domingo, 14 de abril de 2024

Faça arder nosso coração, abra nossos olhos, Senhor! (IIIDTPA)

Faça arder nosso coração, abra nossos olhos, Senhor!

Que a Boa Nova da Ressurreição de Jesus
seja nossa força na missão: A Ressurreição
de Jesus se descobre caminhando.

A Liturgia do 3º Domingo da Páscoa (Ano A) nos convida a descobrir Cristo vivo, que Se manifesta caminhando com os discípulos, assim como caminha com a humanidade.

Com Sua Palavra, medo, mágoas, tristezas, desânimo são superados, dando lugar à coragem, ao perdão, à alegria, à esperança.

Assim como Sua voz fez arder o coração dos discípulos de Emaús, enquanto lhes falava das Escrituras, também o nosso em cada Eucaristia que participamos e a Palavra de Deus ouvimos.

Do mesmo modo, nossos olhos se abrem ao partir e repartir o Pão, Corpo e Sangue do Senhor, como também o fez com os discípulos, ficando com eles naquele entardecer inesquecível, assim faz conosco em cada Banquete Eucarístico que participamos.

Na passagem da primeira Leitura (At 2,14.22-33) refletimos sobre a identidade da comunidade que testemunha o Ressuscitado: a prática de um amor que se faz dom a Deus e aos irmãos.

É preciso que a comunidade se prepare para dar testemunho de Jesus, em Jerusalém e até os confins do mundo. Encontramos na Leitura o primeiro anúncio de Jesus feito por Pedro (“kerigma") aos habitantes da cidade, e a quantos ali se encontravam.

“Este discurso, colocado na boca de Pedro, não é a reprodução histórica exata de um discurso feito por Pedro junto do cenáculo, no dia da Festa de Pentecostes; mas é um discurso construído pelo autor dos Atos, que reproduz, em parte, a pregação que a primitiva comunidade cristã fazia sobre Jesus” (1)

A mensagem do texto é explícita: Deus Ressuscitou Jesus, não permitiu que Ele fosse derrotado pela morte. De fato, uma vida consumida a serviço do Plano do Pai, em favor da vida da humanidade, conduz, necessariamente, à Ressurreição, à exaltação, à Vida em Plenitude.

Com isto, somos reanimados quando “... nos sentimos desiludidos, decepcionados, fracassados, derrotados, criticados, por gastarmos a vida numa dinâmica de serviço, de entrega, de amor.

Uma vida que se faz dom nunca é um fracasso; uma vida vivida de forma egoísta e autossuficiente, à margem de Deus e dos outros, é que é fracassada, pois não conduz à vida em plenitude”. (2)

De modo que temos que fazer nossa escolha: ou testemunhar o Cristo Ressuscitado ou ceder à proposta do mundo, com valores contrários aos que Jesus apresenta e pelos quais morreu e o Pai O Ressuscitou.

Na passagem da segunda Leitura (1 Pd 1,17-21) refletimos sobre a vida nova que nos vem do Cristo Ressuscitado, que nos comunica a grandeza do Amor de Deus.

É uma forte exortação de confiança, de esperança, de amor e solidariedade, com matizes de alegria, coragem, coerência e fidelidade à opção cristã feita pela comunidade:

“O cristão é, pois, convidado a contemplar o plano de salvação que Deus quer concretizar em favor do homem e que leva Jesus (o Filho de Deus) a morrer na Cruz.

Constatando a grandeza do Amor de Deus e a Sua vontade salvífica, o homem aceita renascer para uma vida nova e santa (mesmo no meio das dificuldades e perseguições). Dessa forma, nascerá um Povo novo, consagrado ao serviço de Deus” (3)

A comunidade tem diante de si um horizonte tenebroso, com massacres, torturas e sofrimentos indizíveis. Fortes hostilidades são enfrentadas pela comunidade, mas ela precisa manter-se fiel a Jesus Cristo Ressuscitado. Olhar para Cristo que passou também pela experiência da Paixão e da Cruz, até alcançar a glória da Ressurreição.

A contemplação do Amor de Deus testemunhada por Jesus Cristo leva a comunidade a uma nova conduta, marcada pela obediência e total fidelidade superando a lógica do egoísmo, amor próprio, e vivendo no amor, entrega e doação, para alcançar a vida em plenitude.

Na passagem do Evangelho (Lc 24, 13-35) contemplamos a presença de Cristo Vivo, Ressuscitado e Vitorioso, que caminha com a comunidade. Enche o coração dos discípulos de esperança, fazendo o mesmo arder, e Se dá a reconhecer na partilha do Pão.

Deus não intervém de forma espetacular, mas no caminhar, no comunicar Sua Palavra e no simples gesto do Partir do Pão (simples e com tons Eucarísticos).

A passagem é uma página verdadeiramente catequética, e não uma reportagem jornalística. O Evangelista quis levar a comunidade à acolhida da Palavra do Ressuscitado, para retomar o caminho com ardor missionário, nutridos pela presença do Ressuscitado, encontrada no Pão Eucarístico, na Ceia piedosa, consciente, ativa e frutuosamente celebrada, como a Igreja nos ensina ao longo dos tempos.

É preciso passar do contexto do fracasso, do desencanto, da frustração para uma nova postura: alegres e corajosos discípulos missionários que encontram e sentem a presença do Ressuscitado caminhando. A fé não permite que haja recuos, desistência da Novidade do Reino por Jesus inaugurado.

O Evangelista dirige sua mensagem à comunidade dos que creem e caminham; pelas dificuldades, desanimados e sem rumo, para que não deixem morrer os sonhos que parecem diluir e desmoronar, diante da realidade monótona, ou hostil, com suas provações e adversidades.

Quando se sente a presença de Jesus, que Se faz companheiro, que caminha junto, que conhece nossas alegrias e tristezas, angústias e esperanças, sentimos que não estamos sós, que Alguém, ainda que não vejamos, conosco caminha, e esta presença se dá desde que Ele nos comunicou, com o Seu Divino Sopro, o Espírito, e nos enviou como Suas testemunhas: ”Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15).

É preciso sempre pôr-se a caminho, com a convicção de que Jesus caminha conosco, ao nosso lado, para que superemos crises, fracassos, desalentos, desânimos.

Reflitamos:

- Qual o lugar da Palavra de Deus em nossa vida?
- Arde nosso coração quando lemos, proclamamos, refletimos, pregamos a Palavra de Deus, sobretudo nas Missas que participamos?

- Nossos olhos se abrem na Partilha do Pão e reconhecemos a presença do Ressuscitado?
- Repetimos este gesto de amor e partilha, com nossos irmãos, no quotidiano?

- Voltar para Emaús e desistir ou voltar para “Jerusalém” e, com coragem, proclamar a Boa Nova da Ressurreição?

- Em nossas Missas, sentimos o que aconteceu com os discípulos de Emaús: arde nosso coração e se abrem nossos olhos?

- Cléofas e outro caminhavam de volta, desanimados, tristes, derrotados. Também já nos sentimos assim na caminhada da comunidade?

Concluindo, vemos que a história dos discípulos de Emaús é a nossa história de cada dia:

“Os nossos olhos fechados que não reconhecem o Ressuscitado... os nossos corações que duvidam, fechados na tristeza... os nossos velhos sonhos vividos com decepção... o nosso caminho, talvez, afastando-se do Ressuscitado...

N’Ele, durante este tempo, ajustemos o Seu passo ao nosso para caminhar junto de nós no caminho da vida.  Há urgência em abrir os nossos olhos para reconhecer a Sua Presença e a Sua ação no coração do mundo e para levar a Boa Notícia: Deus Ressuscitou Jesus! Eis a nossa fé! (4)

Que ao celebrar o 3º Domingo da Páscoa, renovemos a alegria de caminhar com Jesus, renovemos também a alegria de ser discípulo missionário, cujo coração arde pelo fogo da Palavra proclamada, acolhida, crida e vivida; cujos olhos se abrem e reconhecem Jesus no partir do Pão, um gesto tão simples, tão belo, tão divino, que há de se repetir em outros tantos gestos de amor e partilha no quotidiano a fim de que todos tenhamos vida plena, abundante.

De fato, a Boa-Nova da Ressurreição de Jesus é a grande Verdade, que nos encoraja e nos fortalece, e isto se dá quando nos pomos a caminho com Ele.

Em cada Eucaristia que participamos, Deus nos fala ao coração e nos abre os olhos, para que O reconheçamos, e, tão somente deste modo, o  desalento, o desânimo, a frustração, o fracasso e a derrota cedem lugar à fidelidade, à esperança, à coragem, aos sonhos, à alegria.

Tudo isto é possível quando o Amor de Deus é derramado em nossos corações, por meio do Cristo Ressuscitado e da presença do Seu Espírito. Aleluia!


(1) (2) (3) (4) www.Dehonianos.org/portal 

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