quarta-feira, 3 de abril de 2024

Pétalas sobre o asfalto

Pétalas sobre o asfalto

Há muito mais entre o cinza dos muros da cidade e dos prédios, e das grades que construímos, em busca de um pouco de segurança possível.

Há pessoas que passam com seus carros, esperando impacientemente o abrir dos faróis e, não desejavelmente, teclando celulares, “iPods”, “tablets”.

Há pessoas que caminham nas calçadas, quando possível, quando estas transitáveis são.

Há sirene de ambulância pedindo passagem, levando alguém para socorro imediato, e ficamos imaginando o que teria ocorrido, a agonia de quem nela se encontra, ou simplesmente nem pensamos.

Há mendicantes nos faróis, crianças e adolescentes com suas apresentações, corpos pintados, esperando um trocado, ou ao menos um sorriso...

Há também as flores ou pétalas dos ipês, já caídas e outras caindo, na manhã fria, com sua beleza e suavidade, tornando a cidade menos cinzenta, as dores menos amargas.

A beleza viva de suas cores é como um grito que ressoa fortemente neste cenário, cobrindo-nos com suavidade.

Vejo algumas flores ou pétalas do ipê rosa sobre o carro, enquanto espero o farol abrir, outras sobre o para-brisa... É como se a árvore dissesse:

“Quero cobrir os passantes com minhas flores e pétalas;
Quero cobrir cada carro que passa; florir o asfalto duro e escuro da cidade com minhas cores fortes, ainda que as rodas dos carros por cima de mim passem e pés me esmigalhem.

Cubro o chão para oferecer a quem passa um cenário mais colorido e delicado, sacrificando cada parte de mim para tocar corações insensíveis ou não...”

Pétalas ou flores dos ipês, uma parábola da cidade para nossos ouvidos e coração, que nos faz pensar em que consiste o humano viver em cada tempo...

Então aprendamos: de nada adianta reclamarmos do cinza da cidade, de suas grades e tempo “líquido”, que escoa e escapa de nossas mãos, se nada de bom oferecermos, se nada fizermos para  reencantar e reinventar a vida.

Haveremos de descobrir o possível a ser feito: uma palavra, um gesto simples ou mais complexo, para tornar a vida mais bela e sinal do Paraíso não perdido, mas a ser construído.

Haveremos de, em nome da fé, como as pétalas ou flores dos ipês, saber calar quando preciso, para contemplar corações sensíveis e, aos corações endurecidos, jamais a voz calar.

Haveremos de envolver, como as pétalas ou flores dos ipês, cada pessoa com quem convivemos, com o melhor que pudermos oferecer, sem jamais na esperança esmorecer.

Haveremos de "florir" a cidade, não importa a estação, porque a vida a elas ultrapassa; a vida não se limita apenas a esta ou àquela estação.

Haveremos de sempre florir, e o odor do amor sempre exalar.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG