No dia 07 de março, celebramos a Memória das Santas Perpétua e Felicidade, Mártires da Igreja, como lemos nesta narração, escrita em parte pelos próprios confessores da fé cartagineses e, também, por um escritor contemporâneo.
“Despontou o dia da vitória dos mártires, e vieram do cárcere até ao anfiteatro, como se fosse para o Céu, de rosto radiante e sereno; e se algum tinha o rosto alterado, era de alegria e não de medo.
Perpétua foi a primeira a ser arremessada ao ar pela vaca brava, e caiu de costas no chão. Levantou-se imediatamente e, vendo Felicidade caída por terra, aproximou-se, estendeu-lhe a mão e ergueu-a. Ficaram ambas de pé. Saciada a crueldade do povo, foram reconduzidas à porta chamada Sanavivária.
Perpétua foi aí acolhida por um certo catecúmeno, chamado Rústico, que permanecia sempre ao seu lado; e como se acordasse do sono (até esse momento estivera em êxtase do espírito) começou a olhar à volta e, para espanto de todos, perguntou: ‘Quando é que seremos expostas à tal vaca?’.
Quando lhe disseram que já tinha acontecido, não quis acreditar, e só se convenceu quando viu no seu corpo e nas suas vestes a marca dos ferimentos recebidos. Chamou então para junto de si o seu irmão e aquele catecúmeno e disse-lhes: ‘Permanecei firmes na fé, amai-vos uns aos outros e não vos perturbeis com os nossos sofrimentos’.
Por sua vez, Sáturo, noutra porta do anfiteatro, exortava o soldado Pudente com estas palavras: ‘Até agora, tal como te tinha afirmado e predito, não fui ainda ferido por nenhuma fera. Acredita, portanto, agora de todo o coração: agora vou avançar de novo para ali e serei abatido com uma única mordedura de leopardo’.
E imediatamente, já quase no fim do espetáculo, foi lançado a um leopardo, e com um só golpe ficou coberto de tanto sangue que o povo, sem saber o que dizia, dava testemunho do seu segundo batismo, aclamando: ‘Foste lavado, estás salvo. Foste lavado, estás salvo!’. E na verdade estava salvo quem de tal modo fora lavado.
Sáturo disse então ao soldado Pudente: ‘Adeus. Lembra-te da fé e de mim, e que estas coisas não te perturbem, mas te confirmem’. E pediu-lhe o anel que trazia no dedo, mergulhou-o na ferida e devolveu-lho como uma herança, deixando-lho como penhor e recordação do sangue. Depois, já exânime, prostrou-se com os outros no lugar destinado ao golpe de misericórdia.
Mas o povo reclamava em alta voz que aqueles que iam receber o golpe final fossem levados para o meio do anfiteatro, porque queriam ver com os seus próprios olhos, cúmplices do homicídio, a espada penetrar nos corpos das vítimas; os mártires levantaram-se espontaneamente e foram para o sítio onde o povo os queria, depois de terem dado mutuamente o ósculo santo, para coroarem o martírio com este rito de paz.
Todos receberam o golpe da espada imóveis e em silêncio: especialmente Saturo, que fora o primeiro a subir (na visão de Perpétua) e que foi o primeiro a entregar a alma. Até ao último instante ia confortando Perpétua. E esta, que desejava ainda experimentar maior dor, exultou ao sentir em seus ossos a cutilada, e ela própria guiou até à garganta a mão incerta do inexperiente gladiador. Talvez esta mulher, de quem o espírito do mal se temia, não tivesse podido ser morta de outra maneira do que querendo-o ela própria.
Ó mártires, cheios de força e ventura! Verdadeiramente fostes chamados e eleitos para a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Impressiona-nos a coragem e a fidelidade destas mulheres, juntamente a outros mártires, como vemos na narração do martírio dos santos Mártires de Cartago (séc. III).
Elas e outros, como vimos, foram chamados e escolhidos para glória do Senhor, consumada em sua expressão máxima da fé, o Martírio.
Cada tempo suas provações e dificuldades, e estes são para nós, exemplos a serem imitados pela coragem e fidelidade, no bom combate da fé.
Celebrando esta Memória, renovemos a alegria de ser discípulos missionários do Senhor, participando mais intensa e frutuosamente de nossas comunidades, a fim de que sejam verdadeiras comunidades eclesiais missionárias; que anunciam a Palavra de Deus, fortalecidas pelo Pão da Eucaristia, testemunhas da Caridade que gera um mundo novo, movidas pela fé e esperança que não decepciona (cf. Rm 5,5).
Oremos:
“Ó Deus, pelo Vosso intenso amor, as santas Mártires Perpétua e Felicidade resistiram ao perseguidor e venceram os tormentos da morte; concedei-nos, por sua intercessão, crescer sempre mais em vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém”
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