domingo, 31 de dezembro de 2023
Oremos pela família (III)
Adoremos a Luz das Nações (Sagrada Família - Ano B)
Adoremos
a Luz das Nações
Ao
celebrarmos a Festa da Sagrada Família, sejamos enriquecidos pelos escritos de São
Cirilo de Alexandria (séc. V).
“Acabamos
de ver ao Emanuel recostado em um presépio como um menino recém-nascido,
envolto em panos conforme o costume humano, porém divinamente celebrado pelo
santo exército dos anjos.
Serão
eles os encarregados de anunciar aos pastores o Seu nascimento, pois Deus Pai
concedeu aos espíritos celestes este altíssimo privilégio: serem os primeiros
em anunciar a Cristo.
Também
acabamos de ver hoje como Cristo Se submete às leis mosaicas; ainda mais, temos
visto como Deus, o legislador, se submetia como um homem comum a suas próprias
leis. Esta é a razão pela qual o sapientíssimo Paulo nos dá esta lição: Quando
éramos menores estávamos escravizados pelo rudimentar do mundo. Porém, quando
se cumpriu o tempo, enviou Deus a seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo
da lei, para resgatar aos que estavam sob a lei.
Assim,
Cristo resgatou da maldição da lei aos que estavam debaixo dela, porém não aos
que eram observantes da lei. E como os resgatou? Cumprindo-a, ou, dito de outra
forma, mostrando-Se e obediente em tudo a Deus Pai, a fim de reparar os pecados
de prevaricação cometidos em Adão. Pois está escrito que
assim como pela desobediência de um só homem todos foram estabelecidos como
pecadores, assim também pela obediência de um só todos serão constituídos
justos. Portanto,
submeteu como nós a cerviz ao jugo da lei, e o fez por razões de justiça.
Convinha,
na realidade, que Ele cumprisse toda a justiça. Pois ao assumir realmente a
condição de servo, ficava, por Sua humanidade, inscrito no número dos súditos:
pagou, como muitos, aos que cobravam o imposto das duas dracmas, e mesmo quando
por Sua qualidade de Filho era naturalmente livre e isento do tributo.
Contudo,
ao ver-lhe observar a lei, cuidado, não te escandalizes nem o classifique entre
os servos, a Ele que é livre; esforça-te mais em penetrar a profundidade do
plano divino. Ao cumprir-se, pois, os oito dias, em cuja data e por prescrição
da lei era costume praticar a circuncisão da carne, impuseram-lhe um nome, e
precisamente o nome de Jesus, que significa salvação
do povo.
Tal
foi, de fato, o nome que Deus Pai escolheu para Seu Filho, nascido de mulher
segundo a carne. Pois foi certamente nesse momento, quando de maneira muito
singular se levou a bom termo a salvação do povo: e não só de um povo, mas de
muitos, ou melhor, de todas as nações e da universalidade da terra. Ao mesmo
tempo foi circuncidado e lhe impuseram o nome, convertendo-Se Cristo realmente
em luz que ilumina as nações e, ao mesmo tempo, em glória de Israel.
E
embora existissem em Israel alguns injustos, obstinados e insensatos, apesar
disso houve um resto que foi salvo e glorificado por Cristo. As primícias foram
os discípulos do Senhor, cuja glória resplandece em todo o mundo. Outra glória
de Israel é que Cristo, segundo a carne, procede de sua raça, se bem que,
enquanto Deus, está acima de todos e é bendito pelos séculos. Amém.
Presta-nos,
pois, um bom serviço o sábio Evangelista ao relatar-nos tudo o que por nós e
para nós suportou o Filho feito carne, sem fazer pouco caso em assumir a nossa
pobreza, a fim de que o glorifiquemos como Redentor, como Senhor, como Salvador
e como Deus, porque a Ele, e, com Ele a Deus Pai, lhe é devida a glória e o
poder, juntamente com o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)
Contemplemos
o indizível Mistério da Encarnação do Verbo, que veio para iluminar a
humanidade que jazia nas trevas.
Veio,
vem e virá sempre para iluminar nossos caminhos, porque Ele é a luz das nações
que os profetas anunciaram, e o que era promessa, com a Encarnação do Verbo,
torna-se realidade.
Mais
tarde Aquele que se fez Menino numa manjedoura e no templo apresentado, dirá - “Eu
sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, nas terá a luz da
vida” (Jo 8,12).
Que a Luz das Nações ilumine nossas famílias, para que cada vez
mais sejam reflexo da Sagrada Família, na qual Ele, o menino Jesus, cresceu em
sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,52).
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 292-293
Em poucas palavras... (Sagrada Família - Ano B)
Testemunhas da fé
“É
então que nos devemos voltar para as testemunhas da fé: Abraão, que acreditou,
«esperando contra toda a esperança» (Rm 4, 18); a Virgem Maria que, na
«peregrinação da fé» (Lumen Gentium n. 58), foi até à «noite da fé» (Papa São
João Paulo II), comungando no sofrimento do seu Filho e na noite do seu
sepulcro (São João Paulo II); e tantas outras testemunhas da fé: «envoltos em
tamanha nuvem de testemunhas, devemos desembaraçar-nos de todo o fardo e do
pecado que nos cerca, e correr com constância o risco que nos é proposto,
fixando os olhos no guia da nossa fé, o qual a leva à perfeição» (Hb 12, 1-2).”
(1) Catecismo da Igreja
Católica – parágrafo n. 165
Em poucas palavras... (Sagrada Família - Ano B)
Os Mistérios da vida oculta de Jesus
“Durante a maior parte da sua vida, Jesus partilhou a condição da imensa maioria dos homens: uma vida quotidiana sem grandeza aparente, vida de trabalho manual, vida religiosa judaica sujeita à Lei de Deus (G 4,4), vida na comunidade. De todo este período, é-nos revelado que Jesus era «submisso» a seus pais (Lc 2,51) e que «ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52).” (1)
(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 531
Em poucas palavras... (Sagrada Família - Ano B)
A família cristã é evangelizadora e missionária.
“A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai e do Filho, no Espírito Santo. A sua atividade procriadora e educativa é o reflexo da obra criadora do Pai.
É chamada a partilhar da oração e do sacrifício de Cristo. A oração quotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortalecem nela a caridade. A família cristã é evangelizadora e missionária.”
(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 2205
Anunciemos Aquele que foi apresentado! (Sagrada Família - Ano B)
Anunciemos Aquele que foi apresentado!
Na Festa da Sagrada Família (ano B) é proclamada a
passagem do Evangelho (Lc 2, 22-40).
Maria e José levam o menino Jesus, depois de
quarenta dias do Seu nascimento, para apresentá-Lo no templo, no pleno cumprimento
da Lei de Moisés.
Normalmente,
contemplamos este acontecimento quando rezamos os Mistérios gozosos, que trazem
em si o germe dos mistérios dolorosos, assim como os gloriosos e luminosos,
quando, justo e piedoso.
Simeão, lá no templo,
anuncia a Maria que uma espada lhe transpassaria a alma. Referindo-se à missão d’Aquela
criança, luz das nações, salvador de todos os povos, causa de queda e
reerguimento de muitos.
Os Santos Padres da
Igreja dizem que, nesta apresentação, Maria oferecia seu Filho para a obra da
redenção com a qual Ele estava comprometido desde o princípio.
É iluminador o Sermão
do bispo São Sofrônio (séc. VII) em alusão a este acontecimento:
“Todos
nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o Mistério do encontro do
Senhor, corramos para Ele cheios de entusiasmo.
Ninguém
deixe de participar deste encontro, ninguém recuse levar Sua luz.
Acrescentamos
também algo ao brilho das velas, para significar o esplendor divino daquele que
Se aproxima e ilumina todas as coisas; Ele dissipa as trevas do mal com a Sua
luz eterna, e, também, manifesta o esplendor da alma, com o qual devemos correr
ao encontro com Cristo.
Do
mesmo modo que a Mãe de Deus Virgem imaculada trouxe nos braços a verdadeira
luz e a comunicou aos que jaziam nas trevas, assim também nós: iluminados pelo
Seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, corramos
prontamente ao encontro d’Aquele que é a verdadeira luz.
Realmente,
a luz veio ao mundo (Jo 1,9) e dispersou as sombras que o cobriam; o sol que
nasce do alto nos visitou (Lc 1,78) e iluminou os que jaziam nas trevas.
É
este o significado do Mistério que hoje celebramos. Por isso caminhamos com
lâmpadas nas mãos, por isso acorremos trazendo as luzes, não apenas
simbolizando que a luz já brilhou para nós, mas também para anunciar o
esplendor maior que dela nos virá no futuro.
Por
este motivo, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus. Chegou a verdadeira luz, que vindo ao mundo ilumina todo ser humano (Jo
1, 9).
Portanto,
irmãos, deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós. Que
ninguém fique excluído deste esplendor, ninguém insista em continuar mergulhado
na noite. Mas avancemos todos resplandecentes.
Iluminados,
por este fulgor, vamos todos ao Seu encontro e com o velho Simeão recebamos a
luz clara e eterna.
Associemo-nos
a sua alegria e cantemos com ele um hino de ação de graças ao Criador e Pai da
luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez
participantes do Seu esplendor.
A
Salvação de Deus, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que
nos pertence, a nós que somos o novo Israel.
Também
fez com que víssemos, graças a Ele, essa Salvação e fossemos absolvidos da
antiga e tenebrosa culpa.
Assim
aconteceu com Simeão que, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da
vida presente.
Também
nós abraçando, pela fé, a Cristo Jesus que nasce em Belém, de pagãos que
éramos, nos tornamos povo de Deus – Jesus é, com efeito, a Salvação de Deus Pai
– e vemos com nossos próprios olhos o Deus feito homem.
E
porque vimos a presença de Deus, e a recebemos, por assim dizer, nos braços do
nosso espírito, somos chamados de novo Israel.
Todos
os anos celebramos novamente esta festa, para nunca esquecermos d’Aquele que um
dia há de voltar.” (1)
Como disse o bispo:
“...
Ninguém insista em continuar mergulhado na noite.” Recebamos nos braços do
nosso espírito o Salvador, a Luz das nações.
Com o feliz Simeão,
digamos:
“Agora,
Senhor, deixai o Vosso servo ir em paz, segundo a Vossa Palavra. Porque os meus
olhos viram a Vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz
para iluminar as nações, e para a glória de Vosso povo de Israel (Lc 2,29-32).”
Concluindo, com as
palavras do Salmista:
“O Senhor
é a minha luz e a minha salvação, de quem eu terei medo? O Senhor é a fortaleza
da minha vida: frente a quem eu temerei? (Sl 27). Amém.
(1) Liturgia das Horas Vol. III pp.1236/7.
Jesus, um sinal de contradição (Sagrada Família - Ano B)
Jesus, um sinal de contradição
Ao celebrarmos a
Festa da Sagrada Família, sejamos enriquecidos pelo comentário ao Evangelho de
Lucas, escrito por São Cirilo de Alexandria (séc. V):
“E o que disse de
Cristo o profeta Simeão? Este
menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel.
Ele será um sinal de contradição, visto que o Emanuel é posto para os alicerces
de Sião por Deus Pai, sendo
uma pedra escolhida, angular e preciosa.
Aqueles, então,
que confiaram n’Ele não se envergonharam; mas aqueles que eram descrentes e
ignorantes, e incapazes de compreender o mistério a respeito d’Ele, caíram, e
foram feitos em pedaços.
Por Deus Pai
novamente foi dito em outro lugar: Eis
que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo, e aquele que
crê nela não será confundido; mas aquele sobre quem ela cair, ele será
esmagado.
Mas o profeta
tranquilizou aos israelitas dizendo:
Só ao Senhor chameis de Santo, é a Ele que é preciso respeitar, a Ele que se
deve temer. Ele será a pedra de escândalo e a pedra de tropeço.
No entanto,
porque Israel não santificou o Emanuel, que é Senhor e Deus, nem estava
disposto a confiar n’Ele, tropeçaram em uma pedra por causa da descrença, e ele
foi feito em pedaços e caiu. Porém, muitos se reergueram, isto é, aqueles que
abraçaram a fé n’Ele.
Por isso mudaram
do legalismo para um ofício espiritual; tendo neles um espírito de serviço,
foram enriquecidos com aquele Espírito que os torna livres, e que é o Espírito
Santo; eles foram feitos participantes
da natureza divina, considerados dignos da adoção filial,
e de viver na esperança de alcançar a cidade que é do Alto, até mesmo a
cidadania, ou seja, o Reino dos Céus.
E pelo sinal de
contradição, Ele significa a preciosa Cruz, em nome da qual o sapientíssimo
Paulo escreve: para
os judeus é escândalo, e loucura para os pagãos. E novamente: Para os que estão
perecendo é loucura; porém, para nós que somos salvos, é o poder de Deus para a
salvação.
O sinal,
portanto, de contradição, se para aqueles que perecem lhes parece ser loucura,
todavia, para aqueles que reconhecem o seu poder, ele é salvação e vida.
E Simeão ainda
disse à Santa Virgem: Sim,
uma espada transpassará a tua alma, significando
pela espada a dor que ela sofreria por Cristo, visto que ela trouxe à luz o
crucificado; e sem saber que Ele seria mais forte do que a morte, e ressurgiria
da sepultura. Ou tu podias imaginar que a Virgem não sabia disso, quando vamos
encontrar até mesmo os Santos Apóstolos, então, com pouca fé; pois em verdade o
bem-aventurado Tomé, se não introduzisse suas mãos no seu lado após a
ressurreição, e sentisse também as marcas dos pregos, iria desacreditar os
outros discípulos que lhe diziam que Cristo ressuscitou e tinha-se manifestado
a eles.
O evangelista com
sabedoria, portanto, para o nosso benefício nos ensina tudo quanto o Filho,
feito carne, consentiu padecer por nossa pobreza, suportar em nosso benefício e
em nosso favor, para que possamos glorificá-Lo como nosso Redentor e Senhor,
nosso Salvador e nosso Deus: por quem e com quem a Deus Pai e pelo Espírito
Santo sejam a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)
Este comentário
nos ajuda no aprofundamento do quarto Mistério gozoso: a apresentação do Menino
Jesus no Templo (cf. Lc 2,22-40).
Jesus é
apresentado no Templo, e a Maria, Simeão anunciou que uma espada lhe
transpassaria a alma (cf. Lc 2,33-35), porque Aquele Menino seria sinal de
contradição para o mundo.
O ancião Simeão
reconheceu aquela Criança como o Salvador do mundo, e nisto consistiu seu
anúncio sobre a espada de dor de Nossa Senhora, numa plena e incondicional
obediência à vontade de Deus.
Ela viveu cada
momento da vida de Jesus, até o fim, no momento ápice aos pés da Cruz, quando Ele
deu a vida por amor de todos nós, e recebeu o Corpo sem vida de Seu Filho.
Mas a fé em Deus,
a fez presente junto aos apóstolos mais tarde, ao celebrar com os apóstolos o
Mistério da Eucaristia (At 1,12-14).
Oportuna as palavras do Papa São João Paulo II na Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”: Impossível imaginar os sentimentos de Maria, ao ouvir dos lábios de Pedro, João, Tiago e restantes apóstolos as palavras da Última Ceia: « Isto é o meu corpo que vai ser entregue por vós » (Lc 22, 19). Aquele corpo, entregue em sacrifício e presente agora nas espécies sacramentais, era o mesmo corpo concebido no seu ventre!”
Supliquemos a Deus que tenhamos coragem como Maria, na obediência e fidelidade à vontade divina, como discípulos missionários do Senhor, sinal de contradição para o mundo, no carregar de nossa cruz quotidiana. Amém.
(1)Lecionário Patrístico Dominical -
Editora Vozes - 2013 - p.294