Adoremos
a Luz das Nações
Ao
celebrarmos a Festa da Sagrada Família, sejamos enriquecidos pelos escritos de São
Cirilo de Alexandria (séc. V).
“Acabamos
de ver ao Emanuel recostado em um presépio como um menino recém-nascido,
envolto em panos conforme o costume humano, porém divinamente celebrado pelo
santo exército dos anjos.
Serão
eles os encarregados de anunciar aos pastores o Seu nascimento, pois Deus Pai
concedeu aos espíritos celestes este altíssimo privilégio: serem os primeiros
em anunciar a Cristo.
Também
acabamos de ver hoje como Cristo Se submete às leis mosaicas; ainda mais, temos
visto como Deus, o legislador, se submetia como um homem comum a suas próprias
leis. Esta é a razão pela qual o sapientíssimo Paulo nos dá esta lição: Quando
éramos menores estávamos escravizados pelo rudimentar do mundo. Porém, quando
se cumpriu o tempo, enviou Deus a seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo
da lei, para resgatar aos que estavam sob a lei.
Assim,
Cristo resgatou da maldição da lei aos que estavam debaixo dela, porém não aos
que eram observantes da lei. E como os resgatou? Cumprindo-a, ou, dito de outra
forma, mostrando-Se e obediente em tudo a Deus Pai, a fim de reparar os pecados
de prevaricação cometidos em Adão. Pois está escrito que
assim como pela desobediência de um só homem todos foram estabelecidos como
pecadores, assim também pela obediência de um só todos serão constituídos
justos. Portanto,
submeteu como nós a cerviz ao jugo da lei, e o fez por razões de justiça.
Convinha,
na realidade, que Ele cumprisse toda a justiça. Pois ao assumir realmente a
condição de servo, ficava, por Sua humanidade, inscrito no número dos súditos:
pagou, como muitos, aos que cobravam o imposto das duas dracmas, e mesmo quando
por Sua qualidade de Filho era naturalmente livre e isento do tributo.
Contudo,
ao ver-lhe observar a lei, cuidado, não te escandalizes nem o classifique entre
os servos, a Ele que é livre; esforça-te mais em penetrar a profundidade do
plano divino. Ao cumprir-se, pois, os oito dias, em cuja data e por prescrição
da lei era costume praticar a circuncisão da carne, impuseram-lhe um nome, e
precisamente o nome de Jesus, que significa salvação
do povo.
Tal
foi, de fato, o nome que Deus Pai escolheu para Seu Filho, nascido de mulher
segundo a carne. Pois foi certamente nesse momento, quando de maneira muito
singular se levou a bom termo a salvação do povo: e não só de um povo, mas de
muitos, ou melhor, de todas as nações e da universalidade da terra. Ao mesmo
tempo foi circuncidado e lhe impuseram o nome, convertendo-Se Cristo realmente
em luz que ilumina as nações e, ao mesmo tempo, em glória de Israel.
E
embora existissem em Israel alguns injustos, obstinados e insensatos, apesar
disso houve um resto que foi salvo e glorificado por Cristo. As primícias foram
os discípulos do Senhor, cuja glória resplandece em todo o mundo. Outra glória
de Israel é que Cristo, segundo a carne, procede de sua raça, se bem que,
enquanto Deus, está acima de todos e é bendito pelos séculos. Amém.
Presta-nos,
pois, um bom serviço o sábio Evangelista ao relatar-nos tudo o que por nós e
para nós suportou o Filho feito carne, sem fazer pouco caso em assumir a nossa
pobreza, a fim de que o glorifiquemos como Redentor, como Senhor, como Salvador
e como Deus, porque a Ele, e, com Ele a Deus Pai, lhe é devida a glória e o
poder, juntamente com o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)
Contemplemos
o indizível Mistério da Encarnação do Verbo, que veio para iluminar a
humanidade que jazia nas trevas.
Veio,
vem e virá sempre para iluminar nossos caminhos, porque Ele é a luz das nações
que os profetas anunciaram, e o que era promessa, com a Encarnação do Verbo,
torna-se realidade.
Mais
tarde Aquele que se fez Menino numa manjedoura e no templo apresentado, dirá - “Eu
sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, nas terá a luz da
vida” (Jo 8,12).
Que a Luz das Nações ilumine nossas famílias, para que cada vez
mais sejam reflexo da Sagrada Família, na qual Ele, o menino Jesus, cresceu em
sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,52).
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 292-293
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