quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Temos sede do Vinho Novo!

Temos sede do Vinho Novo!

À luz das Bodas de Caná, uma passagem do Evangelho muito conhecida, o Bispo São Fausto de Riez (séc. V) nos oferece um Sermão que retrata as núpcias de Cristo e da Igreja:

- O número três e os paralelos estabelecidos:
“No terceiro dia, houve um casamento (Jo 2,1). Que casamento é este senão as promessas e as alegrias da salvação humana, insinuada no significado místico do número três, quer em referência à proclamação da Trindade quer à fé na Ressurreição do Senhor ao terceiro dia?

No mesmo sentido se lê também noutra passagem do Evangelho, que o regresso do filho pródigo, símbolo da conversão dos pagãos, foi celebrado com música, danças e vestes nupciais.

Por isso, como um esposo que se levanta do quarto nupcial (Sl 18,6), Cristo veio à terra a fim de unir-se pela encarnação à Igreja em que haviam de reunir-se os povos pagãos.”

- A água transformada em vinho, como imagem do Batismo e da Vida Nova:
“Deu-lhe penhor e dote: penhor, quando Deus Se uniu ao homem; dote, quando Se imolou pela salvação do homem. Pelo penhor, entendemos a presente redenção; pelo dote, a vida eterna.

Tudo isso eram milagres para os que viam; e Mistério para os que compreendiam seu sentido. Se considerarmos com atenção, veremos que a própria água, transformada em vinho, nos apresenta, de certo modo, a imagem do Batismo e da vida nova.

De fato, quando algo se transforma interiormente, quando uma criatura passa de um estado inferior a outro melhor por uma íntima mudança, realiza-se o mistério de um segundo nascimento. As águas são repentinamente transformadas, para em seguida transformar os homens.”

- Com o primeiro sinal realizado em Caná, cessa a Lei, sucede-lhe a graça:
“Na Galileia, por intervenção de Cristo, a água transformou-se em vinho, quer dizer, cessa a Lei e sucede-lhe a graça; as sombras são desfeitas e a verdade se manifesta; as coisas materiais cedem às espirituais; a Lei antiga se transforma no Novo Testamento.

Como diz o Apóstolo, o mundo velho desapareceu; tudo agora é novo (2Cor 5, 17). E assim como a água contida nas talhas nada perde do que era e começa a ser o que não era, também a Lei não deixa de existir, mas se aperfeiçoa com a vinda de Cristo.”

- O sabor da Vida da Graça que nos vem do Vinho Novo:
“Tendo faltado uma qualidade de vinho, serviu-se outra. É certamente bom o vinho do Antigo Testamento, mas o do Novo é melhor. O Antigo Testamento, que os judeus observam, dilui-se na letra; o Novo, que seguimos, tem o sabor da Vida da Graça.”

- O Vinho Novo nos impele a um Amor maior:
“Considera-se bom vinho o bom preceito da Lei, quando ouves: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo (Mt 5,43). Melhor, contudo, e mais forte é o vinho do Evangelho, quando ouves: Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem (Mt 5,44).”

Todos aspiramos dias melhores, e é necessário que o seja. Mas, se não nos propusermos a alguma mudança, traduzida numa conversão sincera, desejo e procura de uma vida na graça, encontro com o Deus que está sempre pronto a nos dar o melhor, que é o Seu próprio Filho e o Seu Espírito, comunicação plena de Seu Amor, nada de novo irrompe no alvorecer de nossos dias, e, assim, temos a sucessão de crepúsculos quotidianos vazios e sem sentido.

Entretanto, temos sede do Vinho bom, do Vinho melhor, que nos é oferecido em cada celebração Eucarística, para que saciados pelo Pão da Palavra e da Eucaristia, e inebriados pelo Vinho Eucarístico, nossa vida ganhe novos impulsos, novos redimensionamentos.

Temos sede do Vinho Bom para fazer melhor a nossa vida, a de nossas famílias, comunidade e do mundo que vivemos.

Estamos fartos de noticiários de violência, desamor, banalização da vida, perda dos princípios e valores éticos e morais.

Temos sede de um mundo novo, que nos vem da certeza do Encontro maior, do Encontro com a Trindade Santa, que quer escrever conosco, mais que algumas linhas, uma História infinita de Amor, e que se eterniza na comunhão plena de amor na glória dos céus.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG