quinta-feira, 27 de junho de 2024

A semente de mostarda e o Reino


 
A semente de mostarda e o Reino
No Reino de Deus,
lançar a semente é nossa missão!

Na passagem do Evangelho (Mt 13,31-32), Jesus nos fala do Reino de Deus à luz da Parábola do grão de mostarda.

Jesus compara o Reino de Deus a um grão de mostarda, a menor de todas as sementes, mas produz ramos tão grandes que os pássaros vêm habitar à sua sombra.

Na construção e espera do Reino que vem, é preciso confiança ativa. O Reino é como o crescimento da semente, um processo lento e silencioso, mas seguro. A pequenez da semente também é significativa, pois aparentemente o que fazemos parece nada mudar, mas quanta diferença faz para quem dela recebe, já, os frutos.

Muitas vezes, a pobreza dos meios, as nossas limitações, emergências e clamores nos levam a abrir-nos mais intensa e sinceramente à ação divina, explicitamente falando com a ação do Espírito que é imprescindível para a ação evangelizadora e a construção do Reino.

O Missal Quotidiano nos diz: “Em vez de agitação, serenidade; em vez de indolência, esforço; em vez de desânimo a certeza da fé; eis a atitude da Igreja, do apóstolo, do educador”.

Serenidade, esforço e a certeza da fé devem ser marcas de todo aquele que se coloca a serviço do Reino, contra toda tentação de agitação estéril e estressante, que nada de bom constrói; contra toda perniciosa, desastrosa tentação da acomodação, do recuo, do cruzar os braços em inativismo deplorável aos olhos de Deus – Deus que nos ama, como é próprio do Seu amor, não dispensa nossos esforços; contra toda tentação da perda da fé, do naufrágio da fé, o pior de todos os naufrágios.

Nisto consiste a missão de todos nós: lançar e cultivar as sementes. Se dela frutos não comermos, já terá valido ao outro ter assegurado esta possibilidade.

São oportunas as palavras do Apóstolo Paulo: “Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus quem fazia crescer” (1Cor 3,6).

De fato, aquilo que comemos ou desfrutamos não é fruto do acaso, mas do reconhecido e louvável esforço e empenho de tantos/as que, muito antes, e até no tempo presente, suas sementes lançaram.

Lancemos nossas sementes, as melhores que pudermos, para que outros desfrutem. 

PS: Passagem paralela no Evangelho de Lucas (Lc 13,18-21)

A Parábola do joio e do trigo

A Parábola do joio e do trigo

Assim afirmou São João Crisóstomo (séc. IV) à luz da Parábola do joio e do trigo (Mt 13, 24-30).

“Porque é a astúcia própria do demônio sempre mesclar com a verdade o erro colorido com aparências de verdade, de forma a conseguir por este meio facilmente enganar aos simples. Por tal motivo, não nomeou outro tipo de sementes, mas somente o joio, que é uma semente semelhante ao trigo”. (1)

As ações demoníacas estão presentes em todos os âmbitos, e devemos ficar em permanente vigilância para que não sejamos envolvidos pelas mesmas.

- Como perceber esta ação demoníaca, que se “mescla com a verdade o erro colorido com aparências de verdade” na família, fragilizando os valores e princípios sagrados que a solidificam e a santificam?

- Como perceber esta mesma ação no vasto e complicado mundo da política, da economia, da cultura, da educação, dos meios de comunicação e nos espaços de decisões dos rumos da sociedade?

Além de mesclar o erro com seu colorido sedutor em meio à verdade, ainda tornam muitas verdades relativas e efêmeras, como vemos no mundo líquido em que vivemos.

Por isto, o mundo é uma grande seara em que o joio e o trigo crescem simultaneamente, e precisamos sabedoria e paciência, para não nos fartarmos e nos intoxicarmos com o joio da mentira e do pecado, que promove a cultura da morte, e nos fragiliza como artífices da construção da civilização da vida fundamentada no amor, na verdade, na justiça e na paz:

“O amor e a verdade se encontrarão; a justiça e a paz se abraçarão. A fidelidade brotará da terra, e a justiça descerá dos céus. O Senhor nos trará bênçãos, e a nossa terra dará a sua colheita. A justiça irá adiante dele e preparará o caminho para os seus passos” (Sl 85, 10-13).


(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora vozes – 2013 – p.180

Acendamos estrelas na noite

                                                    

Acendamos estrelas na noite

Uma reflexão à luz de um parágrafo da Exortação Pós-Sinodal “Christus Vivit” do Santo padre Francisco que foi dirigida aos jovens e a todo o Povo de Deus.

“O Senhor chama-nos a acender estrelas na noite doutros jovens; convida-nos a olhar os verdadeiros astros, ou seja, aqueles sinais tão variados que Ele nos dá para não ficarmos parados, mas imitarmos o semeador que observava as estrelas para poder lavrar o campo.

Deus acende estrelas para nós, a fim de podermos continuar a caminhar: ‘Às estrelas que brilham alegremente nos seus postos, Ele chama-as e elas respondem’ (Br 3, 34-35). Mas o próprio Cristo é, para nós, a grande luz de esperança e guia na nossa noite, pois Ele é ‘a brilhante estrela da manhã’ (Ap 22, 16)”. (1)

Eis a missão de cada jovem: acender na amplidão do céu que paira sobre a história, estrelas que iluminem, renovando esperanças.

Eis a missão de todos nós: “acender estrelas” na noite de outros jovens e de todas as pessoas, ajudando-as a enfrentar todos os seus medos, incertezas e desafios.

Deste modo, jamais se curvarão diante do medo da insegurança, da falta de perspectivas, e tantos outros problemas incontáveis.

Com os jovens, urge nos tornarmos luzeiros da noite, olhando para o céu, onde Deus habita, para que ele seja pontilhado de estrelas a iluminar nossos passos, na obscuridade do tempo presente.

Acendamos estrelas na noite dos jovens, para que eles próprios edifiquem suas vidas em sólidas esperanças, e, com sabedoria, adejando asas da fantasia, que não consiste, jamais, em encher as almas de ilusões.

As pequenas e grandes ações de amor, solidariedade e compromisso dos jovens com um mundo novo, com o Reino de Deus, farão com que não fundem torres no vento e tão pouco edifiquem sobre a areia.  

Assim fazendo, estarão acendendo estrelas e gerando a esperança de um céu menos sombrio, ou ainda mais, vivendo e testemunhando a esperança de um novo céu e uma nova terra.

Finalmente, peçamos a Deus para que cada jovem e todos nós, tenhamos sempre Maria, a Estrela de Nazaré, como modelo de quem passou e se faz presente entre nós, ensinando-nos a contemplar a presença do seu Filho, a “Brilhante Estrela da Manhã”, que nos ilumina com Sua divina luz celestial.


(1) Exortação Pós-Sinodal “Christus vivit” – Papa Francisco – parágrafo n.33

Em poucas palavras...

                                          


O Espírito Santo: caminho único da oração

"Os métodos de meditação são tão diversos como os mestres espirituais. Um cristão deve querer meditar com regularidade; doutro modo, torna-se semelhante aos três primeiros terrenos da parábola do semeador (Mc 4,4-7.15-19). Mas um método não passa de um guia; o importante é avançar, com o Espírito Santo, no caminho único da oração: Cristo Jesus.”(1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 2707. 

Enviados em missão

                                         

Jesus envia 72 discípulos, de dois em dois, pois a ação é comunitária, e apresenta a eles algumas exigências e advertências:

Ø    Haverá dificuldades;
Ø    Viver a pobreza, confiando tão apenas na providência divina;
Ø    Crer na força libertadora da Palavra de Deus;

Ø    A urgência da missão (não pode haver perda de tempo);
Ø    Dedicar-se totalmente à missão;
Ø    Ser portador da paz;

Ø    Combater contra o mal que se contrapõe ao Reino de Deus;
Ø    Exultar de alegria por terem os nomes inscritos no céu, no livro da vida.

Servo por amor

                                                         

Servo por amor

“Entretanto, não vos aflijais, nem vos atormenteis, por me terdes vendido a este país. Porque foi para a vossa salvação que Deus me mandou adiante de vós, para o Egito”.

José, que ama e perdoa seus irmãos,
Uma história que nos comove e nos ilumina.
José, imagem tão emblemática do Povo de Deus,
Porque representa todo aquele
Que mesmo repelido, maltratado, exilado,
Nas mãos Deus se coloca e confia.

José, que ama e perdoa seus irmãos,
Ele, o preferido do pai, dos irmãos vítima.
Por eles atraiçoado e por eles vendido,
Mais tarde instrumento de salvação dos mesmos,
Em atitude exemplar e admirável,
Cumprindo a missão de servo por amor.

José, prefigura o próprio Cristo,
O único Inocente de fato,
Que pecado algum conheceu.
O Filho amado, pelos Seus traídos,
À morte conduzido pelos próprios irmãos,
E deles Se tornando fonte de Salvação.

José, o servo de Deus por amor.
Jesus, o Verbo de Deus, Encarnação do Amor.
Aprendizes destes, sejamos, em todo o tempo,
Aprendendo a contemplar a misericórdia de Deus
Nas vicissitudes da História,
Com confiança n’Aquele que nos concede todo o bem. Amém.



Fonte: Gn 44,18-21.23b-29;45,1-5
Lecionário Comentado – Tempo Comum – vol. I – Editora Paulus – pp.690-691

Discípulos do Divino Mestre em busca da perfeita sintonia

                                                    

 

Discípulos do Divino Mestre em busca da perfeita sintonia
 
Sejamos iluminados pelo Tratado sobre a verdadeira imagem do cristão, escrito pelo bispo São Gregório de Nissa (séc. IV).
 
“São três as coisas que manifestam e distinguem a vida cristã: a ação, a palavra e o pensamento. Das três, tem o primeiro lugar o pensamento. Em seguida, a palavra, que nos revela o pensamento concebido e impresso no espírito.
 
Depois do pensamento e da palavra vem, na ordem, a ação, realizando por fatos o que o espírito pensou.
 
Portanto, se alguma coisa na vida nos induz a agir ou a pensar ou a falar, é necessário que o nosso pensamento, a nossa palavra e a nossa ação sejam orientadas para a regra divina daqueles nomes que descrevem a Cristo, de modo a nada pensarmos, nada dizermos e nada fazermos que se afaste do seu alto significado.
 
Então, o que terá de fazer aquele que se tornou digno do grande nome de Cristo, a não ser examinar diligentemente os próprios pensamentos, palavras e ações, julgando se cada um deles tende para Cristo ou se lhe são estranhos?
 
De muitas maneiras operamos este magnífico discernimento. Tudo quanto fazemos, pensamos ou falamos com alguma perturbação, de nenhum modo está de acordo com Cristo, mas traz a marca e a figura do inimigo, que mistura a lama das perturbações à pérola da alma para deformar e apagar o esplendor da joia preciosa.
 
O que, porém, está livre e puro de toda afeição desordenada, relaciona-se com o Autor e Príncipe da tranquilidade, o Cristo.
 
Quem d’Ele bebe, como de Fonte pura e não poluída, as suas ideias e os seus sentimentos, revelará em si a semelhança com o princípio e a origem, tal como a água na própria fonte é igual a que corre no límpido regato e á que brilha na jarra.
 
De fato, é uma só e mesma a pureza de Cristo e a que se encontra em nossos espíritos. Mas a pureza de Cristo brota da fonte, enquanto a nossa dela flui e chega até nós, trazendo consigo a beleza dos pensamentos para a vida.
 
Portanto, a coerência do homem interior e do exterior aparece harmoniosa, quando os pensamentos que provêm de Cristo guiam e movem a modéstia e a honestidade de nossa vida”. (1)
 
Reflitamos sobre a nossa vida cristã autêntica, para encontramos a perfeita sintonia entre pensamento, palavra e ação, de tal modo que reavivemos e consolidemos nossa vocação e eleição.
 
Procuremos sempre esta perfeita sintonia, de tal modo que quanto maior for, mais autêntica vida cristã, e ressoando as palavras do Bispo, que a “lama das perturbações” não se misture à pérola de nossa alma, apagando o esplendor divino que em nós habita.

O Cardeal Martini (Vida Pastoral nº 266) nos apresenta quatro atitudes que, se verdadeiramente vividas, realizarão a premente necessidade de sintonia   entre o pensar, falar e agir, assegurando-nos criatividade e autenticidade como discípulos missionários de Jesus Cristo:
 
I. A Leitura orante da Bíblia – diariamente, nutrir-se pela Palavra de Deus, para que os pensamentos, por ela, sejam iluminados, expressos em palavras e gestos. O maior bem que se possa desejar e alcançar.
 
II. O autocontrole – a vontade de Deus há de prevalecer sobre as próprias vontades, com disciplina, renúncia, acrisolamento, amadurecimento, despojamento, desprendimento; alcançando o amadurecimento no discipulado, afastando toda possibilidade de esgotamento e vazio existencial.     
 
III. O Silêncio – Mais do que nunca, é necessário afastar-se da insana escravidão do barulho e das conversas, muitas vezes, inúteis e desnecessárias. Dedicar, ao menos, meia hora por dia para o silêncio e meio-dia a cada semana para pensar em si mesmo, refletir e rezar. Aparentemente inviável e impossível, mas é preciso dar o primeiro passo.
 
IV. A Humildade – O Espírito Santo é o verdadeiro protagonista da Evangelização. Há de se ter a consciência de que sem o sopro do Espírito nada somos e nada podemos. Dele procedem todos os dons e a graça para que consigamos viver o que falamos, falar o que pensamos e pensar o que rezamos.
 
A credibilidade da Igreja está relacionada ao seu testemunho do indizível Amor divino, sem incoerências execráveis, na mais perfeita fidelidade Àquele que é a Perfeitíssima Coerência: Cristo Jesus, Nosso Senhor; entranhados em Seu coração e envolvidos pelos laços de Sua indispensável ternura. 
 
A triplicidade vivida é fundamental para o alcance da autêntica felicidade, de modo que, a sua ausência abre espaço para incoerências, infidelidades, contratestemunhos e escândalos, enfraquecendo o conteúdo da Palavra Divina que anunciamos, do Projeto do Reino que acreditamos e do Mistério que celebramos.    
 
Reflitamos:
- Como alcançá-la?
- Qual o caminho para encurtar eventuais distanciamentos entre o que pensamos, falamos e fazemos?
 
Concluo: quer pensemos, quer falemos, quer façamos qualquer coisa, façamos em nome do Senhor Jesus. 
 
A vida cristã será cada vez mais autêntica, quanto mais encurtemos a distância entre o que pensamos, falamos e agimos, sempre dentro dos propósitos do Evangelho, para melhor correspondermos ao que Deus espera de cada um de nós. Amém!
 
  

(1) Liturgia das Horas – Vol. III – pp.354-355.

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG