Em sua Mensagem para a Quaresma de 2015, o Papa Francisco nos exortou a não nos curvarmos diante da globalização da indiferença, que tem marcado as relações em todos os âmbitos e aspectos.
Diante da realidade que nos desafia, não podemos permitir que a languidez de espírito nos torne entorpecidos, enfraquecidos e desalentados, pulverizando a esperança que devemos cultivar.
Não podemos cultivar sentimentos que nos roubem as forças e o entusiasmo, para que os pecados capitais não tornem turvo nosso olhar diante do horizonte da história da humanidade.
Também não podemos perder a sensibilidade, sem uma maior compreensão da realidade que nos envolve, e assim fugir aos compromissos de maior solidariedade com o outro, para que não fique empedernido nosso coração, como um mármore, ou ainda glacial, frio, indiferente...
É impensável a “acinesia da alma”, inertes, totalmente imobilizados frente às correntes que nos aprisionem e que nos asfixiem a liberdade de dar passos rumo às ideias e ideais que tornem mais bela a realidade em que estejamos inseridos.
É necessário varrer da mente, como que apagando nas brumas da memória, quaisquer pensamentos que nos levem a incorrer na displicência, ou na postura do lavar as mãos, enterrando a cabeça na areia.
Não nos é permitido deixar rolar no resvaladouro da indiferença cada segundo de nossa curta passagem neste mundo, e assim seja afastada qualquer expressão de alheamento do espírito, cruzando os braços.
Com muita propriedade, o Papa exortou que nossas comunidades se tornem ilhas de misericórdia no mar da indiferença da história, para que superemos a cultura da indiferença, construindo a cultura da solidariedade, da vida e da paz.
Deste modo, dizendo não à globalização da indiferença, não deixaremos cair no rio do esquecimento alguns valores fundamentais que devem pautar a vida: amor, verdade, justiça, liberdade.
Oportunas são as palavras do Presbítero Orígenes (séc. III) em seu Comentário sobre o Livro do Levítico:
“Por esse motivo és convidado a olhar sempre para o oriente, de onde nasce para ti o Sol da justiça, de onde a luz se levanta sobre ti, para que nunca andes nas trevas, nem te surpreenda nas trevas o último dia; a fim de que a noite e a escuridão da ignorância não caiam sorrateiramente sobre ti, mas vivas sempre na luz da sabedoria, no pleno dia da fé e no fulgor da caridade e da paz”.
Sobretudo no Tempo da Quaresma, Tempo de graça e salvação, penitência e reconciliação, é preciso que se volte o olhar para Jesus, o Sol da Justiça, que nos garantiu a vinda do Espírito Santo para nos assistir na missão evangelizadora.
Conduzidos pelo Espírito, em fidelidade ao Senhor, veremos realizar o sonho de Deus, e não nos faltará a luz da sabedoria, porque nossa fé testemunhada dará razão de nossa esperança, em palavras e ações movidas pela chama da caridade, para que a vida e a paz se tornem uma verdade, sem qualquer espaço para o cultivo da indiferença diante da vida e do próximo, tornando autêntica nossa adoração a Deus, em espírito e verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário