domingo, 31 de dezembro de 2023

Jesus, um sinal de contradição (Sagrada Família - Ano B)

 


Jesus, um sinal de contradição

Ao celebrarmos a Festa da Sagrada Família, sejamos enriquecidos pelo comentário ao Evangelho de Lucas, escrito por São Cirilo de Alexandria (séc. V):

“E o que disse de Cristo o profeta Simeão? Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição, visto que o Emanuel é posto para os alicerces de Sião por Deus Pai, sendo uma pedra escolhida, angular e preciosa.

Aqueles, então, que confiaram n’Ele não se envergonharam; mas aqueles que eram descrentes e ignorantes, e incapazes de compreender o mistério a respeito d’Ele, caíram, e foram feitos em pedaços.

Por Deus Pai novamente foi dito em outro lugar: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo, e aquele que crê nela não será confundido; mas aquele sobre quem ela cair, ele será esmagado.

Mas o profeta tranquilizou aos israelitas dizendo: Só ao Senhor chameis de Santo, é a Ele que é preciso respeitar, a Ele que se deve temer. Ele será a pedra de escândalo e a pedra de tropeço.

No entanto, porque Israel não santificou o Emanuel, que é Senhor e Deus, nem estava disposto a confiar n’Ele, tropeçaram em uma pedra por causa da descrença, e ele foi feito em pedaços e caiu. Porém, muitos se reergueram, isto é, aqueles que abraçaram a fé n’Ele.

Por isso mudaram do legalismo para um ofício espiritual; tendo neles um espírito de serviço, foram enriquecidos com aquele Espírito que os torna livres, e que é o Espírito Santo; eles foram feitos participantes da natureza divina, considerados dignos da adoção filial, e de viver na esperança de alcançar a cidade que é do Alto, até mesmo a cidadania, ou seja, o Reino dos Céus.

E pelo sinal de contradição, Ele significa a preciosa Cruz, em nome da qual o sapientíssimo Paulo escreve: para os judeus é escândalo, e loucura para os pagãos. E novamente: Para os que estão perecendo é loucura; porém, para nós que somos salvos, é o poder de Deus para a salvação.

O sinal, portanto, de contradição, se para aqueles que perecem lhes parece ser loucura, todavia, para aqueles que reconhecem o seu poder, ele é salvação e vida.

E Simeão ainda disse à Santa Virgem: Sim, uma espada transpassará a tua alma, significando pela espada a dor que ela sofreria por Cristo, visto que ela trouxe à luz o crucificado; e sem saber que Ele seria mais forte do que a morte, e ressurgiria da sepultura. Ou tu podias imaginar que a Virgem não sabia disso, quando vamos encontrar até mesmo os Santos Apóstolos, então, com pouca fé; pois em verdade o bem-aventurado Tomé, se não introduzisse suas mãos no seu lado após a ressurreição, e sentisse também as marcas dos pregos, iria desacreditar os outros discípulos que lhe diziam que Cristo ressuscitou e tinha-se manifestado a eles.

O evangelista com sabedoria, portanto, para o nosso benefício nos ensina tudo quanto o Filho, feito carne, consentiu padecer por nossa pobreza, suportar em nosso benefício e em nosso favor, para que possamos glorificá-Lo como nosso Redentor e Senhor, nosso Salvador e nosso Deus: por quem e com quem a Deus Pai e pelo Espírito Santo sejam a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Este comentário nos ajuda no aprofundamento do quarto Mistério gozoso: a apresentação do Menino Jesus no Templo (cf. Lc 2,22-40).

Jesus é apresentado no Templo, e a Maria, Simeão anunciou que uma espada lhe transpassaria a alma (cf. Lc 2,33-35), porque Aquele Menino seria sinal de contradição para o mundo.

O ancião Simeão reconheceu aquela Criança como o Salvador do mundo, e nisto consistiu seu anúncio sobre a espada de dor de Nossa Senhora, numa plena e incondicional obediência à vontade de Deus.

Ela viveu cada momento da vida de Jesus, até o fim, no momento ápice aos pés da Cruz, quando Ele deu a vida por amor de todos nós, e recebeu o Corpo sem vida de Seu Filho.

Mas a fé em Deus, a fez presente junto aos apóstolos mais tarde, ao celebrar com os apóstolos o Mistério da Eucaristia (At 1,12-14).

Oportuna as palavras do Papa São João Paulo II na Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”:   Impossível imaginar os sentimentos de Maria, ao ouvir dos lábios de Pedro, João, Tiago e restantes apóstolos as palavras da Última Ceia: « Isto é o meu corpo que vai ser entregue por vós » (Lc 22, 19). Aquele corpo, entregue em sacrifício e presente agora nas espécies sacramentais, era o mesmo corpo concebido no seu ventre!” 

Supliquemos a Deus que tenhamos coragem como Maria, na obediência e fidelidade à vontade divina, como discípulos missionários do Senhor, sinal de contradição para o mundo, no carregar de nossa cruz quotidiana. Amém.

  

(1)Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - p.294

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