domingo, 28 de julho de 2024

Eucaristia: milagre do amor e da partilha (XVIIDTCB)

                                              

Eucaristia: milagre do amor e da partilha
 
Com a Liturgia do 17º Domingo do Tempo Comum (ano B), contemplamos a ação de Deus: é próprio do Seu Amor vir sempre ao nosso encontro saciando nossa fome de amor, liberdade, justiça, vida, esperança e paz.
 
A Liturgia da Palavra é um grito profético: não tem sentido a morte pela fome. Infelizmente, a fome no mundo não depende da falta de alimentos, mas é resultado do egoísmo, do acúmulo, por parte de poucos, das riquezas que Deus colocou à disposição de todos.
 
A fome não é um problema criado por Deus, mas por nós. Se as lições divinas aprendermos, de fome de pão material e espiritual ninguém nunca mais morrerá.
 
Temos a graça de refletir quais são nossas “fomes” e como procuramos saciá-las, sem jamais perder o sentido da mais preciosa fome que possamos ter, como acima mencionamos, e somente com Jesus, Pão da Vida e da Eternidade, é que ela será plenamente saciada.
 
Com a passagem da primeira Leitura (2Rs 4,42-44), refletimos sobre o gesto de acolhida, amor e partilha, feito pela viúva, que acolhendo a pessoa do profeta, acolhe o próprio Deus.
 
A passagem bíblica tem como cenário um período bastante conturbado da História do Povo de Deus. Um contexto de infidelidade e injustiça; a oposição da idolatria (Baal) e a adoração ao Deus vivo e verdadeiro (Javé).
 
Elizeu fazia parte de uma comunidade de filhos de Profetas, que viviam pobremente como seguidores incondicionais de Javé. Tem como missão apontar Deus, que verdadeiramente sacia a fome da humanidade, não promovendo espetáculos, mas nos pequenos gestos de partilha, doação e solidariedade, e quer contar conosco para ir ao encontro dos irmãos mais necessitados, oferecendo a vida em abundância.
 
Contemplamos o grande paradoxo: a generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas geram vida em abundância. Passa-se do egoísmo à partilha, da partilha à sobra.
 
Esta experiência vivida inspirará os autores dos Evangelhos para falar da multiplicação dos pães.
 
Na passagem da segunda Leitura (Ef 4,1-6), o Apóstolo Paulo nos apresenta a figura do Homem Novo que abandona todo egoísmo, orgulho e autossuficiência para cultivar atitudes de humildade, mansidão e paciência.
 
A passagem é a "Carta do cativeiro", uma sólida catequese paulina, uma síntese de seu pensamento, e com ela refletimos sobre quais devem ser os compromissos a serem vividos com Cristo, para que sejamos, de fato, criaturas novas: união, humildade, mansidão, paciência, unidade (dom de Deus e empenho humano) que se fundamenta na comunhão da Trindade Santa. A comunidade deve estar sempre vigilante, superando manifestações de rivalidade, inveja, ódio, divergência, divisões e ciúmes. Qual comunidade está isenta destes males que a desfigura?
 
Mais uma vez, voltamos a refletir sobre os muros a serem destruídos dentro de nossas famílias, comunidades e mundo, e quais são as pontes de unidade e de paz a serem edificadas.
 
Com a passagem do Evangelho (Jo 6,1-5), refletimos sobre a lógica do Reino, que se funda na partilha, em oposição à lógica do mundo, que é o egoísmo.
 
É o grande convite à generosidade e à partilha. Evidentemente que o sinal feito por Jesus tem matizes da Eucaristia que instituirá pouco mais tarde.
 
Aprendemos, em cada Ceia Eucarística celebrada, que o pão é insuficiente, quando cada um procurar saciar somente a sua fome, mas se multiplicará sem medida, abundantemente, quando todos estiverem dispostos a colaborar, a fim de que ninguém fique privado do que lhe é próprio.
 
Deste modo, o Evangelista apresenta a ação libertadora de Jesus como o novo Moisés. Jesus é o Pão que sacia a sede de vida da humanidade. Não mais a travessia do Mar Vermelho, mas agora a grande travessia, a Páscoa da Libertação.
 
Deus realizou a Antiga Aliança com Moisés, e agora, Jesus no Monte é o Sinal e o realizador da Nova e Eterna Aliança.
 
Lá, Moisés recebe a Palavra, os Mandamentos; aqui, Ele é a própria Palavra, não apenas o Mandamento do Amor, mas a própria fonte e expressão máxima do Amor: Jesus.
 
Jesus revela a face de Deus, e nos convida a não fugirmos da responsabilidade. Revela o rosto de Deus, um rosto de bondade que é atento às necessidades do povo. Jesus é o próprio Deus que Se revestiu de nossa humanidade e vem ao nosso encontro para nos revelar o Amor Trinitário.
 
A comunidade de Seus seguidores é chamada sempre ao abandono dos velhos esquemas, e a abrir-se sempre ao novo: amor e partilha.
 
Não podemos jamais nos omitir diante dos clamores dos empobrecidos. É preciso construir uma sociedade nova, não mais a sociedade da carência, mas a sociedade da saciedade, onde ninguém é privado do essencial para viver.
 
Em Jesus, o povo vê Aquele que vai ajudar a superar a miséria e a escravidão. Somente n’Ele há esperança de um novo tempo.
 
Na multiplicação dos pães, no Evangelho proclamado, cinco pães e dois peixes, igual a sete, que significa totalidade.
 
Temos tudo para saciar a fome da multidão, nada nos falta.   A sobra recolhida e guardada, sem desperdício, implica que a missão é inacabada e será sempre necessária uma nova partilha.
 
Reflitamos:
 
-  Cremos no milagre do amor e da partilha?
 
-  Quais são os peixes e pães que temos para partilhar, para que o milagre da multiplicação de Deus aconteça?
 
-  Nossas Eucaristias celebradas têm levado a compromissos irrenunciáveis com a fome dos empobrecidos?
 
- Temos procurado Jesus, no Pão da Palavra e da Eucaristia, para saciar a nossa fome? 
 
- Vivemos como criaturas novas, na humildade, bondade, paciência?
 
- Cremos na divina providência ou nos inquietamos por qualquer coisa?
 
- O que é preciso para que haja menos inquietação, mais confiança e compromissos solidários com o mundo novo?
 
 
Concluindo, ninguém pode dizer que nada tem para oferecer. Sempre temos algo que podemos dar ao outro para fazê-lo melhor: amor, amizade, tempo, atenção, sorriso.
 
Quando nos colocamos nas mãos de Deus com toda a confiança, abrimos nosso coração e mãos, oferecemos o que de melhor temos, e Deus, na sua infinita onipotência e bondade, faz o milagre acontecer.
Não nos ocorra de ficarmos esperando que Deus tudo faça. Partilhemos nossos pães e peixes e teremos muitíssimo mais a oferecer.
Quem a Deus ama e confia, confiando se entrega, se entregando recebe, e recebe, imensuravelmente, já nesta vida e na vida eterna. 
Oremos:
 
"Deus, Nosso Pai, que quisestes simbolizar no Pão abundante a Salvação que colocais à disposição de todos os seres humanos, fazei que possamos recebê-Lo nesta Celebração comendo juntos, em unidade de mente e coração, o Corpo do Vosso Filho.
 
Só assim poderemos partilhar o que nos dais, contribuindo para que ninguém fique privado do alimento necessário. Amém!".
 
 

Eucaristia, amor e partilha

                                                          

Eucaristia, amor e partilha

Na Liturgia da Palavra, da segunda Sexta-Feira da Páscoa, ouvimos a proclamação da passagem do Evangelho de São João (Jo 6, 1-15), em que narra o sinal que Jesus fez no deserto, celebrando com a multidão o Banquete da Vida, em oposição ao banquete de Herodes, o banquete da morte:

Sacrifício voraz de vidas inocentes e justas, como a vida de João Batista. No Banquete de Jesus, há credenciais exigidas para autêntica participação:

O amor de compaixão, a solidariedade, a confiança na providência de Deus, a gratidão, a bênção, e a consciência de que os bens de graça, d’Ele, recebidos devem ser generosamente partilhados.

O pão que de Deus, quotidianamente, recebemos, por Ele abençoado e por nós partilhado, ganha um novo sabor.

No Banquete da Vida de Nosso Senhor, não há como se omitir diante da dor, da fome, da miséria da existência humana: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.

É possível superar esta brutal realidade que rouba a beleza do Projeto Divino. 

O Profeta Isaías já anunciara a promessa messiânica, de restauração da vida, em que Deus nos chama a comer e a beber sem paga: vinho e leite, deleite e força, alegria, revigoramento...

No Antigo Testamento vemos o Profeta Eliseu que também soube partilhar o pouco para saciar a fome de muitos (2 Rs 4,42-44).

Uma última exigência: Aprender a nova matemática de Deus: Na racionalidade da matemática humana 5+ 2 = 7, indiscutivelmente, logo os 5000 homens, sem contar mulheres e crianças, estariam condenados à fome, ao desalento...

Na racionalidade da Matemática Divina, 5 + 2 = plenitude, perfeição, tudo!

Temos tudo para saciar a fome da humanidade, pois os bens que de Deus recebemos, quando partilhados, são multiplicados.
O milagre da multiplicação dos 5 pães e 2 peixes foi um sinal do Banquete Eucarístico que celebramos.

Alimentando-nos de um pedaço de Pão e um pouco de Vinho, Corpo e Sangue do Senhor, prolongamos a celebração na vida, multiplicando gestos de compaixão, partilha, solidariedade, tornamo-nos promotores da justiça, da fraternidade, da vida e da paz.

Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Mártir, no séc. I, num contexto de dominação e perseguição, nos exortava com sabedoria indiscutível:

“Vosso Batismo seja a vossa arma; a fé, o vosso capacete; a caridade, a vossa lança; a paciência, a vossa armadura completa. As vossas obras sejam vosso depósito para receberdes em justiça o que vos é devido”.

Quando aprendizes da matemática divina:

- nada nos separará do Amor de Deus (Rm 8,35-39): nem a tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada...

- intensificaremos nosso relacionamento com Deus, que é misericórdia, piedade, amor, paciência, compaixão, muito bom para com todos e pleno de ternura que abraça toda criatura (Sl 144).

- aprenderemos, como disse um autor desconhecido, que:

Somente a água que damos de beber ao próximo poderá saciar nossa sede. Somente a roupa que doamos poderá vestir nossa nudez. Somente o doente que visitamos poderá nos curar.

Somente o pão que oferecemos ao irmão poderá nos satisfazer.
Somente a palavra que suaviza a dor poderá nos consolar.
Somente o prisioneiro que libertamos poderá nos libertar”.

Somente a partir da matemática de Deus é que teremos o sinal de um novo céu e uma nova terra, pois não é a lógica fria e irracional, mas a lógica da compaixão, amor, solidariedade e partilha que multiplica, abundantemente, em nós, todas as graças divinas.

Matemática de Deus...
Uma bela lição a aprender para que vivamos a Eucaristia como expressão de amor, acompanhado da necessária partilha. Amém. Aleluia!

PS: Oportuna para o 17º Domingo do Tempo Comum - ano B

Toda fome pode ser saciada

                                                               

Toda fome pode ser saciada

Na Liturgia da Palavra da 2ª sexta-feira do Tempo da Páscoa,  ouvimos a passagem do Evangelho de São João (Jo 6, 1-15), em que é narrado o sinal que Jesus fez no deserto, celebrando com a multidão o Banquete da Vida, em oposição ao banquete de Herodes, o banquete da morte, o sacrifício voraz de vidas inocentes e justas, como a vida de João Batista. 

De outro lado, no Banquete de Jesus, há credenciais exigidas para autêntica participação:

O amor de compaixão, a solidariedade, a confiança na providência de Deus, a gratidão, a bênção, e a consciência de que os bens de graça, d’Ele, recebidos devem ser generosamente partilhados.

O pão, que recebemos de Deus, quotidianamente, por Ele abençoado e por nós partilhado, ganha um novo sabor.

No Banquete da Vida de Nosso Senhor, não há como se omitir diante da dor, da fome, da miséria da existência humana: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.

É possível superar esta brutal realidade que rouba a beleza do Projeto Divino. O Profeta Isaías já anunciara a promessa messiânica, de restauração da vida, em que Deus nos chama a comer e a beber sem paga: vinho e leite, deleite e força, alegria, revigoramento...

O Profeta Eliseu também soube partilhar o pouco para saciar a fome de muitos (2 Rs 4,42-44).

Uma última exigência: Aprender a nova matemática de Deus: Na racionalidade da matemática humana 5+ 2 = 7, indiscutivelmente, logo os 5000 homens, sem contar mulheres e crianças, estariam condenados à fome, ao desalento...

Na racionalidade da Matemática Divina, 5 + 2 = plenitude, perfeição, tudo!

O milagre da multiplicação dos 5 pães e 2 peixes foi um sinal do Banquete Eucarístico que celebramos.

Temos tudo para saciar a fome da humanidade, pois os bens que de Deus recebemos, quando partilhados, são multiplicados.

Alimentando-nos de um pedaço de Pão e um pouco de Vinho, Corpo e Sangue do Senhor, prolongamos a celebração na vida, multiplicando gestos de compaixão, partilha, solidariedade, tornamo-nos promotores da justiça, da fraternidade, da vida e da paz.

Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Mártir, no séc. I, num contexto de dominação e perseguição, nos exortava:

“Vosso Batismo seja a vossa arma; a fé, o vosso capacete; a caridade, a vossa lança; a paciência, a vossa armadura completa. As vossas obras sejam vosso depósito para receberdes em justiça o que vos é devido”.

Quando aprendizes da matemática divina, nada nos separará do Amor de Deus (Rm 8,35-39): nem a tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada...

Quando aprendizes da matemática divina, intensificaremos nosso relacionamento com Deus, que é misericórdia, piedade, amor, paciência, compaixão, muito bom para com todos e pleno de ternura que abraça toda criatura (Sl 144); aprenderemos também, como disse um autor desconhecido:

Somente a água que damos de beber ao próximo poderá saciar nossa sede. Somente a roupa que doamos poderá vestir nossa nudez. 
Somente o doente que visitamos poderá nos curar.

Somente o pão que oferecemos ao irmão poderá nos satisfazer.
Somente a palavra que suaviza a dor poderá nos consolar.
Somente o prisioneiro que libertamos poderá nos libertar”.

Somente a partir da matemática de Deus é que teremos o sinal de um novo céu e uma nova terra, pois a lógica divina não é a lógica fria e irracional, mas a lógica da compaixão, amor, solidariedade e partilha que multiplica, abundantemente, em nós, todas as graças divinas.

 Matemática de Deus: 
Uma bela lição a aprender. 
Aleluia!

PS: Oportuna para o 17º Domingo do Tempo Comum - Ano B

Rezando com a matemática (XVIIDTCB)

                                                             

Rezando com a matemática

Um discípulo voltava de suas aulas matinais com a fome própria de um jovem, mas inquieto até que pudesse fazer uma pergunta ao mestre: “Como falar de Deus a partir das operações matemáticas (adição, subtração, multiplicação e divisão)?”

O mestre propôs um itinerário que deveria ser percorrido ao final de quatro tardes, para melhor proveito e assimilação. Outros discípulos também manifestaram desejo de acompanhar este caminhar vespertino. E assim aconteceu em quatro pores do sol.

Por volta das dezessete horas, mestre e discípulos saíram e,  pouco a pouco, o aprendizado da primeira operação: adição. Talvez porque seja de mais fácil aprendizado, mas tão bela e indispensável quanto as demais.

Primeira tarde: como falar de Deus a partir da adição?
Olhando para uma floresta encantadora pela diversidade de árvores, plantas, pequenos animais silvestres, entraram pela trilha adentro. Em determinado momento, o mestre disse: “assim é a floresta, não composta apenas de uma árvore ou espécie animal, isoladamente, mas a soma de todos eles, numa perfeita harmonia.

Assim fez Deus ao criar ao mundo: na soma das parcelas, das unidades, das diferenças, a totalidade de Sua obra. A folha que se soma a outra, forma a copa da árvore; o pequeno animal que soma ao outro, a fauna, e assim, o ecossistema é garantido”.

Pouco mais adiante, uma encantadora cachoeira. O mestre apontou para a mesma e disse: “vejam a água que cai abundantemente e encanta nossos olhos. Nada veríamos se cada gota não se somasse à outra, em gotas incontáveis que formam este pequeno lago, no qual agora vamos molhar nossos pés, porque hoje está frio, mas se verão fosse...”

Voltando à última palavra do mestre sobre a operação em questão: assim é a convivência entre nós. Quando estamos juntos, em ajuda mútua, somando nossos esforços, tudo fica mais fácil, menos tempo consumimos no alcance de objetivos traçados. Somemos sonhos, esperanças, forças, dons e o que de melhor Deus possa em nós ter colocado. Juntemos nossas histórias como parcelas de uma grande somatória, que possa ser a escrita de uma bela história a ser lembrada e contada com o deleite de quem soube somar, ousar, buscar, sonhar...

Segunda tarde: como falar de Deus a partir da subtração?
Durante o dia, os discípulos retomavam o que ouviram na véspera, e ansiavam a segunda tarde e a operação da subtração.

O mestre levou-os a um ateliê, onde um artista esculpia a estátua de um notável da cidade, para ser colocada no centro da praça que tinha seu nome, como reconhecimento e homenagem.

Cinzel e martelo em mãos, lentamente o escultor ia tirando partes da grande pedra. Ainda na metade do trabalho. O mestre observou: “vejam como ele vai tirando pedacinhos milimetricamente. Vai subtraindo com absoluto cuidado, até que a peça ganhe forma, beleza e expressão dos traços de quem se queria representar. Sem que a grande pedra se submetesse à subtração, jamais a obra poderia ser completada.

Assim também somos nós, a cada dia, precisamos ter a coragem de subtrair, da mente e do coração, o que não nos permite ser quem de fato somos; de nos tornarmos uma obra de arte em permanente acabamento, para que imagem de Deus o sejamos.

Temos que subtrair sentimentos que não edifiquem; manias e caprichos que destroem relacionamentos e crescimentos humanos, afetivos, psicológicos, espirituais, intelectuais, e quanto mais se possa dizer.

Os bens que possuímos também não podem nos cegar. O desapego e o desprendimento de coisas materiais são operações de subtração que nos aproximam mais de Deus”.

Ao voltar, o jardineiro ainda cuidava do jardim, podando corretamente as flores, no tempo e na medida. O mestre parou e o apontou aos discípulos dizendo: “Estão vendo o jardineiro podando a roseira? Sem estes cortes, podas, subtrações de galhos não haverá rosas, e não havendo rosas, não haverá beleza para nosso olhar e odor exalado para nossos sentidos, e tão pouco para expressão de amor entre amados e amantes, pais e filhos e tantos outros que veem na troca de flores uma expressão de carinho, respeito, reconhecimento e afeto.”

Um discípulo indagou: “Mas que Deus tem a ver com isto?” Mal formulada a pergunta, o mestre lembrou a passagem do Evangelho sobre a videira (Jo 15, 1-17), com a qual Jesus Cristo Se identifica, e lhes falou das podas necessárias, como dolorosas subtrações para que a videira dê seus frutos: “assim é a nossa vida: também feita de subtrações, de perdas que se tornam ganhos. De podas doloridas que, se relidas a partir da fé, são certeza de um novo florescer e frutificar”.

Voltaram para casa, todos recolhidos em profundo silêncio. Talvez lembrando o som do martelo do escultor, o barulho da tesoura do jardineiro, as perdas que cada um de nós temos que passar para que se tornem ganhos. Talvez, ainda, da subtração da própria vida, como Jesus o fez: subtraídas Sua beleza e todas Suas forças na Cruz, expirou. Morrendo, Ressuscitou!

Terceira tarde: como falar de Deus a partir da multiplicação?
Aonde levaria os discípulos para lhes falar da multiplicação? Primeiramente, passaram numa pequena Igreja local, no momento em que terminava um retiro espiritual. O mestre se dirigindo ao coordenador do mesmo, perguntou como fora o lanche e o almoço daquele dia.

A resposta foi a mesma que muitas vezes vimos acontecer: estavam todos felizes com o dia de oração, e ninguém com fome, porque o almoço foi comunitário; todos colocaram em comum o que levaram. Todos comeram e ainda sobrou. Aliás, enquanto conversavam, rapidamente, uma mesa foi preparada com os alimentos que sobraram. Os discípulos e todos puderam fazer um lanche para seguir adiante.

O mestre caminhando para o retorno, enfatizou: “quando se multiplica o que temos, sempre sobra. Quando retemos o que temos sempre nos falta e sempre insatisfeitos ficamos. Assim fez Jesus naquele dia num lugar deserto, em que um menino tinha cinco pães e dois peixes e Ele fez o sinal da multiplicação, e todos comeram e ficaram saciados. Foi a mais bela lição da multiplicação que possuímos para que ninguém morra de fome, pois a Sua Palavra tem poder e é garantia de êxito: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’.

Assim acontece em cada Eucaristia que celebramos: aprendemos que ninguém pode viver isoladamente, para si, pois assim empobreceria o seu viver e jamais saberia o gosto da saciedade e da felicidade. Somente sabe a beleza e o gosto da alegria quem sabe multiplicar os dons e talentos que o Senhor nos confiou, e nunca dizer que nada tem para oferecer; que nada pode fazer”.

O discípulo completou: “aprendamos que, com Deus, o que temos, ainda que pouco, com amor partilhado, é multiplicado e ainda haverá sobra, jamais desperdício. Que se recolha o que sobrou, para que ninguém fique privado do melhor que Deus tem à humanidade oferecer”.

Não puderam ir a mais lugar algum, a não ser o propósito de relerem na oração da noite, a passagem que o mestre se referira: Jo 6,1-21.

Quarta tarde: como falar de Deus a partir da divisão?
Naquela última tarde, o mestre levou-os a uma casa muito simples. Uma família sentada ao redor da mesa (as famílias precisam voltar a se encontrar ao redor da mesma para a refeição tanto quanto possível).

Mas a casa era tão pequena, como haveria de colocar todos lá dentro? Fizeram uma escolha entre eles de quem acompanharia o mestre e este descreveria os fatos lá vistos e sentidos.

Assim se fez. O discípulo lhes contou, ao retornarem, que, antes de comerem, o pai fez uma oração breve, agradecendo a Deus a comida servida, como bênção divina concedida. Pediu que Deus abençoasse aquele alimento, e que ele jamais faltasse na mesa de tantas outras famílias. Como a família era de poucos recursos econômicos, não tinha tanta comida na panela, como se previra, disse o discípulo:

“Chamou-me a atenção que a mãe serviu dividindo igualmente a quantidade de comida em cada prato. Todos comeram. Em seguida a mãe trouxe algumas frutas colhidas no quintal, dividiu entre todos, e disse: ‘Leve para os amigos de vocês estas frutas. Ficaremos felizes se levarem’”.

O mestre assim completou: “Quando aprendemos dividir o que temos nada nos falta. Quando a mesquinhez, ambição desmedida toma conta de nós, tornamo-nos insatisfeitos, consumistas, insaciáveis.

De fato somente o pão que partilhamos sacia nossa fome; somente a água que partilhamos sacia nossa sede; somente a roupa que partilhamos nos veste e nos protege do frio; somente a lágrima que secamos, faz secar as que em nós também vertem; somente os sonhos que ressuscitamos afastam de nós pesadelos; somente a poesia e o canto que exalta a beleza da vida divulgamos, devolve a poesia e encanto a viva que temos... somente...”

E assim, mestre e discípulos continuaram: “somente...”.
Quase chegando em sua casa, completou o mestre: “Assim aconteceu com Jesus Ressuscitado,  que no partir do Pão, na casa de Cléofas e o outro discípulo, os discípulos de Emaús (Lc 24,13-34), que somente Se tornou reconhecido no partir do pão.

Assim acontece com o Pão partilhado no Banquete da Eucaristia: reconhecemos a presença de Jesus, vivo e presente no Pão Consagrado e na Mesa: dividido, partilhado, comungado. Ele que pouco antes faz arder nosso coração quando a Palavra é proclamada”.

Quinta tarde:
Houve quinta tarde?
Mas não são quatro as operações fundamentais da matemática?
Então...
A quinta tarde acontece se quisermos.
A quinta tarde acontece se nos propusermos.

Que a quinta tarde sejam todas as tardes que virão depois, como tardes que não se repetem e que têm sua beleza própria. Em cada tarde, voltemos às quatro tardes e retomemos as operações da matemática em nossa vida.

Há tardes que nos levam a meditar sobre outras:
- Aquela tarde que nos falou o salmista – “Se à tarde nos vem o pranto visitar, a alegria pela manhã nos vem saudar” ( Sl 29, 6).

- Aquela tarde da Paixão – da morte do Senhor, que mudou a nossa vida. Aquela tarde em que o Amor foi crucificado, para que Ressuscitasse na madrugada da Ressurreição: porque o Amor é eterno, e com Amor eterno Deus nos amou.

- Aquela tarde em que Jesus caminhou com os discípulos de Emaús explicando-lhes as escrituras e, por fim, ouvindo dos mesmos – “Fica conosco Senhor”.

Rezar a partir da matemática é possível. Quando assim acontecer nos tornaremos mais humanos, fraternos, expressões vivas da misericórdia e ternuras divinas, e misericordiosos como o Pai, que não Se cansa de fazer todas as operações para que vida plena e feliz todos tenhamos, o seremos. 


PS: apropriado para a reflexão da passagem de Marcos (Mc 8,1-10; Jo 6,1-15)

“Alegria transbordante em toda a tribulação” (XVIIDTCB)

                                                         

“Alegria transbordante em toda a tribulação”

“É próprio de quem ama queixar-se de não ser amado e,
ao mesmo tempo, temer que, excedendo-se
na acusação, venha a magoar”

Sejamos enriquecidos pela Homilia sobre a Segunda Carta aos Coríntios, do Bispo São João Crisóstomo (Séc. IV), que nos fala do transbordamento da alegria em toda a tribulação, na fidelidade a Jesus Cristo.

“Paulo de novo fala sobre a caridade, refreando a dureza da advertência. Depois de tê-los censurado e repreendido porque, amados, não haviam correspondido ao seu amor, mas haviam-se separado de seu afeto para se ligar a homens perniciosos, de novo suaviza a acerba repreensão, dizendo:

Acolhei-nos em vossos corações, como quem diz: ‘Amai-nos’. Não é pesada a graça que pede, e é de maior vantagem para quem dá, do que para quem recebe. Não disse ‘Amai’, mas algo que transpira compaixão: ‘Acolhei-nos em vossos corações’.

Quem foi que nos arrancou de vossos corações? Quem nos expulsou? Qual a causa de tanta estreiteza em vós? Acima dissera: Tendes vossos corações apertados; aqui declara abertamente o mesmo: Acolhei-nos em vossos corações. Assim, com isso os atrai de novo a si. Não é de somenos importância, quando se solicita o amor, que o amado entenda ser sua afeição de grande valia para quem ama.

Já o disse: Estais em nossos corações para a vida e para a morte. A força máxima do amor está em que, mesmo desprezado, quer morrer e viver juntamente com eles. Ora, não de qualquer modo estais em nossos corações, mas como declarei. Pode acontecer que alguém ame, mas fuja dos perigos. Conosco não é assim.

Estou repleto de consolação. Que consolação? Aquela que me vem de vós. Convertidos a melhores sentimentos, por vossas obras me consolais. É próprio de quem ama, queixar-se de não ser amado e, ao mesmo tempo, temer que, excedendo-se na acusação, venha a magoar. Por isto acrescenta: Estou repleto de consolação, transborda minha alegria. Como se dissesse: ‘Senti grande tristeza por vós; contudo me enchestes de satisfação e me consolastes; não só tirastes a causa da tristeza, mas me cobristes com muito maior alegria’.

Em seguida manifesta sua grandeza não apenas ao dizer: Minha alegria transborda; como também no que segue: Em toda tribulação nossa. Foi tão grande o prazer que me causastes que não poderia ser obscurecido pela grande aflição. Tão imenso que reduziu a nada todos os sofrimentos que nos acometeram e não nos permitiu que fôssemos abatidos pelo desgosto”.

A vida é tecida de acontecimentos que se entrelaçam e que nem sempre tão bons e agradáveis e facilmente contornáveis.

Da mesma forma, na fidelidade e no testemunho da fé, podemos passar por momentos difíceis, momentos em que sentimos como que se pode dizer “secura da alma”, “noite escura”, com suas provações e inquietações.

Nestes momentos, porém, é que temos que manter firme nossa fé, crendo contra toda falta de esperança, confiando plenamente no poder e na Palavra divina, com a força do Espírito Santo, que vem nos assistir, socorrendo nossa fraqueza, dando-nos firmeza em novos passos que precisam ser dados.

Deus que tanto nos ama, espera esta resposta de amor, em total confiança e entrega a Ele, em Suas mãos, como tão bem expressou o Bispo: “É próprio de quem ama, queixar-se de não ser amado”.

Aprendamos com o Apóstolo que, mesmo incompreendido pela comunidade, jamais deixou de amá-la e exortá-la para que crescesse na fidelidade ao Senhor, na máxima expressão da caridade ativa e frutuosa, pois sabia a quem servia e de quem a Palavra anunciava e testemunhava, com todo ardor e coragem.

Aprendamos com o Divino Multiplicador! (XVIIDTCB)

                                                            

Aprendamos com o Divino Multiplicador!

Com a Liturgia do 17º Domingo do Tempo Comum (ano B), sentados à mesa com Jesus, aprendemos a grande lição de amor e a partilha. 

Deste modo, a Liturgia nos mergulha na reflexão sobre a grandiosidade do Amor de Deus para com Seu povo. Outrora com Moisés o povo foi saciado com o maná, agora é o próprio Senhor que Se dá em Alimento, e Alimento de Vida Eterna, sendo apresentado pelo Evangelista Mateus como um novo Moisés.

Contemplamos a face de um Deus providente, dedicado, preocupado no sentido de que nada nos falte.

Alimentados pelo Amor de Deus, no Pão da Eucaristia e no Pão da Palavra, aprendemos que somente a partilha nos saciará.

É preciso, como partícipes do Banquete Eucarístico, superarmos a indiferença, o egoísmo, a acomodação para entrarmos na lógica do Reino, como prolongamento da Eucaristia que celebramos.
  
Vinde, escutai e comei. Ide, partilhai e vivei! Ecoam as palavras do profeta Isaías na primeira Leitura que retrata o tempo do exílio (2 Rs 4,42-44).

A necessidade de manter viva a esperança e começar a partir do quase nada a história. Viver é um eterno recomeço, e é possível quando em Deus e em Sua Palavra se confia; jamais acomodar-se, mas pôr-se sempre a caminho.

É preciso desinstalar, arriscar, buscar novos caminhos, não deixando se enganar por falsas miragens, ilusórias saídas que aprofundam dores e sofrimentos.
  
Com o Apóstolo Paulo (Ef 4,1-6), aprendemos que nada pode nos separar do Amor de Deus manifestado em Jesus Cristo, e do Seu Projeto de felicidade para todos nós - nem tribulação, angústia, perseguição, fome, perigo, nudez, espada... (Rm 8,35-39).

Nossa confiança em Deus será tão maior quanto mais profunda for nossa experiência de Seu Amor.

O milagre da partilha dos pães e peixe nos ensina que a fome é de responsabilidade humana, logo há a emergência da solidariedade – dai-lhes vós mesmos de comer. Também nos ensina a necessária gratidão a Deus, pois possuímos tudo para saciar a fome da humanidade (5 pães + 2 peixes). Não haverá jamais lugar para o egoísmo e nos poremos todos no alegre aprendizado da gratuidade e partilha. 

Aprendemos com Jesus que tudo procede de Deus e é para todos; bens e dons devem ser partilhados livre e alegremente e nada nos faltará (sobrarão 12 cestos).

O milagre da multiplicação dos pães e peixes sem dúvida é apelo e sinal. Apelo para que não nos omitamos diante da fome e da miséria que destrói a vida de irmãos e irmãs e, ao mesmo tempo, é sinal do Banquete da Vida que celebramos em cada Eucaristia, preanunciando o Banquete da Eternidade em que todos se assentarão, como muito bem expressa o Salmo que cantamos:

“Pelos prados e campinas, verdejantes eu vou... Um lugar em Sua mesa me preparou...” 

Em poucas palavras... (XVIIDTCB)

                                                      


Oremos: 

“Ó Deus, amparo dos que em Vós esperam, sem Vós nada tem valor, nada é santo. Multiplicai em nós a vossa misericórdia para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens temporais que possamos aderir desde já os bens eternos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém!” (1)

 

(1)  Oração do dia da Missa do 17º Domingo do Tempo Comum

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG