domingo, 28 de julho de 2024

Aprendamos a Matemática de Deus (XVIIDTCB)

                                                           

Aprendamos a Matemática de Deus

Na Liturgia da Palavra do 17º Domingo do Tempo Comum (ano B), ouviremos a passagem do Evangelho de São João (Jo 6, 1-15), em que narra o sinal que Jesus fez no deserto, celebrando com a multidão o Banquete da Vida, em oposição ao banquete de Herodes, o banquete da morte:
 
Sacrifício voraz de vidas inocentes e justas, como a vida de João Batista. No Banquete de Jesus, há credenciais exigidas para autêntica participação:
 
O amor de compaixão, a solidariedade, a confiança na providência de Deus, a gratidão, a bênção, e a consciência de que os bens de graça, d’Ele, recebidos devem ser generosamente partilhados.
 
O pão que de Deus, cotidianamente, recebemos, por Ele abençoado e por nós partilhado, ganha um novo sabor.
 
No Banquete da Vida de Nosso Senhor, não há como se omitir diante da dor, da fome, da miséria da existência humana: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16)
 
É possível superar esta brutal realidade que rouba a beleza do Projeto Divino. O Profeta Isaías já anunciara a promessa messiânica, de restauração da vida, em que Deus nos chama a comer e a beber sem paga: Vinho e leite, deleite e força, alegria, revigoramento... (Is 55,1-8).
 
O Profeta Eliseu também soube partilhar o pouco para saciar a fome de muitos (2 Rs 4,42-44).
 
Uma última exigência: Aprender a nova matemática de Deus: Na racionalidade da matemática humana 5+ 2 = 7, indiscutivelmente, logo os 5000 homens, sem contar mulheres e crianças, estariam condenados à fome, ao desalento...
 
Na racionalidade da Matemática Divina, 5 + 2 = plenitude, perfeição, tudo!
 
Temos tudo para saciar a fome da humanidade, pois os bens que de Deus recebemos, quando partilhados, são multiplicados.
O milagre da multiplicação dos 5 pães e 2 peixes foi um sinal do Banquete Eucarístico que celebramos.
 
Alimentando-nos de um pedaço de Pão e um pouco de Vinho, Corpo e Sangue do Senhor, prolongamos a celebração na vida, multiplicando gestos de compaixão, partilha, solidariedade, tornamo-nos promotores da justiça, da fraternidade, da vida e da paz.
 
Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Mártir, no séc. I, num contexto de dominação e perseguição, nos exortava com sabedoria indiscutível:
 
“Vosso Batismo seja a vossa arma; a fé, o vosso capacete; a caridade, a vossa lança; a paciência, a vossa armadura completa. As vossas obras sejam vosso depósito para receberdes em justiça o que vos é devido”.
 
Quando aprendizes da matemática divina, nada nos separará do Amor de Deus (Rm 8,35-39): nem a tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada...
 
Quando aprendizes da matemática divina, intensificaremos nosso relacionamento com Deus, que é misericórdia, piedade, amor, paciência, compaixão, muito bom para com todos e pleno de ternura que abraça toda criatura (Sl 144).
 
Quando aprendizes da matemática divina, aprenderemos, como disse um autor desconhecido, que:

Somente a água que damos de beber ao próximo poderá saciar nossa sede. Somente a roupa que doamos poderá vestir nossa nudez. Somente o doente que visitamos poderá nos curar.
 
Somente o pão que oferecemos ao irmão poderá nos satisfazer.
Somente a palavra que suaviza a dor poderá nos consolar.
Somente o prisioneiro que libertamos poderá nos libertar”.
 
Somente a partir da matemática de Deus é que teremos o sinal de um novo céu e uma nova terra, pois não é a lógica fria e irracional, mas a lógica da compaixão, amor, solidariedade e partilha que multiplica, abundantemente, em nós, todas as graças divinas.
 
 
 Matemática de Deus... Uma bela lição a aprender. 
 

O Senhor sacia a nossa fome... (XVIIDTCB)

                                                      

O Senhor sacia a nossa fome...

Oportuna é a reflexão Santo Hilário de Poitiers, Doutor da Igreja (séc. IV), sobre a passagem do Evangelho de João (Jo 6,1-5) em que Jesus realiza o sinal da multiplicação de cinco pães e dois peixes.

"Como os discípulos lhe aconselhavam a que enviasse as multidões para as cidades mais próximas para que pudessem comprar alimentos, ele lhes respondeu:

‘Não há necessidade de irem’. Assim demonstra que aqueles dos quais cuidava não necessitavam se alimentar de uma doutrina colocada à venda, e também não tinham necessidade de voltar para a Judeia para comprar alimentos; por isso manda aos Apóstolos que lhes deem sua própria comida.

Acaso o Senhor desconhecia que os apóstolos não tinham nada para dar-lhes? Aquele que conhecia as profundezas do espírito humano não conhecia, acaso, a pequena quantidade de comida que as mãos dos Apóstolos possuíam?

Na verdade, era necessário manifestar completamente uma razão tipológica. Ele ainda não tinha concedido aos Apóstolos o consagrar e o oferecer o Pão do Céu como Alimento de Vida Eterna. Por isso Sua resposta era dirigida para a compreensão espiritual.

De fato, eles responderam que só tinham cinco pães e dois peixes, porque ainda se encontravam sob o império dos cinco livros da Lei – os cinco pães -, e se alimentavam do ensinamento de dois peixes, ou seja, dos Profetas e de João.

Nas obras da Lei a vida estava como no pão, e a pregação dos Profetas e de João reanimava a esperança da vida humana mediante a força da água.

Assim, os Apóstolos ofereceram estas coisas em primeiro lugar porque ainda se encontravam debaixo daquele regime. Mas também indica que a pregação dos Evangelhos, difundindo-se a partir dessas origens, se desenvolve fazendo crescer mais e mais sua força.

O Senhor tinha tomado os pães e os peixes. Levantou os olhos ao céu, disse a bênção e os partiu, ao mesmo tempo em que dava graças ao Pai porque, depois do tempo da Lei e os Profetas, Ele Se transformava em Alimento evangélico.

Em seguida o povo foi convidado a sentar-se na relva. Já não está estendido sobre a terra sem motivo, mas apoiado na Lei, e cada um se estende sobre os frutos de seu trabalho como sobre a erva da terra.

Os pães foram dados também aos Apóstolos: é através deles que os dons da graça divina deviam repartir-se. O povo se alimentou dos cinco pães e dos dois peixes e, uma vez saciados os convidados, os pedaços de pão e de pescado eram tantos que encheram doze cestos.

Isto quer dizer que a multidão se saciou com a Palavra de Deus que vem do ensinamento da Lei e dos Profetas, e em seguida do ministério do Alimento eterno. A abundância do poder divino reservada para os povos pagãos transborda até a plenitude dos doze Apóstolos. (1)

Dentre os pontos que nos chamam atenção, destaco o paralelo feito entre os cinco pães e dois peixes:

- Cinco pães, aludindo aos cinco Livros da Lei, aos cinco primeiros Livros da Sagrada Escritura (Pentateuco): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio);

- Os dois peixes aludindo aos Profetas que precederam Jesus e o último dos Profetas, João Batista.

De fato, todos ainda estavam ancorados na Antiga Aliança, sob a Lei e os Profetas. Com Jesus, inaugura-se um novo tempo, e Ele veio dar pleno cumprimento da Lei e dos Profetas, como refletimos na Sua Transfiguração, no Monte Tabor, com a presença de Moisés e Elias (o primeiro simbolizando a Lei, e o segundo os Profetas).

Jesus é Aquele que vem trazer o Alimento Eterno, Ele próprio Se dá em verdadeira Comida e verdadeira Bebida (Jo 6).

Iluminados por Sua Palavra de Vida Eterna, aprendizes e obedientes a Seus Ensinamentos, e também por Ele saciado com o Pão Vivo e Verdadeiro, somos chamados a viver com alegria, o amor e a partilha, inseridos numa nova lógica, que vai gerar um mundo novo.

O sinal realizado tem tons Eucarísticos, prefigura o Banquete Provisório da Eucaristia, que nos prepara para o Banquete de Eternidade, como tão bem expressou o Salmista (Sl 23).

A multiplicação dos pães e peixes é a mais bela lição de amor e partilha, condição indispensável para uma sociedade da saciedade, e não da fome, da morte, da exploração do outro.

Vivamos não mais sob o jugo da Lei, mas iluminados e conduzidos pelo Espírito, saibamos colocar nossos pães e peixes em comum, para que todos tenham vida plena e feliz.

O Sinal realizado aponta para um mundo novo que todos temos que construir, aprendendo os sagrados ensinamentos do Divino Mestre do Amor e da Partilha: Jesus.


Lecionário Patrístico Dominical – Ed. Vozes - Pág. 436-437.

O Reino de Deus é a nossa maior riqueza (XVIIDTCA)

O Reino de Deus é a nossa maior riqueza

Com a Liturgia da Palavra do 17º Domingo do Tempo Comum (ano A) refletimos à luz das Parábolas da pérola, do tesouro escondido e da rede lançada ao mar, sobre o Reino de Deus, questionando nossas prioridades diante de Jesus.

É preciso que o Reino seja para nós o valor supremo e que, a exemplo de Salomão, peçamos a sabedoria para fazer as devidas escolhas, sem nos prendermos aos valores efêmeros, passageiros, mas aos valores eternos.

A súplica de Salomão na passagem da primeira leitura (1 Rs 3,5.7-12), questiona nossas súplicas: ele pediu um coração sábio para governar com justiça.

A Salomão, Deus acrescentou riqueza, glória, longa vida. Deus nunca deixará faltar nada, mas bem sabemos que Salomão foi seduzido pelos valores passageiros, e é para nós, em todos os tempos, um sinal de advertência para que não incorramos no mesmo erro.

Enquanto oração foi perfeita, mas não a sua conduta, e com isto podemos refletir sobre o que pedimos e recebemos de Deus e o que fazemos com o que recebemos.

Vivemos numa constante decisão entre o ilusório ou real, passageiro ou eterno, sendo assim podemos nos questionar sobre o que, de fato, fundamenta nossa felicidade.

Na passagem da segunda Leitura (Rm 8,28-30), o Apóstolo Paulo nos fala sobre o Projeto de Salvação que Deus tem para nos oferecer na acolhida do Espírito Santo, lembrando que tudo Ele faz para aqueles que ama.

Portanto, é preciso viver na fidelidade à graça divina, tendo a plena convicção de que o Espírito intercede por nós junto do Pai e nos concede a graça para realizar Seu Projeto de Salvação.

Não estamos à deriva na história: Deus nos conhece, predestina, chama, justifica, glorifica, de modo que a Salvação destina-se a todos.

Num contexto de indiferença, e até mesmo negação da existência de Deus, a Carta de Paulo leva-nos a refletir sobre um Deus que nos ama e incansavelmente vem ao nosso encontro. 

Como discípulos missionários cabe-nos concretizar este Projeto de Salvação, e assim o faremos se, de fato, nos identificarmos com Jesus, fazendo d’Ele nosso mais belo e precioso tesouro.

Na passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,44-52), ouvimos as parábolas exclusivas de Mateus que tinha diante de si uma comunidade imersa na monotonia, na falta de empenho, numa vivência morna da fé, logo, pouco exigente e comprometida.

Como perseverar diante das perseguições e hostilidades, dificuldades que vão se apresentando na caminhada da comunidade?

Aqui está a beleza das Parábolas: revigoram o ânimo, reavivam o entusiasmo, ajudam no discernimento e fortalecem no seguimento.

A comunidade deve ver no Reino a grande pérola ou tesouro pelo qual todo sacrifício deve ser feito e toda renúncia não será em vão.

É preciso rever a escala de valores que pautam nossa vida, o que nos seduz, o que consome nossas forças, nosso tempo; bem como refletir sobre a alegria que devemos ter por sermos instrumentos, colaboradores na realização do Reino.

Quanto a Parábola da rede e dos peixes leva a comunidade a refletir mais uma vez sobre a necessidade da paciência para ver o Reino de Deus acontecer (parábola do joio e trigo).

Deus não tem pressa de condenar e destruir. Ele não quer a morte do pecador, por isso dá ao homem o tempo necessário e suficiente para amadurecer as suas opções e fazer suas escolhas.

Novamente refletimos sobre a Misericórdia de Deus que se manifesta na tolerância, paciência, sempre desejoso de que em nós aconteça a conversão e o amadurecimento.

Na conclusão do Evangelho os discípulos são chamados a compreender, acolher o novo ensinamento proposto, num renovado compromisso e empenho.

Renúncias, relativizações, discernimentos são para nós pedidos, para que não nos percamos no que é efêmero, passageiro, ilusório,  e busquemos o que é eterno.

A busca da sabedoria para acolher e compreender e se comprometer com o Reino.

Devemos renunciar de modo absoluto ao pecado, como assim prometemos no dia de nosso Batismo, e para melhor servir ao Reino renunciar àquilo que não é mal em si (riquezas, prestígio, poder). 

Temos um valor maior, sermos instrumentos do Reino vale muito mais do que tudo isto.

Reflitamos:

O que pedimos quando dizemos: “Venha a nós o Vosso Reino”?
Qual tem sido o conteúdo de nossas súplicas?


Temos consciência de nosso papel na realização do Reino? 
-  Como Igreja, estamos a serviço do Reino?

- Sentimos alegria contagiante ao trabalhar para que o Reino de Deus aconteça?

Concluindo a mensagem central deste domingo: O Reino de Deus é o nosso maior tesouro. Participemos de sua realização como herdeiros da graça em Cristo Jesus pelo Espírito Santo no amor do Pai.

O melhor Ele já nos deu: O Espírito Santo e os sete Dons: Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus.

Empenhemo-nos alegremente na construção do Reino, o Espírito nos assiste, a Sabedoria nos é comunicada incessantemente. 

Saibamos fazer as renúncias necessárias pelo mais Belo Tesouro - Jesus.


A vinha do Senhor e a missão que Ele nos confia (XXVIIDTCA)

 
A vinha do Senhor e a missão que Ele nos confia

A Liturgia do 27º domingo do Tempo Comum (ano A) nos apresentará a passagem do Evangelho de Mateus sobre a vinha do Senhor (Mt 21,33-43).

Como Igreja, pela graça do batismo, temos a missão de produzir os frutos de amor, bondade, ternura que Deus tanto espera de nós, para não frustrar as esperanças do Senhor na hora da colheita.

Ao chamar os Seus para que O seguisse, Jesus lhes dá uma missão precisa: anunciar o Evangelho do Reino a todas as nações (cf. Mt 28, 19 ; Lc 24, 46-48). Por isso, todo discípulo é missionário, pois Jesus o faz partícipe de Sua missão, ao mesmo tempo em que o vincula como amigo e irmão. 

“Cumprir essa missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã, porque é a extensão testemunhal da Vocação mesma” (Aparecida, 144).

Nesta perspectiva, consideremos e meditemos as palavras do Apóstolo Paulo: “Irmãos ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor; é o que deveis ter no pensamento” (Fl 4,8).

Eis a nossa Missão: como batizados, trabalhar com
alegria, amor e fidelidade na Vinha do Senhor.
Não desapontemos o querer de Deus!

Oremos:

“Pai justo e misericordioso, que velas incessantemente
sobre a Vossa Igreja, não abandoneis a Vinha que à
 Vossa direita plantou: continuai a cultivá-la e a
enriquecê-la de servos missionários escolhidos,
para que, enxertada em Cristo, verdadeira Videira,
 produza frutos abundantes de Vida Eterna.
 Amém”!

A Deus cabe o julgamento final (XVIIDTCA)

A Deus cabe o julgamento final

Vejo o mundo em páginas múltiplas e densas.
Por vezes o vejo confuso, além do meu entendimento...
No campo crescem grão de trigo e joio, ainda que não deseje,
Nas redes entram peixes bons e ruins, aquém de meu querer.

Quantos sofrem por isto e se inquietam.
Indaga-se: por que Deus tolera os maus?
Por que até mesmo na Igreja isto se dá?
As questões se avolumam e até nos consomem.

Por que Cristo não seleciona uma Igreja de puros,
Perfeitos, imaculados e quase anjos?
A uns Deus e Seu Cristo têm paciência demais,
Para salvar quem sumariamente já condenamos.

Aguardemos pacientemente a colheita,
Não diminuída por prematuras intervenções de escolhas,
Ou por uma rede cheia de tão apenas peixes bons,
Ressoe a mensagem das Parábolas do Senhor.

Só então, no fim, haverá a colheita, o recolher da rede
Com base na realidade de ser grão de trigo ou joio, peixe bom ou mau.
Acolhamos a advertência eficaz das parábolas:
Deus é paciente e cabe a cada um fazer a sábia escolha.

Escolher ser bom grão e bom peixe e não joio ou peixe imprestável.
Decidamos enquanto é tempo, pois o tempo é breve.
As urgências nos interpelam a renovar a nossa fé,
Dar razão de nossa esperança e inflamar a chama da caridade. Amém.


PS: conferir Mt 13,1-51

Vinde habitar em nosso coração (XVIIDTCC)

 


Vinde habitar em nosso coração

Assim nos falou o Senhor – “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” (Lc 12,33-34)

Há um antigo relato oriental que nos ajuda a compreender a alegoria do tesouro – “...quando os deuses criaram o homem, puseram nele algo de sua divindade; mas o homem fez um mal uso dessa divindade e os deuses decidiram tirá-la. Reuniram-se em grande assembleia para ver onde podiam esconder esse tesouro que lhe haviam dado. Um disse: ‘vamos colocá-lo no pico da montanha mais alta’. Um outro, porém, retrucou: ‘não, o homem acabará escalando a montanha e encontrará o tesouro’. Um outro disse: ‘vamos escondê-lo no fundo do oceano’. Mas, alguém respondeu: ‘Não, o homem poderá descer às profundezas e descobrir o tesouro’. Por fim, um terceiro disse: ‘Já sei onde vamos esconder esse tesouro: no mais profundo do coração do homem! Ali, ele nunca o buscará’” (1).

A alegoria nos ajuda a compreender as palavras do Senhor: onde se encontra nosso tesouro ali estará nosso coração.

É sempre tempo favorável para refletirmos:

- quais são os tesouros pelos quais nos consumimos e corremos atrás?

- quais são os tesouros que mais precisamos e pelos quais somos capazes de nos sacrificar?

Sejam nossos tesouros a Igreja que somos, cuja Cabeça é o Cristo e nós o seu corpo.

Sejam nossa família, pequena Igreja Doméstica, espaço de comunhão, amor, perdão, diálogo, solidariedade;

Sejam a fé, dom que Deus nos concedeu, irmanada com as virtudes da esperança e da caridade;

Bem como, sejam também nossos compromissos pastorais dentro e fora da Comunidade que participamos.

Roguemos a Deus para que jamais nos percamos entre as “bijuterias” que o mundo nos oferece insistentemente, e que jamais poderão nos preencher e nos conceder a felicidade e vida plena, que tão somente o Senhor Jesus pode nos dar, e nós temos o maior de todos os tesouros que habita em nós: – O Espírito Santo (1 Cor 6,19).

Nem montanha, nem mar, Deus quis habitar no mais profundo de nós. Amém.

Oremos: 

“Ó Deus, sois o amparo dos que em Vós esperam e, sem Vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!”. (2)

  

(1) Pe. Adroaldo Palaoro (SJ)

(2) Oração do dia - 17º Domingo do Tempo Comum 

 

“Somos pó e cinza diante da Rocha” (XVIIDTCC)

                                                           

“Somos pó e cinza diante da Rocha”

Ouvimos a passagem do Livro de Gênesis (Gn 18,20-32), proclamada no 17º Domingo do Tempo Comum (ano C),  em que Abraão faz uma oração em favor de Sodoma e Gomorra, porque o clamor contra estas cresceu e chegou até o Senhor, e houve o agravamento de seu pecado.

Reflitamos sobre o diálogo de Abraão com o Senhor, conforme comentário do Missal Dominical:

“Em Israel, que vive num regime de fé, não está em perigo a veracidade da relação do homem com Deus, a verdadeira oração.

Um homem vivo, um homem verdadeiro, encontra o Deus vivo e verdadeiro. Uma liberdade está diante da Liberdade, o pó diante da Rocha. ‘Eis que ouso falar ao meu Senhor, eu que sou pó e cinza”.

Em Israel, a oração está essencialmente ligada a fé. Uma resposta livre ao Deus que se revela e fala, uma ação de graças pelos grandes acontecimento que Deus realiza para o Seu povo. A oração é, pois, antes resposta do que pedido”. (1)

Assim, devemos nos colocar diante de Deus sempre, de modo especial, quando em oração, em diálogo com Ele, para que experimentemos o sabor da autêntica oração, sem arrogância, sem sinais de petulância, na mais bela expressão de humildade e confiança: somos pó e cinza diante da Rocha que é Deus (como tão bem expressam diversas passagens da Sagrada Escritura).

Somos plasmados pelo Deus, desde os primeiros dias do Paraíso, por Ele criados à Sua imagem e semelhança, agraciados com o Seu divino sopro de vida, como narram as primeiras páginas do Livro de Gênesis.

Somos permanentemente modelados por Deus, como barro na mão do oleiro, para que melhor sejamos, e mais perfeitamente sintonizemos Seus desígnios ao nossos respeito e mais felizes sejamos.

Somos criaturas do Divino Criador, sim, criaturas com todas as limitações inerentes à condição humana, passíveis de todas as imperfeições em todos os sentidos, convivendo com a graça que em nós é derramada abundantemente, mas sem jamais esquecermos, que somos santos e pecadores, com sede e desejo de sermos santos como Deus é Santo, pois este é o Seu desejo mais pleno e belo para a humanidade.

Somos pó, somos barros carregando o tesouro do Espírito em vasos de argilas que somos, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo (2 Cor 4,7).

E um dia desfeito nosso corpo mortal, voltaremos a ser pó, porque do pó viemos e ao pó retornaremos. Seremos se cremados, um punhado de cinzas apenas, mas certos de que a alma que em nós habita, para Deus haverá de voltar.

Confiamos e esperamos, porque de Deus vivemos, nos movemos e somos e para Deus haveremos de retornar, no dia de nossa Ressurreição, pois como Ele mesmo o disse: “Eu Sou a Ressurreição e a vida, todo aquele que em mim viver e crer, ainda que esteja morto viverá” (Jo 11, 25-26).

Quando oramos assim devemos nos sentir: pó e cinza, limitados, suplicantes diante de Deus, a onipotência da misericórdia que vem sempre em socorro de nossa finitude e miséria.

É o Amor Uno e Trino que vem ao nosso encontro, e nós somos sedentos de força, amor, luz e graça. Somos os eternos suplicantes da presença da Santíssima Trindade que vem em socorro de nossa fraqueza; vem ao nosso encontro o Amado (Deus Filho), com o Amante (Jesus) e o Amor (o Espírito Santo), como expressou o Bispo Santo Agostinho.

Pó e cinza somos diante da Rocha! Oremos assim, exatamente como Abraão o fez, e nossa oração chegará até Deus, que não desiste de nós porque nos amou e nos criou e quer nos redimir, mas não sem nossa participação.



(1) Missal Dominical - Ed. Paulus - p.1189

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG