sexta-feira, 28 de julho de 2023

Grandes são nossas fraquezas, maior o nosso Remédio


Grandes são nossas fraquezas, maior o nosso Remédio

“Pois são muitas e grandes estas minhas fraquezas.
São muitas e enormes. Porém muito maior é teu remédio”

Sejamos enriquecidos pelas “Confissões”, escrita pelo Bispo Santo Agostinho (Séc. V), em que nos possibilita a contemplação de Jesus Cristo, que por amor, morreu por todos nós.

“Aquele que em Tua secreta misericórdia revelaste aos humildes e lhes enviaste para que nos ensinasse a humildade, o verdadeiro mediador, esse mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus, apareceu entre os pecadores mortais como justo mortal: mortal com os homens, justo com Deus.

Sendo a recompensa da justiça a vida e a paz, pela justiça unida a Deus, ele destruiu a morte dos ímpios justificados, através dessa morte que desejou igual à deles.

Quanto nos amaste, Pai bom, que não poupaste Teu Filho único, mas por nós, ímpios, o entregaste! Como nos amaste, quando por nós Ele não julgou rapina ser igual a Ti, fez-Se obediente até à morte da Cruz, Ele, o único livre entre os mortos, com poder de entregar Sua vida e o poder de retomá-la! Tudo Ele fez por nós, diante de Ti vitorioso e vítima, vitorioso porque vítima. Por nós, diante de Ti sacerdote e sacrifício, sacerdote porque sacrifício. Fazendo de nós, servos, filhos para Ti, nascendo de Ti, a nós servindo.

Com muita razão minha grande esperança está n’Ele, porque curarás todas as minhas fraquezas, por Aquele que Se assenta à Tua direita e intercede por nós. De outro modo, desesperaria. Pois são muitas e grandes estas minhas fraquezas. São muitas e enormes. Porém muito maior é Teu remédio.

Teríamos podido pensar que Teu Verbo estava longe de unir-se aos homens e entregarmo-nos ao desespero, se Ele não Se tivesse feito carne e habitado entre nós. Apavorado com meus pecados e com o peso de minha miséria, eu revolvia no espírito e pensava em fugir para o deserto. Mas me impediste e me fortaleceste dizendo-me: Para isto Cristo morreu por todos, para que os que vivem não mais vivam para si, mas para Aquele que por eles morreu.

Agora, Senhor, lanço em Ti meus cuidados para viver e considerarei as maravilhas de Tua Lei. Tu conheces minha ignorância e fragilidade: ensina-me, cura-me! O Teu Único, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência, me remiu por Seu sangue. Não me caluniem os soberbos, porque reflito no preço dado por mim.

Como, bebo, distribuo e, pobre, desejo saturar-me d’Ele entre aqueles que d’Ele comem e são saciados. Com efeito, louvarão o Senhor aqueles que O procuram”.

Contemplemos o amor de Cristo, que nos impele a renovar fidelidade ao Reino de Deus por Ele inaugurado.

Ele, que por todos nós Se entregou, a fim de que ao viver, não vivamos para nós mesmos, mas para Ele, que por nós morreu e Ressurgiu dentre os mortos, e para perseverarmos com constância e fidelidade, sem jamais experimentar a orfandade, nos enviou o Seu Espírito (2Cor 5,14.15b; Rm 8,32a).

Coloquemos nossa miséria nas mãos do Senhor, a revelação da face misirecordiosa de Deus; n’Ele renovemos nossas forças, para firmar nossos passos.

“Pai Nosso que estais nos céus...

A Palavra do Senhor e a fecundidade de nosso coração

A Palavra do Senhor e a fecundidade de nosso coração

Reflexão à luz da Parábola do Semeador (Mt 13,18-23; Mc 4,13-20; Lc 8,4-15):


“Os diversos terrenos, frequentemente presentes e misturados em nós, são a imagem do nosso coração desejoso porventura de escutar a Palavra, mas incapaz de compreendê-la em profundidade e de deixá-la criar raízes, de modo a poder dar fruto.

É necessário proceder a um trabalho atento e sapiente, libertando o coração de pedregulhos e de espinhos, separando a terra boa, isto é, exercendo aquela vigilância contínua a que convidam outras páginas do Evangelho (cf. Lc 12,35ss), e um sábio discernimento sobre tudo o que ocupa os nossos sentimentos e os nossos pensamentos” (1)

Completemos a reflexão com o Comentário do Missal Cotidiano (2), e assim, podemos falar em quatro categorias de pessoas ao ouvir a Palavra de Deus:

1º - Aqueles que a ouvem com planos próprios, sem muita disponibilidade para se questionar com a Palavra;

2º - Outros são superficiais, pois ouvem levianamente a Palavra, e da mesma forma esquecem;

3º - Muitos não têm tempo para tirar conclusões da Palavra, porque “têm muito que fazer”;

4º - Mas têm alguns que realmente refletem sobre a Palavra ouvida, e se dispõem a “mudar”, com uma disponibilidade mais ou menos ampla, que só Deus pode medir.

Corroborando ainda mais a reflexão: 

“O homem dos primeiros três quadros escuta, mas não compreende. Os motivos são diversos e colocam em evidência obstáculos cada vez mais sutis e, por vezes, difíceis de descobrir. A razão pode estar na intervenção do Maligno, mas também em algumas atitudes humanas, como a volubilidade e a superficialidade que se manifestam quando é necessário enfrentar dificuldades e provações, ou então a inquietação que nasce da preocupação pelas riquezas” (3).

De outro lado, a compreensão da Palavra de Deus não é um exercício intelectual, porque nasce da acolhida atenta e amorosa do que se ouviu, e da fé incondicional no Senhor, que nos dirige a Palavra divina para que, acolhida em chão fértil e pleno de fé, dê saborosos e abundantes frutos Pascais.

Além de nos questionarmos sobre o modo como acolhemos a Palavra, e com qual terreno nos identificamos, há uma segunda questão que o Comentário do Missal nos apresenta:

Na explicação da Parábola, o Senhor fala dos que ouvem, e notemos que não aparecem “Aqueles que não ouvem”.

Entretanto, há muitos que ainda não ouviram a Palavra do Senhor, e precisamos nos questionar se, como discípulos missionários do Senhor, estamos vivendo a graça de anunciar e testemunhar a Palavra de Deus a muitos, em todos os âmbitos e em todos os momentos.

Concluindo, oportunas as Palavras do Apóstolo Paulo aos Romanos (Rm 10,14-15):

“Como, pois, invocarão Aquele em quem não creram? e como crerão n’Aquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o Evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas”.


(1) (3) - Lecionário Comentado – Tempo Comum – Volume I - Editora Paulus – Lisboa – 2011 – p.796
(2) Missal Cotidiano – Editora Paulus – p.1067

O Semeador, Sua Palavra, nosso coração...

O Semeador, Sua Palavra e o nosso coração 

Reflexão à luz da passagem do Evangelho (Mt 13,1-23; Mc 4,1-9; Lc 8,4-15), sobre a centralidade da Palavra de Deus em nossa vida.  

As parábolas de Jesus mexem com os ouvintes, arma controvérsia; utiliza-Se deste método pedagógico de reflexão para nos ajudar no encontro da verdade que nos desestabiliza, nos chama à conversão: 

"Não se trata de anunciar uma Palavra anestesiante, mas desinstaladora, que chama à conversão, que torna acessível o encontro com Ele, através do qual floresce uma humanidade nova" (Verbum Domini - 93).  

A Parábola, embora de construção simples, somente pode ser compreendida na sua essência pelos pobres, pelos simples, pelos aflitos, aqueles a quem Jesus revelou o amor preferencial de Deus. Elas exortam, animam, ensinam, fortalecem, comprometem, abrem novos caminhos, iluminam horizontes, firmam os passos...  

Que tipo de terra é o coração de cada um na acolhida da Palavra, que o Semeador, o próprio Jesus, nele semeia? 

De modo sintético, vejamos o que nos diz a parábola do Semeador: 

Coração duro – beira do caminho – superficial, egoísta, insensível, orgulhoso, não há lugar para a Palavra de Deus. 

Coração inconstante – entusiasmo momentâneo, sem enraizamento, cristianismo de meias-tintas, não suporta contrariedades e dificuldades. 

Coração materialista - dividido entre as preocupações e riquezas; coração acomodado e instalado; não tem coração, por Deus seduzido, mas dividido, o que é impossível. 

Coração fértil – coração aberto à graça para frutos abundantes produzir; aberto à novidade e propostas do Reino que Jesus inaugurou com Sua Encarnação.  

Com os nossos olhos iluminados pela Palavra de Deus, temos um olhar de futuro para a humanidade com os óculos da esperança, e não um olhar para o holocausto, para a destruição, para o nada... 

A Palavra de Deus tem que iluminar nosso olhar – nem caos, nem êxtase... Esperança de mãos dadas e entrelaçadas com a caridade é sinal da verdadeira fé. 

Acolher a Palavra de Deus nos compromete no cuidado de Sua criação em todos os níveis, âmbitos e aspectos. Cuidar da vida da pessoa, de sua existência e do planeta, nossa Casa Comum, pois é impossível cuidar de um destruindo o outro.

Deixemo-nos conduzir pela Palavra de Deus, princípio ético para todo o nosso existir, que ilumina nossos pensamentos, palavras e ações e nos questiona em nossas omissões.  

Reflitamos:

- De que modo acolho a Palavra do Senhor?
- Como a tenho não apenas acolhido, celebrado, meditado, partilhado, anunciado, mas vivido?

- Quatro atitudes distintas diante da Palavra: indiferença, recusa, desprezo e acolhimento. Como tem sido comigo?
- Como o amor à Palavra de Deus tem me ajudado a viver segundo o Espírito que faz novas todas as coisas, cria uma nova humanidade, um mundo novo? 

- De que modo cuidamos da criação que o Senhor nos confiou? 

Como a chuva que cai e não volta para os céus sem antes regar e fecundar a terra, a Palavra que cai em nosso coração deve voltar para ao Pai acompanhada de sua eficácia, com gestos multiplicados de amor e solidariedade para com o outro e para com Deus.
De fato, a Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4,12). 

Escutar e por em prática a Palavra do Senhor

Escutar e por em prática a Palavra do Senhor

O escutar é abertura do coração a Deus.

A passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,1-23) nos  apresenta a parábola do semeador, e com ela somos convidados à autoavaliação, autoquestionamento sobre a qualidade do nosso olhar e da nossa escuta.

Não basta escutar, como não basta ver, se o coração permanece endurecido, isto é, obstinado nas suas convicções, incapaz de acolher até o ao fim e deixar-se impressionar pela Palavra de Jesus”.

Jesus, com Sua palavra e ação, tudo fez para curar aqueles que se voltaram para Ele, desde que se pusessem numa autêntica postura de escuta que levaria necessariamente à conversão.

Se a Sua Palavra for escutada e acolhida com abertura, sinceridade e humildade, transforma a vida de quem a ouve.

O escutar é abertura do coração a Deus. Segundo Santo Agostinho, é preciso que se escute a Sua Palavra, fazendo crescer a nossa fé, e pela fé, na paciência esperar, e esperando, amar e amar até o fim, no desembocar da eternidade

Ontem, hoje e sempre, o Senhor Jesus está sempre pronto a atuar no terreno por vezes obscurecido de nosso coração, irradiando Sua luz.

Está sempre pronto para nele atuar, ainda que muitas vezes endurecido pelo rancor e ressentimento, para transformá-lo com Sua ternura, misericórdia e bondade.

Pode ocorrer, no entanto, que nosso coração se encontre, por vezes, frio pelas respostas de desamor recebidas, gelidez de relacionamentos que não se consubstanciaram em relacionamentos desejáveis, sinceros, maduros e fraternos.

O Senhor atua em nosso coração, que fica hermético pelo medo, cansaço, decepção, fuga, isolamento, sofrível solidão, e rompendo todas as amarras e correntes, nos liberta para novas e sinceras amizades, convivências, para nos inserir com o outro na mais bela harmonia do Deus Uno e Trino, Santíssima Trindade, Amor e comunhão.

Ainda que encontre o nosso coração cheio de espinhos que impeçam a acolhida frutuosa de Sua Palavra, ainda assim não desiste de nós: é próprio do Amor de Deus não desistir de nós, porque por Amor nos criou, e por Amor nos redimiu.

Oremos:

“Curai, Senhor, nossa surdez para uma escuta mais autêntica,
Para vivermos com toda docilidade e fidelidade
à Vossa Santa Aliança.

Que não vagueemos à procura de cisternas enganadoras 
para saciar nossa sede de vida, 
pois somente Vós, a mais preciosa e inesgotável
Divina Fonte de Amor, vida e paz sois. 
Amém”.

Palavra do Senhor: escutar e viver

Palavra do Senhor: escutar e viver

Para aprofundamento da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,1-23), acolhamos o Sermão do Papa e Doutor da Igreja São Gregório Magno (séc. VI).

“Retenham em vosso coração as Palavras do Senhor que escutastes com os vossos ouvidos; porque a Palavra de Deus é o alimento da alma; e a palavra que se ouve e não se retém na memória é precipitada como o alimento, quando o estômago está mal; mas preocupa-se com a vida de que não retém os alimentos no estômago.

Vede que tudo o que fazeis passa, e cada dia, quer queirais ou não, vos aproximais mais ao último juízo, sem nenhum perdão de tempo. Então, por que se ama o que se vai abandonar?

Por que não se dá importância sobre o fim aonde se vai chegar? Lembrai-vos de que se diz: ‘Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça’. Todos os que escutavam ao Senhor tinham os ouvidos do corpo; mas aquele que diz a todos os que têm ouvidos: ‘Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça’, não há dúvida alguma que se referia aos ouvidos da alma.

Procurai, portanto, guardar no ouvido de vosso coração a palavra que escutais. Procurai que a semente não caia à beira do caminho, não aconteça que venha o espírito maligno e arrebate a palavra de vossa memória.

Procurai que se a semente não caia em terra pedregosa e produza o fruto das boas obras sem as raízes da perseverança. A muitos lhe agrada o que escutam, e se propõem a fazer o bem; mas assim que começam a serem molestados pelas adversidades abandonam as boas obras que tinham começado. A terra pedregosa não teve seiva suficiente, porque o que tinha germinado não o levou até o fruto da perseverança.

Existem muitos que, quando ouvem falar contra a avareza, a rejeita, e exaltam o menosprezo das coisas deste mundo; mas assim que a alma vê uma coisa que desejar, esquece daquilo que louvava.

Existem também muitos que, quando ouvem falar contra a impureza, não somente não desejam saciar-se com as imundícias da carne, mas até se envergonham das máculas com as quais se mancharam; mas assim que a sua vista se apresenta a beleza corporal, de tal forma é o coração arrastado pelos desejos, como se nada houvesse feito nem determinado contra estes desejos, e realiza o que é digno de condenar-se, e, que ele mesmo havia condenado ao recordar que o havia cometido.

Muitas vezes nos contristamos por nossas culpas e, contudo, voltamos a cometê-las depois de já tê-las chorado”

Assim devemos fazer: guardar no ouvido do coração a Palavra de Deus que lemos, ouvimos ou meditamos e, sobretudo quando proclamada na Mesa da Palavra.

Quando elas entranham os ouvidos da alma, devem ser postas em prática, pois tão somente assim poderemos nos céus entrar, como bem nos disse o Senhor: somente quem ouvir Sua Palavra e a puser em prática é que entrará no Reino dos Céus (Mt 7,21).

Não podemos ser meros ouvintes da Palavra, mas devemos nos empenhar, com a graça de Deus, para colocá-La em prática.
Não ocorra que a Palavra caia como chuva em nosso coração, e seja como a mais bela chuva sobre as pedras, que por mais abundantes que sejam, não as tornarão fecundas.

Que os ouvidos do nosso coração sejam abertos e fecundos à Palavra de Deus, para que, através de nosso discipulado produza os frutos por Deus esperados.



Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – p. 176-177

“Nosso coração se dilatou”



 “Nosso coração se dilatou”

“Pois aquele que é amado,
sem temor passeia no íntimo do coração do que ama”


A Liturgia das Horas nos apresenta uma Homilia do Bispo São João Crisóstomo (séc. IV), sobre a segunda Carta de Paulo aos Coríntios, possibilitando-nos uma reflexão sobre a verdadeira caridade.

“Nosso coração se dilatou. Aquilo que produz calor costuma dilatar. Assim é próprio da caridade dilatar, pois é uma virtude cálida e fervente.

Ela abria também a boca de Paulo e lhe dilatava o coração. ‘Não amo só de boca, diz ele, meu coração, em verdade, harmoniza-se com o amor; por isso falo confiante, com toda a voz e toda a mente’.

Nada mais amplo do que o coração de Paulo que, à semelhança de um enamorado, abraçava a todos os fiéis com intenso amor, sem dividir e enfraquecer a amizade, mas conservando-a indivisa.

(...) Aquele que é amado, sem temor passeia no íntimo do coração do que ama.(...) Em várias passagens, extraindo textos de cada epístola sua, pode-se ver de que amor incrível ardia para com os fiéis.

Aos romanos escreve: Desejo ver-vos: e muitas vezes fiz o propósito de ir até vos; e também: Se de qualquer modo puder ir fazer-vos voa visita.

Aos gálatas escreve: Meus filhinhos, aos quais gero de novo; e aos efésios: Por esta razão dobro meu joelhos por vós.

E aos tessalonicenses: Qual a minha esperança ou gáudio, ou coroa da glória? Não sois vós? Dizia também carregá-los em suas cadeiras e em seu coração.

Igualmente aos colossenses, escreve: Desejo que vejais vós e aqueles que ainda não viram meu rosto, a grande luta que sustento por vós, para que vossos corações se fortaleçam.

Aos tessalonicenses: À semelhança de uma mãe que acalenta seus filhos, assim amando-vos, desejávamos vos dar não só o Evangelho, mas nossas vidas. Não estais apertados em nós.

Não diz apenas que os ama, mas que é amado por eles, para deste modo atraí-los melhor. Pois assim escreve: Tito chegou e contou-nos vosso desejo, vossas lágrimas, vosso zelo”.

Notável o enamoramento do Apóstolo por Jesus Cristo. Este fez de Cristo a razão de seu viver, sua vida foi transformada; fez deste amor fonte de relacionamento amoroso com as comunidades fundadas e acompanhadas.
Somente nutridos da Fonte do Amor, enamorados por Ele, é que chegaremos à maturidade do amor pela Igreja que somos.

Invoquemos o Fogo do Espírito, para que aqueça e dilate nosso coração; e assim, “os amados” de Deus, no íntimo dele passeiem sem medo algum, como nos falou São João Crisóstomo.

Reflitamos:

- Sinto-me enamorado por Cristo?
- A caridade dilata meu coração para que nele caibam os irmãos e irmãs da comunidade que faço parte?

- Como vivencio este amor por Cristo em relação a Sua Igreja?
- O que significa para mim a comunidade que participo?

- O que mais toca meu coração ao contemplar o testemunho de Paulo em relação a Cristo e a Sua Igreja?

Concluindo, no coração onde o amor está presente, alargado, redimensionado fica, para amar na mesma medida de Deus: um Amor verdadeiramente imensurável!

Urgente ou necessário?

                                                      

Urgente ou necessário?

“Ela (Maria) escolheu a melhor parte”

Passagem do Evangelho da visita que Jesus faz à casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro: Lc 10, 38-42

As Palavras de Jesus: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolhe a melhor parte, que não lhe será tirada”

Duas constatações:

- “Nós sacrificamos continuamente, sem perceber, aquilo que é importante para correr atrás do que é simplesmente urgente, mas não importante.” (1) 

- “Nossa vida é uma corrida desenfreada atrás de mil coisas: sonhos, projetos, negócios, ocupações; somos Martas atarefadas que pensam fazer as coisas mais importantes do mundo e ao invés perdemos o tempo, fazemos coisas inúteis, nos agitamos por coisas que são urgentes e não importantes, por coisas que muitas vezes não acontecerão nunca” (2).

Um pensamento de Santo Agostinho:
Minha alma está inquieta, sempre estará, enquanto não encontrar seu repouso em Ti, ó Senhor”.

Uma reflexão sobre a necessidade de discernir entre o urgente e o necessário:

Viver é navegar, com o discernimento necessário,
Entre o que é importante e o que é urgente,
Com sábias escolhas para não naufragarmos
No mar vasto e complexo de múltiplas possibilidades.

Vivemos premidos pelo tempo que se esvai,
Muitas vezes, sem que o percebamos, velozmente,
Consumidos pelo muito a fazer, porque inadiável,
Sem saber exatamente por onde começar.

O que é de fato importante e o que é urgente?
O que não nos é permitido prorrogar, porque imperioso?
O que de fato deve nos consumir,
Com zelo, ardor e fervor, numa expressão de amor?

Não há tempo a perder! As horas são contadas.
Que densidade damos a cada hora que passa?
A cada hora que passa, que história foi escrita,
Para que não percamos a beleza de um desejável epílogo?

Viver é consagrar o que somos e o que temos,
Nem tanto pelo que é urgente, e sim importante
Para o consumar do que nos realiza como pessoas,
Sem estresse, desgastes inúteis, devorados por inquietações.

É tempo de revermos o caminho e escolhas feitas:
A Missa, a Oração, o silêncio serão para nós importantes
Ou, em nome de urgências incontáveis,
Imediatamente sacrificamos, adiamos, nos esvaziamos?

Não será o vazio, por muitos sentido,
Fruto desta escolha não bem feita,
O perder-se no emaranhado da escolha
Entre o importante e o urgente?

Encontrando-me com Ele, saberei discernir, com sabedoria,
O que de fato é importante, não necessariamente urgente,
Que me faz mais humano, menos estéril da Divina Semente,
Que abundantemente o Senhor lança em nossos corações.

Não concluo lúcido e propositalmente,
Porque agora tenho algo importante para fazer:
Recolher-me no mais profundo de mim mesmo
E encontrar-me com Ele, no silêncio...


(1)         O Verbo se faz carne – Reflexão sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C – Pe. Raniero Cantalamessa - OFM - Ed. Ave Maria - 2013 - p. 724.
(2)        Idem p.681 

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