quarta-feira, 24 de abril de 2024

Oremos com intensidade e assiduidade

                                                          

Oremos com intensidade e assiduidade


Sejamos enriquecidos pelo Tratado sobre Caim e Abel, escrito pelo Bispo e Doutor da Igreja, Santo Ambrósio (séc. IV), em que nos fala sobre a oração.

“’Oferece a Deus um sacrifício de louvor, cumpre os teus votos ao Altíssimo’. Louvar a Deus é o mesmo que fazer votos e cumpri-los. Por isso, foi-nos dado a todos como modelo aquele samaritano que, ao ver-se curado da lepra juntamente com outros nove leprosos que obedeceram à Palavra do Senhor, retornou ao encontro de Cristo, e foi o único que glorificou a Deus, agradecendo-Lhe. Dele disse Jesus: ‘Somente este estrangeiro voltou para dar glória a Deus?’ E lhe disse: ‘Levanta-te e vai, tua fé te salvou’.

Com isto o Senhor em seu divino ensinamento te mostrou, de um lado, a bondade de Deus Pai e, por outro, te insinuou a conveniência de orar com intensidade e assiduidade: mostrou-te a bondade do Pai, revelando-te como Ele Se compraz em conceder-nos os Seus bens, para que aprendas com isso a pedir bem aquele que é o próprio bem; mostrou-te a conveniência de orar com intensidade e assiduidade, não para que repitas sem cessar mecanicamente fórmulas de oração, mas para que adquiras a virtude de orar frequentemente. Porque, repetidamente, as longas orações vão acompanhadas de vanglória, e a oração seguidamente interrompida tem como companheira a negligência.

Portanto, o Senhor também te exorta a que tenhas o máximo interesse em perdoar os outros quando tu pedes o perdão de tuas próprias culpas; com isso, tua oração se torna recomendável por tuas obras. O apóstolo afirma, também, que se deve orar primeiro afastando as controvérsias e a ira, para que desta forma a oração se encontre acompanhada da paz de espírito e não se misture com sentimentos alheios a oração. Ademais, também nos é ensinado que convém orar em todos os lugares: assim afirma o Salvador, quando diz, falando da oração: ‘Entra no teu quarto’.

Porém, entende-o bem, não se trata de um quarto rodeado de paredes, no qual o teu corpo se encontra fechado, mas sim daquela morada que existe em teu próprio interior, no qual residem os teus pensamentos e moram os teus desejos. Este quarto para a oração vai contigo a todos os lugares, em toda a parte onde te encontres continua sendo um lugar secreto, cujo só e único árbitro é Deus. Te é dito também que deves orar especialmente pelo povo de Deus, ou seja, por todo o corpo, por todos os membros de tua mãe, a Igreja, que vem a ser como um sacramento do mútuo amor. Se somente pedes por ti, tua também serás o único a suplicar por ti. E, se todos suplicam somente por si mesmos, a graça que o pecador alcançará será, sem dúvida, menor que a que obteria do conjunto dos que intercedem se estes forem muitos. Mas, se todos pedem por todos, também se deve dizer que todos suplicam por cada um.

Concluamos, portanto, dizendo que, se rezas somente por ti, serás, como já dissemos, o único intercessor em teu favor. Mas, se tu rezas por todos, também a oração de todos te aproveitará, pois tu também formas parte do todo. Desta maneira, alcançarás uma grande recompensa, pois a oração de cada membro do povo se enriquecerá com a oração de todos os outros membros. Nisto não existe nenhuma arrogância, mas uma grande humildade e um fruto mais copioso.”(1)

Algumas reflexões à luz do Tratado:

- a importância da oração de louvor, gratidão pelas graças e curas que Deus nos concede todos os dias, pois “Louvar a Deus é o mesmo que fazer votos e cumpri-los”;

orar com intensidade e assiduidade, confiante na bondade do Pai;

- Deus não somente nos concede todos os bens, mas o próprio Bem, Seu Filho;

- não podemos repetir mecanicamente fórmulas de oração, mas devemos adquirir a virtude de orar frequentemente;

- a advertência sobre as orações: não devem ser longas orações, pois vão acompanhadas de vanglória; de outro lado, a oração seguidamente interrompida tem como companheira a negligência. Nem longas nem interrompidas seguidamente para que sejam autênticas;

- à luz das palavras do Apóstolo Paulo, exorta para que oremos  primeiro afastando as controvérsias e a ira, para que, desta forma, a oração se encontre acompanhada da paz de espírito e não se misture com sentimentos alheios a oração;

- convém orar em todos os lugares, como afirmou o Salvador, quando diz, falando da oração: “Entra no teu quarto”. Seja entendido o “quarto”, não quarto rodeado de paredes, no qual o corpo se encontra fechado, mas daquela morada que existe no próprio interior, no qual residem os pensamentos e desejos;

- devemos orar por toda a Igreja, como “Sacramento do mútuo do amor” de um pelos outros; e frutos copiosos serão para todos.

Avaliemos a qualidade e autenticidade de nossas orações, e o quanto, de fato, elas expressam sincero e frutuoso relacionamento com Deus, como tão bem nos apresentou o Bispo.

Oremos com intensidade e assiduidade, em todo o tempo e em todo o lugar; ora pedindo, ora agradecendo a Deus por todos os bens que Ele nos concede, de modo especial pelo Bem Maior, Seu Filho, e com Ele, o sopro e a presença do Espírito Santo. Amém.

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - p.734

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