A indispensável presença do Paráclito
"Não vos deixarei
órfãos.
Eu virei a vós." (Jo 14,18)
No 6º Domingo da
Páscoa, quando ouvimos a passagem do Evangelho de João (Jo 14,15-21), em que
Jesus nos promete a vinda do Paráclito, a fim de que não fiquemos desamparados,
sejamos enriquecidos pelo Sermão de São João Crisóstomo (séc. V):
“Se me amais, guardareis
os meus Mandamentos. Eu vos dei um Mandamento:
que vos amei mutuamente e façais uns aos outros como Eu fiz convosco. Nisto
consiste o amor: em cumprir os Mandamentos e colocar-se a serviço do amado. E Eu pedirei ao Pai que
vos dê outro Defensor. São palavras de
despedida. E como ainda não O conheciam bem, era muito provável que eles teriam
de buscar ansiosamente a companhia do ausente, Suas palavras, Sua presença
física, e que não teriam de aceitar, uma vez que Ele tivesse partido, nenhum
tipo de consolo. E o que Ele diz? Eu
pedirei ao Pai que vos dê outro Defensor, isto é, outro
como Eu.
Depois de tê-los
purificado com o Seu sacrifício, então sobrevoou o Espírito Santo. Por que não
veio quando Jesus estava com eles? Porque ainda não se tinha oferecido o
sacrifício. Mas uma vez que o pecado foi apagado e eles, enviados aos perigos,
se disporiam para a luta, era necessário o envio do Consolador. E por que o Espírito
não veio imediatamente depois da Ressurreição? Justamente para que, avivados
por um desejo mais ardente, O recebessem com maior fruto.
De fato, enquanto
Cristo estava com eles, não conheciam a aflição; mas quando Ele Se foi, ao
ficarem sozinhos e tomados de temor, haveriam de recebê-Lo com um maior anelo. Que permaneça sempre
convosco, isto é, não vos abandonará nem mesmo
depois da morte. E para que, ao ouvir falar do Defensor, não pensassem em uma
nova encarnação e acolhessem a esperança de vê-Lo com seus próprios olhos, a
fim de afastar semelhante suspeita, diz: O mundo não pode recebê-Lo porque não O vê.
Porque não viverá
convosco como Eu, mas sim habitará em vossas almas, pois é isso que quer dizer permaneça convosco.
O chama Espírito da verdade, ligando assim as figuras da antiga Lei. Para que permaneça
convosco. Que significa permaneça convosco?
O mesmo que disse de si mesmo: Eu
estou convosco. Mas ainda insinua outra coisa: Não
vai padecer o que Eu padeci, nem se ausentará.
O mundo não pode recebê-Lo porque não O vê.
Mas como? É porque o Espírito se contava entre as coisas visíveis? Em absoluto.
O que acontece é que Cristo Se refere aqui ao conhecimento, pois acrescenta: nem O conhece,
já que habitualmente se chama visão ao conhecimento penetrante. Realmente,
sendo a vista o mais destacado dos sentidos, mediante ela sempre designa o
conhecimento penetrante. Ele chama aqui ‘mundo’ aos perversos, e desta forma
consola aos Seus discípulos, oferecendo-lhes este precioso dom. Vede como
exalta a grandeza deste dom. Diz que é distinto d’Ele; acrescenta: ‘não vos
deixará’; insiste: virá unicamente a eles, como também Eu vim. Disse: Permaneça
em vós; mas nem mesmo assim dissipou sua tristeza. Ainda O buscavam, queriam Sua
companhia. Para tranquilizá-los diz: Tampouco Eu vos deixarei desamparados, voltarei.
Ele diz: Não temais; não disse que vos enviarei outro Defensor, porque Eu vou
deixar-vos para sempre; nem disse: vive em vós, como se não tenha de voltar a
vê-los. Na realidade, também Eu virei a vós. Não vos deixarei desamparados.”
Alegremo-nos, não
caminhamos sozinhos e desamparados, o Senhor prometeu e cumpriu e nos enviou,
junto do Pai, o Espírito Santo, o Paráclito, o Advogado, o Defensor.
Inúmeros são os
desafios na ação evangelizadora, e como somos fortalecidos e animados, em saber
que podemos contar com a presença e a ação do Espírito Santo que nos ilumina.
Concluímos com as palavras do Bispo São Cirilo (séc. V):
“A Sua chegada é
precedida por esplêndidos raios de luz e ciência. Ele vem com o amor entranhado
de um irmão mais velho: Vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar,
fortalecer, consolar, iluminar a alma de quem O recebe, e, depois por meio
desse, a alma dos outros.”
Alegremo-nos, de fato, pois não estamos órfãos. O Espírito por Jesus prometido nos foi enviado. Aleluia!
(1): Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 - pp.
105-106.
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