Tenhamos fé no Senhor
“Creio, Senhor, mas aumentai minha fé”
A Liturgia do 27º Domingo do Tempo Comum (ano C) é um convite a reconhecermos, com humildade, a nossa pequenez e finitude diante de Deus, renovando nosso compromisso com o Reino, na gratuidade plena, sem cálculos, exigências, acolhendo com alegria os dons de Deus, confiando e nos entregando totalmente em Suas mãos.
A primeira Leitura (Hab 1,2-3; 2,2-4) nos apresenta uma passagem que retrata o período pré-exílio. O Profeta grita a sua impaciência e a do próprio povo, questionando a atitude de Deus para com o pecado.
O Profeta, além de escutar a Palavra Divina, a transmite e, com total confiança, como uma sentinela vigilante, espera a resposta de Deus.
Diante da injustiça e da opressão, parece que Deus muitas vezes é indiferente e ausente, mas a conclusão é que o tempo de Deus não corresponde ao nosso, Ele intervirá no momento certo, manifestando Sua força e poder.
Esta inquietação também pode nos marcar quando se diz:
“Se Deus existe, como é que Ele pode pactuar com a injustiça e opressão? Se Deus existe, por que é que há crianças a morrer de cancro ou de fome? Se Deus existe, por que é que os bons sofrem e os maus são compensados com glória, honras e triunfos? Se Deus existe, por que o sofrimento do inocente?” (1)
Também nós nos indagamos diante de situações de injustiça, violência e pecado: “Onde está Deus?”, “Por que Deus não intervém?”, “Quando Deus agirá?”.
Na verdade, são questões que podem até serem feitas, mas o que importa é não nos omitirmos naquilo que nos compete, no testemunho e na superação do que for possível.
A hora da intervenção divina não nos compete. Está em nossas mãos superar os sinais de morte e injustiça, sem culparmos Deus, o que nos levaria ao não reconhecimento de nossa responsabilidade.
Na passagem da segunda Leitura (2 Tm 1,6-8.13-14), o Apóstolo Paulo exorta Timóteo a reavivar a vocação, reanimar o carisma que recebeu, à luz da escuta da Palavra Divina, da comunhão com Deus e dos Sacramentos, que nos comunicam a graça divina.
É preciso viver as qualidades fundamentais, que devem estar presentes na vida do Apóstolo: a fortaleza frente às dificuldades, o amor que impulsiona para uma entrega total a Cristo e ao rebanho, e a prudência necessária para animação e orientação da comunidade. Resumindo: fortaleza, amor e prudência.
Com isto, se afasta o perigo das desilusões, fracassos, monotonia, fragilidade humana, que enfraquecem o entusiasmo original, levando à perda das motivações primeiras do compromisso com Jesus e a Boa-Nova do Reino.
É preciso despir-se de toda preguiça, inércia, comodismo, renovando as forças e a coragem para superar todo medo, e, assim, vencermos as dificuldades que nos impedem de viver inteiramente para Deus e para nosso próximo. Impelidos pelo Amor divino vamos bem mais longe.
A passagem do Evangelho (Lc 17, 5-10) situa-se no contexto da viagem que Jesus fez para Jerusalém, para consumar a missão redentora da humanidade, passando pelo Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição. É a terceira parte do Evangelho de Lucas, que nos ensina mais duas lições: fé e humildade no difícil caminho do Reino.
A fé não consiste em crer em verdades abstratas, que não ressoam em nosso cotidiano, mas ancorar-se em Deus, entregar-se a Ele, em confiante, generoso e frutuoso serviço, multiplicando nossas obras.
Portanto, urge aprofundar a nossa fé, com adesão incondicional à Pessoa de Jesus Cristo e Sua proposta de Salvação; vivendo a obediência e comunhão com Ele, na certeza da vitória sobre a solidão.
Mas o que é a fé?
“A fé não é primordialmente, a adesão a Dogmas ou a um conjunto de verdades abstratas sobre Deus; mas é a adesão a Jesus, à Sua proposta, ao Seu Projeto – ou seja, ao Projeto do Reino...
Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa, portanto, pedir-Lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo Reino e pela exigência que o Reino comporta; significa pedir que lhes dê a decisão para aderirem incondicionalmente à proposta de vida que Jesus lhes veio apresentar” (2)
A fé levará os discípulos a transformarem a morte em vida, o desespero em esperança e a escravidão em liberdade, acolhendo a Salvação como dom de Deus, e não como mérito pelo que se faz.
Somos simples servidores do Senhor. A adesão total à Sua pessoa, o serviço acompanhado da humildade e da confiança, serão nossa identidade e identificação com o Senhor.
Sendo a Salvação um dom divino, o discípulo, com humildade e gratidão, tudo fará para corresponder a esta graça recebida.
Coragem e empenho serão suas marcas, e estas farão a luz de Deus brilhar mais forte no meio das trevas:
“Quem me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”, nos disse o Senhor (Jo 8,12).
Finalizando, a fé somente poderá ser vivida numa relação de Amor com o Senhor, que nos faz ver para além das aparências, ver como Deus vê, com o coração.
Conceda-nos o Senhor a graça do fortalecimento da fé, para que O amemos cada vez mais acima de todas as coisas, e ao nosso próximo como Jesus nos amou.
Quanto maior e mais verdadeira a nossa fé, mais profunda e intensa também será e haverá de ser nossa relação com Deus e com a Sua imagem e semelhança, a criatura humana.
(1) (2) – www.dehonianos.org.br
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