Somente o Senhor renova nossas forças
No 6º Domingo da
Páscoa, quando ouvimos a passagem do Evangelho de João (Jo 14,15-21) sejamos
enriquecidos pelo Sermão de São João Máximo de Turim (séc. V), que nos ajuda a viver intensamente a graça do
Batismo.
“Irmãos: recordará
vossa santidade que recentemente disse em minha pregação que o homem recupera
sua juventude e que, mesmo debilitado pela idade, converte-se novamente em
criança pela inocência de seus costumes; de maneira que, mediante o sacramento,
vemos os anciãos transformarem-se em crianças.
Realmente,
abandonar o que alguém era para assumir o que antes tinha sido não deixa de ser
uma espécie de inovação. É, repito, uma inovação.
Por isso são
chamados ‘neófitos’, pois graças a uma concreta novidade têm abandonado as
marcas da velhice e assumido a graça da simplicidade, como diz o Apóstolo: Despojai-vos da velha condição humana, com
suas obras, e vesti-vos da nova condição criada à imagem de Deus.
E o santo Davi
também afirma: E como uma águia se renova
tua juventude, dando a entender que, pela graça do Batismo, é possível
fazer reviver o que de envelhecido há em nossa vida, e renovar-se com uma nova
juventude o que em nós estava arruinado pela caducidade do pecado.
E para que
compreendas que o profeta fala da graça do Batismo, compara a inovação batismal
com a renovação da águia, da qual se diz que prolonga sua vida mediante a
contínua troca de plumagem e que, ao irem-se caindo as plumas velhas, se
rejuvenesce com a nova plumagem da qual vai se revestindo, de maneira que,
depostos os sinais da velhice, veste-se o ornato da renovada novidade. De onde
podemos deduzir que a velhice da águia se faz sentir não em seus membros, mas
na plumagem. De fato, veste-se novamente, e, ao bater das asas, outra vez a
velha mãe se converte em aguioto (filhote de águia).
Pois temos de
compará-la aos franguinhos quando, com a plumagem aveludada recém-estreada, têm
que treinar-se novamente em seus lentos voos e reduzir, como ave novata, a
estreiteza do ninho e a algumas inseguras tentativas, os majestosos voos de
outros tempos. Porque ainda que o costume lhe tenha dotado da arte de voar, a
escassez da plumagem lhe diminui a confiança em si mesma.
Esta profecia do
salmista se refere, pois, à graça do Batismo. De fato, também nós neófitos,
batizados recentemente, depondo como a águia os sinais da velhice,
revestiram-se das novas vestes da santidade; e enquanto as antigas marcas vão
desprendendo-se quais leves plumas, ornam-se com a renascida graça da
imortalidade. De tal maneira que neles somente envelhecem os caducos pecados da
senilidade, não a vida. E assim como a águia se transforma em aguioto, assim
eles voltam à infância. Estão inteirados da vida no mundo, porém lhes assiste a
segurança da reencontrada justiça.
Mas examinemos
ainda com maior atenção o que diz o santo Davi. Não diz: se renova como as
águias, mas: como uma águia se renova tua
juventude. Afirma, pois, que nossa juventude se há de renovar como a de uma
só águia. E eu diria que esta só e única águia é em realidade Cristo o Senhor,
cuja juventude se renovou quando ressuscitou dentre os mortos.
Pois, depostos os
mortais despojos da corrupção, voltou a florescer mediante a assunção da carne
rediviva, como Ele mesmo diz pela boca do profeta: Minha carne floresceu novamente, lhe dou graças de todo o coração. Minha carne, diz, floresceu novamente.
Observai que
verbo utilizou. Não disse: ‘floresceu’, mas ‘refloresceu’, pois não refloresce
a não ser o que já floresceu. Floresceu verdadeiramente a carne do Senhor
quando, pela primeira vez, saiu do incontaminado seio da Virgem Maria, como diz
Isaías: Brotará um renovo do tronco de
Jessé, e de sua raiz florescerá um rebento.
Refloresceu, ao
invés, quando cortada pelos judeus a flor do corpo, germinou rediviva no
sepulcro pela glória da ressurreição; e como uma flor, exalou sobre todos os
homens o aroma e o esplendor da imortalidade, espargindo por toda parte com
suavidade o odor das boas obras e manifestando com majestade a
incorruptibilidade da eterna divindade.”
(1)
Vivamos a graça
do Batismo, como discípulos missionários do Senhor, renovando n’Ele e com Ele
nossas forças, participando ativa, consciente e piedosamente do Banquete da
Eucaristia.
Discípulos
missionários do Senhor precisam sempre a coragem de buscar novos caminhos, para
que vivam maior fidelidade a Ele, e sempre abertos à ação Espírito Santo, na
procura de respostas necessárias aos inúmeros desafios presentes na ação
evangelizadora.
Concluo com as
palavras do Apóstolo Paulo aos Colossenses (Cl 3,1-2):
“Se ressuscitastes com
Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado
à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres.” (cf. Cl 3,1-2)
(1)
Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes - 2012 - pp. 107-108.
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