segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Poços de Água Cristalina (IIDTAA)

                                                            

Poços de Água Cristalina

A Liturgia do 2º Domingo do Advento nos apresenta a emblemática e profética pessoa de João Batista.

João, o grande precursor do Messias, soube escutar a expectativa do povo que vivia num deserto simbólico, ou seja, num lugar e contexto árido, privado da fonte de vida.

Como pessoas que creem, sentimos a sede e a fome do mundo, procuramos apreender o “deserto” no qual o homem moderno vive ou apenas sobrevive:

Um deserto feito, nas sociedades ocidentais, de palavras e coisas vazias, superficiais, de imagens sem espessura nem substância. Nessa aridez o cristão deve descobrir poços novos e cada vez mais profundos de água.” (1)

Falar em deserto é pensar no lugar da privação, das dificuldades, da sede, da solidão, da provação...

Falar em deserto, relacionando à fé, remete-nos imediatamente à possibilidade da sede, que é terreno fértil para cavar novos poços de água viva na aridez do deserto da cidade.

A sede, aqui, como metáfora de uma carência profunda da condição humana, coração da humanidade caminha sempre inquieto, tomado por uma sede que jamais se sacia.

De alguma forma, somos todos caminhantes, fazendo de cada ponto de chegada um novo ponto de partida. Assim canta o poeta “O mesmo trem que chega é o trem da partida...”.

E, no caminho da existência de cada pessoa são presentes pedras, espinhos, riscos e novas possibilidades.

Os riscos presentes são os das portas fechadas, dos muros e das cercas, do preconceito e da discriminação, das leis feitas pelos ricos e para os ricos, o desemprego e subemprego, o trabalho escravo ou degradante, a rua, os lixões, a prostituição, o abandono, e dito de forma global, a exclusão social. É a sede de vida, de amor e de paz de quem está a caminho!

No meio do caminho é possível e necessária a abertura de poços, onde a água viva nutre novas potencialidades de vida, para que seja mais bela, mais plena, mais de acordo com o querer de Deus.

Como cristãos, precisamos escavar espaços de futuro, com perspectivas de justiça e de paz, sob a crosta dura do egoísmo e da violência que ceifa vidas até de jovens e inocentes, um mundo com cenas de barbárie, resignação e conformismo com consequências indesejáveis.

Nas encruzilhadas dos caminhos também se criam pontos de encontro, as redes de solidariedade, o fortalecimento e articulação das lutas locais e campanhas globais que pensam e se comprometem com um mundo sustentável, livre do esgotamento, destruição, aniquilamento.

No caminho não se pode perder a utopia. Se pessoas que creem, a não perda da fé, para fundamentar toda esperança, na prática da caridade, no compromisso cotidiano com o Reino, por amor e fidelidade ao Senhor.

No caminho, dentro da própria cidade, poços de água cristalina perfurar, para que construamos uma cidade mais humana, fraterna, de vida digna para todos.

No caminho, dentro da própria cidade, à luz da fé, beber da Divina Fonte de Água Viva que é o próprio Cristo Jesus, para rios de águas cristalinas jorrar. Então, será o grande passo para bem celebrar o Natal do Senhor.


(1) Leccionário Comentado Tempo do Advento e Natal - p.96 e livre interpretação de “O não lugar como novo lugar” (Pe. Alfredo Gonçalves).  

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