segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Deus quer a nossa felicidade

 
Deus quer a nossa felicidade

“Felicidade é a capacidade de eu sentir fertilidade.
 Isto é, eu não desertifico o futuro, não esterilizo o sonho,
não apodreço a minha esperança”
(Mario Sergio Cortella)

Felicidade é uma busca que fazemos desde a concepção ao declínio natural de nossa existência, quando se dá o último suspiro neste mundo, com a inevitabilidade da morte.

Esta definição redimensiona o sentido que, por vezes, se dá a felicidade, compreendida e apresentada como algo pronto, acabado, que pode ser conquistada ou adquirida com pouco mais de recursos econômicos.

Felicidade, como capacidade de ser fértil, de tornar-se fecundo, participando da obra da criação, dando do melhor que possamos; não viver tão somente para si, mas dando o melhor para o outro. Criar e recriar o melhor que pudermos para todos. Não se é feliz à custa da felicidade ou destruição de nosso próximo.

Fertilidade, que pressuponha fecundidade, não nos acomoda no já conhecido, alcançado, e assim nos pomos sempre a procura de caminhos novos, soluções, respostas, em possível amenização de dores, fome, enfermidade, desigualdade social ou quaisquer outras realidades que nos desafiem a fertilidade e a fecundidade para que a “flor brote na fenda de um asfalto”, na rachadura de uma parede ou calçada, teimosamente, como sinal de que a vida sempre deve falar mais forte e mais alto que o cinza e a morbidez da cidade.

Deste modo, não desertificamos o futuro, mas inauguramos espaços que sejam oásis do encontro, da partilha, do relacionamento, do estabelecimento de novas conexões, não apenas virtuais, mas reais, da proximidade, em que a ternura, a solidariedade, o calor da presença do outro nos ajudem a vencer a frieza e gelidez, que, por vezes, marcam o líquido mundo moderno.

Felicidade, como bem foi dito, é a não esterilização dos sonhos nascidos em sonos sagrados como nos diz a canção: “O sono é sagrado e alimenta de horizontes o tempo acordado de viver”.

Não podemos perder a capacidade de sonhar que o melhor está por vir, que os pesadelos que possamos viver não se eternizarão. Sonharemos também acordados, com o olhar firmado em novo horizonte, como nos falou o Profeta Isaías: E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco” (Is 11, 8); e ainda: “O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor” (Is 65, 25).

Finalmente, a felicidade como o não apodrecimento da esperança, que é, para quem crê, sobretudo, uma virtude divina a ser cultivada cotidianamente, como vemos em diversas passagens da Sagrada Escritura:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a Sua grande misericórdia, Ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1 Pd 1, 3).

E também: “Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração” (Rm 12, 12).

(1) Verdade e mentiras – Ética e Democracia no Brasil - Editora Papirus - 7 mares - p.99. 

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