Com Jesus, aprendemos a amar e partilhar
“Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos
que estavam sentados, tanto quanto queriam.
E fez o mesmo com os peixes.”
(Jo 6,11)
Na 2ª sexta-feira do Tempo da Páscoa, ouvimos a passagem do Evangelho de João (Jo 6,1-15), e podemos refletir sobre a realidade da fome em sua múltipla expressão, e a ação de Deus em nosso favor para que esta seja saciada em plenitude, também nos exorta aos necessários compromissos de amor e partilha.
Aqui, não se trata apenas da fome do pão material, mas de outras tantas fomes: amor, liberdade, justiça, paz, esperança, fraternidade, solidariedade, alegria, ternura...
No Antigo Testamento, encontramos na passagem do 2º Livro dos Reis (2 Rs 4, 42-44), aprendemos que a multiplicação de gestos de partilha e generosidade para com os irmãos revelam a presença de Deus, que vem ao nosso encontro para saciar a fome do mundo.
O Profeta Eliseu viveu um período muito conturbado, com a multiplicação das injustiças contra os pobres e as arbitrariedades contra os fracos, acompanhado da infidelidade a Deus na violação da Aliança.
A descrição contida na passagem nos revela que quando o homem é capaz de sair do seu egoísmo, com a disponibilidade para a partilha dos dons recebidos das mãos de Deus, torna-se gerador de vida em abundância. Ainda que pareça paradoxal, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas geram vida em abundância: quanto mais se partilha, mais se tem.
A ação de Deus se revela na ação dos pobres, que partilham com amor e generosidade, sem espetáculos. Deus quer precisar de nós, de nossa generosidade e bondade. Criando-nos sem a nossa participação, não quer nos salvar sem a mesma, como disse Santo Agostinho.
Voltando à passagem do Evangelho, com a multiplicação dos pães e peixes, Jesus nos convida a passar da escravidão à liberdade, da lógica do egoísmo à lógica do amor e da partilha.
Este capítulo do Evangelho de João é uma Catequese sobre Jesus, o Pão da Vida, que sacia a fome de vida plena de toda a humanidade em todos os tempos.
Alguns paralelos são notáveis:
- O Evangelista nos apresenta a ação libertadora de Jesus, de modo que Ele é o Novo Moisés, que tirará o povo da situação de miséria e escravidão em que se encontrava;
- O local em que Jesus realiza o sinal nos reporta ao Monte Sinai, onde Moisés recebeu os Dez Mandamentos;
- Com Moisés se deu a passagem da libertação da escravidão do Egito, e com Jesus temos a nova Páscoa, de modo especial a passagem da morte para a vida.
Os gestos e palavras de Jesus revelam que a comunidade é constituída de gente simples e humilde, e com vocação para o serviço, que se expressa na partilha e solidariedade.
É preciso substituir o egoísmo pelo amor e pela partilha. Jesus é a revelação do Deus que Se revestiu de nossa humanidade, e veio ao nosso encontro para revelar o amor Trinitário, fonte de vida plena e fraterna.
Com Jesus, vivendo a Sua Palavra, acolhida de modo especial na Eucaristia que celebramos, tornamo-nos partícipes de uma sociedade da saciedade, e não de uma sociedade com o pecado da desigualdade, da fome e da morte.
A caridade vivida em relação ao outro, sobretudo aos pobres, revela a autenticidade de nosso discipulado. Deste modo a comunidade tem que ser sempre um lugar deste aprendizado que nunca termina.
Temos “pães e peixes” a serem partilhados: amor, amizade, tempo, sorriso, dons...
Ainda que tenhamos pouco aos olhos humanos, quando partilhado com amor, torna-se multiplicado aos olhos de Deus.
Não há ninguém neste mundo que não tenha nada a partilhar ou algo a receber. E assim, todos nos enriquecemos, quando aprendemos e reaprendemos a alegria da partilha que o Senhor nos ensina, como expressão do amadurecido amor.
Somente deste modo é que o Reino de Deus acontece, quando não partilhamos do que sobra, mas até mesmo daquilo que possa nos faltar.
Deste modo nada nos falta, tudo se multiplica, e todos somos saciados e alcançamos a verdadeira felicidade.
Renovemos a certeza de que quando colocamos nas mãos de Deus o que temos e o que somos, Ele faz o milagre acontecer!
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