quinta-feira, 9 de maio de 2024

"Somos membros uns dos outros”

“Somos membros uns dos outros”


Retomo uma síntese da Mensagem do Papa Francisco  para o 53ª Dia Mundial das Comunicações Sociais (2019), a ser celebrado na Festa da Ascensão do Senhor, com o tema - “’Somos membros uns dos outros’ (Ef 4,25): das comunidades de redes sociais à comunidade humana”.

O Papa introduz a  Mensagem ressaltando que a Igreja dispõe da internet para favorecer o encontro das pessoas e a solidariedade entre todos, acompanhado de um convite para refletir sobre o fundamento e a importância do nosso ser-em-relação e descobrir, nos vastos desafios do atual panorama comunicativo, o desejo que o homem tem de não ficar encerrado na própria solidão.

Utilizando as metáforas de “rede” e da “comunidade”, ressalta a relação invasiva dos mass-média na vida quotidiana, de modo que a rede é um recurso do nosso tempo: “uma fonte de conhecimentos e relações outrora impensáveis”.

Se de um lado a internet constitui uma possibilidade extraordinária de acesso ao saber, de outro se revelou como um dos locais mais expostos à desinformação e à distorção consciente e pilotada dos fatos e relações interpessoais, a ponto de muitas vezes cair no descrédito.

Da mesma forma, se de um lado as redes sociais servem para nos conectarmos melhor, fazendo-nos encontrar e ajudar uns aos outros, por outro, prestam-se também a um uso manipulador dos dados pessoais, visando obter vantagens no plano político ou econômico, sem o devido respeito pela pessoa e seus direitos. 

Citando as estatísticas relativas aos mais jovens, ressalta um fato preocupante: um em cada quatro adolescentes está envolvido em episódios de cyberbullying

Outro aspecto acenado sobre a social web: mal utilizada pode abrir espaço para a suspeita e qualquer tipo de preconceito (étnico, sexual, religioso, e outros), torna-se até mesmo uma vitrine onde se exibe o próprio narcisismo, quando deveria ser uma janela aberta para o mundo.

rede pode promover o encontro com os outros, mas pode também agravar o nosso autoisolamento, como uma teia de aranha capaz de capturar, dentre os quais, os adolescentes estão mais expostos à ilusão de que a social web possa satisfazê-los completamente a nível relacional, até se chegar ao perigoso fenômeno dos jovens “eremitas sociais”, que correm o risco de se alhear totalmente da sociedade.

A Igreja é, portanto, interpelada por esta realidade multiforme e insidiosa coloca várias questões de caráter ético, social, jurídico, político, econômico, de modo que enquanto cabe aos governos buscar as vias de regulamentação legal para salvar a visão originária duma rede livre, aberta e segura, é responsabilidade ao alcance de todos nós promovermos um uso positivo da mesma.

Utilizando-se de outra metáfora – o corpo e os membros – inspirado nas palavras de São Paulo, fala da relação de reciprocidade e verdade entre as pessoas, fundada num organismo que as une.

Esta metáfora nos leva a ver as pessoas não como potenciais concorrentes, como inimigos, pois não há a necessidade do adversário para me autodefinir, porque o olhar de inclusão, que aprendemos de Cristo, faz-nos descobrir a alteridade de modo novo, ou seja, como parte integrante e condição da relação e da proximidade.

Deste modo, “...a capacidade de compreensão e comunicação entre as pessoas humanas tem o seu fundamento na comunhão de amor entre as Pessoas divinas. Deus não é Solidão, mas Comunhão; é Amor e, consequentemente, comunicação, porque o amor sempre comunica; antes, comunica-se a si mesmo para encontrar o outro...”

Por sermos criados à imagem e semelhança de Deus, que é comunhão e comunicação-de-Si, trazemos sempre no coração a nostalgia de viver em comunhão, de pertencer a uma comunidade; lembrando as palavras de São Basílio: “Nada é tão específico da nossa natureza como entrar em relação uns com os outros, ter necessidade uns dos outros”.

Sendo assim, nossa vida cresce em humanidade passando do caráter individual ao caráter pessoal; de modo que o caminho autêntico de humanização leva a reconhecer o outro não como rival, mas como “um companheiro de viagem’.

Do «like» ao «amem»
social web bem usada pode ser instrumento de encontro e comunhão, torna-se um “recurso”. Deste modo:

- a família pode utilizar a rede para estar mais conectada, mas deve depois se encontrar à mesa e olhar-se olhos nos olhos;

- a comunidade eclesial coordena a sua atividade através da rede, para depois celebrar juntos a Eucaristia;

- em relação aos outros, a rede é uma oportunidade para me aproximar de casos e experiências de bondade ou de sofrimento distantes fisicamente, para rezar juntos e, juntos, buscar o bem na descoberta daquilo que nos une.

Acenando para a rede que queremos, aponta para a necessidade de passarmos do diagnóstico à terapia, abrindo  o caminho ao diálogo, ao encontro, ao sorriso, ao carinho...

Esta rede é feita, não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas livres, de modo que a própria Igreja é uma rede tecida pela Comunhão Eucarística, onde a união não se baseia nos gostos (“like”), mas na verdade, no “Amém” com que cada um adere ao Corpo de Cristo, acolhendo mutuamente uns aos outros.


Confira a mensagem na integra:

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