sexta-feira, 28 de junho de 2024

Em poucas palavras...

                                                   


"A glória de Deus..." 

“Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus. Com efeito, se a manifestação de Deus, através da criação dá a vida a todos os seres da terra, muito mais a manifestação do Pai, por meio do Verbo, dá a vida a todos os que veem a Deus”.(1)

  

(1) Bispo Santo Irineu (séc. II)

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Alegria transbordante, credibilidade cristã fortalecida

Alegria transbordante, credibilidade cristã fortalecida

Como discípulos missionários de Jesus, vemos que n’Ele tudo se renova sem dispensar nossa participação, com irrenunciáveis sacrifícios.

De Deus emergem constantes apelos, a fim de que novas atitudes brotem em nós, sem demora, preguiça, indiferença, omissão ou adiamentos.

Em todo tempo, a misericórdia de Deus nos renova para o aprendizado indispensável da língua do Espírito, marcado pela humildade, pobreza, obediência e paciência, como nos ensina Santo Antônio.

Nutridos da Palavra e da Eucaristia, somos constantemente interpelados à prática da caridade ativa, avançando sempre para águas mais profundas, para que nasça uma sociedade justa e fraterna que garanta saúde para todos, como vimos na Campanha da Fraternidade deste ano.

Na passagem dos Atos dos Apóstolos (At 8,26-40), quando o eunuco foi batizado por Filipe depois de ter ouvido a Palavra, e manifestado o desejo de conversão, começou a viver a vida nova de todo batizado e tomado de grande alegria seguiu sua jornada.

Um cristão triste contradiz a fé que professa. A alegria deve ser uma marca de quem crê em Jesus Ressuscitado. Não uma alegria marcada pela esterilidade, muito pelo contrário, pois n’Ele e com Ele, Jesus, produzimos muitos frutos, sendo o amor a expressão visível da fé, alavancada sempre pela chama da esperança que nos move até que Ele venha definitivamente.

O Documento da Conferência de Aparecida nos diz que quando cresce no cristão a consciência de que pertence a Cristo, em razão da gratuidade e da alegria que produz, cresce também o ímpeto de comunicar a todos o dom deste Encontro.

Portanto, não limita sua missão a um programa ou a um projeto transitório, mas compartilha a experiência do acontecimento e do Encontro com Cristo, testemunhando e anunciando a Sua Pessoa e o Seu Projeto a todos os confins do mundo e até o fim dos tempos.

A missão e o discipulado tornam-se como duas faces de uma mesma moeda. Apaixonado por Cristo não pode deixar de anunciar ao mundo que só Ele nos salva, pois sem Ele não há luz, não há esperança, não há amor e não há futuro, como nos disse o Papa Bento XVI.

Renovemos a alegria e o testemunho, para que cresça e fortaleça a credibilidade de nossa vivência cristã.

Comunidades em permanente conversão

 


               Comunidades em permanente conversão
 
Na passagem da Carta de Paulo aos Coríntios, (1 Cor 3,9c11.16-17), o Apóstolo Paulo afirma que os cristãos são o templo de Deus onde reside o Espírito, e assim precisam viver uma nova dinâmica.
 
Em Corinto, cidade nova e muito próspera, servida por dois portos de mar, com característica de cidades marítimas, com população de todas as raças e religiões, também tinha comportamentos inapropriados.
 
É neste contexto que temos a comunidade de Corinto, uma comunidade viva e fervorosa, mas não livre destas influências, com a necessidade de aprofundar a sua vivência na lógica de Deus, sem partidos, divisões, competições, e incoerências, dando melhor testemunho de Deus, vivendo a sabedoria de Deus que consiste na “loucura da Cruz”.
 
Como Edifício de Deus, animadas pelo Espírito, precisa fortalecer os vínculos de fraternidade e unidade, vivendo uma dinâmica nova, seguindo Jesus no caminho do amor, da partilha, do serviço, da obediência a Deus em favor dos irmãos, num autêntico testemunho.
 
Urge que nossas comunidades cresçam em fraternidade, solidariedade, para o testemunho da “loucura da Cruz”, com gestos concretos de amor, de partilha, de doação, de serviço, evitando todo tipo de fragmentação, divisão, contradições, e jamais sobrepor os interesses e vaidades pessoais.
 
Vivendo a “sabedoria de Deus”, não rompam as relações de fraternidade uma busca do poder; a tentação do prestígio e reconhecimento social; discernindo quais são os bens perecíveis e secundários.
 
Deste modo, em permanente atitude de conversão, serão sinal e luz diante da “sabedoria” do mundo, irradiando a verdadeira e eterna luz divina.

Quando tudo parece impossível

Quando tudo parece impossível

Anos passados, celebrando numa Capela, ao começar a Santa Missa, apresentei as intenções, seguidas de profundo silêncio e pranto de alguns.

Rezamos por uma criança de dois anos, que se encontrava internada com quadro seriíssimo (hoje na glória de Deus). Além dela, por três pessoas que enfrentavam a via-sacra das quimioterapias e radioterapias. Rezamos também pelo 4.º dia de falecimento de uma jovem que morreu após vinte dias de seu casamento, em trágico acidente de moto, e por uma senhora que seria submetida a uma pequena cirurgia de pele, entre outras intenções.

Após o referido silêncio, cantamos por duas vezes “Eu confio em Nosso Senhor, com fé, esperança e amor”, em um só coro, em uma só súplica que brotava do fundo da alma.

A Oração do dia foi uma súplica para que Deus aumentasse nossa fé, esperança e caridade.

A Liturgia da Palavra nos convidava a passar pela porta estreita da Salvação que Jesus veio trazer ao mundo, que é a nossa cruz de cada dia, a ser carregada com todo empenho, sem esmorecimento, na prática da verdade, do amor, da justiça e da paz.

O Salmo (Sl 145,13-14), com sua beleza poética, uma grande expressão de confiança na força de Deus: “Iahweh é verdade em Suas Palavras todas, Amor em todas as Suas obras; Iahweh ampara todos os que caem e endireita todos os curvados”.

Concluindo a Homilia, saciamos nossa sede de Deus com as sábias palavras do Papa Clemente I (sec. I):

“Que preciosos e maravilhosos são, caríssimos,
os dons de Deus! Vida na imortalidade,
esplendor na justiça, verdade na liberdade,
fé na confiança, temperança na santidade;
E tudo isto nossa inteligência concebe…”

Não estamos sós, nem na vida, sequer na morte, como nos disse o Papa Bento XVI, por ocasião de sua nomeação.

A Missa seguiu como de costume. A “Oração Eucarística para as Diversas Circunstâncias” nos ajudava a refletir sobre a Missão da Igreja a caminho da Salvação.

Cantos, momentos de silêncio, gestos, Pão partilhado, súplica a Maria: força renovada.

É preciso seguir adiante ainda que tudo pareça impossível, sem sentido. Não desistir, caminhar! Caminhar sempre com o Senhor. Afinal, Ele está no meio de nós e conhece nossas fraquezas, dores, tormentos, lamentos… Por isto perpetuou Sua presença na Eucaristia e, a todos que creem, Se fez o verdadeiro Alimento!

Creio, Senhor, mas aumentai minha fé!

“Mestre, que eu veja!”


“Mestre, que eu veja!”

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 10,46-52), em que nos apresentado a cura do cego Bartimeu (filho de Timeu). 

Com esta cura, compreendemos o caminho que Deus trilha para nos libertar das trevas e nos fazer nascer para a luz, e assim passemos da escravidão à liberdade, da morte à vida.

Esta passagem bíblica é mais do que a história da cura de um cego por Jesus, trata-se de uma catequese batismal com todas as suas etapas.

O cego Bartimeu está sentado, numa expressão real de desânimo e conformismo, está privado da luz e da liberdade e conformado com sua aparente irredutível situação, sem qualquer perspectiva.

Suplicando ao Senhor, tem que superar as resistências, mas até o seu grito tentam calar.

Diante da Palavra de Jesus – “Coragem, levanta-te que Ele te chama”, irrompe a  novidade. O cego atira a capa, dá um salto e vai ao encontro com Jesus.

“É claro o significado simbólico do gesto: para seguir o Senhor é preciso saber libertar-se de tudo aquilo que serve de obstáculo a uma adesão pronta à Sua Palavra. Não se trata somente de nos libertarmos dos pecados, mas de saber antepor a riqueza espiritual da fé no Senhor aos recursos a que o nosso coração está demasiado apegado e que o tornam pesado.” (1)

É preciso que joguemos fora nossa capa, com a coragem de desapegos, despojamentos, esvaziamentos. É preciso que fiquemos nus aos olhos de Deus, como nossos primeiros pais, para que por Ele sejamos revestidos, em intensa relação de amor, amizade, intimidade.

De fato, diante do Senhor rompemos com o passado, simbolizado na capa, saltamos para o novo, para o encontro que transforma a nossa vida e pomo-nos com novo ardor a caminho: o caminho da luz, do amor, da verdade e da vida.

Bartimeu depois do encontro se torna modelo de verdadeiro discípulo para nós. Em nosso encontro com Jesus há quem nos conduz, como também há os que nos impedem, obstaculizam. Não podemos desanimar jamais de ir ao Seu encontro, pois somente com Ele nossa vida se torna plena de luz, paz, amor e alegria, e tudo mais quanto possamos desejar, conceber, dizer.

Pôr-se no caminho do amor, do serviço, da entrega, do dom da vida, a partir do encontro com Jesus é o caminho que todos devemos fazer.

Somente curados pelo Senhor a cada instante é que não desanimamos da caminhada de fé, sabendo, crendo, anunciando e testemunhando que somente Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Somente Ele nos introduz na luz no tempo presente e um dia na luz eterna, na plena claridade que é o céu. Claridade plena, porque assim é o amor. Onde houver amor, há luz. Onde houver a plenitude do amor haverá a plenitude da luz.

Jesus, o Sumo Sacerdote do Pai, é para nós e nos comunica pelo Seu Espírito a plenitude do Amor, da Vida e da Luz. Amém.


(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - pág. 647.

Confessemos os nossos pecados

Confessemos os nossos pecados

Acolhamos este texto de São Cirilo (séc. IV), Bispo de Jerusalém, extraído de suas "Catequeses", sobre a confissão dos nossos pecados no tempo propício.

“Se há aqui alguém escravo do pecado, prepare-se pela fé para o nobre renascimento de filhos por adoção. Rejeitada a péssima escravidão dos pecados e obtida a felicíssima servidão do Senhor, seja considerado digno de alcançar a herança do Reino celeste.

Portanto despi, pela confissão, o homem velho que se vai corrompendo ao sabor dos desejos maus, a fim de revestirdes o homem novo, que se renova pelo conhecimento d’Aquele que o criou.

Adquiri pela fé a segurança do Espírito Santo de serdes acolhidos nas mansões eternas.

Aproximai-vos do místico sinal para que possais ser favoravelmente reconhecidos pelo Soberano.

Juntai-vos ao santo e racional rebanho de Cristo. Postos um dia de parte à Sua direita, entrareis assim na posse da vida preparada por herança para vós.

Com a aspereza dos pecados aderentes como pelos, estão à esquerda aqueles que não se achegam à graça de Deus concedida por Cristo no banho da regeneração. Refiro-me aqui não à regeneração dos corpos, mas ao novo nascimento espiritual da alma.

Os corpos são gerados pelos pais visíveis; a alma é gerada de novo pela fé, porque o ‘Espírito sopra onde quer’. Então, se te tornares digno, poderás ouvir: ‘Muito bem, servo bom e fiel’, quando não se encontrar em ti qualquer impureza de fingimento na consciência.

Se algum dos que aqui estão espera provocar a graça de Deus, engana-se e desconhece o valor das coisas. Tem, ó homem, alma sincera e livre de disfarce, por causa d’Aquele que perscruta corações e rins.
           
O tempo agora é tempo de confissão. Confessa o que cometeste por palavra, ou ação, de noite ou de dia. Confessa no tempo propício e recebe no dia da salvação o tesouro celeste.

Limpa tua jarra para conter graça mais abundante, pois a remissão dos pecados é dada igualmente a todos, mas, a comunicação do Espírito Santo é concedida a cada um segundo a fé. Se trabalhares pouco, receberás pouco; se fizeres muito, grande será a recompensa.

Corre em teu próprio proveito, vê o que te convém. Se tens algo contra outro, perdoa. Tu te aproximas para receber o perdão dos pecados; é necessário perdoar a quem te ofendeu”.

Alguns imperativos aparecem notavelmente na Catequese, retomo o último: “Limpa tua jarra para conter graça mais abundante, pois a remissão dos pecados é dada igualmente a todos, mas, a comunicação do Espírito Santo é concedida a cada um segundo a fé...”. (1)

Reconheçamos e tomemos consciência de nossos pecados, acompanhado do arrependimento, com desejo de conversão e esforço contínuo de reparação, sempre com a necessária vigilância para não incorrermos nos mesmos pecados.

Sejamos perdoados de nossos pecados, como ação do Espírito Santo que nos foi concedido naquele oitavo dia, quando o discípulos se encontravam, com as portas fechadas, com medo dos judeus, e enviados para comunicar o perdão dos pecados:

“E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos’” (Jo 20,22-23).


(1) Liturgia das Horas – Ed. Paulus – Vol. III – pp. 400-401.

Inflamados pelo “Fogo ardente do Senhor”

Inflamados pelo “Fogo ardente do Senhor”

Sejamos enriquecidos pela Instrução sobre a Compunção, escrita pelo Abade São Columbano (séc. VII).

“'Quão venturosos são os servos a quem o Senhor, ao chegar, os encontre vigiando!' Feliz aquela vigília na qual se espera ao próprio Deus e Criador do Universo, que supera tudo e tudo preenche. Oxalá Se dignasse o Senhor despertar-me do sono de minha indolência, a mim que, mesmo sendo desprezível, sou  Seu servo!

Oxalá me inflamasse no desejo de Seu amor incomensurável e me incendiasse com o fogo de Sua divina caridade! Resplandecente com ela, brilharia mais que os astros, e todo o meu interior arderia continuamente com este fogo divino!

Oxalá meus méritos fossem tão abundantes que minha lâmpada ardesse sem cessar durante a noite, no templo de meu Senhor e iluminasse a todos que entram na casa de meu Deus!

Concede-me, Senhor, suplico-Te, em nome de Jesus Cristo, Teu Filho e meu Deus, um amor que nunca diminua, para que com Ele minha lâmpada sempre brilhe e não se apague nunca, e suas chamas sejam para mim fogo ardente e para os demais luz brilhante.

Senhor Jesus Cristo, dulcíssimo Salvador nosso, digna-Te acender Tu mesmo nossas lâmpadas, para que brilhem sem cessar em Teu templo e de Ti, que és a luz perene, elas recebam luz perfeita com a qual se ilumine a nossa obscuridade, e se afastem de nós as trevas do mundo.

Peço-Te, meu Jesus, que acendas tão intensamente a minha lâmpada com Teu esplendor que, à luz de uma claridade tão intensa, possa contemplar o Santo dos santos que está no interior daquele grande templo, no qual Tu, Pontífice eterno dos bens eternos, penetraste; que ali, Senhor, eu Te contemple continuamente e possa assim desejar-Te, amar-Te e querer-Te somente a Ti, para que a minha lâmpada, em Tua presença, esteja sempre flamejante e ardente.

Peço-Te, Salvador amantíssimo, que Te manifestes a nós, que chamamos a Tua porta, para que, conhecendo-Te, amemos somente a Ti e unicamente a Ti; que Tu sejas nosso único desejo, que dia e noite meditemos somente em Ti, e em Ti unicamente pensemos.

Alumina em nós um imenso amor para contigo, que corresponde à caridade com a qual Deus deve ser amado e querido; que esta nossa dileção para Ti invada todo o nosso interior e nos penetre totalmente, inunde todos os nossos sentimentos a tal ponto, que já não possamos amar nada fora de Ti, o único eterno.

Assim, por muitas que sejam as águas da terra e do firmamento, nunca chegarão a extinguir em nós a caridade, segundo a quilo que diz a Escritura: 'As águas torrenciais não poderão apagar o amor'.

Que isto chegue a realizar-se, ao menos parcialmente, por Teu dom, Senhor Jesus Cristo, a quem pertence a glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Assim, vivamos na vigilância e na oração, na espera do Senhor que vem, com lâmpadas acesas na mão, e o fogo do Seu divino amor no coração.

Sejamos sinais e instrumentos do Senhor, em todo e qualquer lugar, sobretudo nas situações e realidades mais difíceis, quando somos chamados a dar razão de nossa esperança.

Inflamados pelo amor do Senhor e vigilantes sempre na sua espera gloriosa, fiquemos com Ele para sempre, e com Sua Pessoa, Palavra e Projeto nos comprometamos. Amém.


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes pp. 695-696.

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