sábado, 27 de janeiro de 2024

Fé na presença e Palavra do Senhor na longa travessia

                                                      

Fé na presença e Palavra do Senhor na longa travessia

“‘Silêncio! Cala-te!’ O vento cessou
e houve uma grande calmaria. Então
Jesus perguntou aos discípulos:
“Por que sois tão medrosos?
Ainda não tendes fé?”
(Mc 4, 39-40)

Com a Liturgia do 3º Sábado do Tempo Comum, refletimos sobre a necessária confiança na presença e ação de Deus, que jamais nos abandona na realização de Seu Projeto de vida plena e salvação para a humanidade.

Refletimos também sobre a realidade do sofrimento, das dificuldades e das adversidades presentes em nossa vida, e a manifestação amorosa de Deus, que quer de nós confiança e entrega total em Suas mãos, com toda humildade.

Na passagem do Evangelho (Mc 4,35-41), apresenta a caminhada dos discípulos e as dificuldades encontradas: os discípulos nunca estão sozinhos no enfrentar das tempestades, que se levantam na travessia do mar da vida.

Não há nada a temer, porque Cristo está presente com Sua Pessoa e Palavra, e com Ele pode-se vencer as forças e ventos contrários, que se contrapõem ao Projeto de salvação que Deus tem para a humanidade.

A simbologia do mar é sempre muito forte na mentalidade judaica: “para falar de realidade assustadora, indomável, orgulhosa, desordenada onde residiam os poderes caóticos que o homem não conseguia controlar e onde estavam os poderes maléficos que queriam destruir os homens...

Só Deus, com o Seu poder e majestade, podia por limites ao mar, dar-lhe ordens e libertar os homens dessas forças descontroladas do caos que o mar encerrava” (1).

Deste modo, a passagem do Evangelho é uma página catequética, em que a partir dos elementos simbólicos (mar, barco, tempestade, noite e o sono de Jesus), nos fala da comunidade dos discípulos de Jesus em sua desafiadora caminhada na história, haja vista que Marcos escreve o Evangelho numa época em que a Igreja estava enfrentando sérias “tempestades” e a mais desafiadora de todas, a perseguição de Nero, somado aos problemas internos causados pela diferença de perspectivas entre judeo-cristãos e pagano-cristãos.

Voltemo-nos para a simbologia:

Barco - na catequese cristã, é o símbolo da comunidade de Jesus que navega pela história.

Barco rumando para a outra margem, ao encontro das terras dos pagãos: a salvação se destina a todos - universalidade da salvação.

O sono de Jesus - aparente ausência.

A tempestade - dificuldades, perseguição e hostilidades, que os discípulos terão de enfrentar ao longo do caminho até o fim dos tempos.

Jesus acalmando a fúria do mar e do vento com a Sua Palavra - manifestação da presença divina em sua Pessoa e Palavra.

Portanto, a grande pretensão do Evangelista é apontar o caminho da fé, que se expressa em total confiança na presença e Palavra do Senhor para enfrentar as “tempestades”, e em todos os tempos: a comunidade é chamada a fazer a experiência de adesão, confiança, obediência, em entrega total e incondicional nas mãos de Deus, que conduz a história.

A comunidade dos discípulos de Jesus, em plena fidelidade e confiança n'Ele, deve passar para a outra margem, ou seja, aqui é a dimensão missionária da Igreja que não pode se acomodar, mas deve se colocar a serviço da transformação do mundo, como tão bem expressou o Papa Francisco, superando todo medo e acomodação:

Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com o ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos.” (n.49 – Alegria do Evangelho).

Reflitamos:

- Quem é Jesus para mim?
- Sinto a presença de Jesus na comunidade que participo?

- Confio na Palavra do Senhor para enfrentar as “tempestades” e os ventos contrários do dia a dia na travessia para a outra margem?
- Sinto a força divina que nos anima em todas as dificuldades?

- Como é minha adesão ao Senhor e acolhida de Sua Palavra?
- Acredito que, com a Pessoa de Jesus e Sua Palavra, as forças do mal não têm a última palavra?

Finalizando, é preciso encontrar-se com o Senhor e deixar-se transformar por Ele, numa relação de amor e confiança total n’Ele, para que assim vençamos todo medo e enfrentemos todas as “tempestades”, e a pior de todas as tempestades: não sentir a presença e o Amor de Deus, ou de Seu Amor prescindir.


Fonte inspiradora e citações (1)

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