitura dos textos sagrados. Desta forma, com sua negligência manifestam seu desprezo por aquilo que poderiam ter aprendido mediante a leitura. Outros, no entanto, têm desejos de saber, porém sua escassa preparação se torna um obstáculo. Contudo, estes últimos, mediante uma leitura inteligente e assídua, chegam a conhecer o que os outros ignoram; mais inteligentes, porém preguiçosos e indiferentes.

Assim como uma pessoa, ainda que seja tarda em inteligência, consegue tirar fruto graças ao seu esforço e seu empenho no estudo, assim aquele que negligencia o dom da inteligência que Deus lhe concedeu se torna culpável de reprovação, porque rejeita um dom recebido e o deixa sem dar frutos.

Se a doutrina não está sustentada pela graça, não chega ao coração, mesmo que entre pelos ouvidos. Faz muito barulho por fora, mas não aproveita a alma. Somente quando intervém a graça, a Palavra de Deus desce dos ouvidos ao fundo do coração, e ali age intimamente, levando a compreensão do que foi lido”. (1)

Um pouco antes, São Jerônimo exortou-nos a amar a Palavra de Deus na Sagrada Escritura. Literalmente afirmou: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”.

Por isso, é importante que todo cristão viva em contato e em diálogo pessoal com a Palavra de Deus, que nos é entregue na Sagrada Escritura.

Este diálogo com Ela deve ter sempre duas dimensões: por um lado, deve haver um diálogo realmente pessoal, pois Deus fala conosco através da Sagrada Escritura e tem uma mensagem para cada um de nós.

A Sagrada Escritura não pode ser vista como uma Palavra do passado, mas como Palavra de Deus dirigida também a nós, quando procuramos entender o que o Senhor quer nos dizer.

Para não cair no individualismo, temos de ter presente que a Palavra de Deus nos é dada precisamente para construir comunhão e para nos unir na verdade de nosso caminho rumo a Deus.

Portanto, apesar de ser sempre uma Palavra pessoal, é também uma Palavra que edifica a comunidade, que edifica a Igreja verdadeiramente Sinodal. Por isso, temos de lê-la em comunhão com a Igreja viva.

O lugar privilegiado da leitura e da escuta da Palavra de Deus é a Liturgia, nela ao celebrar a Palavra e ao tornar presente o Sacramento do Corpo de Cristo, atualizamos a Palavra em nossa vida e a fazemos presente entre nós.

A Palavra de Deus transcende os tempos, ao contrário das opiniões humanas que passam. O que hoje se apresenta como moderno, amanhã estará ultrapassado. Ela é Palavra de Vida Eterna, tem em si a eternidade, vale para sempre. 

Com a leitura da Palavra Divina, podemos nos instruir acerca da vontade de Deus, mas quando a tomamos para a Oração, abrimos nosso coração e a Ele apresentamos nossos anseios, propósitos, angústias, esperanças,  alegrias e tristezas, em atenta espera de Sua resposta.

Os Salmistas nos ensinam que os ouvidos de Deus estão sempre abertos e prontos a nos conceder uma resposta, ainda que esta nos desinstale, nos questione, exija mudança de rumos, conceitos e paradigmas, e alargamento de horizontes…

“Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei para meu Deus:
do Seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor em Sua presença chegou aos Seus ouvidos.” (Sl 17,7)


(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp. 176-177

Graça, gratidão e gratuidade

Graça, gratidão e gratuidade

É sempre tempo favorável para aprofundarmos a importância da Bíblia em nossa vida; ela que é fonte de água cristalina que sacia nossa sede de vida nova, de amor, de paz, de justiça.

Ela é o indispensável Alimento para que vivamos com ardor e paixão a vocação de Deus recebida como dom.

De inúmeros e diferentes modos, Deus nos chamou ao amor, e renovamos, permanentemente, nossa resposta a este chamado.

Pela vocação que o Senhor nos concedeu, por Sua Palavra, que ressoa no mais profundo de nossa alma, pelas graças que copiosamente nos cumula, ainda que sem méritos nossos, e ainda que não o percebamos, é preciso diante d’Ele nos colocar em atitude de gratidão e gratuidade.

Reflitamos:

Graça de Deus: 
Viver em comunidade, numa Paróquia, é graça de Deus para aprofundarmos amizades a serem celebradas e nutridas sobre o altar do Senhor; o bem querer de Deus para com todos nós, e em muitos momentos, nos enriquecem por Sua graça: Eucaristias, procissões, Sacramentos, momentos de espiritualidade. Graça que é força, ternura, carinho, presença amorosa que nos assegura firmeza no caminhar. Em nenhum momento Deus Se faz ausente, pois Ele ama, cuida, vela e zela por todos aqueles que são Seus.

Gratidão a Deus: 
Pela história que podemos escrever, participando de uma Paróquia; acolhida a novos agentes, somada à perseverança de outros; acolhida do sopro de Deus, que nos convida a abertura ao novo, a lançar redes em águas mais profundas (Lc 5,1-11), sendo uma Igreja em saída. Gratidão a Deus pela partilha das alegrias e tristezas, angústias e esperanças, saúde e doença. Participar de momentos expressivos como nascimentos e mortes fracassos e vitórias.

Gratuidade para com Deus: 
Gratuidade vivenciada em pequenos e grandes gestos de amor quando a comunidade se reúne; nas diversas atividades dos Agentes de Pastoral. Gratuidade que amadurece a fé; nutre a esperança e exercita a caridade. Gratuidade vivida a partir da experiência-vivência de um Deus que é Amor. Amor gratuitamente vivenciado é a imitação do amor de Deus que tanto nos amou, a ponto de entregar Seu Filho, para que crendo n’Ele tenhamos a vida eterna (Jo 3,16).

Roguemos a Deus, para que nosso coração seja inspirado pela brisa do Espírito Santo de Deus, e nossa alma seja ferida com o fogo da caridade, para que possamos crescer, abundantemente, no amor recíproco e para com todos.

Na vigilância, confiança e esperança de um novo céu e nova terra, sejamos impulsionados para novos e mais vastos horizontes, empenhando-nos em nossos trabalhos pastorais, revigorados no Altar da Eucaristia. A comunidade que evangeliza também se evangeliza rompendo as barreiras.

Seja o nosso coração confirmado na santidade, sem defeito aos olhos de Deus, e com o salmista rezemos:

“Grande é o Senhor e muito digno de louvores na cidade onde Ele mora... como é grande o nosso Deus!” (Sl 47,2.15).

A eficácia da Palavra no caminho de conversão

A eficácia da Palavra no caminho de conversão

A Palavra de Deus é fonte inesgotável de conversão para todos os cristãos e, sobretudo para nós, Presbíteros.

Como sermos autênticos discípulos missionários credíveis do Verbo que se fez Carne se não nos propusermos a trilhar o frutuoso caminho da conversão sincera, silenciosa, contínua...?

Para que possamos avançar neste santo e inadiável propósito é preciso dar passos firmes na acolhida sincera da “Verbum Domini”  Exortação Apostólica do Papa Bento XVI sobre a Palavra de Deus na vida e na Missão da Igreja   e, como presbíteros, termos a coragem de “puxar a fila” na certeza de que construiremos comunidades mais sólidas e instrumentos do Reino, porque firmadas e alimentadas pela Palavra Divina.

Neste caminho, temos que superar as tentações sedutoras, e aqui, lembramos as fundamentais e também nascentes de outras: ter, ser e poder, que bem sabemos o Senhor as venceu no deserto e nos ensinou que também nós podemos vencê-las.

Se a elas sucumbirmos esvaziaremos o sentido de nosso ministério, ofuscaremos inexoravelmente a face do Cristo que nos chamou,  consagrou e enviou com a força do Espírito.

Como amantes do Verbo que Se fez Carne, temos que encontrar na Palavra a fonte de conversão para todos nós... Nela inspirados e iluminados há de ser superado todo o cansaço; recuperadas as perdas de horizontes que nos motivam a caminhar partícipes da civilização do amor em prol da cultura da vida; estéreis fechamentos serão rompidos; esvaziamentos encontrarão seu conteúdo existencial e vital; compensações não serão necessárias; não correspondência ao que o rebanho de nós espera será impensável...

Vale ressaltar que muito do que me refiro aos presbíteros é absolutamente indispensável para todos os cristãos leigos. A conversão é, portanto, imperativo para todos!

Assim como pedimos o pão de cada dia na oração que o Senhor nos ensinou,  podemos intuir que a graça da conversão também é suplicada, para que melhor correspondamos à vontade de Deus.

Sendo a Palavra de Deus o centro e fonte de nossa espiritualidade e da ação evangelizadora, jamais poderemos separá-la da Eucaristia que celebramos, bem como não poderemos nos acomodar em seu conhecimento, acolhimento e vivência. Bem disse são Jerônimo: “Ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo”.

Palavra de Deus não apenas para ser conhecida, mas acolhida, encarnada e vivida, como sementes que se plantam para florescer já no tempo presente, reconstruindo o paraíso não como estéril saudosismo, mas como compromissos intransferíveis...

Urge que nos empenhemos arduamente e decididamente no caminho da conversão, que não consiste num ponto de chegada em si, mas como um caminho permanente a ser percorrido. Sempre alimentados pela Palavra Divina, daremos razão de nossa esperança ao mundo; artífices da caridade porque crentes em sua força, eficácia e penetração no mais profundo de nós mesmos (1Pd 3).

Supliquemos: “A conversão de cada dia nos dai hoje, Senhor!". Amém.

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