Reconciliados com
Deus por meio de Jesus Cristo
“Tudo vem de Deus que, por Cristo, nos reconciliou consigo”
(2Cor 5,18)
Sejamos
enriquecidos pelos Comentários escritos pelo Bispo São Cirilo de Alexandria
(Séc. V), sobre a Segunda Carta aos Coríntios, sobre a reconciliação que Deus
nos possibilitou por meio de Jesus Cristo, confiando-nos o Ministério da
Reconciliação.
“Os
que possuem o penhor do Espírito e vivem na esperança da Ressurreição, como se
já possuíssem aquilo que esperam, podem dizer que desde agora não reconhecem a
ninguém segundo a carne; pois somos todos espirituais e isentos da corrupção da
carne.
Com
efeito, desde que brilhou para nós a Luz do Unigênito de Deus, fomos
transformados no próprio Verbo que dá vida a todas as coisas. E assim como nos
sentíamos acorrentados pelos laços da morte, quando reinava o pecado, agora
ficamos livres da corrupção, ao chegar à justiça de Cristo.
Por
conseguinte, doravante ninguém vive mais sob o domínio da carne, isto é,
sujeito à fraqueza carnal. A ela com certeza, entre outras coisas, deve ser
atribuída a corrupção.
Neste
sentido afirma o apóstolo Paulo: ‘Se uma vez conhecemos Cristo segundo a
carne, agora já não o conhecemos assim’ (2Cor 5,16). Como se quisesse
dizer: ‘O Verbo se fez carne e habitou entre nós’ (Jo 1,14),
sujeitando-se à morte segundo a carne, para a salvação de todos.
Foi
deste modo que o conhecemos; todavia, desde este momento, já não é mais assim
que o reconhecemos. É verdade que ele conserva a sua carne, pois ressuscitou ao
terceiro dia, e vive no céu, à direita do Pai; mas a sua existência é superior
à vida da carne. ‘Tendo morrido uma vez, Cristo não morre mais; a morte já
não tem poder sobre Ele. Pois aquele que morreu, morreu para o pecado uma vez
por todas; mas aquele que vive, é para Deus que vive’ (Rm 6,9-10).
Então,
se Ele se apresentou diante de nós como modelo de vida, é absolutamente
necessário que também nós, seguindo seus passos, façamos parte daqueles que não
vivem mais na carne, mas acima da carne. É o que diz o grande Paulo, com toda
razão: ‘Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. O mundo velho
desapareceu. Tudo agora é novo’ (2 Cor 5,17).
Fomos
justificados pela fé em Cristo e terminou o domínio da maldade. Uma vez que ele
ressuscitou por nossa causa, calcando aos pés o poder da morte, nós conhecemos
aquele que por sua própria natureza é o verdadeiro Deus. É a ele que prestamos
culto em espírito e verdade, por intermédio de seu Filho que distribui sobre o
mundo as bênçãos divinas do Pai.
Por
esse motivo, São Paulo diz com muita sabedoria: ‘Tudo vem de Deus que, por
Cristo, nos reconciliou consigo’ (2Cor 5,18). Realmente, o mistério da
encarnação e a renovação a que ela deu origem não se realizaram sem a vontade
do Pai. É por Cristo que temos acesso ao Pai, como ele próprio afirma: ninguém
pode ir ao Pai senão por Ele. Portanto,’ tudo vem de Deus que, por Cristo,
nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação’”.
Jesus
com sua morte, calcou aos pés o poder da morte e nos reconciliou com Deus, e
ainda mais, confiou-nos o Ministério da Reconciliação, libertando-nos dos laços
do pecado e da morte, que nos mantinha acorrentados. Bem expressou o Apóstolo
Paulo aos Gálatas – “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei
firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão”
(Gl 5,1), procurando sempre deixar-se conduzir pelo Espírito e não satisfazendo
os desejos da carne (Gl 5,16-24).
Reconciliados com Deus, vivendo a vida nova que alcançamos pelo
batismo, morremos para o pecado para vivermos totalmente para Deus, vivendo
como uma nova criatura, nos passos de Jesus, tendo como projeto de vida as
Bem-Aventuranças que o Senhor nos apresentou no alto da Montanha (Mt 5,1-12).
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