Correspondemos ao Amor de Deus?
“Ele é tão bom que não cobra remuneração,
mas Se satisfaz com ser amado em vista de Seus dons..."
No tesouro espiritual da Igreja, temos na Liturgia das Horas parte “Da Regra mais longa”, do Bispo São Basílio Magno, século IV que nos fala sobre o imenso amor de Deus por nós.
“Que palavra poderá verdadeiramente descrever os dons de Deus? São tantos que não se podem enumerar. São de tal grandeza que um só deles bastaria para merecer toda a nossa gratidão para com o Doador.
Há um que a nós, seres racionais e inteligentes, seria forçosamente impossível esquecê-lo, e pelo qual jamais o louvaríamos condignamente: Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. Honrou-o, assim, com a reflexão.
Só a ele, dentre todas as criaturas, deu a razão. Concedeu-lhe o gozo da indizível beleza do paraíso e o constituiu rei de toda a terra.
Enganado o homem pela serpente, caído no pecado e pelo pecado na morte e nos sofrimentos que a acompanham, nem por isto Deus o abandonou; mas pela Lei, que lhe serviria de auxílio no princípio, colocou Anjos para guardá-lo e dele cuidar.
Enviou Profetas para denunciarem os vícios e ensinarem a virtude. Susteve por ameaças o ímpeto do mal, e estimulou por promessas a prontidão para o bem. Não poucas vezes, declarou antecipadamente, em relação a várias pessoas, qual o fim dos bons e o dos maus a fim de advertir os outros.
A tantos benefícios, porém, respondemos com a nossa rebeldia. Ele, contudo, não se afastou de nós. A bondade do Senhor não nos abandonou.
Nem mesmo pela estupidez com que desprezamos Seus dons conseguimos destruir Seu Amor em nós, embora desdenhássemos nosso benfeitor.
Ao contrário, fomos libertos da morte e chamados de novo à vida por nosso Senhor Jesus Cristo. Maior motivo ainda de admiração por tanta bondade vem de que: Sendo Ele de condição divina não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo assumindo a forma de escravo.
E não só, mas tomou sobre Si nossas misérias, carregou nossas fraquezas, por nós foi ferido para curar-nos por Suas chagas; e ainda, redimiu-nos da maldição, fazendo-se por nós maldição, sofrendo morte infamíssima para nos reconduzir à vida gloriosa.
Não se contentou em chamar os mortos à vida, quis ainda conceder-nos a glória de Sua divindade e preparar-nos um descanso eterno cuja imensa alegria supera qualquer imaginação.
O que, então, retribuiremos ao Senhor por tudo quanto nos deu? Ele é tão bom que não cobra remuneração, mas Se satisfaz com ser amado em vista de Seus dons.
Quando penso em tudo isto, para dizer o que sinto, fico horrorizado e cheio de espanto, pois, por minha leviandade e preocupação com coisas vãs, posso perder o Amor de Deus e ser uma vergonha e um opróbrio para Cristo.”
Reflitamos sobre o indizível amor de Deus por nós e a necessária correspondência de nossa parte que deve crescer a cada dia.
Urge que sejamos vigilantes para que não caiamos na leviandade e também nos consumirmos com preocupações vãs que nos desviam do Amor de Deus, tornando-nos uma vergonha e uma infâmia para Cristo.
Acompanhe-nos atitudes sinceras e corajosas para dar concretude a cada resposta no emaranhado da existência, para que, então, correspondamos ao Amor de Deus tanto quanto possamos, sem jamais desistir em darmos o melhor a Deus, na solicitude e busca do caminho da perfeição, no subir silenciosa e dedicadamente cada degrau da escada que nos levarão até Ele.
Reflitamos:
Ø De que modo retribuímos ao Senhor por tudo quanto nos deu até o presente?
Ø O que podemos fazer para retribuirmos ainda mais?
Ø Quais os eventuais perigos de leviandades que nos levariam a perda do Amor de Deus?
Ø Quais são as preocupações autênticas que devem nos consumir para que não nos afastemos dos desígnios divinos?
Ø “Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus...” (Fl 4,6). Confio na força e presença divina para superação das dificuldades, procurando soluções para eventuais preocupações, problemas que são inerentes à existência humana?
Ressoe sempre em nosso coração a inquietação do Bispo, para que jamais nos descuidemos no corresponder à altura ao imensurável Amor de Deus:
“Quando penso em tudo isto, para dizer o que sinto,
fico horrorizado e cheio de espanto, pois,
por minha leviandade e preocupação com coisas vãs,
posso perder o Amor de Deus
e ser uma vergonha e um opróbrio para Cristo.”
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