segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Enquanto a Primavera não chega...

                                                               

Enquanto a Primavera não chega...
Rezemos com a Santa Palavra!

Setembro é um mês com beleza singular:
Depois de longo tempo sem águas dos céus,
Que já se prenunciam, e com elas as flores,
Com a Bíblia nas mãos desvelando os véus.

Lembro-me de Rondônia e os campos destruídos,
As queimadas, a fumaça, cenário de quase desolação.
A floresta cede lugar ao desejo insano de lucro, exploração...
Árvores caindo, ainda ouço na alma seus enormes ruídos.

Mas há uma imagem que não me sai da mente:
Lá no meio das cinzas aquele ipê amarelo imponente,
Teimosamente florescendo como que se nos dissesse:
Bem mais forte do que a morte é o amor que floresce!

Enquanto a Primavera não chega...
Que nosso coração seja pela graça e luz regado,
Para que a semente da Palavra, com amor acolhida,
Flores e frutos abundantes, procedentes da Fonte da Vida!

Enquanto a Primavera não chega...
Contemplemos os ipês amarelos
Com sua ousadia e invejável beleza,
Quanto nos diz com toda certeza!

Enquanto a Primavera não chega...
Rezemos com a Santa Palavra!
Lida, rezada, meditada, contemplada,
No chão da vida corajosamente encarnada!

Com a chegada da Primavera,
Deus virá mais uma vez 
não só embelezar a natureza, as praças, as ruas, os campos...

A chegada da Primavera é sempre sinal da “Primavera de Deus” em nossa vida.
Ele quer para nós sempre o belo; Ele nos quer sempre embelezados e perfumados com o Odor de Seu Amor.

Que envolvidos pelo “Odor do Amor Divino”
exalemos odores de santidade que procedem
também da acolhida e vivência de Sua Santa Palavra.

PS: Escrito em 2001 - Diocese de Ji-Paraná - RO

Ritual da bênção do sino

 


Ritual da bênção do sino

Faze para ti duas trombetas de prata”. Naqueles dias: O Senhor falou a Moisés e disse...”

No dia 15 de setembro de 2024, tivemos a graça de realizar a bênção dos sinos da Paróquia Nossa Senhora das Dores – Dores de Guanhães – MG, ao celebrar a Missa da Padroeira.

Vejamos o que nos diz o Ritual de Bênçãos sobre a bênção dos sinos:

“É antigo o costume de convocar com algum sinal ou som, para uma reunião litúrgica, o povo cristão, e de avisá-lo sobre os principais acontecimentos da comunidade local. Assim, a voz dos sinos exprime, de certo modo, os sentimentos do povo de Deus, quando este se alegra ou chora, dá graças ou faz súplicas, reúne-se num local e manifesta o mistério de sua união em Cristo.” (1)

Na bênção, utilizamos uma das propostas oferecidas pelo Ritual, por sua riqueza imensurável:

“Ó Deus, a Vossa voz na aurora ressoou aos ouvidos do homem para convidá-lo à comunicação divina, ensinando-o e admoestando com doçura.

 Ó Deus, Vós mandastes Moisés, Vosso servo, usar trombetas de prata para reunir o povo.

Ó Deus, Vós não recusais na Vossa Igreja o uso de sinos de bronze para convidar o povo à oração; recebei este sino novo, dedicado por esta + bênção ao Vosso serviço e fazei que todos os Vossos fiéis, aos ouvirem a voz do sino, elevem para o alto os seus corações, participem da alegria e da tristeza dos irmãos, apressem-se até a casa de Deus, onde sintam a presença de Cristo, ouçam a Vossa Palavra e Vos dirijam as suas súplicas. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.” (2)

 

(1) Ritual de Bênçãos – Editora Paulus – 2015 – n. 1032  p.378

(2)Idem  n.1047 - p. 383

Oração humilde e confiante

                                                   


                              Oração humilde e confiante

A Liturgia da segunda-feira da 24ª Semana do Tempo Comum nos convida a refletir sobre a Salvação que Deus oferece a todos os povos por meio de Jesus Cristo, à luz da passagem do Evangelho (Lc 7,1-10), na qual encontramos a fé e a súplica de um centurião para que Jesus cure seu servo.

"Este oficial coloca toda a sua confiança na misericórdia de Jesus e na Sua Palavra: “Senhor, não Te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. 

Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente ao Teu encontro. Mas ordena com a Tua Palavra, e o meu empregado ficará curado..." (Lc 7, 6-7). (1)

A misericórdia de Deus pode se manifestar mesmo à distância, dependendo apenas da fé do orante, daquele que suplica. Fundamental é confiar na Palavra e Pessoa de Jesus, Aquele que tem poder sobre tudo: enfermidade, pecado, poderes, morte.

Citando o Bispo Santo Agostinho, sobre esta passagem: “Pequena teria sido a felicidade se o Senhor Jesus tivesse entrado dentro de suas quatro paredes, e não estivesse hospedado em seu coração”. (2)

Vemos que o centurião faz como que um caminho progressivo na fé manifestada em sua oração, ele se dá conta de que para que Jesus realize seu pedido, não faz valer seus méritos, nem posses ou subalternos, porque para Ele o que conta, de fato, é a misericórdia  Divina, que é totalmente gratuita.

As palavras do centurião, repetimos em todas as Missas, antes de recebermos o Corpo e o Sangue do Senhor. A Eucaristia que celebramos, adoramos e devemos viver quotidianamente com gestos de amor, partilha e comunhão:

“Às vezes pergunto-me se nós, cristãos de hoje, que andamos enfarinhados nas coisas de Deus, nas liturgias bem aprumadas e em longas orações, assumimos a causa de Deus na liturgia quotidiana da nossa vida.

Pergunto-me se basta a Palavra para a fé, ou ainda procuramos outros sinais que podem parecer importantes, mas não essenciais.

Pergunto-me se andamos no único Evangelho que conta, o de Jesus Cristo, ou navegamos noutros evangelhos; assim nos provoca Paulo na segunda leitura.

Pergunto-me se habitamos e conhecemos o nome de Deus e lhe oramos com plena escuta do nosso ser ou entretemo-nos com outros nomes e repetidas orações que apenas passam pelo ouvido; assim nos interpela a primeira leitura”. (3)

Urge que Jesus tenha a centralidade em nossa vida, Ele que a todos Se dá, sem exceção, sem olhar a quem, ultrapassando os laços da pertença a um grupo específico.

Se quisermos ser discípulos missionários do Senhor, Ele quer de nós adesão de fé, plenamente, na Sua Pessoa e na Sua Palavra o Projeto do Reino.

Reflitamos:

- Quando, de fato, Jesus entrou em nosso coração e mudou nossa vida com Sua Palavra e ação?
- Quanto Jesus transformou nossa vida, sobretudo, através de nossa participação na Ceia Eucarística, em que Ele nos comunica a Sua Palavra e nos alimenta com o Seu Corpo e o Seu Sangue?

Esta adesão de fé haverá de ser centrada e enraizada no amor misericordioso de Deus em Jesus Cristo, que experimentamos de modo sublime em cada Ceia Eucarística em que celebramos, quando Ele Se dá no Pão da Palavra e no Pão da Eucaristia, nos oferecendo gratuitamente a Salvação, como dom, graça e missão.

Contemplemos e correspondamos à Misericórdia de Deus que é para toda a humanidade.

  

Minhas reflexões no Youtube





Acesse:

https://www.youtube.com/c/DomOtacilioFerreiradeLacerda 

Água, vinho e o Cálice do Senhor

                                                       

Água, vinho e o Cálice do Senhor

Ao preparar o Cálice, o padre coloca algumas gotas de água no vinho, e talvez poucos compreendam ou fixam a atenção neste momento, que deve ser feito com toda piedade.

Não temos maior dificuldade para compreensão da matéria do vinho, pois a Igreja sempre ensinou que Jesus instituiu o Sacramento da Eucaristia na partilha do pão e do vinho:

"Doravante, não tornarei a beber deste fruto da vide, até chegar aquele dia" (Mt 26, 29; Mc 14, 15), e a própria narrativa do Apóstolo Paulo aos Coríntios, em sua primeira Carta (1 Cor 11, 23-26).

São João Crisóstomo, um dos Padres da Igreja, disse: "Do fruto da vide, que certamente produzia vinho, e não água", e também a alusão ao lado trespassado do Senhor, do qual jorrou Sangue e Água: “Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu Sangue e Água.” (Jo 19,34).

Fundada na autoridade dos Concílios, e no testemunho de São Cipriano, a Igreja, porém, sempre misturou água com o vinho.  Esta mistura faz lembrar que do lado de Cristo verteu Sangue e Água.

Também no Livro do Apocalipse (Ap 17,15),  as "águas" significam o povo; de modo que, misturar a água ao vinho tem simbolismo próprio: a água simboliza a união do povo fiel com Cristo, que é a Sua Cabeça.

Curiosa é a observação feita pelo Papa Honório, no sentido que não haja mais água do que vinho: "No teu território, arraigou-se um abuso pernicioso, como seja o de empregar, no sacrifício, maior quantidade de água que de vinho; porquanto a razoável praxe da Igreja Universal prescreve que se tome muito mais vinho do que água".

Nada pode substituir o vinho e a água, que se somam ao pão a ser consagrado, com fórmulas e orações próprias, ao repetir as próprias Palavras do Senhor, e a invocação do Espírito Santo sobre as oferendas.

Concluindo, ao misturar a água ao vinho, colocamos no Cálice nossa humanidade, nossa existência, que se une ao vinho, que se tornará Sangue do Senhor, verdadeira e Salutar Bebida para nos inebriar e nos fortalecer, ao participarmos da Ceia Eucarística.

Na junção da água ao vinho, unimos nossa humanidade à divindade do Senhor, para que seja redimida. A divindade assume nossa humanidade e a redime, numa perfeita comunhão de amor, entrega e doação d’Ele para conosco, e também haverá de ser, sempre, dos que do Cálice Sagrado participam, com o Senhor.

Em poucas palavras...

 


Com Maria aprendemos ...

O caminho que Maria nos ensina, como peregrinos da esperança, nos dá coragem para sermos fiéis discípulos missionários do seu Amado Filho, Jesus.

Com Maria aprendemos a fidelidade ao carregar da cruz de cada dia, acompanhada das renúncias necessárias.

Nossa Senhora das Dores, Mãe das dores do tempo presente  e das alegrias eternas, rogai por nós. Aleluia!

 

Rezando com os Salmos (Sl 1)

 


Rezando com os Salmos (Sl 1)

“–1 Feliz é todo aquele que não anda
conforme os conselhos dos perversos; 
– que não entra no caminho dos malvados,
nem junto aos zombadores vai sentar-se; 
2 mas encontra seu prazer na lei de Deus
e a medita, dia e noite, sem cessar.

3 Eis que ele é semelhante a uma árvore
que à beira da torrente está plantada; 
= ela sempre dá seus frutos a seu tempo,
e jamais as suas folhas vão murchar.
Eis que tudo o que ele faz vai prosperar,

=4 mas bem outra é a sorte dos perversos.
Ao contrário, são iguais à palha seca
espalhada e dispersada pelo vento.

5 Por isso os ímpios não resistem no juízo
nem os perversos, na assembleia dos fiéis. 
6 Pois Deus vigia o caminho dos eleitos,
mas a estrada dos malvados leva à morte.”

Segundo Autor do séc. II, “felizes aqueles que, pondo toda a sua esperança na Cruz, desceram até a água do batismo”. E conforme o bispo e doutor Santo Agostinho (séc. V) – “Cristo, de fato, veio pelo caminho dos pecadores, ao nascer como os pecadores, mas não se deteve, porque não o retiveram as seduções do mundo…”.

Oremos:

Ó Deus, concedei-nos a divina Sabedoria, para trilharmos o caminho de santidade, em permanente atitude de conversão, vencendo a cada dia as tentações que nos roubem a liberdade e a verdadeira felicidade que tão somente de vós pode vir. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.

 

Salmo: Oração do Povo de Deus

                                    

Salmo: Oração do Povo de Deus

 

Reflitamos sobre os Salmos à luz dos escritos do Bispo Santo Ambrósio (séc. IV).

 

“Embora toda a Divina Escritura exale a graça de Deus, o mais suave é o Livro dos Salmos... A história instrui, a lei ensina, a Profecia anuncia, a correção castiga, a moral persuade.

 

Ora, no Livro dos Salmos há proveito para todos e remédio para a salvação do homem. Quem o lê, tem remédio especial para as chagas das paixões.

 

Quem quiser luta como em ginásio de almas e estádio de virtudes, onde estão preparados diversos gêneros de luta, escolha para si aquele que julgar adequado para mais facilmente alcançar a coroa.

 

Se alguém quiser recordar e imitar os feitos gloriosos dos antepassados, encontrará compendiada num Salmo toda a história de nossos pais, podendo assim enriquecer o tesouro da memória numa breve leitura.

 

Se alguém perscruta a força da lei que está toda no vínculo da caridade (quem ama o próximo, cumpriu a lei), leia então, nos Salmos, com quanto amor um só se expôs aos mais graves perigos para repelir o opróbrio de todo o povo.

 

Donde se reconhece não ser a glória da caridade menor do que o triunfo da virtude. Que direi sobre o dom da profecia? Aquilo que outros anunciaram por enigmas, só a este, aparece clara e abertamente a promessa de que

 

O Senhor Jesus nasceria de sua linhagem, conforme lhe falou. Porei sobre teu trono o fruto de tuas entranhas. Por conseguinte, nos salmos não apenas nasce Jesus para nós, mas ainda aceita a salvífica Paixão de Seu corpo, adormece, ressurge, sobe aos céus, assenta-Se à direita do Pai.

 

O que homem algum ousaria dizer, só este Profeta anunciou e depois o próprio Senhor o manifestou no Seu Evangelho”. (1)

 

Santo Ambrósio se referiu a este Livro, como o mais suave Livro da Divina Escritura.

 

Os Salmos expressam nossa pequenez diante dos mistérios divinos, e se bem rezados e saboreados, trazem à alma do orante alívio e força, graça e luz...

 

Deste modo, refazem sonhos, fortalecem passos, reorientam caminhos, iluminam olhares, e a esperança renasce teimosamente; a confiança se solidifica; a temperança é, no mais profundo de nós, restabelecida.


Enfim, nosso coração fica purificado e cristalino como o coração de uma criança.

 

O Livro dos Salmos é por excelência o Livro da Oração do Povo de Deus, seja rezado, seja cantando; euando não puder ser cantado, com as devidas notas musicais, coloquemos neles as notas musicais e as infinitas melodias que a vida nos apresenta:
 

- O que importa é o Salmo se tornar presente em nossas orações, quer rezado, quer cantado.

- Quando a garganta não produzir as notas, a alma e a vida as produzirão!

- Quem aprendeu a rezar com os Salmos, sem dúvida, reza as mais belas Orações.

 

Os Salmos expressam alegria, gratidão, confiança, súplica, louvores, angústia, sentimento de perda e ausência divina ou Sua sublime presença.

 

Eles fazem parte da vida do Povo de Deus: Salmo 23, 91... Mas há muito mais...


Reflitamos:

 

- Quais os Livros que tenho usado para minha oração?

- Já descobri o Livro dos Salmos como o Livro de Oração dos pobres?

- Quais os Salmos que mais gosto?

- De que modo posso valorizar o Livro dos Salmos?

- Valorizo os Salmos quando rezados ou cantados na Missa?

- Já tive alguma experiência forte rezando algum Salmo da Bíblia?

- O que posso fazer para ajudar as pessoas a descobrirem a beleza e a riqueza dos Salmos?

 

Abramos a Bíblia! 

Saboreemos a suavidade dos Salmos.

Deleitemo-nos com sua beleza e esplendor!

  

(1) Liturgia das Horas - Vol. III - pág. 306-307.

Os Salmos e sua riqueza espiritual

                                                  

Os Salmos e sua riqueza espiritual

Retomo os refrães dos Salmos das Missas 29ª Semana do Tempo Comum, ressaltando a beleza e, ao mesmo tempo motivando, a sua  devida valorização nas Missas e Celebrações.

“O Senhor mesmo nos fez e somos seus” (Sl 99):

De fato, somos obras do Criador; feitos e modelados por Suas mãos e à Sua imagem e semelhança, e o sopro de vida d’Ele recebemos. A Deus pertencemos e, portanto, nossa felicidade será cada vez mais autêntica se nos relacionarmos com este sentido de pertença, rompendo qualquer sombra de autossuficiência, negação d’Aquele que nos predestinou e nos criou para a santidade, no vínculo de uma amizade desejada desde as primeiras páginas da Sagrada Escritura, e consumada de modo indizível no amor do Filho, que nos chamou de amigos e não nos tratou como servos.

“Eis que venho fazer, com prazer, a Vossa vontade, Senhor” (Sl 39):

Rezamos no Pai Nosso – “seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu”. De fato a vontade de Deus deve sempre prevalecer sobre a nossa, porque ela tem horizontes mais vastos que nos levam a atitudes de comunhão, doação, partilha, justiça, solidariedade, amor e verdade. Nem sempre a nossa vontade poderá coincidir com a vontade de Deus, no entanto, sendo a vontade de Deus, que seja feita com “prazer”, com alegria, prontidão, generosidade, altruísmo, sem nada reclamarmos ou obstáculos e condições colocarmos.

“Nosso auxílio está no nome do Senhor” (Sl 123):
Portanto, devemos provar e ver sempre como o Senhor é bom e vem em socorro de nossa fraqueza, nos refaz de nossos cansaços, revigora-nos com Sua graça para que não nos atolemos e nem nos asfixiemos na lama do pecado; ao contrário, Ele nos toma pela mão e nos conduz pelos prados e campinas verdejantes, e se preciso, nos carrega no colo, como o pastor o faz com a ovelha cansada ou ferida.

“É feliz quem a Deus se confia” (Sl 1):

A confiança em Deus nos faz inabaláveis e solidifica a autêntica felicidade, não a felicidade que o mundo dá, mas aquela que o Senhor nos apresentou no Sermão da Montanha, as Bem-Aventuranças. Se pobres em espírito a felicidade somente em Deus e com Deus alcançaremos e tão apenas n’Ele e em Seu poder confiaremos, assistidos pelo Espírito Santo que nos enviou em nome do Seu Filho, Cristo Jesus.

“Ensinai-me a fazer Vossa vontade (Sl 118):

Para que façamos a vontade de Deus com “prazer”, precisamos dos dons do Espírito para discernir a vontade divina nas pequenas e grandes decisões de nossa vida, sobretudo nas mais difíceis, e naquelas em que nossa fé é provada, nossa esperança é desafiada e a prática da caridade é exigida, para que contribuamos na realização do Reino pelo Senhor inaugurado.

“Seu som ressoa e se espalha em toda a terra” (Sl 18):
O som de Deus, como suave brisa divina, se espalha em toda a terra, e nos envolve com Sua ternura e bondade. Isto também se dá pela palavra daqueles que, com coragem, se tornam discípulos missionários do Senhor, proclamam a Santa Palavra, acompanhado de gestos solidários de compaixão e solidariedade, sobretudo em relação aos que mais sofrem e precisam, porque neles se vê a verdadeira face o sofrimento do Cristo, como lemos no Evangelho de Mateus (Mt 25,32-46).

“Eu Vos amo, ó Senhor, sois minha força e Salvação” ( Sl 17):
Deus, que nos criou por amor, quer tão apenas que com Ele nos relacionemos numa resposta livre de amor; amando-O com todo o coração, de toda a alma, e de todo o entendimento, mas quer também que amemos nosso próximo como Jesus nos amou – “amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei” (Jo 13,34). Amando a Deus e ao próximo, experimentamos a força de Deus e trilhamos o caminho da Salvação.

“Nosso Deus é um Deus que salva, é um Deus libertador” (Sl 67):
Cremos que a Salvação vem tão apenas de Deus, que nos criou e por meio de Jesus nos redimiu e nos tornou livres, pois “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1); e o mesmo Espírito que O assistia na missão, também em nós repousa e nos acompanha – “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-21). E assim, podemos rezar como Ele mesmo nos ensinou -  “Venha a nós Vosso Reino, Senhor...” (Mt 6, 10).

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Salmo: oração que eleva nossa alma

                                                               

Salmo: oração que eleva nossa alma

“Orarei com o espírito, orarei com a mente;
salmodiarei com o espírito, salmodiarei com a mente.”

Sejamos enriquecidos pelo Comentário sobre os Salmos, escrito pelo Bispo Santo Ambrósio (Séc.IV), a fim de que salmodiemos com o espírito e a mente.

“O que há de mais agradável que um Salmo? Davi já bem dizia: Louvai ao Senhor, porque é bom o Salmo; a nosso Deus, alegre e belo louvor. E é verdade!

O Salmo é a bênção para o povo, a glória de Deus, o louvor da multidão, o aplauso de todos, a palavra do universo, a voz da Igreja, a canora confissão da fé, a devoção cheia de valor, a alegria da liberdade, o clamor do regozijo, a exultação da alegria.

O Salmo abranda a ira, desfaz a preocupação, consola na tristeza. Ele é a proteção noturna, o diurno ensinamento, um escudo no temor, uma festa na santidade, a imagem da tranquilidade, o penhor de paz e de concórdia, fazendo, à semelhança da cítara, um só cântico de muitas e diferentes vozes.

Na aurora do dia, ressoa o Salmo. Repercute o Salmo ao cair da noite. Rivalizam no Salmo a doutrina e a graça: ao mesmo tempo canta-se para deleite e aprende-se para instrução. O que é que não te ocorre ao ler os Salmos?

Neles leio: Cântico para o amado e logo me inflamo de desejo da sagrada caridade. Neles encontro a graça das revelações, os testemunhos da ressurreição, os dons da promessa. Por eles aprendo a evitar o pecado, desaprendo de envergonhar-me da penitência pelas minhas faltas.

O que é o Salmo senão o instrumento das virtudes com que o venerável Profeta, tangendo-o com a palheta do Espírito Santo, faz ressoar pelo mundo a doçura da música celeste? Ao mesmo tempo em que ele, coordenando por meio de liras e cordas, isto é, das coisas mortas, a distinção dos diversos sons, dirigia o cântico do divino louvor para as realidades supremas. Ensinava com isso, em primeiro lugar, que devíamos morrer ao pecado e, em seguida, discernir em nossa vida mortal as várias obras de virtude pelas quais nossa gratidão se eleva até Deus.

Davi ensinou que devemos cantar no íntimo de nós mesmos, salmodiar no íntimo, como Paulo cantava, pois dizia:

Orarei com o espírito, orarei com a mente; salmodiarei com o espírito, salmodiarei com a mente.

Ensinou também que devíamos ordenar nossa vida e seus atos para a visão das realidades superiores, a fim de que o gosto pela doçura não excite os instintos do corpo, com os quais não se redime nossa alma, ao contrário se torna pesada. 

E, no entanto, o santo Profeta lembra-se de salmodiar para a redenção de sua alma, quando diz: Salmodiarei a Ti, ó Deus, na cítara, Santo de Israel; ao cantar a Ti jubilarão meus lábios e minha alma que remiste.”

Agradeçamos ao Senhor e cantemos salmos de louvor ao Deus Altíssimo, ao som da lira de dez cordas e da harpa, e com canto acompanhado ao som da cítara, como nos convidou o salmista.

Os Salmos são verdadeiras orações que nos acompanham, e expressam nossa vida marcada por angústias e esperança, dores e alegrias, sonhos e pesadelos, perdas e ganhos, procuras e encontros, começos e recomeços, ruínas e construções.

Notemos que os Salmos estão bem no centro da Sagrada Escritura, assim como a oração deve ocupar espaço central em nossa vida. Nada sem a oração!

Portanto, que a acolhida deste Comentário nos ajude a redescobrir cada vez mais a importância da oração feita a partir dos Salmos e com eles.

Rezando com os Salmos, nos alimentamos verdadeiramente com a genuína fonte da Sagrada Escritura, e somos revigorados para o bom combate da fé.

“Senhor, eu não sou digno…”

                                                            

“Senhor, eu não sou digno…”

Em todas as Missas, quando o padre diz: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, a assembleia responde: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”.

Ela se fundamenta na passagem do Evangelho (Lc 7,1-10; Mt 8,5-11; Jo 4,46-54), em que um centurião ao encontrar Jesus disse-lhe: “Senhor, tenho em casa um criado com paralisia, que está com muitas dores”. Jesus disse-lhe: “Eu vou lá curá-lo”.

O centurião respondeu: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e meu servo ficará curado”. Então Jesus disse: “Vai e faça-se como crês”. Nessa mesma hora, o criado ficou curado.

Façamos um paralelo à luz da visita de Jesus na casa de Zaqueu (Lc 19,1-10) –“Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa”. E no final do encontro, da hospedagem e da acolhida de Jesus, houve a concretização de sua conversão com os propósitos de mudança e restituição dos bens defraudados, bem como a partilha da metade de seus outros bens e assim Zaqueu pode escutar a mais bela notícia da própria boca de Jesus: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque você também é um filho de Abraão! Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

“Desce depressa” é o convite de Jesus. Ele visitou a casa de um centurião, de um chefe de cobrador de impostos; casa não muito recomendada, a ponto de arrancar murmurações e despertar incompreensões. Mas o agir de Deus ultrapassa todas as medidas, sobretudo as medidas mesquinhas de nossos julgamentos, conceitos e preconceitos.

A misericórdia divina rompe os limites de nossa visão,  faz novas todas as coisas e todas as pessoas. Ela é para ser acolhida, experimentada, jamais aprisionada, sobretudo em nossas mãos que, por vezes, se fecham; não cabe em nosso coração, que por vezes, se apequena; não cabe em nossa mente, porque é limitada.

Reflitamos:

- Merecemos receber Jesus em nós?
- Merecemos recebê-Lo em nosso coração?
- Somos dignos de acolhê-Lo em vasos de argila que somos?
- Somos a perfeição em pessoa?
- Somos melhores do que os outros?
- Já somos a santidade consumada, sacramentada para sempre?
- Já estamos no auge da conversão concretizada e irrevogável?

Oremos:

Senhor, não merecemos recebê-Lo, mas sois infinitamente bom, misericordioso, cheio de amor por nós. 

Vós que tendes poder sobre tudo e sobre todos.

Vós que sois infinitamente superior à nossa miserável condição humana, diga apenas uma Palavra e seremos salvos. 

Só Vós tendes Palavras de vida eterna. Só Vos podeis romper nossa surdez.

Só Vós podeis restituir nossa visão para que vejamos, com os olhos de Deus.

Só Vós podeis adentrar o mais profundo de nós, em nossa intimidade, em nosso coração. 

Só Vós podeis, com uma Palavra apenas, nos purificar, nos possibilitar a mais bela acolhida, a acolhida de  Vós, no Pão da Eucaristia, o Corpo do Senhor.

“Graças e louvores se deem a todo o momento, ao
Santíssimo e Diviníssimo Sacramento…”.

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG