terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Evangelizadores com espírito (Parte I)


Evangelizadores com espírito

Primeira motivação:
Ao amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais. (n. 264):
- “Como é doce permanecer diante de um crucifixo ou de joelhos diante do Santíssimo Sacramento, e fazê-lo simplesmente para estar à frente dos seus olhos...” (n.264).

- “A melhor motivação para se decidir a comunicar o Evangelho é contemplá-lo com amor, é deter-se nas suas páginas e lê-lo com o coração...” (n.264).

“É necessário recuperar um espírito contemplativo para que se redescubra que somos depositários de um bem que humaniza, que ajuda a levar uma vida nova” (n.264).

“Às vezes perdemos o entusiasmo pela missão, porque esquecemos que o Evangelho dá resposta às necessidades mais profundas das pessoas, porque todos fomos criados para aquilo que o Evangelho nos propõe: a amizade com Jesus e o amor fraterno” (n.264).

Evangelizar é comunicar uma verdade que não passa de moda, porque é capaz de penetrar onde nada mais pode chegar – “A nossa tristeza infinita só se cura com um amor infinito” (265):

“O verdadeiro missionário, que não deixa jamais de ser discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária. Se uma pessoa não O descobre presente no coração mesmo da entrega missionária, depressa perde o entusiasmo e deixa de estar seguro do que transmite, faltam-lhe força e paixão. E uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, enamorada, não convence ninguém” (n. 266).

Segunda motivação:
O prazer espiritual de ser povo – “Vós que outrora éreis um povo, agora sois Povo de Deus” (1 Pd 2,10).

A missão é uma paixão por Jesus e simultaneamente uma paixão pelo Seu povo: Ele nos toma do meio do povo e nos envia ao povo, de tal modo que a nossa identidade não se compreende sem esta pertença (n.268).

Jesus estava sempre no meio do povo, de modo que Sua entrega na Cruz é apenas o culminar deste estilo que marcou toda a Sua vida:

“Fascinados por este modelo, queremos inserir-nos a fundo na sociedade, partilhamos a vida com todos, ouvimos as suas preocupações, colaboramos material e espiritualmente nas suas necessidades, alegramo-nos com os que estão alegres, choramos com os que choram e comprometemo-nos na construção de um mundo novo, lado a lado com os outros...” (n.269).

Uma tentação que precisamos tomar cuidado: a tentação de ser cristãos mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor – “Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros...” (n. 270).

É preciso dar razão de nossa esperança: “Jesus não nos quer como príncipes que olham desdenhosamente, mas como homens e mulheres do povo... Assim, experimentaremos a alegria missionária de partilhar a vida com o povo fiel de Deus, procurando acender o fogo no coração do mundo” (n. 271).

O discípulo missionário, quando plenamente devotado em seu trabalho evangelizador, experimenta o prazer de ser um manancial que transborda e refresca os outros (n.272).

Somos advertidos, como discípulos: “Não se vive melhor fugindo dos outros, escondendo-se, negando-se a partilhar, resistindo a dar, fechando-se na comodidade. Isto não é senão um lento suicídio” (n. 272).

Portanto, a missão no coração do povo não é uma parte da vida, ou ornamento que se pode por de lado, tão pouco um apêndice ou um momento isolado da vida de uma pessoa. (n. 273).

Evangelizadores com espírito (Parte II)


Evangelizadores com espírito

Terceira motivação:  
A ação misteriosa do Ressuscitado e do Seu Espírito. O discípulo não pode cair no pessimismo, no fatalismo e na desconfiança, mas, como discípulo do Ressuscitado, ser portador de esperança:

Cristo Ressuscitado e glorioso é a fonte profunda da nossa esperança, e não nos faltará a sua ajuda para cumprir a missão que nos confia” (n. 275).

É preciso que o discípulo tome cuidado, nos alerta o Papa:

“Pode acontecer que o coração se canse de lutar, porque, em última análise, se busca a si mesmo num carreirismo sedento de reconhecimentos, aplausos, prêmios, promoções; então a pessoa não baixa os braços, mas já não tem garra, carece de ressurreição. Assim, o Evangelho, que é a mensagem mais bela que há neste mundo, fica sepultado sob muitas desculpas” (n. 277).

Noutra passagem também nos adverte:
“Às vezes invade-nos a sensação de não termos obtido resultado algum com os nossos esforços, mas a missão não é um negócio nem um projeto empresarial, nem mesmo uma organização humanitária, não é um espetáculo para que se possa contar quantas pessoas assistiram devido à nossa propaganda. É algo de muito mais profundo, que escapa a toda e qualquer medida” (n. 279).

É preciso que nos empenhemos totalmente, mas deixar que seja o Espírito Santo a nos tornar fecundos, como melhor Lhe parecer, os nossos esforços “n. 279): é para manter o ardor missionário é preciso uma decidida confiança no Espírito Santo (n. 280):

“Mas não há maior liberdade do que a de se deixar conduzir pelo Espírito, renunciando a calcular e controlar tudo e permitindo que Ele nos ilumine, guie, dirija e impulsione para onde Ele quiser. O Espírito Santo bem sabe o que faz falta em cada época e em cada momento. A isto se chama de ser misteriosamente fecundos” (n. 280).


Quarta motivação:
A força missionária da intercessão. A Oração de intercessão não nos afasta da verdadeira contemplação, porque esta não pode deixar de fora os outros, no que consistiria numa falsa contemplação (n.281):

“Quando um evangelizador sai da Oração, o seu coração tornou-se mais generoso, libertou-se da consciência isolada e está ansioso por fazer o bem e partilhar a vida com os outros” (n.282), e por isto, afirma o Papa, os grandes homens e mulheres de Deus foram grandes intercessores: “A intercessão é como ‘fermento’ no seio da Santíssima Trindade” (n.283).


Evangelizadores com espírito (Parte III)

Evangelizadores com espírito

Quinta motivação:

A presença de Maria, a Mãe da Evangelização. Com o Espírito Santo, Maria está sempre presente no meio do povo (At 1,140). Maria é Mãe da Igreja evangelizadora, e, sem Ela, não podemos compreender cabalmente o espírito da nova evangelização:

“Ao pé da Cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo conduz-nos a Maria; conduz-nos a Ela, porque não quer que caminhemos sem uma mãe; e, nesta imagem materna, o povo lê todos os mistérios do Evangelho. Não é do agrado do Senhor que falte à Sua Igreja o ícone feminino” (n.285).

O Papa cita o Beato Isaac da Estrela, que nos expressou a maravilhosa ligação íntima entre Maria, a Igreja e cada fiel:

“Nas Escrituras divinamente inspiradas, o que se atribui em geral à Igreja, Virgem e Mãe, aplica-se em especial à Virgem Maria (...).

Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de Deus, mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda.

(...) No tabernáculo do ventre de Maria, Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, permanecerá até ao fim do mundo; no conhecimento e amor da alma fiel habitará pelos séculos dos séculos” (n.285).

Assim o Papa nos apresenta Maria:

“Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Ela é a serva humilde do Pai, que transborda de alegria no louvor.

É a amiga sempre solícita para que não falte o vinho na nossa vida. É aquela que tem o coração trespassado pela espada, que compreende todas as penas.

Como Mãe de todos, é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça. Ela é a missionária que Se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno.

Como uma verdadeira mãe, caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus” (n.286).

Fala-nos de sua forte expressão na religiosidade popular:

“Através dos diferentes títulos marianos, geralmente ligados aos santuários, compartilha as vicissitudes de cada povo que recebeu o Evangelho e entra a formar parte da sua identidade histórica.

Muitos pais cristãos pedem o Batismo para seus filhos num santuário mariano, manifestando assim a fé na ação materna de Maria que gera novos filhos para Deus.

É lá, nos santuários, que se pode observar como Maria reúne ao seu redor os filhos que, com grandes sacrifícios, vêm peregrinos para A ver e deixar-se olhar por Ela.

Lá encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e as fadigas da vida. Como a São João Diego, Maria oferece-lhes a carícia da sua consolação materna e diz-lhes: «Não se perturbe o teu coração. (...) Não estou aqui eu, que sou tua Mãe” (n. 286).

Maria é a Mãe do Evangelho vivente, e podemos contar com sua intercessão na ação evangelizadora. (n.287).


Evangelizadores com espírito (Final)

Evangelizadores com espírito

O Papa apresenta também um estilo mariano na atividade evangelizadora:

Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. Nela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam maltratar os outros para se sentir importantes” (n. 288).

Podemos contar com Maria, e o Papa encerra a Exortação esta Oração: 

“Virgem e Mãe Maria, Vós que, movida pelo Espírito,
acolhestes o Verbo da vida na profundidade da vossa fé humilde,
totalmente entregue ao Eterno, ajudai-nos a dizer o nosso «sim»
perante a urgência, mais imperiosa do que nunca,
de fazer ressoar a Boa-Nova de Jesus.

Vós, cheia da presença de Cristo, 
levastes a alegria a João, o Batista,
fazendo-o exultar no seio de sua mãe. 
Vós, estremecendo de alegria,
cantastes as maravilhas do Senhor. 
Vós, que permanecestes firme diante da Cruz com uma fé inabalável, e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição, 
reunistes os discípulos à espera do Espírito para que nascesse a Igreja evangelizadora.

Alcançai-nos agora um novo ardor de ressuscitados
para levar a todos o Evangelho da vida que vence a morte.

Dai-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos
para que chegue a todos o dom da beleza que não se apaga.

Vós, Virgem da escuta e da contemplação, Mãe do amor, esposa das núpcias eternas, intercedei pela Igreja, da qual sois o ícone puríssimo,
para que ela nunca se feche nem se detenha
na sua paixão por instaurar o Reino.

Estrela da nova evangelização, 
ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão, 
do serviço, da fé ardente e generosa,
da justiça e do amor aos pobres, 
para que a alegria do Evangelho
chegue até aos confins da terra e nenhuma
periferia fique privada da sua luz.

Mãe do Evangelho vivente,
manancial de alegria para os pequeninos,
rogai por nós. Amém. Aleluia!” (n.288)


segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Nosso amor por Maria e a Igreja, nossas Mães

 


Nosso amor por Maria e a Igreja,  nossas Mães

Sejamos enriquecidos pelo Sermão escrito pelo Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro de Stella (Séc. XII):

“O Filho de Deus é o primogênito dentre muitos irmãos; sendo Filho único por natureza, associou a si muitos pela graça, para serem um só com Ele. Com efeito, a quantos o recebem, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus (Jo 1,12).

Constituído Filho do homem, a muitos constituiu filhos de Deus. Ele, o Filho único, por seu amor e poder associou muitos a Si. E todos esses, embora sejam muitos por sua geração segundo a carne, são um só com Ele pela regeneração divina.

Um só, portanto, é o Cristo total, cabeça e corpo: Filho único do único Deus nos céus e de uma única mãe na terra. Muitos filhos, e um só Filho. Pois assim como a cabeça e os membros são um só Filho, assim também Maria e a Igreja são uma só Mãe e muitas mães; uma só Virgem e muitas virgens.

Ambas são mães e ambas são virgens; ambas concebem virginalmente do mesmo Espírito; ambas, sem pecado, dão à luz uma descendência para Deus Pai. Maria, imune de todo pecado, deu à luz a Cabeça do corpo; a Igreja, para a remissão de todos os pecados, deu à luz o corpo da Cabeça. Ambas são mães do Cristo, mas nenhuma delas pode, sem a outra, dar à luz o Cristo total.

Por isso, nas Escrituras divinamente inspiradas, o que se atribui de modo geral à Igreja, virgem e mãe, aplica-se particularmente a Maria. E o que se atribui especialmente a Maria, virgem e mãe, pode-se com razão aplicar de modo geral à Igreja, virgem e mãe; e quando o texto se refere a uma delas, pode ser aplicado indistinta e indiferentemente a uma e à outra.

Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de Deus, mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda. É a própria Sabedoria de Deus, o Verbo do Pai, que designa ao mesmo tempo a Igreja em sentido universal, Maria num sentido especial e cada alma fiel em particular.

Eis o que diz a Escritura: E habitarei na herança do Senhor (cf. Eclo 24,7.13). A herança do Senhor é, na sua totalidade, a Igreja, muito especialmente é Maria, e de modo particular, a alma de cada fiel. No tabernáculo do seio de Maria, o Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, habitará até o fim do mundo; e no amor da alma fiel, habitará pelos séculos dos séculos.” (1)

Temos como Mãe Maria e a Igreja, e isto implica que devemos viver a vida nova dos filhos de Deus, quando mergulhados na graça do Batismo e recebemos o selo do Espírito Santo.

Implica também que devemos viver como irmãos e irmãs, estabelecendo e fortificando laços de comunhão e fraternidade, na superação de toda e qualquer forma de exclusão, ou qualquer outra forma que nos distancie uns dos outros, ou que venha a macular a sacralidade e a beleza de nossa vida, como imagens e semelhança de Deus, por Ele criados.

Tempo do Advento, tempo favorável para reconciliação e perdão, e refazer nossos laços de amizade e comunhão, para que não seja em vão a Eucaristia que participamos e comungamos, Divino Cálice do Redentor, Pão de eternidade e imortalidade. Amém.

 

 

 

(1) Liturgia das Horas – Volume Advento/Natal – pág. 214-215


Imaculada Conceição de Maria

                                                                      

Imaculada Conceição de Maria
                           
Celebrar a Festa da Imaculada Conceição é ao mesmo tempo celebrar a beleza da vida criada e querida por Deus, contemplando e sentindo sua presença conosco em todos os momentos.

Quis Deus que tão grande Salvador tivesse uma mãe em tão grande dignidade, por isto totalmente preservada da possibilidade do pecado, da desobediência, do rompimento com o querer de Deus, de modo que o Divino Redentor da humanidade mereceu uma mãe plena de graça e amor.

Renovemos o desejo e compromisso com a vida na graça, na santidade desejada por Deus desde o dia do nosso batismo, com empenho irrenunciável para uma vida marcada pela fidelidade ao Projeto Divino.

Ah, se imitássemos Maria!
Como diferente o mundo seria!
Nem mais dor, nem pranto,
Nem luto indesejável, desencantos!

Ah, se imitássemos Maria!
Vida de pecado não existiria!
Acolhida da graça divina
Que bela lição nos ensina!

Ah, se imitássemos Maria
A humanidade bem outra seria!
Sem despotismo, tirania, opressão...
Fraternidade: um mundo mais irmão!

Ah, se imitássemos Maria!
O pão na mesa do irmão não faltaria!
Vida abundante de Seu Filho, sinal do Reino,
Amados e felizes, dias belos e serenos!

Ah, se imitássemos Maria!

O Dogma da Imaculada Conceição de Maria

                                                                 


O Dogma da Imaculada Conceição de Maria

Levando em conta a Tradição católica dos últimos séculos e o pedido de muitos leigos e bispos, o papa PIO IX proclamou em 8 de dezembro de 1854 o Dogma da Imaculada Conceição na bula “Ineffabilis Deus”, e cuja Solenidade celebramos dia 8 de dezembro. 

Este Dogma nos ensina que, em Maria, começa o processo de renovação e purificação de todo o povo. Ela é “toda de Deus, protótipo de que somos chamados a ser. Em Maria e em nós age a mesma graça de Deus. Se nela Deus pôde realizar Seu Projeto, poderá realizá-lo em nós também” (D. Murilo S. R. Krieger, bispo e escritor mariano). 

O significado de “Imaculada Conceição” 

Todos nós fomos criados em Cristo. Estamos marcados por uma “graça original”: Antes da criação do mundo, Deus nos escolheu em Cristo, para sermos, diante d’Ele, santos e imaculados “(Ef 1,4). Cada bebê que vem a este mundo nasce com uma bênção de Deus. Ele nos cria para sermos felizes e construirmos a felicidade dos outros. 

Ninguém nasce pronto. Cada um se desenvolve com o tempo, aprende a ser gente. Aprende a amar e ser amado, recebe a fé e a religiosidade dos familiares e pessoas próximas. Como é fascinante sermos, sempre, até a hora da morte, “aprendizes da vida”!

Quando uma criança vem a este mundo, já no útero da mãe está recebendo, em doses distintas, amor e desamor, acolhida e rejeição, afeto e violência. Somos solidários no bem e no mal. 

Ninguém começa sua vida a partir do nada. Pela fé, reconhecemos que somos parte de um grande projeto amoroso de Deus, que estamos marcados por Sua graça e pela corrente positiva do amor, bondade, acolhida, de tantos seres humanos que vieram antes de nós. 

Mas o mundo também tem violência, mentira e maldade, que contagiam cada pessoa que nasce. Ao começar a existir, já estamos sob a ação de forças positivas e negativas, de vida e de destruição.

Há algo na nossa história que estraga os belos Projetos do Senhor. Não vem de Deus. É difícil localizar sua origem. Nós o chamamos: “Mistério do mal e da iniquidade”. Ele está espalhado na humanidade e repercute dentro de cada pessoa. Damos a ele o nome de “Pecado Original”.

Cada um de nós tem dentro de si muitos desejos, tendências e impulsos. Eles são bons, mas necessitam ser integrados e dosados. Senão, fazem muito mal à pessoa e aos outros. 

Cada um de nós necessita acreditar em si e exercitar sua liberdade, de forma a ser aceito e respeitado pelos outros. Se a pessoa é fraca, impotente, não vai contribuir para a comunidade.

Mas o poder é perigoso, quando se torna um gigante e amassa os outros. Um pai autoritário deixa muitas feridas nos filhos. Um político poderoso e corrupto prejudica a nação e faz aumentar a exclusão social. 

Todo o ser humano busca prazer, ao se relacionar, ao comer, ao se divertir. Uma das formas mais belas de prazer é a sexualidade. A relação entre homem e mulher é bela e querida por Deus. Mas o sexo, quando é desequilibrado, sem afeto e respeito, produz individualismo e violência. O consumismo desenfreado arruína nossas vidas.

Todos temos dificuldades para integrar, dentro de nós, os desejos e as tendências e colocá-los a serviço do seguimento de Jesus. Os impulsos do poder, do ter e do prazer e tantos outros nos puxam, cada um para o seu lado, e podem nos afastar de Deus. A teologia chamou essa divisão interna de “concupiscência”. Sabemos que a nossa liberdade está comprometida pelo pecado e precisa ser libertada. 

São Paulo lembra essa divisão interna que a gente vive, dizendo que muitas vezes nosso coração quer fazer o bem, mas acabamos fazendo o mal que não desejamos (Rm 7,14-24). Mas nós cremos na vitória da graça de Jesus Cristo, que nos liberta de todas as cadeias (Rm 5,8 e 8,1-4). A “graça original” de Deus, que nos cria e nos salva, é mais importante e mais forte do que o pecado original, nossos pecados e falhas.

O Dogma da Imaculada Conceição afirma que o segredo de Maria, a perfeita discípula de Jesus, que respondeu a Deus de maneira total, tem sua raiz na graça. Ela recebe do Senhor um dom especial. Nasce mais integrada do que nós, com mais capacidade de ser livre e acolher a proposta divina.

O fato de Maria ser imaculada não lhe tira o esforço de ser peregrina na fé, pois isso faz parte da sua situação de ser humano, que necessita crescer e aprender. Maria não nasce prontinha. 

Também é aprendiz da vida. No início, ela não entende tudo (Lc 2, 49-50). E no correr da vida, Jesus a surpreende muitas vezes (Mc 3,31-35).

Diferentemente de nós, Maria trilha um caminho sempre positivo, sem desvios falsos ou atoleiros.

O Dogma da Imaculada Conceição afirma que Maria é pré-redimida por Cristo.

Ela recebe Sua graça salvadora numa intensidade maior do que nós, o que lhe dá forças para integrar tendências e impulsos e enfrentar o mal. 

Assim, desenvolve melhor sua missão de perfeita discípula, educadora e mãe do Messias. Esse “privilégio” não a transforma numa pessoa orgulhosa. 

Livre interiormente, Maria desenvolve muito suas qualidades humanas, tornando-se a criatura mais santa, mais inteira, mais “dona” de si e aberta a Deus.

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