Síntese da Mensagem do Santo Padre Francisco para o
V Dia Mundial Dos Pobres
No XXXIII Domingo
do Tempo Comum, quatorze de novembro de 2021, celebraremos o V Dia Mundial dos
pobres, que tem como Tema – “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14, 7), que
são as palavras pronunciadas por Jesus, alguns dias antes da Páscoa, por
ocasião duma refeição em Betânia, na casa de Simão, chamado “o leproso”, na
qual uma mulher com um vaso de alabastro cheio de perfume muito precioso o
derrama sobre a cabeça de Jesus.
O Papa
desenvolveu duas interpretações sobre esta passagem:
- A
primeira é a indignação de alguns dos presentes, incluindo os discípulos, ao
considerar o valor do perfume (cerca de 300 denários, equivalente ao salário
anual de um trabalhador);
- A segunda é dada
pelo próprio Jesus, e permite individuar o sentido profundo do gesto realizado
pela mulher. Diz Jesus – “Deixai-a. Por que estais a atormentá-la? Praticou em mim
uma boa ação’ (Mc 14, 6), e Jesus sabe que está próxima a Sua morte e vê,
naquele gesto, a antecipação da unção do Seu corpo sem vida antes de ser
colocado no sepulcro.
Em seguida nos
apresenta os pobres como os verdadeiros evangelizadores, porque foram os
primeiros a ser evangelizados e chamados a partilhar a bem-aventurança do
Senhor e o Seu Reino (cf. Mt 5, 3), pois estes de qualquer condição e latitude,
evangelizam-nos, porque permitem descobrir de modo sempre novo os traços mais
genuínos do rosto do Pai.
Deste modo, é
necessário nos deixemos evangelizar por eles, uma vez que a nova evangelização
é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no
centro do caminho da Igreja.
Todos somos
chamados a descobrir Cristo neles, como sacramentos de Cristo, representando Sua
Pessoa e apontando para Ele, emprestando-lhes a nossa voz nas suas causas, mas
também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a
misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles, de tal modo que
nosso compromisso não consista exclusivamente em ações ou em programas de promoção
e assistência.
Retomando o tema – “sempre tereis pobres
entre vós”, indicam a sua constante presença no meio
de nós, mas não deve nos induzir àquela “habituação” que se torna
indiferença, mas deve nos levar ao empenho da partilha de vida que não prevê
delegações – “A
esmola é ocasional, ao passo que a partilha é duradoura. A primeira corre o
risco de gratificar quem a dá e humilhar quem a recebe, enquanto a segunda
reforça a solidariedade e cria as premissas necessárias para se alcançar a
justiça”.
Sua presença é
também um convite a não perder jamais de vista a oportunidade que se nos
oferece para fazer o bem. Mas, alerta o Papa, que não se trata de serenar a
nossa consciência dando qualquer esmola, mas antes contrastar a cultura da
indiferença, e já injustiça, com que se olha os pobres.
Menciona os muitos exemplos de Santos e Santas que fizeram da partilha com os pobres o seu projeto de vida, dentre eles padre Damião de Veuster, Santo apóstolo dos leprosos, e este testemunho é muito atual em nossos dias, marcados pela pandemia de coronavírus, para muitos que se gastam concretamente partilhando a sorte dos mais pobres.
A presença dos
pobres é permanente apelo de conversão, mudança de mentalidade, para que
acolhamos o desafio da partilha e da comparticipação – “Convertei-vos e
acreditai no Evangelho’ (Mc 1, 15) – “Se
não se optar por tornar-se pobre de riquezas efêmeras, poder mundano e
vanglória, nunca se será capaz de dar a vida por amor; viver-se-á uma
existência fragmentária, cheia de bons propósitos, mas ineficaz para
transformar o mundo”.
Além da “praga”
da pandemia, o Papa nos chama a atenção para o fato de estar acontecendo a
criação incessante de novas armadilhas da miséria e da exclusão, produzidas por
agentes econômicos e financeiros sem escrúpulos, desprovidos de sentido
humanitário e responsabilidade social – “De modo particular, é urgente dar respostas
concretas a quantos padecem o desemprego, que atinge de maneira dramática
tantos pais de família, mulheres e jovens. A solidariedade social e a
generosidade de que muitos, graças a Deus, são capazes, juntamente com projetos
clarividentes de promoção humana, estão a dar e darão um contributo muito
importante nesta conjuntura”.
Urge uma abordagem
diferente da pobreza, consistindo num desafio que os governos e as instituições
mundiais precisam de perfilhar, com um modelo social clarividente, capaz de
enfrentar as novas formas de pobreza que invadem o mundo e marcarão de maneira
decisiva as próximas décadas.
Recorda-nos as
palavras de São João Crisóstomo: “Quem
é generoso não deve pedir contas do comportamento, mas somente melhorar a
condição de pobreza e satisfazer a necessidade. O pobre só tem uma defesa: a
sua pobreza e a condição de necessidade em que se encontra. Não lhe peças mais
nada; mesmo que fosse o homem mais malvado do mundo, se lhe vier a faltar o
alimento necessário, libertemo-lo da fome. (…) O homem misericordioso é um
porto para quem está em necessidade: o porto acolhe e liberta do perigo todos
os náufragos, sejam eles malfeitores, bons ou como forem. Aos que se encontram
em perigo, o porto acolhe-os, coloca-os em segurança dentro da sua enseada.
Também tu, portanto, quando vês por terra um homem que sofreu o naufrágio da
pobreza, não o julgues, nem lhe peças conta do seu comportamento, mas liberta-o
da desventura» (Discursos sobre o pobre Lázaro, II, 5).
Exorta-nos para que estejamos abertos a
ler os sinais dos tempos, que exprimem novas modalidades de ser evangelizadores
no mundo contemporâneo, de tal modo que, a assistência imediata para acorrer às
necessidades dos pobres não impeça a clarividência para atuar novos sinais do
amor e da caridade cristã como resposta às novas pobrezas que experimenta a
humanidade de hoje.
Conclui
fazendo votos que o V Dia Mundial dos pobres leve nossas Igrejas locais a
abrir-se a um movimento de evangelização que, em primeira instância, encontre
os pobres lá onde estão – “Não podemos ficar à espera que batam à nossa porta; é urgente
ir ter com eles às suas casas, aos hospitais e casas de assistência, à estrada
e aos cantos escuros onde, por vezes, se escondem, aos centros de refúgio e de
acolhimento… Os pobres estão no meio de nós. Como seria evangélico, se
pudéssemos dizer com toda a verdade: também nós somos pobres, porque só assim conseguiríamos
realmente reconhecê-los e fazê-los tornar-se parte da nossa vida e instrumento
de salvação”.
Se
desejar, acesse o link e leia a mensagem na integra: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/20210613-messaggio-v-giornatamondiale-poveri-2021.html
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