Não à globalização da indiferença
Uma síntese da Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2015, inspirado no versículo da Carta de São Tiago: «Fortalecei os vossos corações» (Tg 5,8).
Na mensagem, contamos 17 vezes a palavra “indiferença”, e isto retratava a preocupação do Papa para todo esforço de sua superação, construindo relações mais justas e fraternas.
Iniciou a mensagem convidando-nos a viver a Quaresma como tempo de renovação para a Igreja: «tempo favorável» de graça (cf. 2 Cor6,2).
No primeiro parágrafo, mencionou a gravidade da globalização da indiferença, que tem dimensão mundial, um mal que temos, como cristãos, de enfrentar.
Somente a conversão ao Amor de Deus pode levar ao encontro de respostas para as questões que a história continuamente nos coloca; ouvindo o brado dos Profetas que levantam a voz para nos despertar, uma vez que o mundo não é indiferente a Deus, ao contrário, Ele ama o mundo até ao ponto de entregar o Seu Filho pela salvação da humanidade.
Como Igreja, por meio da proclamação da Palavra, da celebração dos Sacramentos, do testemunho da fé, que se torna eficaz pelo amor (cf. Gl 5,6), sem fechar-se em si mesmo, devemos viver a graça da missão, sem jamais nos surpreendermos se a Igreja for rejeitada, esmagada e ferida.
Sobre a necessária renovação do Povo de Deus para não cair na indiferença nem se fechar em si mesmo, e com vistas a renovação propôs três textos para meditação:
1 - «Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros» (1 Cor 12,26) – A Igreja.
Como corpo, a importância de nos preocuparmos uns com os outros, na comunhão dos Santos, na solidariedade, e, como cristãos, somos quem permitiu a Deus nos revestir com a Sua bondade e misericórdia, e revestidos de Cristo para nos tornarmos como Ele, servo de Deus e dos homens, unidos pela comunhão e Oração, abertos à obra da Salvação.
Deste modo, a Quaresma é um tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo, tornarmo-nos como Ele, e isto se dá quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os Sacramentos, especialmente a Eucaristia, pois nela nos tornamos o que recebemos: o Corpo de Cristo.
2 - «Onde está o teu irmão?» (Gn 4,9) – As paróquias e as comunidades
É a pergunta que Deus fez a Caim, quando este fez verter o sangue de Abel, e que continua sendo feita a todos nós, como também nos interpelam os Lázaros que se encontram sentados em nossas portas fechadas (cf. Lc 16,19-31).
Como Igreja militante, não podemos jamais nos acomodar e nos curvar à indiferença, de modo que a comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos, porque a Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens.
Exortou a construção de paróquias e comunidades como “ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença”.
3 - «Fortalecei os vossos corações» (Tg 5,8) – Cada um dos fiéis
É preciso que vençamos a tentação da indiferença, ainda que estejamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo, ao mesmo tempo, toda a nossa incapacidade de intervir.
Ao nos questionar sobre o “Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência”, apontou-nos Três caminhos:
1- A força da Oração de muitos;
2 - Mútua ajuda com gestos de caridade, com os próximos e também com quem se encontra longe, através dos diversos organismos caritativos da Igreja;
3 - A conversão a partir do sofrimento do próximo, porque a necessidade do irmão nos recorda a fragilidade da nossa vida, a nossa dependência de Deus e dos próprios irmãos.
Suplicando a graça de Deus, aceitando os limites das nossas possibilidades, confiantes nas possibilidades infinitas que tem de reserva o Amor de Deus, podemos resistir à tentação diabólica, que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar o mundo sozinhos.
É preciso superar a indiferença e as nossas pretensões de onipotência. E, para tanto, é preciso viver Quaresma como que um “percurso de formação do coração” (Cf. Deus Caritas Est – n.31), com um coração misericordioso (diferente de débil); ter um coração forte, firme, fechado ao tentador, mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito, e levar-se pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs.
Isto é o mesmo que dizer “um coração pobre”, que conhece as limitações próprias e se consome em favor do bem do outro; e que somente o será quando fizermos o nosso coração semelhante ao Coração de Jesus, como se suplica na Ladainha ao Sagrado Coração de Jesus.
Tão somente assim, teremos um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da indiferença, e conclui com um convite:
“Não cair na vertigem da globalização da indiferença”, e construirmos uma Paróquia, comunidade de comunidades, que se tornem “ilhas de misericórdia” neste grande “mar de indiferença”.
É preciso ser uma Igreja mais comunhão, mais missionária, em que todos se empenhem na conversão, e, com o coração fortalecido, sejamos sinais da misericórdia e bondade divina para com o próximo, nosso irmão e irmã, perto ou distante, vivendo os exercícios quaresmais: Oração, jejum e esmola.
Finalmente, exortou para que vivêssemos uma Quaresma em que o batismo seja vivido na fidelidade ao Senhor: A Missão é aquilo que o amor não pode calar.”
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