sábado, 16 de dezembro de 2023

A Palavra faz arder o coração...

                                                         

A Palavra faz arder o coração...

“O Profeta Elias surgiu como um fogo, e sua Palavra
queimava como uma tocha... Felizes os que te viram,
e os que adormeceram na tua amizade!”
(Eclo 48, 1.11)

Um tema mais do que oportuno para ser refletido no Tempo do Advento, para uma melhor preparação para o Natal, nos é oferecido na Liturgia do Sábado da segunda Semana do Advento: o fogo devorador do Amor de Deus que tomou conta da vida dos Profetas.

E não diferente com o Profeta Elias, a Palavra de Deus “é como o fogo” (Jr 23,29), um fogo imparável que desce do céu, inflama o coração dos Profetas que a anuncia ao povo, como que provocando um incêndio sobre a terra.

O fogo de Deus longe de destruir a humanidade pecadora, não é devastador, porque a purifica e a transforma para que corresponda melhor aos desígnios e ao Amor divinos:

“Elias é considerado pela tradição de Israel o primeiro dos Profetas; com a Palavra que Deus lhe tinha colocado nos lábios não aniquilou o povo, mas purificou-o da corrupção social, da idolatria, do culto a Baal.

Ardia de zelo pela causa do Senhor, por isso foi levado para o Céu naquele fogo que o tinha envolvido durante toda a vida. O seu desaparecimento misterioso deu origem à convicção de que ele não morrera e que um dia haveria de regressar para preparar a vinda do Messias” (1)

Assim como Elias e João Batista, que foram grandes Profetas antes do Senhor, outros tantos Santos, Profetas e mártires também o foram.

Inflamaram ao fogo de Sua mensagem de salvação, porque encontraram no Evangelho a força para enfrentar toda forma de sofrimento, até em sua expressão máxima: a morte.

Na Palavra do Senhor encontraram coragem para viver em plenitude a vida própria dos cristãos, e sentiram o coração arder como fogo, assim como sentiram os discípulos de Emaús quando ouviram a Palavra do Ressuscitado.

Estes levaram adiante o desejo de Jesus –“Vim trazer fogo à terra e quero que se inflame” (cf. Lc 12,49-53). Todo cristão é testemunha viva de Cristo, é aquele que O torna vivo e presente no mundo de hoje.

Assim como Jesus, o Filho do Homem, Se inseriu na linha dos Profetas sofredores, os Seus discípulos missionários o mesmo o fazem. Ele é uma testemunha convicta da glória que passa pelo sofrimento, pela Cruz, mas que transpõe a soleira da morte.

Hoje também o Papa Francisco, os bispos, os sacerdotes e tantos Agentes de Pastoral são como esta “tocha de fogo”, como assim o foi Elias.

Tantos pais e mães, educadores e educadoras, ainda que já na glória estejam, são como tochas acesas a aquecer, iluminar e fazer arder nosso coração.

Em cada Eucaristia que participamos, celebramos a Paixão e morte e Ressurreição do Senhor, e por isto nos tornamos um com Ele, no Seu Mistério profundo, intenso, imensurável de Amor e Salvação.

Em cada Eucaristia renovamos a certeza de que “O Senhor não cria nenhuma prisão onde possa fechar os Seus filhos rebeldes e não conhece outro fogo senão o do Seu amor ‘cujas chamas são chamas de fogo, uma faísca de Javé. As águas da torrente jamais poderão apagar o amor nem os rios afogá-lo” (Ct 8, 6-7). (2)

Deste modo, somente em plena comunhão com o Senhor é que a chama ardente da caridade jamais se apagará, e nossas palavras não serão tão apenas palavras, mas o ressoar da Palavra que antes encontrou espaço, vez e voz no mais profundo de nós: Jesus, a Palavra do Pai na comunhão com o Santo Espírito.

(1); (2) Lecionário Comentado - Tempo Advento/Natal - Editora Paulus - Lisboa - 2011 - pp. 122-123

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG