quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Lições paulinas para uma Igreja missionária

                                     

Lições paulinas para uma Igreja missionária

Na passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos, encontramos o discurso de Paulo dirigido aos responsáveis da Igreja de Éfeso, um “discurso de adeus”.

Assim como Jesus, o Divino Mestre, quando da iminência da Sua partida, reúne os discípulos, recorda o que fez e disse, Paulo confia aos seus o cuidado da comunidade e o prolongamento da sua missão, adverte-os dos perigos que os ameaçam, convida-os a vigiar e perseverar (At 20,17-27).

Vemos a incansável e intensa atividade missionária de Paulo, traduzida em serviço e dom da própria vida, numa total pertença a Deus, entrega incondicional da existência, por amor do Senhor.

O adeus de Paulo aos presbíteros e responsáveis pela Igreja, que ele gerou para a fé, é como seu testamento espiritual e pastoral, cheio de ternura e recomendações, de esperanças e temor: “Começa a etapa final da terceira viagem de Paulo. Como as anteriores, também esta se fecha com discurso. Na primeira viagem, o discurso foi aos judeus (Atos 13, 16-41).

Na segunda, aos pagãos (Atos 17, 23-31). Nesta terceira, o discurso se dirige às lideranças, aqui representadas pelos anciãos da Igreja de Éfeso. É uma despedida, que faz memória e apresenta um testemunho de vida.

O Apóstolo olha o momento presente, afirmando que não sabe o que espera por ele em Jerusalém. Por fim, prepara sua substituição. Dá as últimas instruções e relembra aos anciãos que ‘eles foram colocados pelo Espírito Santo como guardiães do rebanho’.

Entre as recomendações, destaca-se não cobiçar nada de ninguém, dar testemunho verdadeiro e ajudar os fracos. Lucas relembra aos líderes cristãos das comunidades de sua época que eles são os sucessores de Paulo, e devem levar adiante a missão dos Apóstolos”. (1)

Com o Apóstolo, aprendemos que servir ao Senhor exige doação total, exclusiva, incondicional e contínua, em fidelidade constante, por isto é uma fonte de liberdade.

A atividade deste revela que sua missão não foi sua opção, mas fruto de uma eleição da comunidade, uma confiança que vem do próprio Senhor, como ele mesmo afirma – “a missão que recebi do Senhor” (v.24).

Realizando a missão com total gratuidade, pôde exortar aos anciãos, que devem evangelizar com total desinteresse material, como ele mesmo o fez, para que, assim, fiquem livres para anunciar o Evangelho e serem solidários com os pobres (vv. 34-35): – “A fidelidade ao Evangelho e o desinteresse escrupuloso são a melhor defesa dos Pastores da Igreja contra todas as intrigas dos que os perturbam” (vv. 29-31). (2)

Deste modo, podemos destacar alguns traços que devem estar presentes na vida dos discípulos missionários do Senhor:

- enfrentar com coragem as provações e tribulações, assim como Jesus (cf. Jo 13, 18-27);

- ter a consciência de que o ministério apostólico não tem êxito garantido, no sentido que não está imune ao sacrifício e até mesmo do martírio;

- estar preparado para a possibilidade de desertores e quem o renegue, assim como o próprio Senhor teve em Seu grupo um que O traiu e alguns que desertaram, em fuga, no momento crucial, no momento da prova, do flagelo e da morte na Cruz;

- ter a  humilde confiança de que por mais que tenhamos feito é ainda nunca bastante pelo que Deus fez e faz, por Amor, em favor de todos nós; confiando plenamente no justo Julgamento que será feito por Jesus;

- a missão que Deus nos confia tem uma motivação Trinitária: a missão vem do Espírito e diz respeito à Igreja, que Deus Pai conquistou pelo Sangue do Seu Filho;

- viver uma relação profunda de comunhão, amor e ternura com a comunidade que foi lhe confiada: “Em tudo lhes mostrei que, trabalhando assim, é preciso ajudar os fracos, recordando as Palavras do Senhor Jesus que disse: ‘Há mais felicidade em dar do que em receber’. Tendo dito isto, Paulo ajoelhou-se com todos eles e rezou. Todos então começaram a chorar muito. E, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam. Estavam muito tristes, sobretudo porque lhes havia dito que nunca mais veriam a sua face. E o acompanharam até o navio.” (vv. 35 -38);

- ser vigilante para não se fragilizar diante das dificuldades;

- coragem para suportar os momentos e acontecimentos adversos, ventos contrários, e confiança na Palavra de Deus, precisam estar sempre presentes, inseparavelmente, na vida dos discípulos missionários.

Podemos também fazer nossa parte, com a ação e presença do Espírito Santo que nos foi enviado, para que suportemos as  provações, incompreensões e dificuldades na evangelização, como o Apóstolo Paulo e tantos outros suportaram, por amor ao Senhor, empenhados na construção do Reino de Deus.

Reflitamos:
- Quais são outras características que aparecem?
- De que modo elas estão presentes em nossa missão como discípulos missionários do Senhor?
  
Oremos:
“Vinde Espírito Santo, enchei o coração dos Vossos fiéis, e acendei neles o fogo do Vosso Amor...”



(1) Nova Bíblia Pastoral – Editora Paulus – 2013 – nota p.1353.
(2) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - 2011 - p.631 

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