domingo, 21 de abril de 2024

“Morramos...”

                                                       

  “Morramos...” 

Morramos como grãos de trigo no campo da Igreja...
Morramos como grãos de trigo...
Morramos...

Sejamos enriquecidos por esta reflexão que o Missal Dominical nos oferece para aprofundamento da Liturgia do IV Domingo da Páscoa, Dia do Bom Pastor:

“Cabe aqui uma consideração a respeito do rebanho, isto é, da comunidade e de cada um dos que creem; não devem eles unicamente ser exigentes com seus pastores, como magistério, com a Igreja como instituição (o que corresponde à correção fraterna); devem também sentir e manifestar-lhes seu profundo amor, impregnado de franqueza, caridade e obediência.

Ao lado do Espírito de crítica e de rebelião, que grassa mesmo no seio da Igreja, não faltam os testemunhos. O cardeal Newman, que se tornou católico por devoção à Igreja, vê-se, em certo momento, impedido de trabalhar pela própria Igreja.

Menosprezado pelos protestantes, mal interpretado por muitos católicos, olhado com desconfiança por certos bispos, suspeito de heresia, carregou sua cruz com paciência heroica, até o momento em que pôde retomar a atividade apostólica que era o objetivo de sua vida.

"Será necessário superarmos a nós mesmos, morrendo como grãozinhos de trigo no campo da Igreja, em lugar de morrermos como revolucionários diante de suas portas" (K. Rahner).

São exaltados, na reflexão, o valor e a beleza da exigência e da criticidade para com os pastores que cuidam do rebanho, mas também exaltadas as atitudes que devem impregnar a vida do rebanho, como o amor, a franqueza, a caridade e a obediência.

A criticidade e a exigência para com os pastores serão sempre bem-vindas, mas feitas com caridade e numa relação de lealdade e transparência. A mesma postura também será exigida dos pastores em relação ao rebanho, sem a qual, não serão ouvidos, e se ouvidos, o serão pelo medo e não pela relação de amor, maturidade e fraternidade que deve construir com o rebanho.

Atitudes que devem ser vividas também entre o próprio rebanho; entre aqueles que conduzem as Pastorais, quer coordenando, quer coordenados...

A ausência destas atitudes, a saber: criticidade com caridade, lealdade acompanhada da caridade, obediência acompanhada do desejo de se colocar no caminho do crescimento e amadurecimento, muitas vezes leva ao desânimo, afastamento, esfriamento, esmorecimento, cansaço, falta de horizontes, desculpas multiplicadas, forças subtraídas, experiências negativadas somadas, comunidade dividida: falta da liberdade nas coisas possíveis, enfraquecimento da unidade necessária, e esfriamento da caridade que, acima de tudo, há de sempre estar...

Deste modo, a afirmação de K. Rahner é providencialíssima e oportuna:

"Será necessário superarmos a nós mesmos, morrendo como grãozinhos de trigo no campo da Igreja, em lugar de morrermos como revolucionários diante de suas portas".

Bem sabemos que nossa Igreja é santa e pecadora. Por isto iniciamos a Santa Missa confessando nossos pecados diante da misericórdia de Deus e também reconhecemos nossas limitações e imperfeições ao rezar o Prefácio da Oração Eucarística V:

“E a nós, que agora estamos reunidos e somos povo santo e pecador, dai força para construirmos juntos o Vosso Reino que também é nosso”.

Na fidelidade ao Cristo Bom Pastor, renovemos a alegria de pertencermos a Igreja e façamos nossa declaração de amor a Jesus, que nos confiou o cuidado do Seu rebanho, ainda que não mereçamos.

Jamais nos extraviemos do rebanho. Importa darmos o melhor de nós, para que nenhuma ovelha se perca, e também saibamos ir ao encontro das ovelhas extraviadas.

Não nos acomodemos por sermos e pertencermos ao rebanho, pois seremos cobrados por aquela que se extraviou e que o Senhor jamais se esqueceu ou desprezou, conforme vemos na Parábola da Misericórdia (Lc 15).

Dai-nos Senhor a docilidade necessária.
Afastai de nós toda rebeldia inútil e estéril.
Fazei-nos membros apaixonados e vivos do
Seu amado e querido rebanho. 

Morramos como grãos de trigo no campo da Igreja,
Morramos como grãos de trigo.
Morramos!

Fecundemos um mundo novo!
Semeemos o essencial: amor, verdade, justiça, liberdade...
Frutifiquemos! Glorifiquemos! Ressuscitemos!

Amemos e sigamos o Bom Pastor, por amor a Ele, 
amando Sua Igreja.

Eis a grande revolução:
Amar e um mundo novo construir,
gerado pelo e no Coração que nos acolheu,
fez-nos nascer e nos alimentou.
Amém. Aleluia!

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