Quaresma: Tempo forte de Oração
Com a Homilia do século IV, de Pseudo-Crisóstomo, refletamos sobre a Oração, fundamental em todo o tempo, de modo especial na Quaresma.
“A Oração, o diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim como os olhos do corpo são iluminados quando recebem a luz, a alma que se eleva para Deus é iluminada por Sua luz inefável.
Falo da Oração que não é só uma atitude exterior, mas que provém do coração e não se limita a ocasiões ou horas determinadas, prolongando-se dia e noite, sem interrupção.
Com efeito, não devemos orientar o pensamento para Deus apenas quando nos aplicamos à Oração; também no meio das mais variadas tarefas – como o cuidado dos pobres, as obras úteis de misericórdia ou quaisquer outros serviços do próximo – é preciso conservar sempre vivos o desejo e a lembrança de Deus.
E assim, todas as nossas obras, temperadas com o sal do Amor de Deus, se tornarão um alimento dulcíssimo para o Senhor do Universo.
Podemos, entretanto, gozar continuamente em nossa vida do bem que resulta da Oração, se lhe dedicarmos todo o tempo que nos for possível. A Oração é a luz da alma, o verdadeiro conhecimento de Deus, a mediadora entre Deus e os homens.
Pela Oração a alma se eleva até os céus e une-se ao Senhor num abraço inefável. Como uma criança que chorando, chama sua mãe, a alma deseja o leite divino, exprime seus próprios desejos e recebe dons superiores a tudo que é natural e visível.
A Oração é venerável mensageira que nos leva à presença de Deus, alegra a alma e tranquiliza o coração. Não penses que nessa Oração se reduza as palavras.
Ela é desejo de Deus, amor inexprimível que não provém dos homens, mas é efeito da graça divina, como diz o Apóstolo: Nós não sabemos o que devemos pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis (Rm 8,26).
Semelhante Oração, quando o Senhor a concede a alguém, é uma riqueza que não lhe pode ser tirada e um alimento celeste que sacia a alma.
Quem a experimentou inflama-se do desejo eterno de Deus, como que de um fogo devorador que abrasa o coração. Praticando-a em sua pureza original, adorna tua casa de modéstia e humildade, torna-a resplandecente com a luz da justiça.
Enfeita-se com boas obras, quais plaquetas de ouro, ornamenta-se de fé e de magnanimidade em vez de paredes e mosaicos. Como cúpula e coroamento de todo o edifício, coloca a Oração.
Assim prepararás para o Senhor uma digna morada, assim terás um esplendido palácio real para O receber, e poderás tê-Lo contigo na tua alma, transformada, pela graça, em imagem e templo de Sua presença.” (1)
Como vemos, a Oração o jejum e a esmola são os três Exercícios que devem ser mais intensificados neste Tempo de Quaresma.
Reflitamos sobre o primeiro: a Oração.
Evidentemente que não é só na Quaresma que se deve orar. É sempre tempo de orar, em todas as situações e em todos os tempos, adversos ou favoráveis; diante de fracassos anunciados ou vitórias preanunciadas; na agitação e na tranquilidade; na alegria e na tristeza; na angústia e esperança; no tempo dos sonhos para que não cedam lugar a pesadelos; tempo da presença divina mais percebida, para percepção mais aguçada, quando tudo parecer desolação e abandono divino (o que será sempre impossível).
A Oração bem feita é expressão e fortalecimento de nossa amizade com Deus.
Orar e sentir nossa alma a Deus elevada.
Orar e perceber que o quarto escuro
de nossa alma foi iluminado.
Orar, como encontro e esquecimento do tempo,
para ficar com o Eterno que transcende
nosso miserável tempo.
Oremos!
(1) Liturgia das Horas - Vol. II - Quaresma e Páscoa - pp. 58-9
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