“O Verbo Se fez humildade, e encarnou entre nós”
Um ensinamento do Divino Mestre sobre a humildade que refletimos com a passagem do Evangelho (Lc 14,1.7-14), proclamado do 22º Domingo do Tempo Comum (ano C).
Assim nos disse o Senhor: “Todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado”.
Assim nos disse o Senhor: “Todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado”.
Em Jesus, encontramos a verdadeira humildade, porque Ele Se abaixou, desceu: “quando encontrando-Se na condição divina, não considerou Sua igualdade com Deus como um tesouro a ser conservado ciosamente, humilhou-Se e foi obediente até a morte (Fl 2,6-8).
Durante a vida, depois, foi sempre coerente com esta escolha: Ele o Mestre, abaixa-Se para lavar os pés dos discípulos, comporta-Se como ‘Aquele que serve’; desce, desce, desce até que – tendo chegado ao ponto mais baixo, no túmulo – chega o Pai para O apanhar, O eleva acima dos céus e o estabelece chefe do universo, colocando tudo sob os Seus pés. Eis como Deus mesmo realizou Sua Palavra: ‘aquele que se humilhar será exaltado. Doravante, ser humilde, significa algo muito simples: ter os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (Fl 2,5), comportando-se como Jesus Se comportou” (1).
Voltemo-nos para algumas definições de humildade que encontramos no livro “O Verbo Se faz carne” , de Raniero Cantalamessa, acima citado:
- “A humildade é antes de tudo uma questão de fatos, de escolhas, de atitudes concretas, não uma maneira de sentir e de falar de si.”
- “É a disponibilidade a descer de nós mesmos, abaixar-se para os irmãos, é vontade de servir, e de servir por amor, não por algum cálculo ou vantagem ou glória que possam advir para nós mesmos.”
- “A humildade é gratuidade.”
- “A humildade é uma manifestação do ágape, isto é, do amor de doação, do qual fala São Paulo no famoso hino (1 Cor 13,4); dizer que ‘a caridade é paciente, não se ostenta, não guarda rancor’, significa dizer que a caridade é humilde e que a humildade é caridade.”
- “Ser humilde, segundo modelo de Jesus, significa perder-se, gastar-se gratuitamente; significa ‘não viver para si mesmo’, mas para os outros, isto é, procurando levar os outros para si (reduzindo-os, quem sabe, a escravos ou a objetos para nossas vantagens pessoais), mas procurando ir ao encontro dos outros.”
- “’Humildade é verdade’. Santa Tereza escreve: ‘Perguntava-me uma vez por que o Senhor ama tanto a humildade e me veio à mente de improviso, sem nenhuma reflexão, que isto deve ser porque Ele é suma verdade e a humildade é verdade.”
- “A humildade em estado puro é a que se observa em Deus, na Trindade. Deus é humildade.”
- “Pentecostes – a ‘descida’ do Espírito – é um ato de humildade. Cada vez que Deus vem a nós e nos visita com sua graça Ele se torna ‘condescendente’ e faz atos de humildade.”
- “A água é, então, o melhor símbolo de humildade porque, da posição em que está, tende sempre a ir para baixo, descer, ocupar o lugar mais baixo: ‘Louvado seja meu Senhor, pela irmã água, a qual é muito últil e humilde e preciosa e casta’ (São Francisco)."
- “Ser humildes diante de Deus – no-lo dizem tantos textos dos profetas, dos salmos e, sobretudo, do Evangelho – é ser: ‘os pobres de Javé’, isto, abandonados a Ele, sem pretensões, mas confiantes diante d’Ele; é ser como crianças em seus braços.”
- “A humildade é um equilíbrio entre o modo de ser com Deus (a humildade do coração) e o modo de ser com os homens (humildade dos fatos). Não se pode ter humildade sem passar, de alguma maneira, através da humilhação.”
- “Na família: acho que a humildade foi inventada por Deus também para salvar os matrimônios. O orgulho, a obstinação, o individualismo são os inimigos mortais do amor, os que levam ao divórcio, antes no coração e depois na vida. Eu digo que a humildade é como lubrificante que dissolve na raíz a ferrugem, os atritos; ela impede que se forme incrustações de ressentimentos e muros de silêncio que depois são muito difíceis de superar...”
- “...muitas vezes um matrimônio é salvo pela humildade.... o matrimônio nasce da humildade! Enamorar-se de outra pessoa é o ato mais radical de humildade que se possa imaginar; significa sair de si mesmo, descer para o outro em atitude de quem implora, de mendigo, dizendo-lhe, com os fatos, mais ou menos assim: ‘Dá-me também o teu ser porque o meu não me basta!’. É admitir com todas as fibras do próprio ser que o homem não basta a si mesmo, mas se completa doando-se...
É preciso, porém ficar atentos: pode acontecer, com efeito, que com o passar dos anos, e esfriando-se o amor, se tente fazer pagar ao próprio cônjuge aquele ato inicial de humildade, infligindo lhe toda espécie de humilhações como para se vingar do fato de ter tido e de ter ainda necessidade dele; são os sinais de nossa espantosa miséria e da desordem que há dentro de nós depois do pecado. No início não era assim.”
- “Quanto mais alto queres que suba o edifício da santidade, tanto mais profundo precisa que ponhas o fundamento da humildade” - (Santo Agostinho).
- “A humildade é o sal da santidade porque preserva toda virtude do perigo de se desgastar pela vanglória”
“A humildade desarma as pessoas... A humildade desarma; a melhor autodefesa não vale tanto quanto o menor ato de humildade.”
O autor também nos fala de uma disparidade entre a lógica evangélica da humildade em relação ao mundo: na vida social e na vida familiar.
Depois de percorrido o caminho, meditando em cada afirmação sobre a humildade, faz-se necessário, rever o quanto a humildade se faz presente em nossa vida. Uma vida marcada pela humildade nos faz cada vez mais identificados com o Senhor, em pensamentos, palavras e ação, sem omissões no melhor que possamos fazer pelos últimos.
A humildade vivida é condição indispensável, para que participemos verdadeira e frutuosamente do Banquete do Senhor, ouvindo Sua Palavra e nos alimentando de Seu Corpo e Sangue.
De fato, Jesus é a encarnação da humildade, e nós haveremos de ser, pela nossa vida, sinais desta humildade, quanto mais a Ele nos configurarmos.
Parafraseando o Evangelista São João, no início de seu Evangelho, podemos dizer que Deus, ao Se encarnar na segunda Pessoa da Santíssima Trindade, possibilitou-nos a contemplação da encarnação da humildade, da pura humildade, naquela frágil, indefesa criança, amparada por José e Maria, na singela gruta de Belém: “O Verbo Se fez humildade, e encarnou entre nós”.
(1) “O Verbo Se faz carne” - Raniero Cantalamessa – Editora Ave Maria - 2013 - pp.715-720
Apropriado para o quarto sábado do Tempo da Páscoa, quando se proclama a passagem do Evangelho de João (Jo 14,7-14).
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