Diácono Vicente: Rastro luminoso para todos os tempos!
Celebramos no dia 22 de janeiro a memória do Diácono Vicente, que morreu mártir em Valência (Espanha), no século IV, durante as terríveis perseguições de Diocleciano, após ter sofrido cruéis tormentos.
Vejamos o que disse o Bispo Santo Agostinho acerca de seu testemunho:
“A vós foi dado por Cristo não apenas crerdes n’Ele, mas também sofrerdes por causa Dele (Fl 1,29), diz a Escritura.
O levita Vicente recebera e possuía um e outro dom. Se não tivesse recebido, como os haveria de possuir? Tinha confiança na Palavra, tinha coragem no sofrimento.
Ninguém, portanto, se envaideça de sua força interior, quando fala; ninguém confie nas próprias forças, quando é tentado; porque se falamos bem e com prudência, é de Deus que vem nossa sabedoria e, se suportamos os males com firmeza, é Dele que vem a nossa força.
Lembrai-vos de como, no Evangelho, Cristo Senhor adverte os que são Seus; lembrai-vos do Rei dos mártires instruindo nas armas espirituais os Seus exércitos, exortando-os para a guerra, dando-lhes ajuda e prometendo a recompensa.
Ele, que disse aos discípulos: No mundo, tereis tribulações, logo acrescenta, a fim de consolar os medrosos: Mas tende coragem! Eu venci o mundo (Jo 16,33).
Por que então nos admiramos, caríssimos, se Vicente venceu Naquele por quem o mundo foi vencido?
No mundo, tereis tribulações, diz o Senhor. O mundo persegue, mas não triunfa; ataca, mas não vence.
O mundo conduz uma dupla batalha contra os soldados de Cristo: Afaga-os para enganá-los, aterroriza-os para quebrá-los.
Que o nosso bem-estar não nos preocupe, não nos assuste a maldade alheia, e o mundo está vencido.
Cristo acorre a ambos os combates e o cristão não é vencido. Se neste martírio se considera a capacidade humana para suportá-lo, o fato torna-se incompreensível; mas se nele se reconhece o poder divino, nada há que admirar.
Era tanta a crueldade que afligia o corpo do mártir, e tanta a serenidade que transparecia de sua voz; era tamanha a ferocidade dos suplícios que maltratavam os seus membros, e tamanha a firmeza que ressoava nas suas palavras que, de algum modo maravilhoso, enquanto Vicente suportava o martírio, julgávamos ser torturada outra pessoa diferente da que falava. E era realmente assim, irmãos, era assim mesmo: Era outro que falava.
No Evangelho, Cristo prometeu também isto a Suas testemunhas, ao prepará-las para tais combates.
Falou deste modo: Não fiqueis preocupados em como falar ou o que dizer. Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do Vosso Pai é que falará através de vós. (Mt 10,19-20).
Por conseguinte, a carne sofria e o Espírito falava; e enquanto o Espírito falava, não apenas era vencida a impiedade, mas também a fraqueza era confortada”. (1)
O Diácono e Mártir São Vicente é uma página memorável da vida da Igreja, um rastro luminoso!
Há muitas outras pessoas que passaram na história e deixaram rastros luminosos, porque se moveram fortalecidos pela âncora da Ressurreição, em adesão incondicional ao Senhor, e viveram intensamente o que Paulo disse: “Tudo posso n’Aquele que me fortalece” (Fl 4,13).
Diante de tão belo testemunho, vemos que ainda nos falta um longo caminho a percorrer...
Supliquemos ao Senhor os dons do Espírito, para continuarmos a nossa missão, sem esmorecimentos e sem da luta fugir.
Oremos:
“Deus eterno e todo poderoso, infunda em nossos corações o Santo Espírito, para que sejamos fortalecidos pelo mesmo intenso amor que levou São Vicente a vencer os tormentos do martírio. Por N. S. J. C. Amém!”
(1) Dos Sermões de Santo Agostinho, Bispo (Séc. V) - cf. Liturgia das Horas - páp. 1202-1203.
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