A verdadeira sabedoria
Ouvimos na sexta-feira da 2ª Semana do Advento a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 11,16-19).
À luz desta passagem, reflitamos sobre duas sabedorias distintas, ou seja, dois modos de “dançar na vida”: o primeiro é apreciado por muitos, sem maiores compromissos com o próximo, puro desfrutar da vida e seus prazeres, na indiferença para com o sofrimento e clamor dos empobrecidos; o segundo é o que Deus ensinou através dos Profetas e de João Batista; e Jesus cumpriu com perfeição, amando-nos até o fim, dando Sua vida pela nossa salvação.
Como é próprio do amor de Deus querer dialogar conosco, nos enviou os Seus mensageiros, os Profetas e o maior Profeta – João Batista – e Jesus, o Emanuel, o Deus-conosco, que veio “dançar nas nossas praças”.
João Batista, vivendo austeramente no deserto, exortava a todos para viver na privação e sacrifícios e com atitudes de conversão, preparando, com coragem, os caminhos do Senhor.
Com João, aprendemos que aquele que desejar fazer a experiência autêntica, a de quem “dança abraçado a Deus”, deve aprender primeiro a viver com temperança, equilíbrio, não se deixando seduzir pelos prazeres efêmeros, que aparentemente prometem a felicidade.
Precisa deixar de pensar só em si mesmo e nos seus interesses e estar disposto a suportar as privações e fadigas, para suprir as necessidades dos irmãos, em comunhão e solidariedade comprovada, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, situações favoráveis ou adversas, luminosas ou não.
Há um preço, como João Batista o pagou, bem sabemos: críticas, rotulações; porque foi julgado louco, por aqueles que tinham adotado como regra de comportamento a procura do prazer a todo custo. João, em perfeita coerência com a Palavra de Deus, teve sua cabeça decapitada, mas sem compactuar com os que detinham o poder.
Por fim, temos o Filho do Homem, Jesus, que veio “ensinar o passo de dança alegre da vida”; introduzir-nos na alegria do Banquete de núpcias, comunicando-nos vida plena e abundante, vida plena e feliz.
Com Palavras e a própria vida, revelava a face de um Deus de Misericórdia, que é bondoso, que não castiga quem errou, mas convida para a Sua festa, quer os bons quer os maus (Mt 22,10); que paga aos operários da primeira hora o mesmo que paga aos últimos (Mt 20,1-16).
Ele também não ficou livre dos apelidos, ácidas críticas - “glutão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores” -, porque não seguiu os ensinamentos da religião oficial, não se submeteu à prática que permite acumular méritos, jejuns que desfiguram os rostos, e tão pouco fez longas orações para que todos pudessem ver.
No deserto, nos ensinou a vencer as tentações do ser, ter e poder: fama, prestígio, glória, acúmulo, e poder domínio. Fez de Sua vida, doação, amor e serviço, em total entrega de Si mesmo; morreu como grão de trigo para não ficar só e produzir muitos frutos.
Em Tempo do Advento, é preciso que nos abramos à segunda sabedoria: dançar como os Profetas e como Aquele que, pelos mesmos, foi anunciado e esperado, Jesus.
Abertos à sabedoria divina, nos sentiremos abraçados por Deus na alegre dança da vida, enamorados pelo Deus da Vida, colocaremos a própria vida, com seus limites e dons, a serviço da construção do Reino.
Num mundo marcado por tantos momentos tristes, que atentam contra a vida, é preciso que a humanidade reaprenda a alegre dança da vida que Deus quer nos ensinar.
Numa palavra, a alegre dança divina é a humanidade sentir-se abraçada e envolvida pelo amor divino, e ver em cada pessoa uma presença sagrada, desde sua concepção até o seu natural declínio.
PS: Fonte inspiradora: Lecionário Comentado – Advento – Natal pp.118-119
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