Como é bom e suave o Teu Espírito, Senhor!
Sejamos enriquecidos pelo diálogo da Virgem Santa Catarina de Sena (séc. XIV), Doutora da Igreja, com a Providência divina.
“Com a indizível benignidade de sua clemência, o Pai eterno dirigiu o olhar para esta alma, e começou a falar: ‘Caríssima filha, determinei com firmeza usar de misericórdia para com o mundo e quero providenciar acerca de todas as situações dos homens. Mas o homem ignorante julga levar à morte aquilo que lhe concedo para a vida, e assim se torna muito cruel, para si próprio; no entanto, dele eu cuido sempre. Por isso quero que saibas: tudo quanto dou ao homem provém da suprema providência.
E o motivo está em que, tendo criado com providência, olhei em mim mesmo e fiquei cativo da beleza de minha criatura. Porque foi de meu agrado criá-la com grande providência à minha imagem e semelhança. Mais ainda, dei-lhe a memória para guardar meus benefícios em seu favor, por querer que participasse de meu poder de Pai eterno.
Dei-lhe, além disto, a inteligência para conhecer e compreender na sabedoria de meu Filho a minha vontade, porque sou com ardente caridade paterna o máximo doador de todas as graças. Concedi-lhe também a vontade de amar, participando da clemência do Espírito Santo, para poder amar aquilo que a inteligência visse e conhecesse.
Isto fez minha doce providência. Ser o único capaz de entender e de encontrar seu gozo em mim com alegria imensa na minha eterna visão. E como de outras vezes te falei, pela desobediência de vosso primeiro pai Adão, o céu estava fechado. Desta desobediência decorreram depois todos os males no mundo inteiro.
Para fazer desaparecer do homem a morte de sua desobediência, em minha clemência providenciei, entregando-vos meu Filho unigênito com grande sabedoria, para que assim reparasse vosso dano. Impus-lhe uma grande obediência, a fim de que o gênero humano se livrasse do veneno que se difundira no mundo pela desobediência de vosso primeiro pai. Assim, como que cativo de amor e com verdadeira obediência, correu com toda a rapidez, correu à ignominiosa morte sacratíssima, deu-vos a vida, não pelo vigor de sua humanidade, mas da divindade’".
Como Deus é misericordioso para conosco! Incansavelmente, cuida de nós, ainda que não mereçamos e não percebamos. É próprio do amor de Deus não desistir de nós, porque somos obras de Sua mão, expressão de Seu amor.
Nada teríamos se Deus não nos providenciasse, e tudo é Sua inciativa. Importa reconhecer que tudo que temos é nosso, mas antes de tudo é de Deus. O mundo, a vida, o nosso ser, tudo é de Cristo, e Cristo é de Deus, já nos disse o Apóstolo Paulo.
Deus nos criou, somos obras de Suas mãos. A beleza que temos é a perfeita semelhança com Ele. Criado à Sua imagem e semelhança nos deu a memória, que por vezes mal usamos, não guardamos os benefícios e maravilhas incontáveis que Ele realiza.
Possuidores de memória, de inteligência, de liberdade, podemos corresponder ou não aos desígnios divinos; fortalecer vínculos com a fonte de nossa vida e aprofundar nossa amizade com Ele, no senhorio sobre todas as coisas.
Explicita a inteligência para compreensão de Sua sabedoria para que sua vontade seja conhecida e realizada. Deus é Pai e possui por nós uma “ardente caridade paterna” e é para nós o “doador de todas as graças.” Ainda, nos comunica a ação e a presença do Espírito Santo para “amar aquilo que a inteligência visse e conhecesse”.
Ó quão doce é a providência divina; capaz de derramar e comunicar Seu Amor por nós, ainda que nossos primeiros pais tenham pecado!.
Ressoem três passagens bíblicas:
“Deus amou tanto o mundo que entregou o Seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16);
“Tornando-Se semelhante aos homens e reconhecido em Seu aspecto como um homem abaixou-Se, tornando-Se obediente até a morte, à morte sobre uma Cruz. Por isso Deus soberanamente o elevou e lhe conferiu o nome que está acima de todo nome...” (Fl 2, 1-9);
“Vede que manifestação de amor nos Deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus e nós o somos. Se o mundo não nos conhece, é porque não o conheceu” (1 Jo 3,1).
De fato, a onipotência divina tem um rosto e um nome: Jesus, que nos ama até o fim.
Esta onipotência Se revela na impotência da humanidade crucificada por Amor de nós, para nos redimir, reconciliar com Deus e nos tirar da mansão dos mortos, do abismo do pecado, da escuridão, do desamor... Ó Suprema e Divina Santíssima Trindade!
Glorifiquemos a Deus por mulheres tão sábias e tão presentes em nossas comunidades, a exemplo de Santa Catarina de Sena, que nos comunicam as maravilhas das delícias divinas em todos os tempos.
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