quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Impermeabilidade...

                                                    

Impermeabilidade...

Há impermeabilidades não desejáveis e outras que devem nos acompanhar em todos os instantes.

Não quero a impermeabilidade indesejável do que me faça feliz,
Sobretudo, do coração ao convite de Amor que Deus sempre me faz.

Não quero a impermeabilidade do ouvido à Sua Palavra Santa e Divina,
Que, adentrando no mais profundo de minha alma, maviosamente ilumina.

Não quero impermeabilidade a tudo que me faz mais humano e fraterno;
Ao que permita abrir-me constantemente e absorver o melhor que Deus possa me oferecer.

Não quero a impermeabilidade dos incrédulos que não renovam sua fé,
Tão pouco revigoram sua esperança em gestos humanos e divinos de caridade.

Quero a impermeabilidade da mente para o que for fútil;
de modo que não seja invadida pelo relativismo das verdades pouco duráveis.

Quero a impermeabilidade da mente para tudo que me fragilize;
Também para que a coerência das atitudes tristemente não se pulverize.

Quero a impermeabilidade do coração para a maldade que o circunda;
Também para não ser corrompido pelas paixões que me desviam da Fonte Plena de Amor, Jesus.

Quero a impermeabilidade do coração para tudo que for abominável;
Também para que aberto tão apenas seja ao que for por Deus desejável.

Quero a impermeabilidade da alma para que não seja maculada
Pelos tentáculos dos pecados capitais que a vida destroem e obscurecem.

Quero a impermeabilidade da alma para que não se torne vulnerável,
Para não sucumbirem no vale do desamor, alma, espírito e corpo.

Quero a impermeabilidade do ouvido às palavras que não edificam,
Com suas seduções e conteúdos vazios que me empobreceriam.

Quero a impermeabilidade do ouvido para os profetas derrotistas,
Que não me comunicam, nem me renovam a esperança na humanidade.

Quero a impermeabilidade do olhar para o bem material não ambicionar;
Para saber com o pouco e necessário me alegrar, que a felicidade não passe pelo ter.

Entre as impermeabilidades abomináveis e outras desejáveis,
Continuo minha existência sem a impermeabilidade ao que me faça crescer...

Caridade: semente de um novo amanhecer

                                                                    

                         Caridade: semente de um novo amanhecer

A Carta escrita aos Coríntios pelo Papa São Clemente I (séc. I) é oportuna para que reflitamos e fortaleçamos os vínculos da caridade a serem vividos na comunidade.

“Quem tem a caridade em Cristo, que cumpra os Mandamentos de Cristo! Quem poderá descrever o laço da caridade de Deus? Quem conseguirá discorrer sobre a perfeição de sua beleza? É indizível a profundeza a que nos leva a caridade, nossa união com Deus.

A caridade cobre uma multidão de pecados, a caridade tudo suporta, tudo tolera com paciência. Não há nada de sórdido nem de soberbo na caridade.

A caridade não tolera a divisão, não provoca revolta. A caridade tudo faz na concórdia. Na caridade todos os eleitos de Deus são perfeitos.

Sem a caridade nada é aceito por Deus. Na caridade Deus nos assumiu para si. Pela caridade que tem para conosco, nosso Senhor Jesus Cristo, obediente à vontade divina, por nós entregou o Seu Sangue, a Sua Carne, por nossa carne, a Sua alma, por nossa alma.

Bem vedes, caríssimos, como é grande e admirável a caridade e impossível descrever toda a sua perfeição. Quem merecerá ser encontrado nela, a não ser aqueles que Deus quiser tornar dignos?

Oremos, pois, e peçamos-lhe misericórdia, a fim de estarmos na caridade, sem culpa e sem qualquer interesse puramente humano.

Passaram todas as gerações desde Adão até a presente. Mas aqueles que, pela graça de Deus, atingiram a perfeição da caridade, alcançam um lugar sagrado e serão manifestados na vinda do Reino de Cristo.

Porque está escrito: ‘Entrai por um pouco de tempo em vossos aposentos, até que passe minha cólera e meu furor; e lembrar-me-ei dos dias bons e erguer-vos-ei de vossos sepulcros’.  

Caríssimos, se cumprirmos os Preceitos do Senhor na concórdia e na caridade somos muito felizes, porque por elas nossos pecados serão perdoados. Como está escrito: ‘Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido. Feliz o homem a quem o Senhor não argui de falta, e em cujos lábios não há engano.’

 A proclamação desta felicidade atinge os que, por Jesus Cristo, nosso Senhor, são eleitos de Deus; a quem seja a glória pelos séculos sem fim. Amém.”

Esta Carta nos remete necessariamente à Carta de Paulo aos Coríntios (1 Cor 13) – “Ainda que eu falasse a língua dos anjos e dos homens sem amor eu nada seria”, o hino da caridade, como é conhecido.

Roguemos a Deus para que nos envie o Seu Espírito de Amor, para que, na fidelidade à Palavra do Seu Filho, fortaleçamos os vínculos da concórdia entre nós, bem como para conduzir e iluminar a humanidade na procura de caminhos de concórdia e de paz, em que atos de violência, terrorismos motivados por fundamentalismos não se multipliquem nos noticiários.

Que no fortalecimento destes vínculos, movidos pela caridade, também procuremos caminhos necessários para a superação da pecaminosa desigualdade social, que ainda persiste no mundo todo, e que a cultura de morte ceda à cultura da vida, da partilha, da solidariedade, como tem insistido o Papa Francisco.

Somente a caridade vivida é que nos permitirá vislumbrar um amanhecer diferente: a esperança não será jamais ilusão, quando nos deixarmos mover pela caridade, sobretudo para quem professa a fé no Senhor.

Ainda que não se professe a fé, vivemos de esperanças e utopias; novas realidades, novos sonhos, que tão somente possíveis serão, se a caridade não for olvidada e tão pouco banida dos espaços de convivência e decisões.

Mais uma vez lembramos as palavras do Apóstolo Paulo:  “Revesti-vos da caridade porque a caridade é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14).

E, para que a caridade se inflame em nosso coração, ainda nos dirá: 
A caridade é a plenitude da Lei” (Rm 13,10).

Viver a caridade é como plantar as mais belas sementes, para que se floresçam as mais belas flores da alegria, com vida abundante, harmonia e paz para todos.

Nada mais a dizer, muito a amar!

(1) Liturgia das Horas – Vol. III – pág. 73-74 - Da Carta aos Coríntios, de São Clemente I, Papa (Séc. I).

Eternos aprendizes do amor divino

                                                    

Eternos aprendizes do amor divino

Reflexão sobre a passagem da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 12, 31-13,13), sobre a fundamental virtude do Amor divino que nos move e nos impulsiona; pois sem esta, jamais viveremos a vocação profética, pois não suportaríamos o peso da cruz a ser carregada quotidianamente.

Trata-se do “hino ao amor” que já inspirou poetas e Profetas. Há quem chame esta passagem de “o Cântico dos Cânticos da Nova Aliança”, em que Paulo retrata o amor como o dom maior e eterno a ser vivido por todo aquele que segue Jesus.

O caminho do amor é o caminho mais seguro, mais acessível a todos. É o caminho insubstituível que conduz à Salvação, e este amor tem uma superioridade incontestável sobre qualquer outro carisma.

Trata-se do amor-ágape, onde não há resquícios de egoísmo, mas é o amor gratuito, desinteressado, sincero, fraterno, que se preocupa com o outro, sofre pelo outro, que procura o bem do outro sem nada esperar em troca.

O Apóstolo enumera 15 características ou qualidades do verdadeiro amor, sendo sete apresentadas de forma positiva, e as outras de forma negativa.

A passagem pode ser dividida em três partes:

1 - O confronto entre a caridade e os carismas – (13,1-3).
2 - As características principais e operativas da caridade – 13,4-7.
3 - A perfeição da caridade e sua perenidade – 13,8-13.

Reflitamos:

- Qual é a qualidade do amor que vivemos na comunidade cristã?
- Vivemos o amor cristão, o amor-ágape, o amor generoso, desinteressado e por pura gratuidade?

Concluindo: O amor é o “motor” de nossa missão, o amor-ágape: Cristo que ama em nós. Somos vocacionados para o amor, para a profecia, sob a ação do Espírito Santo.

Se inflamados por este amor, continuaremos nosso caminho vivendo a vocação profética, sendo no mundo luz, da terra o sal, sem jamais perder o sabor.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Em poucas palavras...

 


Leiamos os sinais dos tempos

“Seremos capazes, como cristãos, de ler os sinais dos tempos sob a orientação do Magistério e de nos converter e renovar, a fim de que a Igreja seja sinal de salvação no meio dos homens e a Eucaristia, sinal do Reino em preparação no coração da Igreja? Quantas responsabilidades precisas tocam a cada um de nós!” (1)

 

(1)               Missal Cotidiano – Editora Paulus – Comentário da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 7,31-35) – pág. 1281

Indefinibilidade do amor...

                          

Indefinibilidade do amor... 

Assim conclui a reflexão do Missal Cotidiano, quando se proclama o trecho da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 13,8-10):

“O amor não se define, vive-se. Importa amar para ver claro. E se quisermos que algum outro veja claro, a única estratégia eficiente é amá-lo sem condições, como a nós mesmos. Deus é Aquele que ama primeiro: ama-nos antes de nós mesmos...”

Lembramos as Palavras do Apóstolo aos Romanos: ”A caridade é a plenitude da lei” (Rm 13,10).

Também somos enriquecidos pelo seu memorável texto sobre o amor, que encontramos na Primeira Carta aos Coríntios 13.

Um texto indiscutivelmente inspirador de tantos outros, para cristãos ou não.

Remete-nos a Luiz Vaz de Camões (1524-1580), grande poeta da língua portuguesa e sua ímpar poesia:

               “Amor é fogo que arde sem se ver;          
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”


Lembramos “Monte Castelo”, do grupo Legião Urbana, que fez uma releitura musical dos textos acima!

Bíblia, poesia e música: que nossa alma se eleve para amar, sem procura de definições conceituais.

Amar na bela e plena medida como Cristo amou e nos ama...
Amor não se define, vive-se!

Contemplemos o amor que se concretiza
Em múltiplas expressões e relações.

Contemplemos o amor que se eterniza
Em versos, sonetos e belas canções.

Contemplemos o amor que nos eterniza,
Porque condição e meta do existir.

Contemplemos o amor, que nos nutre
E fortalece para tudo que há de vir!

Ah! indefinibilidade do amor!
Ah! inesgotabilidade do amor!

Sobretudo o amor de Nosso Senhor!
que possui o mais belo esplendor! Amém.

Em poucas palavras...

 


Amar como Jesus, empenhar-se na comunhão

“Em particular, a comunhão nos leva a conciliar duas necessidades: o acolhimento a todos, inclusive aos que nos parecem menos motivados; a exigência de aproximar os mais empenhados nos caminhos do Senhor e no esforço social. Só vivendo o amor de Cristo ressuscitado, poderemos viver em comunhão.”  (1)

 

 

(1) Missal Cotidiano – Comentário da passagem (1 Cor 12,12-14.27.31a) – pág. 1275

A serviço da vida plena e feliz

                                                       

A serviço da vida plena e feliz

Com a Liturgia da terça-feira da 24ª Semana do Tempo Comum, reflitamos sobre a vitalidade e importância da vocação profética.

A passagem do Evangelho (Lc 7,11-17) nos apresenta a morte do filho de uma viúva e a ação solidária e misericordiosa de Deus para com elas, pois a morte deles sem a intervenção divina seria a perda da esperança e derrota definitiva. Duas histórias parecidas falando da vida resgatada por Deus.

Deus jamais abandona o Seu Povo ao poder da morte, mas sempre o visita e envia Profetas para ser sinal de Sua presença. Ele mesmo veio ao encontro da humanidade, através de Seu Filho Amado.

Jesus é o grande Profeta que visita Seu povo em total oblação, na oferenda de Sua vida. A ação de Jesus nos revela que a vida triunfa sobre a morte. Ele nos oferece a plenitude da alegria: ação marcada pela piedade, compaixão e ação efetiva que transforma a morte em vida, a dor em alegria, a treva em luz.

A ação de Jesus nos faz pensar em dois diferentes cortejos: da morte ou da vida.

- Qual deles seguimos?
- Que caminho fazemos?

- Com quem somamos?
- Temos convicção de que não podemos entrar na fila dos que promovem o cortejo da morte, dos sem esperança, que se submergem em suas lágrimas de luto, dor e desespero?

- Temos convicção de que precisamos firmar nossos passos para solidificar nossa fé, renovar nossa esperança e fazer crescer a caridade?
- Colocamo-nos, de fato, no caminho da esperança, da transformação do choro da morte em alegria da vida, ou seja, a fé na Ressurreição?

A Liturgia nos convida também a refletir sobre a nossa esperança: tem as derrotas e as desgraças ofuscando e minando nossa esperança.

- Quais são as esperanças que nos movem?
- Como vivemos esta virtude teologal?

O Evangelho é sempre uma Boa Nova que possui força vital e criadora, pois é o próprio Deus quem nos fala, e a sua acolhida nos coloca numa dinâmica profética, num caminho de conversão, gratuidade, missão acompanhada do anúncio e testemunho com a própria vida.

Concluo com as Palavras da Oração Eucarística VI D (para as diversas circunstâncias):

Pai misericordioso e Deus fiel. Vós nos destes Vosso Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor e Redentor. Ele sempre Se mostrou cheio de misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-Se ao lado dos perseguidos e marginalizados.

Com a vida e a Palavra anunciou que sois Pai e cuida de todos como filhos e filhas...

Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo, e seguindo o Seu Mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles”.

De fato, a Igreja será testemunha viva da verdade e da liberdade, da justiça e da paz, e toda a humanidade se abrirá à esperança de um mundo novo, por isto, renovemos a alegria de participarmos do cortejo da vida, em maior fidelidade ao Senhor e à Sua Igreja, na acolhida, anúncio e testemunho da boa nova, reavivando a chama profética que um dia foi acesa em nosso Batismo.

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG