sábado, 30 de dezembro de 2023

Contemplemos a bondade e a humanidade de Deus

                                                     

Contemplemos a bondade e a humanidade de Deus

Sejamos enriquecidos por um dos Sermões do Abade São Bernardo (séc. XII), em que nos apresenta a vinda de Jesus na plenitude dos tempos, e, com Ele, a vinda da plenitude da divindade.

“Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador (cf. Tt 3,4). Demos graças a Deus que nos dá tão abundante consolação neste exílio, nesta peregrinação, nesta vida tão miserável.

Antes de aparecer a sua humanidade, a sua bondade também se encontrava oculta; e, no entanto, esta já existia, porque a misericórdia do Senhor é eterna. Mas como poderíamos conhecer tão grande misericórdia?

Estava prometida, mas não era experimentada e por isso muitos não acreditavam nela. Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou por meio dos Profetas (cf. Hb 1,1). E dizia: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (cf. Jr 29,11). E o que respondia o homem, que experimentava a aflição e desconhecia a paz? Até quando direis paz, paz e não há paz? Por esse motivo, os mensageiros da paz choravam amargamente (cf. Is 33,7), dizendo: Senhor, quem acreditou no que ouvimos? (cf. Is 53,1). Agora, porém, os homens podem acreditar ao menos no que veem com seus olhos, pois os testemunhos de Deus são verdadeiros (cf. Sl 92,5); e para se tornar visível, mesmo àqueles que têm a vista enfraquecida, armou uma tenda para o sol (Sl 18,6).

Agora, portanto, não se trata de uma paz prometida, mas enviada; não adiada, mas concedida; não profetizada, mas presente. Deus Pai a enviou à terra, por assim dizer, como um saco pleno de sua misericórdia. Um saco que devia romper-se na paixão para derramar o preço de nosso resgate nele escondido; um saco, sim, que embora pequeno estava repleto. Pois, um Menino nos foi dado (cf. Is 9,5), mas n’Ele habita toda a plenitude da divindade (Cl 2,9). Quando chegou a plenitude dos tempos, veio também a plenitude da divindade.

Veio na carne para se revelar aos que eram de carne, de modo que, ao aparecer Sua humanidade, Sua bondade fosse reconhecida. Com efeito, depois que Deus manifestou Sua humanidade, Sua bondade já não podia ficar oculta. Como poderia expressar melhor Sua bondade senão assumindo minha carne? Foi precisamente a minha carne que Ele assumiu, e não a de Adão, tal como era antes do pecado.

Poderá haver prova mais eloquente de sua misericórdia do que assumir nossa miséria? Poderá haver maior prova de amor do que o Verbo de Deus Se tornar como a erva do campo por nossa causa? Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho? (Sl 8,5).

Por isso, compreenda o homem até que ponto Deus cuida dele; reconheça bem o que Deus pensa e sente a seu respeito. Não perguntes, ó homem, por que sofres, mas por que Ele sofreu por ti.

Vendo tudo o que fez em teu favor, considera o quanto Ele te estima, e assim compreenderás a Sua bondade através da Sua humanidade. Quanto menor Se tornou em Sua humanidade, tanto maior Se revelou em Sua bondade; quanto mais Se humilhou por mim, tanto mais digno é agora do meu amor. Diz o Apóstolo: Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador. Na verdade, como é grande e manifesta a bondade de Deus! E dá-nos uma grande prova de bondade Aquele que quis associar à humanidade o nome de Deus”.

Tudo isto podemos contemplar, de modo especial, neste Tempo do Natal, em que celebramos o Nascimento do Salvador.

Seja para nós o Natal o acolhimento do Menino Deus, nascendo em nossos corações; a Misericórdia que veio ao encontro de nossa miséria para assumi-la e redimi-la.

Encarnando-se em nosso meio, a bondade e a humanidade de Deus se fazem presentes: o invisível se torna visível; o intangível pode ser tocado; o inalcançável pode ser acolhido, acalentado, abraçado; a Luz veio para que não mais andássemos nas trevas.

Aquele pelo qual tudo foi criado, com Seu Natal, gerado por Deus, vem para renovar e criar todas as coisas.

Silenciemo-nos e contemplemos o Menino Deus e glorifiquemos a Deus por tão imerecido presente; porque é próprio do amor de Deus amar-nos na puríssima gratuidade e imensurável bondade, e assim, o mesmo aprendermos e fazermos.

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