Fortaleçamos os vínculos da comunhão
fraterna
Sejamos
enriquecidos pelo Comentário sobre o Evangelho de João, escrito pelo bispo São
Cirilo de Alexandria (Séc. V):
“Cada vez que
participamos do Corpo Sagrado de Cristo, unimo-nos a Ele corporalmente, como afirma
São Paulo ao falar do mistério do amor misericordioso de Deus: Este mistério, Deus não
o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora,
pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos são admitidos à
mesma herança, são membros do corpo, são associados à mesma promessa em Jesus
Cristo (Ef 3,5-6).
Ora, se todos nós
formamos um só corpo em Cristo, não apenas uns com os outros, mas também com Aquele
que habita em nós pela Sua carne, por que não vivemos plenamente esta união
existente entre nós e com Cristo? Com efeito, Cristo é o vínculo da unidade, por
ser ao mesmo tempo Deus e homem.
Seguindo o mesmo
caminho, podemos falar da nossa união espiritual, afirmando que todos nós, ao
recebermos o único e mesmo Espírito Santo, nos unimos uns com os outros e com
Deus. Embora estejamos separados, somos muitos e, em cada um de nós, Cristo faz
habitar o Espírito do Pai que é também o Seu.
Todavia, o
Espírito é um só e indivisível e, com a Sua presença e ação, reúne os que
individualmente são distintos uns dos outros, fazendo com que em Si mesmo todos
sejam um só. Assim como a virtude do Corpo Sagrado de Cristo transforma num só
corpo os que d’Ele participam, parece-me que o único e indivisível Espírito de
Deus, habitando em cada um, vincula a todos numa unidade espiritual.
Por isso,
novamente São Paulo se dirige a nós: Suportai-vos
uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos em guardar a unidade do
espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como também é
uma só a esperança à qual fostes chamados. Há uma só fé, um só Senhor, um só
batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de
todos e permanece em todos (Ef 4,2-6). Se
efetivamente é um só Espírito que habita em nós, também o único Deus e Pai de
todos estará em nós por Seu Filho, unindo entre Si e consigo todos os que
participam do mesmo Espírito.
Desde agora,
torna-se evidente que, de alguma maneira, estamos unidos ao Espírito Santo por
participação. De fato, se de uma vez por todas abandonamos a vida puramente
natural e obedecemos às leis do espírito, é claro que, deixando de lado a nossa
vida anterior e unindo-nos ao Espírito Santo, adquirimos uma configuração
espiritual e, até certo ponto, transformamos em outra a nossa natureza. Assim
já não somos simplesmente homens, mas filhos de Deus e habitantes do céu, pelo
fato de nos termos tornado participantes da natureza divina.
Todos, portanto,
somos um só no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Um só, repito, pela
identidade de condição, um só pela união da caridade, pela comunhão do Corpo Sagrado
de Cristo e pela participação do único Espírito Santo.” (1)
Como vemos, o bispo
nos apresenta Jesus Cristo, o vínculo da unidade.
No Pai e no
Espírito, com Jesus Cristo, somos um só, e esta união da caridade, nós a
celebramos e nutrimos ao celebrar a Ceia Eucarística, e nos alimentamos com o
Corpo Sagrado de Cristo, pela participação do único Espírito Santo.
Como Igreja
Sinodal que somos, urge que fortaleçamos os vínculos de comunhão fraterna,
expressos em gestos de solidariedade e compromissos com a vida, em suas
realidades mais desafiadoras, sobretudo onde a vida se encontre ameaçada.
Que ao verem
nossas comunidades reunidas e evangelizando, todos possam dizer – “Vede como
eles se amam”:
“Mas é justamente esta demonstração de
grande amor entre nós o que nos atrai a aversão de alguns, pois dizem: ‘Vede
como se amam’, enquanto eles somente se odeiam entre si. ‘Vede como estão
dispostos a morrer uns pelos outros’, enquanto eles estão mais dispostos a
matarem-se entre si.” (Tertuliano
– séc. III).
(1)
Liturgia das Horas - Volume Quaresma/Páscoa – pág. 801-802
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