quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Da primavera provisória à eterna Primavera de Deus (XXVDTCB)

                                                      

Da primavera provisória à eterna Primavera de Deus

“Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra,
nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis
acordarão as cores e os perfumes e a alegria
de nascer, no espírito das flores” –
 Cecília Meireles

Com as poetisas, nossos ouvidos ficam mais sensíveis aos sons que não ouvimos, às conversas que jamais imaginaríamos.

Com as inesquecíveis poetisas, nosso olfato ganha maior capacidade de captação, assim como nossos olhos conseguem ver um pouco mais longe ou mesmo enxergar os pequenos detalhes muitas vezes despercebidos.

Com as notáveis poetisas, somos despertados para falar de algo que devolva o reencantamento ao mundo, como numa alegre ciranda de crianças em pureza de coração, embora já não se veja tanto assim, reavivando as mais belas utopias...

Por onde andam as verdadeiras poetisas e poetas que o mundo precisa, que se aliam à voz da profecia, para que não percamos a força, o ardor no compromisso com a Boa-Nova do Reino?

Por onde ecoam as vozes que falam não apenas aos nossos ouvidos, mas conseguem nos desinstalar para avançarmos em águas mais profundas, descobrindo os doces e suaves mistérios da existência?

Por onde andam as mães e os pais que poetizando reinventam a linguagem, aprendendo a linguagem do Espírito, para comunicar aos filhos valores que não podem jamais ser esquecidos e ignorados?

Por onde andam os Bispos, Sacerdotes, Ministros e Discípulos missionários do Senhor, enamorados por Ele, em íntima comunhão e amizade, a Ele totalmente configurados, testemunhando uma fé luminosa, esperança renovada, impelidos pela caridade que não passa?

Por onde andam profissionais éticos e virtuosos, que não se curvam às tentações do ter, poder e ser, sem a busca dos privilégios desmedidos, sem escrúpulos, que venham multiplicar a dor e o sofrimento dos empobrecidos?

Se formos capazes de ainda captar a confidência das raízes neste tempo de primavera tão inspirador, se não deixarmos o brilho de nossos olhos ofuscar, e se nossos ouvidos, sintonizados com a voz do Santo Espírito que sopra onde bem quer, os veremos.

Veremos bem perto de nós, em nossas ruas e praças, comunidades e lugares por onde circulamos. Também serão vistos em cada um de nós pelo nosso modo de ser e viver, pensar e agir.
             
É preciso que a primavera das praças e jardins, bosques e alamedas não seja apenas nestes espaços.

É preciso que em todo lugar, onde vivemos, nos movemos e somos, seja uma primavera querida e sonhada por Deus, até que possamos adentrar no Jardim da Eternidade, o céu, onde as flores não morrem e jamais deixam de exalar o suave odor de amor, com os anjos e santos, no festim da eternidade, na plena comunhão com Deus. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Coração fecundo e transformado

                                   

Coração fecundo e transformado

Tendo feito o encontro pessoal com Jesus, que marcou toda nossa vida, dando novo sentido e alargando o horizonte da existência, é sempre tempo de transbordarmos de júbilo por esta graça a nós concedida, não pelos nossos méritos.

Devemos nos orgulhar da filiação divina; da ação de Deus em nós, vindo ao nosso encontro e nos chamando pelo nome e nos fazendo discípulos missionários do Senhor Jesus Cristo, com a graça do Espírito Santo, que fez de nós Seu Templo.

Entretanto, urge que nos questionemos se a nossa vida é coerente com o que cremos, pois muitas vezes podemos viver uma religião de gestos exteriores, de cumprimento de normas rituais, de práticas religiosas, mas não vivendo o essencial, o duplo Mandamento do Amor a Deus e ao nosso próximo.

Pôr-se sempre no caminho de conversão para que o Evangelho, todos os dias lido, proclamado, não apenas entre em nossos ouvidos, mas toque o nosso coração, transformando a nossa vida, e assim façamos resplandecer a luz divina, com palavras e gestos que revelem em nós a ação do Espírito, com a riqueza de Seus dons.

Tenhamos a coragem de rever sempre os nossos pensamentos e sentimentos, a fim de que sejam os mesmos de Jesus Cristo: a misericórdia, a justiça, a fraternidade, a solidariedade. E, com as renúncias necessárias, carregar nossa cruz dia-a-dia para que frutuoso seja nosso discipulado.

Sejamos livres de toda impermeabilidade que impeça nossa mais atenta e vigilante acolhida e prática da Palavra de Jesus, para que saibamos chorar com os que choram, rir com os que riem, em solidariedade comprovada, e assim não apenas meros ouvintes mas praticantes da Palavra o sejamos, e autêntica e pura religião vivamos. Amém.

 

PS: Fonte inspiradora - Lc 7, 31-35
 

Sejamos elevados e enlevados pelo Amor Divino

                                                   

Sejamos elevados e enlevados pelo Amor Divino

“Aspirai aos dons mais elevados. Eu vou ainda
mostrar-vos um caminho incomparavelmente superior.”

O Hino do Amor do Apóstolo Paulo, apresentado em sua Carta aos Coríntios (1 Cor 12,31-13,13), refere-se ao ágape; “é o Amor que Deus, sem favoritismos, derrama sobre todos, mesmo sobre os Seus inimigos, e é o único amor que, tornado próprio dos cristãos pode construir uma humanidade sem barreiras.” (1)

As palavras do Apóstolo, se acolhidas e vividas no cotidiano, nos elevam ao degrau mais alto do existir, nos credenciam a contemplar face a face Aquele que buscamos, peregrinando em meio às sombras iluminados sempre pela luz divina, que não se extingue.

Além de nos elevar ao degrau mais alto, o Hino de Amor Paulino nos enleva num encantamento e extasiamento indescritíveis:

“O Apóstolo engloba, numa síntese insuperável, o amor de Deus e o do próximo, mas é, sobretudo, o do próximo que é celebrado em 1Cor 13,1.

Os dons das profecias, das línguas e da ciência valem muito para a edificação da Igreja neste mundo; pelo contrário, na vida futura não serão necessários para comunicar com Deus, porque haverá a visão direta.

A relação entre ser cristão no tempo e ser cristão na eternidade é vista na relação ‘imperfeito-perfeito’ (v. 10), ‘criança-adulto’ (v.11), ‘visão indireta-visão face a face’ (v.12a), ‘conhecimento parcial, conhecimento perfeito, exaustivo e completo’ (v. 12b)”. (2)

Reflitamos: 

- O que mais nos chama a atenção neste Hino do Amor apresentado pelo Apóstolo?

Sejamos enlevados e inflamados para permanecermos firmes no autêntico caminho do amor-ágape, um caminho superior a todos os outros possíveis, o caminho do amor-paixão, o caminho do amor-amizade: “Sentir-se chamado a esse amor significa possuir aquele carisma que permanece pela eternidade.” (3)

Inflamados pelo Amor divino, vivamos com ardor, coragem e alegria, a vocação profética, contando sempre com a ação e presença do Espírito.

  
(1) Missal Dominical - Editora Paulus - p.1105.
(2) Lecionário Comentado - Editora Paulus
(3) Missal Dominical - Editora Paulus - p.1105

Impermeabilidade...

                                                    

Impermeabilidade...

Há impermeabilidades não desejáveis e outras que devem nos acompanhar em todos os instantes.

Não quero a impermeabilidade indesejável do que me faça feliz,
Sobretudo, do coração ao convite de Amor que Deus sempre me faz.

Não quero a impermeabilidade do ouvido à Sua Palavra Santa e Divina,
Que, adentrando no mais profundo de minha alma, maviosamente ilumina.

Não quero impermeabilidade a tudo que me faz mais humano e fraterno;
Ao que permita abrir-me constantemente e absorver o melhor que Deus possa me oferecer.

Não quero a impermeabilidade dos incrédulos que não renovam sua fé,
Tão pouco revigoram sua esperança em gestos humanos e divinos de caridade.

Quero a impermeabilidade da mente para o que for fútil;
de modo que não seja invadida pelo relativismo das verdades pouco duráveis.

Quero a impermeabilidade da mente para tudo que me fragilize;
Também para que a coerência das atitudes tristemente não se pulverize.

Quero a impermeabilidade do coração para a maldade que o circunda;
Também para não ser corrompido pelas paixões que me desviam da Fonte Plena de Amor, Jesus.

Quero a impermeabilidade do coração para tudo que for abominável;
Também para que aberto tão apenas seja ao que for por Deus desejável.

Quero a impermeabilidade da alma para que não seja maculada
Pelos tentáculos dos pecados capitais que a vida destroem e obscurecem.

Quero a impermeabilidade da alma para que não se torne vulnerável,
Para não sucumbirem no vale do desamor, alma, espírito e corpo.

Quero a impermeabilidade do ouvido às palavras que não edificam,
Com suas seduções e conteúdos vazios que me empobreceriam.

Quero a impermeabilidade do ouvido para os profetas derrotistas,
Que não me comunicam, nem me renovam a esperança na humanidade.

Quero a impermeabilidade do olhar para o bem material não ambicionar;
Para saber com o pouco e necessário me alegrar, que a felicidade não passe pelo ter.

Entre as impermeabilidades abomináveis e outras desejáveis,
Continuo minha existência sem a impermeabilidade ao que me faça crescer...

Caridade: semente de um novo amanhecer

                                                                    

                         Caridade: semente de um novo amanhecer

A Carta escrita aos Coríntios pelo Papa São Clemente I (séc. I) é oportuna para que reflitamos e fortaleçamos os vínculos da caridade a serem vividos na comunidade.

“Quem tem a caridade em Cristo, que cumpra os Mandamentos de Cristo! Quem poderá descrever o laço da caridade de Deus? Quem conseguirá discorrer sobre a perfeição de sua beleza? É indizível a profundeza a que nos leva a caridade, nossa união com Deus.

A caridade cobre uma multidão de pecados, a caridade tudo suporta, tudo tolera com paciência. Não há nada de sórdido nem de soberbo na caridade.

A caridade não tolera a divisão, não provoca revolta. A caridade tudo faz na concórdia. Na caridade todos os eleitos de Deus são perfeitos.

Sem a caridade nada é aceito por Deus. Na caridade Deus nos assumiu para si. Pela caridade que tem para conosco, nosso Senhor Jesus Cristo, obediente à vontade divina, por nós entregou o Seu Sangue, a Sua Carne, por nossa carne, a Sua alma, por nossa alma.

Bem vedes, caríssimos, como é grande e admirável a caridade e impossível descrever toda a sua perfeição. Quem merecerá ser encontrado nela, a não ser aqueles que Deus quiser tornar dignos?

Oremos, pois, e peçamos-lhe misericórdia, a fim de estarmos na caridade, sem culpa e sem qualquer interesse puramente humano.

Passaram todas as gerações desde Adão até a presente. Mas aqueles que, pela graça de Deus, atingiram a perfeição da caridade, alcançam um lugar sagrado e serão manifestados na vinda do Reino de Cristo.

Porque está escrito: ‘Entrai por um pouco de tempo em vossos aposentos, até que passe minha cólera e meu furor; e lembrar-me-ei dos dias bons e erguer-vos-ei de vossos sepulcros’.  

Caríssimos, se cumprirmos os Preceitos do Senhor na concórdia e na caridade somos muito felizes, porque por elas nossos pecados serão perdoados. Como está escrito: ‘Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido. Feliz o homem a quem o Senhor não argui de falta, e em cujos lábios não há engano.’

 A proclamação desta felicidade atinge os que, por Jesus Cristo, nosso Senhor, são eleitos de Deus; a quem seja a glória pelos séculos sem fim. Amém.”

Esta Carta nos remete necessariamente à Carta de Paulo aos Coríntios (1 Cor 13) – “Ainda que eu falasse a língua dos anjos e dos homens sem amor eu nada seria”, o hino da caridade, como é conhecido.

Roguemos a Deus para que nos envie o Seu Espírito de Amor, para que, na fidelidade à Palavra do Seu Filho, fortaleçamos os vínculos da concórdia entre nós, bem como para conduzir e iluminar a humanidade na procura de caminhos de concórdia e de paz, em que atos de violência, terrorismos motivados por fundamentalismos não se multipliquem nos noticiários.

Que no fortalecimento destes vínculos, movidos pela caridade, também procuremos caminhos necessários para a superação da pecaminosa desigualdade social, que ainda persiste no mundo todo, e que a cultura de morte ceda à cultura da vida, da partilha, da solidariedade, como tem insistido o Papa Francisco.

Somente a caridade vivida é que nos permitirá vislumbrar um amanhecer diferente: a esperança não será jamais ilusão, quando nos deixarmos mover pela caridade, sobretudo para quem professa a fé no Senhor.

Ainda que não se professe a fé, vivemos de esperanças e utopias; novas realidades, novos sonhos, que tão somente possíveis serão, se a caridade não for olvidada e tão pouco banida dos espaços de convivência e decisões.

Mais uma vez lembramos as palavras do Apóstolo Paulo:  “Revesti-vos da caridade porque a caridade é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14).

E, para que a caridade se inflame em nosso coração, ainda nos dirá: 
A caridade é a plenitude da Lei” (Rm 13,10).

Viver a caridade é como plantar as mais belas sementes, para que se floresçam as mais belas flores da alegria, com vida abundante, harmonia e paz para todos.

Nada mais a dizer, muito a amar!

(1) Liturgia das Horas – Vol. III – pág. 73-74 - Da Carta aos Coríntios, de São Clemente I, Papa (Séc. I).

Eternos aprendizes do amor divino

                                                    

Eternos aprendizes do amor divino

Reflexão sobre a passagem da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 12, 31-13,13), sobre a fundamental virtude do Amor divino que nos move e nos impulsiona; pois sem esta, jamais viveremos a vocação profética, pois não suportaríamos o peso da cruz a ser carregada quotidianamente.

Trata-se do “hino ao amor” que já inspirou poetas e Profetas. Há quem chame esta passagem de “o Cântico dos Cânticos da Nova Aliança”, em que Paulo retrata o amor como o dom maior e eterno a ser vivido por todo aquele que segue Jesus.

O caminho do amor é o caminho mais seguro, mais acessível a todos. É o caminho insubstituível que conduz à Salvação, e este amor tem uma superioridade incontestável sobre qualquer outro carisma.

Trata-se do amor-ágape, onde não há resquícios de egoísmo, mas é o amor gratuito, desinteressado, sincero, fraterno, que se preocupa com o outro, sofre pelo outro, que procura o bem do outro sem nada esperar em troca.

O Apóstolo enumera 15 características ou qualidades do verdadeiro amor, sendo sete apresentadas de forma positiva, e as outras de forma negativa.

A passagem pode ser dividida em três partes:

1 - O confronto entre a caridade e os carismas – (13,1-3).
2 - As características principais e operativas da caridade – 13,4-7.
3 - A perfeição da caridade e sua perenidade – 13,8-13.

Reflitamos:

- Qual é a qualidade do amor que vivemos na comunidade cristã?
- Vivemos o amor cristão, o amor-ágape, o amor generoso, desinteressado e por pura gratuidade?

Concluindo: O amor é o “motor” de nossa missão, o amor-ágape: Cristo que ama em nós. Somos vocacionados para o amor, para a profecia, sob a ação do Espírito Santo.

Se inflamados por este amor, continuaremos nosso caminho vivendo a vocação profética, sendo no mundo luz, da terra o sal, sem jamais perder o sabor.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Em poucas palavras...

 


Leiamos os sinais dos tempos

“Seremos capazes, como cristãos, de ler os sinais dos tempos sob a orientação do Magistério e de nos converter e renovar, a fim de que a Igreja seja sinal de salvação no meio dos homens e a Eucaristia, sinal do Reino em preparação no coração da Igreja? Quantas responsabilidades precisas tocam a cada um de nós!” (1)

 

(1)               Missal Cotidiano – Editora Paulus – Comentário da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 7,31-35) – pág. 1281

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG