segunda-feira, 29 de julho de 2024

Por que sou cristão?


Por que sou cristão?

Anos passados, celebrando a memória de Santa Marta, na Palavra proclamada ouvimos: (1Jo 4,7-16); (Lc 10, 38-42).

Refleti sobre o que vem a ser cristão de fato e, ao longo da homilia, apresentei e aprofundei três respostas:

- Porque o cristianismo é, por excelência, a religião do amor; fundada na fonte inesgotável de amor;

- Porque é a religião da acolhida de Deus na pessoa do outro. Não abstração no relacionamento amoroso com Deus;

- Porque se funda na necessária atitude de intimidade com Jesus, e d’Ele conosco.

Notei que as respostas nos remetiam a três “As”:
Amor; Acolhida; Amizade!

No término da Missa, ouvindo o canto pós-comunhão “Tarde Te amei”, inspirado nas Confissões de Santo Agostinho, relembrando outra passagem do Evangelho que nos fala de Marta, quando da morte de seu irmão Lázaro (João 11, 1-45), completei minhas respostas, acenando para mais dois “as”:

- Amor é a essência da fé cristã;
- Acolhida de Deus no outro;
- Amizade com o Senhor;
- Acreditar na força e poder de Deus;
- Arder pela paz que só Deus pode nos dar!

Busquemos outras possíveis respostas, para que sejamos cristãos de fato, vivendo o que é essencial e irrenunciável: amor, acolhida, amizade, o acreditar e o arder pela paz divina, para que no mundo sejamos sal, fermento e luz. Coloquemo-nos, sem medo, em tal atitude. 

Respostas encontradas nos pedem vivência; a vivência, por sua vez, nos levará, necessariamente, ao testemunho; o testemunho, enfim, tornar-se-á semente de novos cristãos, aurora de um mundo novo. 

O Cristianismo carrega em si o germe de um mundo novo: O Reino! 


Misericórdia Divina e humana são inseparáveis

Misericórdia Divina e humana são inseparáveis

A Liturgia das horas nos oferece um Sermão do Bispo São Cesário de Arles (séc. VI), que nos convida a refletir sobre a misericórdia divina e a misericórdia humana. 

“Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia. É suave a palavra misericórdia, meus irmãos. E se a palavra assim é, o que não será a realidade? Apesar de todos a desejarem, não agem de modo a merecer recebê-la, o que é mau. De fato, todos querem receber a misericórdia, mas poucos querem dá-la.

Ó homem, com que coragem queres pedir aquilo que finges dar! Deve, portanto, conceder misericórdia aqui na terra quem espera recebê-la no céu. Por isto, irmãos caríssimos, já que todos queremos misericórdia, tenhamo-la por padroeira neste mundo, para que nos liberte no futuro.

Há no céu uma misericórdia a que se chega pelas misericórdias terrenas. A Escritura assim diz: Senhor, no céu, Tua misericórdia.

Há, então, a misericórdia terrena e a celeste, a humana e a divina. Qual é a misericórdia humana? Aquela, é claro, que te faz olhar para as misérias dos pobres.

E a misericórdia celeste? Certamente a que concede o perdão dos pecados. Tudo quanto a misericórdia humana distribui pelo caminho, paga-o na pátria a misericórdia divina.

Neste mundo, Deus, em todos os pobres, sofre frio e fome; Ele mesmo o disse: Sempre que o fizestes a um destes pequeninos, a mim o fizestes. Deus, pois, que no céu se digna dar, quer na terra receber.

Que espécie de gente somos nós que, quando Deus dá, queremos receber, quando Ele pede, nós nos recusamos a dar? Se um pobre tem fome, Cristo sofre necessidade, conforme disse: Tive fome e não me destes de comer. Por conseguinte, não desprezes a miséria dos pobres, se queres esperar confiante o perdão dos pecados. Agora Cristo passa fome, irmãos. Em todos os pobres Ele se digna ter fome e sede. Mas aquilo que recebe na terra, paga-o no céu.

Pergunto-vos, irmãos, que quereis ou que buscais quando vindes à igreja? Não é a misericórdia? Dai, então, a misericórdia terrena e recebereis a celeste. O pobre pede a ti e tu pedes a Deus. O pobre pede um pedaço de pão; tu, a vida eterna.

Dá ao mendigo o que merecerás receber de Cristo. Escuta o que Ele diz: Dai e dar-se-vos-á. Não sei com que coragem queres receber aquilo que não queres dar. Por isto, vindo à Igreja, dai, segundo vossas posses, esmolas aos pobres.”

Diante da misericórdia divina, reconheçamos nossa condição pecadora, a fim de que sejamos mais misericordiosos com aqueles que padecem a miséria no tempo presente. 

Se a misericórdia vivida para com o outro o for, de fato, somos acolhedores e aprendizes da mais bela, perfeita e imensurável misericórdia: a misericórdia divina.

A vivência da misericórdia humana em gestos concretos e solidários com o outro que se vê, é a mais bela e pura expressão da misericórdia divina, que se busca, se deseja, se quer viver, mas que não se vê.

Bem afirma São João que é mentiroso quem diz que ama a Deus que não se vê e não se ama o irmão que se vê (1 Jo 4,20-21).

Aprendizes assíduos da misericórdia divina e humana o sejamos, de fato, e como bem expressa o refrão da Oração Eucarística da Reconciliação:

“Como é grande, ó Pai, a Vossa misericórdia”, e como o próprio Senhor o disse: “Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).

domingo, 28 de julho de 2024

Nada a temer, o Senhor está conosco!

                                                     

Nada a temer, o Senhor está conosco!

“Quem é este, a quem até
o vento e o mar obedecem?”  (Mc 4, 41)

Este será mais um ano marcado por intensas atividades e desafios, e será um tempo oportuno para confirmamos a nossa fé, em corajoso testemunho e compromisso com a Boa-Nova do Reino.

Como Igreja que somos, simbolizada biblicamente pela barca, que faz a travessia até a outra margem, enfrentando os ventos, as tempestades. Dentro dela está o Senhor, e Sua Palavra ressoa no mais profundo de nós, quando ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!” (Mc 4, 39).

A presença serena e segura do Senhor na travessia, ainda que em águas turbulentas, até a outra margem, nos acompanha na missão de todos nós: a edificação de uma Igreja ministerial e missionária, comunicando a Alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, como bem disse o Papa Francisco em sua primeira Exortação Apostólica “Alegria do Evangelho”.

As dificuldades que encontramos no desenvolver das atividades pastorais, como é próprio em todo lugar, serão superadas com a força da Palavra do Senhor e a presença de Seu Espírito.

A violência que gera tanta insegurança, medo de circular pelas ruas, praças e shoppings, não poderá ter a última palavra. Haveremos de encontrar caminhos para uma vivência mais humana e fraterna.

Como Igreja, as marcas da desigualdade social, o compromisso social e político não serão ignorados por ninguém.

Urge que as lideranças intensifiquem o engajamento político, como cristãos, a fim de que sejam uma presença iluminadora e promotora de relações mais justas e solidárias, com vistas ao bem comum, sendo sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16)

A travessia do mar é sempre uma ação ininterrupta da Igreja, como também a assistência e o sopro do Espírito em sua condução.

Renovemos o ardente desejo de permanecer na barca do Senhor, enfrentando adversidades e ventos contrários, se preciso, mas sempre dentro da barca, pois fora dela seríamos submersos nas águas do mar da vida e suas propostas de facilidades, ausência de esperança, consumismo, indiferentismo e outras tantas seduções que o mundo nos oferece.

Finalmente, como Igreja, elevamos a Deus nossas Orações para todos que sejam responsáveis pelo rebanho, sejam os primeiros a dar total testemunho de confiança e perseverança dentro desta barca na qual se encontra o Senhor.

A travessia é longa! Não sejamos tímidos, medrosos e desertores. Permaneçamos na barca do Senhor, pois Deus, em Sua infinita bondade que tudo providencia, jamais nos abandonará.


PS: Passagem do Evangelho (Mc 4,35-41) - Escrito em 30/01/2021

Em poucas palavras...

 


O sentido eucarístico da multiplicação dos pães

“No Evangelho (Jo 6,1-15), reveste-se de um evidente sentido eucarístico, como realidades que se anunciam e se completam mutuamente, e introduzem a comunhão sem véus com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. [...] 

A Eucaristia é vista, assim, em seu sentido mais genuíno de abundância de vida, e, capaz de dar a vida eterna dentro do banquete messiânico. “ (1)

(1) Comentário do Missal Dominical - Editora Paulus - pág. 972

 

 

O Senhor nos ensina a alegria da partilha (XVIIDTCB)

                                                             

O Senhor nos ensina a alegria da partilha

 “Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos
que estavam sentados, tanto quanto queriam.
E fez o mesmo com os peixes.”
(Jo 6,11)

A Liturgia do 17º Domingo do Tempo Comum (ano B) nos convida a refletir sobre a realidade da fome em sua múltipla expressão, e a ação de Deus em nosso favor para que esta seja saciada em plenitude, também nos exorta aos necessários compromissos de amor e partilha.

Aqui, não se trata apenas da fome do pão material, mas de outras tantas fomes: amor, liberdade, justiça, paz, esperança, fraternidade, solidariedade, alegria, ternura...

Na passagem da primeira Leitura (2 Rs 4, 42-44), com o Profeta Eliseu, aprendemos que a multiplicação de gestos de partilha e generosidade para com os irmãos revelam a presença de Deus, que vem ao nosso encontro para saciar a fome do mundo.

O Profeta Eliseu viveu um período muito conturbado, com a multiplicação das injustiças contra os pobres e as arbitrariedades contra os fracos, acompanhado da infidelidade a Deus na violação da Aliança.

A descrição contida na passagem nos revela que quando o homem é capaz de sair do seu egoísmo, com a disponibilidade para a partilha dos dons recebidos das mãos de Deus, torna-se gerador de vida em abundância. Ainda que pareça paradoxal, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas geram vida em abundância: quanto mais se partilha, mais se tem.

A ação de Deus se revela na ação dos pobres, que partilham com amor e generosidade, sem espetáculos. Deus quer precisar de nós, de nossa generosidade e bondade. Criando-nos sem a nossa participação, não quer nos salvar sem a mesma, como disse Santo Agostinho.

Na passagem da segunda Leitura (Ef 4,1-6), o Apóstolo Paulo exorta a comunidade a amadurecer na autenticidade de seu testemunho, abolindo toda prática fundada no egoísmo, orgulho, ciúmes, rivalidade, inveja, ódio, autossuficiência e preconceito, e assim, se esforçar em viver as exigências cristãs: a humildade, a mansidão e a paciência, que são os pilares da unidade.

A mensagem do Apóstolo é como que um convite a construir pontes, que criam proximidade, e não muros, que criam barreiras e divisões.

Na passagem do Evangelho (Jo 6,  1-5), com a multiplicação dos pães e peixes, Jesus nos convida a passar da escravidão à liberdade, da lógica do egoísmo à lógica do amor e da partilha.

Ainda podemos dizer que o capítulo 6 deste Evangelho é uma Catequese sobre Jesus, o Pão da Vida, que sacia a fome de vida plena de toda a humanidade em todos os tempos.

Alguns paralelos são notáveis:
- O Evangelista nos apresenta a ação libertadora de Jesus, de modo que Ele é o Novo Moisés, que tirará o povo da situação de miséria e escravidão em que se encontrava;

- O local em que Jesus realiza o sinal nos reporta ao Monte Sinai, onde Moisés recebeu os Dez Mandamentos;

- Com Moisés se deu a passagem da libertação da escravidão do Egito, e com Jesus temos a nova Páscoa, de modo especial a passagem da morte para a vida.

Outros elementos contidos na passagem, como também os gestos e palavras, revelam que a comunidade é constituída de gente simples e humilde, e com vocação para o serviço, que se expressa na partilha e solidariedade. Tão somente assim ela passa a viver a nova lógica proposta por Jesus.

É preciso substituir o egoísmo pelo amor e pela partilha. Jesus é a revelação do Deus que Se revestiu de nossa humanidade, e veio ao nosso encontro para revelar o amor Trinitário, fonte de vida plena e fraterna.

Com Jesus, vivendo a Sua Palavra, acolhida de modo especial na Eucaristia que celebramos, tornamo-nos partícipes de uma sociedade da saciedade, e não de uma sociedade com o pecado da desigualdade, da fome e da morte.

A caridade vivida em relação ao outro, sobretudo aos pobres, revela a autenticidade de nosso discipulado. Deste modo a comunidade tem que ser sempre um lugar deste aprendizado que nunca termina.

Sintamo-nos questionados e inquietos sobre os “pães e peixes” que temos para partilhar: amor, amizade, tempo, sorriso, dons, etc. Ainda que tenhamos pouco aos olhos humanos, quando partilhado com amor, torna-se multiplicado aos olhos de Deus.

Não há ninguém neste mundo que não tenha nada a partilhar ou algo a receber. E assim, todos nos enriquecemos, quando aprendemos e reaprendemos a alegria da partilha que o Senhor nos ensina, como expressão do amadurecido amor.

Somente deste modo é que o Reino de Deus acontece, quando não partilhamos do que sobra, mas até mesmo daquilo que possa nos faltar. Se assim realizado, não falta, multiplica, e todos somos saciados e alcançamos a verdadeira felicidade.

Renovemos a certeza de que quando colocamos nas mãos de Deus o que temos e o que somos, Ele faz o milagre acontecer!

Em poucas palavras (XVIIDTCB)

                                                 


“Os milagres da multiplicação dos pães...”

“Os milagres da multiplicação dos pães, quando o Senhor disse a bênção, partiu e distribuiu os pães pelos seus discípulos para alimentar a multidão, prefiguram a superabundância deste pão único da sua Eucaristia (Mt 14,13-21; 15,32-39).

O sinal da água transformada em vinho em Caná (Jo 2,1-11) já anuncia a «Hora» da glorificação de Jesus. E manifesta o cumprimento do banquete das núpcias no Reino do Pai, onde os fiéis beberão do vinho novo (Mc 14,25) tornado Sangue de Cristo”.(1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – n. 1335

Apropriado para a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 8,1-10; 6, 30-34; Lc 9,10-17; Jo 6,1-6)

Em poucas palavras...

                                                             


Luz e Paz

“...Que a luz nos traga paz,
pureza ao coração:
longe a palavra falsa,
o pensamento vão...”  (1)

 

(1)       Liturgia das Horas - Hino das Laudes

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